quarta-feira, 31 de agosto de 2016

N@CAPA: Esquadrão Funko Suicida


Um dos filmes mais aguardados do ano deve agradecer muito à sua campanha de marketing.  Tão logo Esquadrão Suicida estreou no mês de agosto, recebeu várias críticas negativas. No entanto, parte do público abraçou o filme e lhe garante fechar o mês de estreia com com quase 600 milhões de bilheteria. No Brasil, até o último fim de semana, o longa de David Ayer estava na primeira posição entre os filmes mais vistos do país.  O sucesso do grupo de vilões da DC Comics aumentam os comentários sobre uma sequência e a aventura solo de Arlequina vivida por Margot Robbie. A loura Robbie é um dos grandes acertos do filme, que conta ainda com boas atuações de Will Smith, Viola Davis e até Joel Kinnaman. Quem mais saiu perdendo na história foi o Coringa de Jared Leto, que perdeu muito tempo de tela (por conta das várias montagens que o filme recebeu até estrear nos cinemas) e parece apenas inconveniente durante a narrativa. Se o resultado ficou desengonçado, não chega a ser nada que comprometa uma bilheteria milionária e a cobiça pelos simpáticos bonequinhos que estrelaram um vídeo que viralizou na internet. 

Esquadrão Funko: para a glória dos colecionadores. 

HIGH FI✌E: AGOSTO

Cinco filmes assistidos no mês de agosto que merecem destaque:

As Montanhas se Separam (2015) de Zhangke Jia 
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De Longe Te Observo (2015) de Lorenzo Vigas 
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O Fantasma do Futuro (1995) de Mamoru Oshii 
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O Que Fazemos nas Sombras (2014) de Jemaine Clement e Taika Waititi 
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Tangerinas de Zaza Urushadze 
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terça-feira, 30 de agosto de 2016

FESTIVAL DE VENEZA - 2016

La La Land: Ryan Gosling e Emma Stone chegam à Veneza!

Nos últimos anos o Festival de Veneza começou a ser uma espécie de primeira olhada no que a temporada de prêmios reserva para nós - já que vários filmes exibidos em Veneza ganham fôlego para uma jornada que culmina no Oscar do ano que vem. Entre os filmes que vale a pena ficar de olho nessa retal final do ano são o musical de Damien Chazelle (que abrirá o Festival), o novo drama romântico de Derek Cianfrance, a biografia de Jaqueline Kennedy assinada pelo chileno Pablo Larraín o segundo filme assinado pelo estilista Tom Ford, a esperada novidade da cult Ana Lily Amirpour e a ficção científica assinada pelo canadense Dennis Villeneuve. Entre os veteranos estão os novos filmes de Terrence Mallick, François Ozon, Emir Kusturica e Win Wenders - que sempre chamam atenção dos distribuidores mundiais. A seguir todos os presentes na mostra competitiva desse ano em que o Festival começa no dia 31 de agosto e revela o contemplado com o Leão de Ouro no dia 10 de setembro. 

“The Bad Batch” de Ana Lily Amirpour
“Une Vie” de Stephane Brizé
“La La Land” de Damien Chazelle
“A Luz Entre Oceanos” de Derek Cianfrance
“El ciudadano ilustre” de Mariano Cohn e Gaston Duprat
“Spira Mirabilis” de Massimo D’Anolfi e Martina Parenti
“The Woman Who Left” de Lav Diaz
“La Region Salvaje” de Amat Escalante
“Nocturnal Animals” de Tom Ford
“Piuma” de Roan Johnson
“Paradise” de Andrei Konchalovsky
“Brimstone” de Martin Koolhoven
“On the Milky Road” de Emir Kusturica
“Jackie” de Pablo Larraín
“Voyage of Time” de Terrence Malick
“El Cristo Ciego” de Christopher Murray
“Frantz” de François Ozon
“Questi Giorni” de Giuseppe Piccioni
“Arrival” de Denis Villeneuve
“The Beautiful Days of Aranjuez” de Wim Wenders

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Na Tela: Um Dia Perfeito

Fedja, Olga, Tim, Mélanie e Benicio: problemas enfrentados com otimismo. 

Infelizmente eu admito que tenho preconceitos com filmes que se aventuram a fazer comédia sobre assuntos sérios. Geralmente para ver esse tipo de filme eu preciso de muita boa vontade, estão nesse grupo filmes que tocam em assuntos delicados de forma mais leve como o holocaustiano A Vida é Bela/1997 (que eu detesto) e o câncer de 50% (2012). Recentemente chegou aos cinemas brasileiros Um Dia Perfeito, filme que mostra (de forma bem humorada) o cotidiano de um grupo de ajuda humanitária que atuoou nos Balcãs em meados de 1990. A trama gira em torno de um corpo em decomposição encontrado dentro do poço de um vilarejo e que o grupo precisa retirar para não contaminar a água da população local. Se o primeiro problema é a falta de uma corda adequada para o serviço, ao longo do dia eles irão se deparar com outras dificuldades, seja com a população, com os soldados, políticas locais... como deu para perceber de perfeito o dia não tem nada e, justamente pelo toque de ironia que perpassa todo o filme, que o diretor espanhol Fernando León de Aranoa alcança um bom resultado ao final da sessão. Este é o primeiro filme em língua inglesa do diretor que ficou conhecido por seu trabalho em Segunda-Feira ao Sol (2001) estrelado por Javier Bardem, que tentou uma vaga no Oscar de filme estrangeiro em 2002. Aqui Aranoa também apresenta uma trama com teor humanista e valorizado pelo elenco, afinal ele conta com Tim Robbins, Benicio Del Toro, Olga Kurylenko e os pouco conhecidos Mélanie Thierry e Fedja Stukan que dão conta de manter o ritmo da narrativa perante os problemas que enfrentam. Nas andanças do grupo o que vemos são os horrores da guerra pelo olhar estrangeiro, por isso mesmo, o olhar torna-se muito próximo do espectador quando se deparam com minas terrestres, vítimas da guerra ou soldados fazendo novos prisioneiros. Esse distanciamento funciona, mas paga o preço de perder o olhar dos cidadãos que observam a guerra devastar suas vidas (e essa fagulha quase acontece quando o grupo se depara com um menino que pretende recuperar uma bola em sua antiga casa). Ao final da sessão percebe-se que existe boa vontade por parte do grupo, mas também uma atmosfera de inércia que impossibilita ações mais efetivas para o auxílio dos moradores. Em meio a contradições políticas tratadas com ironia, Aranoa consegue construir um filme que prende a atenção com a urgência de sua narrativa embalada pela trilha pop (Lou Reed, Marilyn Manson, Ramones...), além de homenagear homens e mulheres que se dedicam a ajudar a população vítima de conflitos sem sentido ao redor do mundo - e sem perder o otimismo.

Um Dia Perfeito (A Perfect Day / Espanha - 2015) de Fernando León de Aranoa com Benicio Del Toto, Tim Robbins, Olga Kurylenlo, Mélanie Thierry, Fedja Stukan e Sergi López. ☻☻☻

domingo, 28 de agosto de 2016

Na Tela: De Longe Te Observo

Luis e Alfredo: mais do que fantasias.

Causou espanto no Festival de Veneza no ano passado quando foi anunciado que o grande vencedor do Leão de Ouro (prêmio máximo do Festival) foi o venezuelano De longe Te Observo, nada mal para o diretor estreante Lorenzo Vigas que viu sua obra se sobrepor a de nomes como Charlie Kauffman, Tom Hooper, Alexander Sokurov e Atom Egoyan. Vigas constrói um filme bastante provocador, centrado na figura de Armando (o ícone chileno Alfredo Castro), um homem maduro e estranho que convida jovens rapazes para ir ao seu apartamento para observá-los sem roupa. Armando poderia ser apenas mais um voyeur se não conhecesse o jovem Elder (Luis Silva), rapaz agressivo, homofóbico e envolvido com gangues de rua. Se o primeiro encontro entre os dois foge do controle de Armando, aos poucos, o interesse dele só cresce em torno do rapaz. Começa então um verdadeiro jogo de sedução e poder entre os dois, no entanto, o final revela uma guinada que muda todo o sentido da relação que vemos durante toda a sessão (e se eu falar mais do que isso, estraga). O que poderia ser apenas mais um filme de homem mais velho que se apaixona por um jovem recebe cores duras nas mãos de Vigas e seu elenco, sem deixar de ressaltar (levemente) problemas sociais do Chile. Com a narrativa lenta, diálogos ásperos e uma história que se constrói fatos revelados aos poucos, o filme cria várias cenas que fazem jus ao título (inclusive a última) e que confirma o talento de Alfredo Castro para viver sujeitos ambíguos no cinema. Castro já viveu sujeitos estranhos em Tony Manero (2008) e O Clube (2015), mas aqui ele consegue transmitir mais sentimentos do que você imagina com um leve esboço de sorriso ou um olhar mais distante. Nas mãos do ator, Armando torna-se um verdadeiro enigma que nunca se contenta em ser apenas um admirador de rapazes (e acredite que durante o filme você irá perceber isso em várias cenas). Tão incômodo quanto sutil, De Longe te Observo é mais uma prova do vigor cinematográfico do cinema latino. 

De Longe te Observo (Desde Allá / Chile - México - 2015) de Lorenzo Vigas com Alfredo Castro, Jericó Montilla, Catherina Cardozo e Yvan Peña. ☻☻☻☻

4EVER: Gene Wilder

11 de junho de 193329 de agosto de 2016

Nascido na cidade de Milwaukee no estado de Winsonsin (EUA), Jerome Silberman ficou conhecido com o nome de Gene Wilder quando fez uma marcante participação no clássico Bonnie & Clyde (1967). Desde ali seu olhar chamou atenção por conseguir expressar sentimentos sem que fosse necessário dizer uma palavra. Essa habilidade rendeu sua escalação para Primavera para Hitler (1968) de Mel Brooks, filme que lhe rendeu sua primeira indicação ao Oscar na categoria de ator coadjuvante. Em 1971 o ator daria vida ao papel que marcaria gerações de fãs, ao viver o excêntrico Willy Wonka dono da Fantástica Fábrica de Chocolate (1971), com este clássico o ator chegou ao estrelato em grande estilo, sendo indicado ao Globo de Ouro de Melhor ator de comédia ou musical. Wilder seria mais uma vez indicado ao Oscar por O Jovem Frankenstein (1974), só que na categoria de melhor roteiro original. Ainda que fosse capaz de interpretar personagens dramáticos, Wilder se popularizou por suas comédias de sucesso como Tudo o que Você Queria Saber Sobre Sexo, Mas tinha medo de Perguntar (1972), Banzé no Oeste (1974) e A Dama de Vermelho (1984), além de várias parcerias com Richard Pryor e a personificação da Raposa na adaptação de O Pequeno Príncipe (1974). O ator faleceu em decorrência do mal de Alzheimer aos 83 anos após optar por viver fora dos holofotes de Hollywood desde 2003. 

PL►Y: O Valor de um Homem

Lindon: atuação premiada em Cannes. 

Na época da faculdade uma amiga era fã do ator Vincent Lindon (ela fazia até um trocadilho com o sobrenome dele, não dizendo o 'n' ao final). Se passaram mais de dez anos de lá para cá e o ator, que antes era visto como um galã francês, demonstra que sabe utilizar os efeitos do tempo a seu favor. Em O Valor de Um Homem ele volta a trabalhar com o cineasta Stéphane Brizé e a sintonia entre os dois lhe valeu um merecido prêmio de melhor ator no Festival de Cannes no ano passado. Lindon vive Thierry, um homem maduro desempregado, casado e com um filho portador de paralisia cerebral. Pelo que se percebe Thierry perdeu o emprego por conta da crise econômica europeia que afetou a usina em que trabalhava há décadas. Os dias de seguro desemprego estão chegando ao fim e o desespero de Thierry só aumenta conforme tenta se adequar aos modismos do mercado de trabalho. Entre cursos que não são valorizados e oficinas que parecem mais desmerecê-lo do que ajudar com seus problemas, Brizé utiliza a jornada de seu protagonista para mostrar o quanto o mercado pode ser cruel para os mais experientes que precisam lidar com um mundo mais competitivo e impessoal. Além do problema com o desemprego existem outros fatores que se juntam ao cotidiano do personagem, entre elas a sugestão de vender a casa própria que está quase quitada e a proximidade do ingresso do filho na faculdade. O filme investe numa linguagem quase documental, acompanhando alguns fatos da vida do personagem, portanto, não se incomode se em um momento ele está pedindo emprego e no outro ele tenta se distrair ao lado da esposa numa aula de dança. As coisas melhoram quando ele arranja emprego de segurança num supermercado, mas ele começa a incomodar quando o fantasma do desemprego começa a aparecer de uma forma diferente em sua rotina. No misto de responsabilidade e cansaço Vincent Lindon está perfeito como protagonista e carrega o filme nas costas diante da narrativa realista criada pelo diretor (e vale destacar uma naturalidade muito bem vinda com que mostra a rotina do casal com um filho com necessidades especiais). O filme me lembrou muito Dois Dias, Uma Noite (2014) dos irmãos Dardenne - filme que começou a carreira em Cannes2014 e rendeu à Marion Cotillard sua segunda indicação ao Oscar na pele de uma mulher que tentava recuperar o emprego. Ambas as obras investem em mostrar a dura realidade do desemprego e as leis do mercado (que é o título original do filme de Brizé), terminam de forma parecida, possuem um estilo semelhante e são valorizados por atores inspirados ao dar vida a pessoas comuns preocupadas com um problema cada vez mais comum nos dias atuais.

O Valor de Um Homem (La loi du marché/França-2015) de Stéphane Brizé com Vincent Lindon, Karine de Mirbeck, Martthieu Schaller e Yves Ori. ☻☻☻

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Pódio: Tom Tykwer

Tom Tykwer
Tom Tykwer nasceu na cidade de Wuppertal em 1965, localizada na então Alemanha Ocidental. Tom desenvolveu gosto pelo cinema desde pequeno, começando a fazer filmes em super 8 quando tinha apenas onze anos de idade. Antes de tornar-se cineasta mudou-se para Berlim e trabalhou como projetista até organizar a programação de filmes de arte para a sala Moviemento, o que o tornou conhecido de vários cineastas. Em 1990 lançou seu primeiro curta-metragem profissional e se destacou entre os jovens cineastas alemães, ajudando a colocar o cinema de seu país entre os mais interessantes do mundo. Tykwer ficou famoso mundialmente em 1998 e, desde então, mostra-se um diretor (além de roteirista, produtor e compositor) que sempre vale a pena prestar atenção. O Pódio destaca minhas três obras favoritas do ambicioso cineasta:

O Bronze:  Ruiva Corredora.
Corra, Lola, Corra (1998)
O sucesso só encontrou Tykwer dez anos depois que começou os seus trabalhos. O motivo da consagração foi a narração vertiginosa que acompanha a heroína de cabelos vermelhos para salvar a vida do namorado. Com música eletrônica e uso de animações, você não precisa nem se preocupar se a personagem falhar, afinal, o filme começa a história novamente se algo der errado (como se fosse um game). Aclamado no Festival de Veneza o filme foi premiado em Sundance e indicado ao BAFTA de filme estrangeiro. 

A Prata: Ménage a Tròis
Triângulo Amoroso (2010)
Um dos grandes méritos do cinema de Tykwer é nunca investir na repetição, foi assim que ele surgiu todo diferente com uma história de amor pouco convencional entre um casal maduro (Sophie Rois e Devid Striesow) que se interessa pela mesma pessoa, no caso o simpático Simon (Sabastian Schipper). Sem se esquivar dos dilemas (e polêmicas) de um relacionamento a três, Tykwer realiza um filme que nunca cai na vulgaridade ou apelação, investindo nas sutilezas do encontro de três pessoas que se complementam. Com uma fluência narrativa impressionante, o filme é uma das melhores obras sobre relacionamentos que já assisti.  

O Ouro: Homem sem Cheiro
Perfume (2006)
O inglês Ben Whishaw é o ator favorito de Tom Tykwer - e basta ver Perfume para saber o motivo. Baseado no livro de Patrick Süskind, o filme conta a história de Jean-Baptiste (Whishaw) que já é concebido sendo rejeitado e cresce sem que seu corpo tenha qualquer odor. Ao crescer e conhecer um boticário, ele cria a obsessão de criar o melhor cheiro de todos - o problema é que para isso ele precisa assassinar mulheres e extrair as essências de suas vítimas. Uma fantasia estranha que rende calafrios, sobretudo pelas atuações e a produção tão exuberante quanto ambiciosa. Em breve será reconhecido como um clássico moderno!

Na Tela: Negócio das Arábias

Hanks nas arábias: boa atuação. 

O cineasta alemão Tom Tykwer ficou famoso mundialmente com Corra, Lola, Corra (1998), filme moderninho estrelado por Franka Potente e Moritz Bleibtreu que tinha a narrativa conduzida por inspirações que vinham dos games, da música eletrônica e desenho animado. Espertamente o diretor não investiu em repetir as mesmas modernices nos seus filmes posteriores, investindo em produções com narrativas bastante diferenciadas e com foco nas interpretações. Depois de dividir os créditos com os Wachowski no confuso A Viagem (2012), ele repete a parceria com Tom Hanks em Negócio das Arábias, comédia dramática que é menos do que poderia ser, mas que consegue entreter com a história de Alan Clay (Tom Hanks). Baseado no livro escrito pelo roteirista Dave Eggers, o roteiro de Tykwer investe na leveza para contar a história de um homem falido (profissionalmente e emocionalmente) que precisa ir até a Arábia Saudita convencer o monarca local a comprar um projetor 3D, ou seja, uma máquina de hologramas. Desde que chega a tarefa mostra que nunca será fácil, já que as condições de trabalhos são precárias (sua equipe, com três pessoas, precisa trabalhar numa tenda no meio do deserto, sem wi-fi, sem alimentação e, em breve, sem ar-condicionado), sorte (ou seria azar?) que o Rei nunca está disposto a assistir a apresentação do tal apetrecho. Aguardando o grande dia, Alan precisa lidar com suas próprias inseguranças, problemas de saúde, a saudade da filha e as investidas de uma dinamarquesa (enquanto está interessado por outra mulher), todos esses artifícios rendem material para que Tom Hanks exercite um humor sutil que há tempos não exercitava em sua carreira. Essa desenvoltura rende bons momentos, especialmente quando está em cena com o motorista Yousef (vivido por Alexander Black) que serve de porta de entrada para os (brandos) conflitos culturais que o filme apresenta. Tykwer faz um filme simpático, fácil de assistir, mas que demora para decolar - e quando o faz, não chega muito alto. Bem realizado o filme nunca aprofunda as angústias dos personagens (que não são poucas), com isso ele alcança leveza, mas perde densidade narrativa. 

Negócio das Arábias (A Hologram for the King / Reino Unido - Alemanha - França - México - EUA / 2016) de Tom Tykwer com Tom Hanks, Alexander Black, Sarita Choudhury e Tom Skerritt. ☻☻

Na Tela: As Montanhas se Separam

Tao e o filho: entre a modernidade e as tradições.

Indicado a Palma de Ouro em Cannes no ano passado o filme chinês As Montanhas se Separam conseguiu chamar atenção nas salas brasileiras com uma história que utiliza como pano de fundo as transformações ocorridas na China. Séria reducionista considerar que o filme trata de um triângulo amoroso, quando na verdade, ele investe em abordar algo muito mais complicado e abstrato: a identidade da população chinesa na virada do século. Quem conhece um pouco do sistema sócio-econômico e político do país, irá perceber que o diretor e roteirista Zhangke Jia decora seu filme com várias citações às mudanças que o país passou rumo ao século XXI - algo que é bastante comum em sua cinematografia. Não é por acaso que o filme começa em 1999 com a protagonista Shen Tao (vivida pela carismática atriz Shen Tao, esposa do cineasta) dançando ao som de Go West do Pet Shop Boys antes que conheçamos o tal "triângulo" formado por ela e os amigos Zhang (Yi Zhang) e Liang (Jing Dong Liang). Zhang acabou se formar em direito e já começou a acumular riquezas em sua carreira de empresário, enquanto isso, o humilde Liang ganha a vida trabalhando numa mina de carvão. Os dois são apaixonados por Tao, o que irá comprometer definitivamente a amizade de todos. Quando Liang perde o emprego nas minas de carvão e Zhang torna-se cada vez mais agressivo rumo aos seus objetivos, a plateia começa a imaginar o que acontecerá daqui para a frente... É quando o clima de romance tem um corte (depois dos quarenta minutos de projeção) e aparecem os créditos da abertura do filme. 

Liang e família: só problemas em 2014.

Ali percebemos que o cineasta quer construir partes quase distintas da história que vimos no início, afinal, as montanhas já estão separadas quando nos deparamos com Liang longe dos amigos e tentando tocar a vida até que lhe acontece um golpe do destino. Quando reencontramos Tao ela também não é mais aquela jovem alegre, um tanto desiludida pelas escolhas do passado, ela mal consegue ser amorosa com o filho de sete anos. Vale a pena lembrar que estamos diante de um filme chinês e não americano e, portanto, as emoções estão mais sufocadas, reprimidas à beira do insuportável quando o diretor promove os reencontros de seus personagens. Não satisfeito o filme avança até 2025 e aborda a crise de identidade do jovem Daole (Zijian Dong), também conhecido como Dollar, filho de Tao, que mora na Austrália, fala inglês, não consegue se comunicar com o pai e não lembra de suas raízes chinesas. Ao longo do filme, Zhangke Jia amplia o futuro de um mundo globalizado  (ou seria ocidentalizado? Go West!) onde as raízes se encontram fragilizadas, mas ainda podem ser fonte para descoberta de sua História. As Montanhas se Separam tem a a vantagem de em momento algum se contentar em seguir os caminhos mais convencionais da história que vemos em sua primeira parte. O longa pode incomodar com suas rupturas e abandono dos arcos que apresenta ao longo de suas mais de duas horas de projeção, mas isso é necessário para que suas ambições resulte na obra belamente triste que é, afinal, assim como fora da tela, fica a vontade de saber o que houve com as pessoas que fizeram parte da nossa trajetória pessoal, feita de de encontros e desencontros ao longo do tempo. Talvez por isso, as cenas finais deixem o sabor de que a memória  pode ser um confortável refúgio para o futuro que vislumbramos.

2025: Daole ou Dollar?

As Montanhas se Separam (Shan he gu ren / China - 2015) de Zhangke Jia com Shen Tao, Jing Dong Liang, Yi Zhang, Zijian Dong e Sylvia Chang. ☻☻☻☻

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

PL►Y: O Que Fazemos nas Sombras

Os vampiros e os humanos: humor afiado feito caninos. 

Eu admito que sou muito enjoado quando preciso avaliar uma comédia e poucas conseguem passar pelo meu crivo, talvez porque eu ainda não me acostumei a ver o gênero como sinônimo de banalidade, baixaria e repetição como a grande maioria dos lançamentos nos faz acreditar. Sorte que sempre aparece um filme para mostrar que existe gente esperta com boas ideias para fazer rir. O Que Fazemos nas Sombras finge ser um documentário  sobre vampiros que vivem na Nova Zelândia no século XXI e o resultado é divertidíssimo! Dirigido, escrito e estrelado pela dupla Jemaine Clement e Taika Waititi o filme arranca várias risadas com seu estilo besteirol nonsense ao nos apresentar Viago (Waititi), Deacon (Johnatan Brough) e Vladislav (Clement), três vampiros alemães que vivem na NZ nos arredores da capital Wellington (ah vai, você não sabia que meu nome era a capital da Nova Zelândia?) e aguardam ansiosamente por um baile de máscaras onde as zumbis, bruxas, banshees, vampiros e outras criaturas se encontram periodicamente. O filme costura entrevistas com os personagens e cenas inusitadas de seu cotidiano. Não por acaso coube a Viago servir de guia para os documentaristas, já que aos 379 anos ele continua sendo o mesmo dândi educado do século XVIII. É seu olhar tenso e o sorriso nervoso que nos apresenta Vladislav, que aos 862 lembra com gosto dos tempos em que era torturador na Idade Média (e ainda é apreciador de orgias, hipnotise, gosta de transformar-se em animais e tem como maior inimigo o que ele chama de A Besta). O mais jovem do grupo é Deacon, o bad boy do grupo com 183 anos. O trio ainda tem como hóspede o veterano Petyr (Ben Fransham evocando do clássico Nosferatu, que em breve terá sua nova refilmagem nos cinemas). Petyr tem 8 mil anos e foi o responsável por vampirizar os três amigos. O filme já começa mostrando o absurdo da ideia, com o trio discutindo quem deve lavar a louça e trazer a comida para a casa - é nessa tarefa que o desconfiado Nick (Cori Gonzalez-Macuer) e o quieto Stu (Stuart Rutherford) conhecem os vampiros, o que gera mudanças na vida de todos (inclusive crises de ciúme). Some encontros com lobisomens, batalhas de morcego, visitas de policiais, uma serva louca para ser mordida (Jackie Van Beek) e uma "surpreendente" Procissão da Vergonha e você terá apenas uma ideia do que acontece no filme. Hilariante em seu absurdoo filme ainda conta com efeitos visuais que recriam os clássicos do gênero e elenco afiado - que é um dos melhores do ano. Ao rir de si mesmo, O Que Fazemos nas Sombras torna-se uma comédia ainda mais original e merecia ter conseguido um espaço nos cinemas.  

O Que Fazemos nas Sombras (What We do in the Shadows / Nova Zelândia - 2014) de Jemaine Clement e Taika Waititi com Taika Waititi, Johnatan Brough, Jemaine Clement, Cori Gonzalez-Macuer, Stuart Rotherford, Ben Fransham, Jackie Van Beek e Chelsie Preston Crayford. ☻☻☻☻

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

PL►Y: Contos Góticos de Crimes

Stormare: dilemas de um policial e seu passado. 

O sueco Peter Stormare pode ser visto em dezenas de filmes e séries de TV - e você também pode até reconhecer a voz dele em várias animações e games. A maioria dos cinéfilos deve lembrar dele encarnando personagens ameaçadores em Fargo (1996) e O Grande Lebowski (1998), ambos dos irmãos Coen, ou como o diabo encarnado de Constantine (2005). O fato é que Peter é um dos atores mais versáteis que o cinema americano dispõe, sendo capaz de fazer dramas, comédias, suspenses e todo tipo de filme sempre entregando construções interessantes. Em Contos Góticos de Crimes ele interpreta um policial que investiga um misterioso assassinato numa cidade no interior do Canadá. Em busca do culpado pela morte de uma mulher desconhecida, Walter terá que lidar com as sombras do próprio passado - e isso inclui se confrontar com a ex-namorada Rita (Jill Hennessy) quando o novo companheiro dela parece envolvido com o crime. Basta esse reencontro para que toda a atual fase pacata do policial começa a estremecer, podendo compromete sua credibilidade e o casamento com Sam (Martha Plimpton). Embora aposte num ritmo lento e intimista, o diretor Ed Gass-Donnelly (que depois foi convidado para dirigir a continuação do terror O Último Exorcismo em 2013) tenta ser moderno separando seu filme em capítulos divididos por citações bíblicas e utiliza uma eficiente trilha sonora que mistura gospel com ritmos profanos, no entanto, quem for atrás do "gótico" esperando uma estética visual associada ao gênero irá se decepcionar, já que o termo destina-se à apresentação do seu protagonista. Talvez o título original, que faz alusão à própria trilha (Small Town Murder Songs / Canções de Assassinato de uma Cidadezinha) possua maior relação com a narrativa que pretende investigar mais as brechas pela qual pode-se ver o passado de Walter do que o próprio assassinato. A obra se sustenta principalmente pela atuação de Stormare como um policial ainda inseguro por suas inclinações violentas, assim, os olhares e silêncios do ator são suficientes para que possamos conhecer sua alma inquieta frente aos dilemas pessoais que enfrenta. O filme fez sucesso em alguns festivais independentes e rendeu ao ator o prêmio dos críticos de Vancouver no ano de seu lançamento. Para quem curte, ou para quem ainda não conhece o potencial desse eterno coadjuvante, o filme merece ser visto. 

Contos Góticos de Crimes (Small Town Murder Songs/Canadá-2010) de Ed Gass Donnelly com Peter Stormare, Jill Hennessy, Martha Plimpton e Ari Cohen. ☻☻☻

domingo, 21 de agosto de 2016

MOMENTO [OLÍMPICO] ROB GORDON - III: Aguarde o Filme

05 "Como Jogar uma Carreira no Lixo"
A Olimpíada termina com a tendência de coroar um vilão: o nadador medalhista de ouro Ryan Lochte - que se meteu numa noite de bebedeira que foi parar na delegacia. Some mentiras e um escândalo no mundo do atletismo e não duvide que em breve a história estará num cinema perto de você (e com Channing Tatum no papel principal!). Eu poderia até colocar vários outros atletas em quinto... mas esse já tem produtores de olho na história estapafúrdia. 

04 ¨Seis e Três"
Antes da Olimpíada pouca gente falava de Thiago Braz, mas o rapaz de 22 anos pareceu ter derrotado um verdadeiro Golias ao quebrar o recorde mundial de salto com vara. Seis metros e três centímetros lhe garantiram uma medalha de ouro - que colocou seu nome da história de atletismo. O filme de Thiago poderia começar de sua infância onde era criado pelos avós com a ajuda do tio, o ex-atleta Fabiano Braz. Depois o roteiro seguiria pelo romance com a namorada, a também atleta Ana Paula Oliveira (hoje, sua esposa) e explorar um aspecto importante na vida do casal: a fé. 

03 "Encontrando Rafaela"
O que faz uma olimpíada inesquecível são as histórias de superação. Sendo assim, a de nossa medalhista Rafaela Silva deveria começar com os ataques absurdos sofridos após sua derrota nas Olimpíadas de Londres (2012), que quase a fez desistir do esporte. Em flashback veremos cenas da infância pobre de Rafaela na favela Cidade de Deus, sua esperança através do esporte e o resgate de sua confiança antes de conquistar sua merecida medalha de ouro em 2016. 

02 "De Canoa"
O baiano Isaquias Queiroz se tornou o primeiro atleta brasileiro a ganhar três medalhas na mesma Olimpíada. Uma de prata (em canoa individual 1.000 metros) e duas de bronze (uma em canoa individual 200m e outra na Canoa de Dupla 1000 metros, com Erlon de Sousa Silva). O filme enfatizaria como Isaquias colecionou seus títulos até o triunfo olímpico (ele já possui oito medalhas em seis anos participando de competições). A simpatia do atleta seria um grande trunfo da narrativa (que poderia colocar o ator falando diretamente para a câmera em alguns momentos). 

01 "A Terra do Futebol"
O filme poderia começar em 2014, quando Brasil perdeu sua copa num traumatizador sete a um para a Alemanha. A partir daí, o filme acompanharia a trajetória do futebol masculino em busca de sua nova identidade nas olimpíadas e se deparando com a força do futebol feminino. Numa trama cheia de surpresas, o filme poderia contrapor a trajetória entre jogadores masculinos e femininos, a pressão da mídia e os conflitos até chegar à inédita medalha de ouro olímpico para nosso futebol e o carinho que nos faz lembrar que ganhar medalhas é importante, mas reconhecer a jornada dedicada de um atleta pode ser muito emocionante!

sábado, 20 de agosto de 2016

CATÁLOGO: O Mito das Digitais

A família reunida: lavando a roupa suja. 

Filmes sobre encontros familiares são muito comuns, especialmente no cinema independente americano - e de vez em quando um diretor se aventura a dar conta de um filme com vários personagens lidando com os ressentimentos acumulados em anos de convivência. Dois pontos são fundamentais para a empreitada ser bem sucedida: um bom roteiro e o entrosamento dos atores. Bart Freundlich marcou sua estreia em longa metragens com um roteiro escrito por ele mesmo sobre uma família que se encontra para um dia de ação de graças, o melhor é que ele teve o bom senso de reunir um elenco de respeito para defender seus personagens. Lena e Hal (os veteranos Blythe Danner e Roy Scheider) são os pais da temperamental Mia (Julianne Moore), do bem resolvido Jake (Michael Vartan), do introspectivo Warren (Noah Wyle) e da tagarela Leigh (Laurel Holloman). Se Lena é acolhedora a ver a casa cheia novamente, Hal não vê com bons olhos que Mia tenha vindo acompanhada do marido terapeuta, Elliot (Brian Kerwin) - que chama bastante atenção de Leigh - e que Jake esteja ao lado da namorada fogosa Margaret (Hope Davis). Como a grande maioria do gênero, o roteiro explora como a família precisa lidar com as diferenças para passar um tempo juntos, é verdade que nem sempre o roteiro sabe dosar o desenvolvimento dos personagens, deixando alguns mais explorados que os outros, especialmente quando se fala daa antipatia de Mia e um namoro mal resolvido de Warren com Daphne (Arija Bareikis) - que se deve a um segredo que não rende a catarse esperada durante a sessão. Freundlich demonstra ambição ao lidar com tantos personagens em cena, erra ao exagerar no uso de cenas de sexo (todas muito discretas, mas que acontecem num encadeamento repetitivo) e acerta na frieza do reencontro que aos poucos se dissipa na convivência. Equilibrando drama e cenas de alívio cômico, o filme pode até surpreender por mostrar como pessoas de um mesmo núcleo familiar podem ser crueis com os demais por puro hábito. As ótimas Blythe Danner e Julianne Moore tem uma cena inesquecível que retrata bem essa ideia, onde a sinceridade entre mãe e filha fica palpável (ainda que dolorida). Ironicamente o elo mais fraco do elenco é Noah Wyle (que estava no auge na época como o médico novinho do seriado Plantão Médico/E.R.) que se perde em um conjunto de tiques para tentar alcançar a profundidade de um rapaz silencioso que não consegue se relacionar com o pai. O Mito das Digitais não é um filme inesquecível, mas pode agradar quem curte pendengas familiares, o mais interessante é que o filme marcou o início do relacionamento da estrela Julianne Moore com o diretor Bart Freundlich, que se casaram em 2003 e tiveram dois filhos Caleb (que completa 19 anos em dezembro) e Liv Helen (completou 14 em abril), parece até coisa de filme. 

O Mito das Digitais (The Myth of Fingerprints/EUA-197) de Bart Freundlich com Noah Wyle, Julianne Moore, Blythe Danner, Roy Scheider, Michael Vartan, Hope Davis, James Le Gross e Laurel Holloman. ☻☻☻

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

FILMED+: Tangerinas

Margus e Ivo: a guerra sob o olhar de dois homens comuns. 

Tangerinas ficou famoso por ser o primeiro filme da Estônia a concorrer ao Oscar de filme estrangeiro. Antes ele já havia recebido prêmios em festivais e tornou-se uma espécie de unanimidade entre a crítica pela forma simples em que constrói um pequeno manifesto contra a guerra. Impressiona a forma como o diretor Zaza Urushadze cria em menos de uma hora e meia uma história vigorosa com poucos personagens em cena e diálogos que possuem grande clareza em transmitir uma ideia. A história acontece nos anos 1990 durante a guerra da Geórgia, mais precisamente na região de Apkhazeti, onde a maioria dos moradores fugiram de suas casas por conta dos embates entre tchetchenos e georgianos. No entanto, dois moradores locais se despediram de suas famílias e permaneceram em suas casas. Margus (Elmo Nüganen) pretende sair dali logo após que colher as tangerinas que amadurecem em sua plantação, ele conta com a companhia do amigo e vizinho Ivo (Lembit Ulfsak), que constrói as caixas de madeira para que as tangerinas sejam transportadas. Os dois irão testemunhas um embate sangrento perto de suas casas e Ivo acolherá dois feridos em sua casa, dando início a uma tensão que não esperava presenciar, afinal o tchetcheno Ahmed (Giorgi Nakashidze) não vê a hora de eliminar o inimigo georgiano Nika (Misha Meskhi) que encontra-se inconsciente. A história evolui sem pressa, a partir das reflexões que Ivo instiga em seus dois hóspedes, afinal o que torna sagrado tirar uma vida? Quem deu o direito para que um homem possa tirar a vida de outro? Mas a pergunta que fica na mente do espectador é: será que dois homens endurecidos pela guerra serão capazes de conviver sobre o mesmo teto? O embate entre dois senhores comuns que apenas tentam viver em meio aos escombros da guerra e dois homens de guerra já vale o filme. Esse confronto de perspectivas é conduzido sem pieguices pelo diretor, revelando a humanidade que estava escondida nos dois homens enfurecidos. Vale destacar o ótimo elenco guiado pelo diretor, com menção honrosa para a atuação de Lembit Ulfsak, um senhor tão ciente de suas convicções que funciona como excelente mediador de um verdadeiro purgatório para Ahmed e Nika. No desfecho, a total ausência de lógica de uma guerra invade a realidade dos personagens mais uma vez e revela que todas as diferenças entre os inimigos são apenas ilusórias. Tangerinas é um filme modesto que tem total consciência da força de sua história  e, por isso mesmo, merece todo o respeito - e em tempos de intolerância merece ser descoberto. 

Tangerinas (Mandariinid/Geórgia-Estonia/2013) de Zaza Urushadze com Lembit Ulfsak, Giorgi Nakashidze, Elmo Nüganen, Misha Meskhi e Raivo Trass. ☻☻☻☻☻

terça-feira, 16 de agosto de 2016

4EVER: Elke Maravilha

22 de fevereiro de 1945 ✰ 16 de agosto de 2016

Elke Gerogievna Grunnupp nasceu em 22 de fevereiro de 1945 na extinta União Soviética. Filha de um russo e uma alemã, Elke veio morar no Brasil quando os pais resolveram fugir das perseguições em sua terra natal. A família foi atraída pelo Brasil pela receptividade com os estrangeiros eos pais de Elke não queriam viver numa comunidade russa por aqui, desejavam aprender os hábitos e costumes de nosso país. Morando em Itabira em Minas Gerais, Elke ficou fascinada com a diversidade de nosso país. Dona de uma beleza exótica para os padrões brasileiros, Elke foi morar no Rio de Janeiro aos vinte anos e, sabendo falar várias línguas, trabalhou como secretária. Ao formar-se em Letras trabalhou como professora, tradutora e intérprete de línguas antes de ser descoberta pelo mundo da moda. Elke trabalhou como modelo e mais tarde aprimorou seu talento em cursos de teatro e cinema, realizando trabalhos como atriz em várias mídias, tornando-se muito conhecida como jurada em programas de calouro liderados por nomes consagrados como Chacrinha e Sílvio Santos. Sua atuação mais conhecida foi como a dona de bordel da minissérie Memórias de um Gigolô (1986), mas ela também recebeu destaque em mais de trinta filmes, entre eles Xica da Silva (1976), Tenda dos Milagres (1977) e Pixote - A Lei do Mais Fraco (1981). A artista que transbordava simpatia faleceu em decorrência do tratamento de uma úlcera.  

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

PL►Y: Kumiko - A Caçadora de Tesouros

Rinko: continuação inusitada de Fargo. 

Elogiado quando foi exibido no Festival de Sundance e indicado aos prêmios de melhor diretor e melhor atriz no Independent Spirit Awards, Kumiko - A Caçadora de Tesouros é um filme bastante peculiar que você pode amar ou odiar. Se você assistiu ao filme Fargo (1996) você irá curtir ainda mais o filme, já que o ponto de partida para a história está na celebrada obra dos irmãos Coen. Quando lançado, Fargo se apresentava sendo inspirado numa história real (fato que depois os diretores desmentiram e disseram que usaram esse recurso apenas para que o público comprasse a ideia presente no roteiro). No meio do enredo (ganhador do Oscar de roteiro original) um determinado personagem enterra uma maleta cheia de dinheiro que permanece esquecida até o desfecho da trama e esse é o ponto de partida para a jovem japonesa Kumiko neste filme. Ela enfrenta problemas financeiros e acredita que aquela maleta permanece perdida até os dias atuais, resolvendo partir em busca da mesma. Sem dinheiro para pagar o hotel em que estava hospedada ou uma corrida de táxi, Kumiko parte em busca da maleta com a ajuda de um mapa, um cobertor e o DVD do filme Fargo. Sem saber falar inglês ela terá ajuda de um simpático xerife (vivido com gosto pelo próprio diretor David Zellner) que tenta convencê-la de que a história retratada no filme era apenas ficção (mas sempre que ele afirma isso ela fica furiosa). O filme, escrito por David Zellner e o irmão, Nathan Zellner, investe num tom realista para flertar com a fantasia de sua personagem (não por acaso ela usa um casaco de gorro vermelho) que é vivida graciosamente por Rinko (atriz que já foi indicada ao Oscar por sua personagem em Babel/2006) que transpira inocência e uma certa dificuldade em perceber o mundo que a cerca. Não deixa de ser interessante como Zellner utiliza uma personagem completamente diferente dos construídos no universo de Fargo para abordar a mesma busca pelo dinheiro, porém, vale destacar, que ao final o diretor deixa a cargo do espectador decidir se o que acontece é real ou apenas o último delírio de sua protagonista - mas, assim como acontece durante todo o filme, cria um desfecho que é pura poesia visual. 

Kumiko - A Caçadora de Tesouros (Kumiko - Treasure Hunter/EUA-2014) de David Zellner com Rinko Kikuchi, David Zellner, Nathan Zellner e Kanako Higashi. ☻☻☻☻

MOMENTO [OLÍMPICO] ROB GORDON - II : Sósias da Olimpíada

05 Luis Scola & Russell Brand
Há quem enxergue semelhanças entre o jogador de basquete argentino e o inglês Russell Brand...

04 Kobe Bryant & Tupac Shakur
Kobe Bryant deixou os fãs frustrados ao se aposentar antes das Olimpíadas 2016, mas isso não impede que ele apareça na lista como um sósia do rapper Tupac Shakur

03 Alanna Kenndey & Luana Piovani
Com a medalha de bronze está a futebolista australiana que consegue ficar parecida com a anfitriã Luana Piovani sem fazer pose!

02 Ryan Lochte & Channing Tatum 
A prata fica com o nadador americano que gosta de aparecer e sempre quis ser mais do que um astro da natação americana. Ele é garoto propaganda da Speedo e da Ralph Laurent, além de ter estrelado um Reality Show no canal E! Te cuida Channing Tatum!

01 Brady Ellisson & Leonardo DiCaprio
O ponto mais alto do pódio fica com o arqueiro dos EUA que é confundido com o astro de Hollywood sempre que aparece em público. 

domingo, 14 de agosto de 2016

Ladies & Gentlemen: Jack O'Connell

Jack O'Connell
Filho de uma inglesa com um irlandês, Jack O'Connell é um dos jovens atores britânicos que ouvimos falar muito nos últimos anos. Nascido em 1º de agosto de 1990, na cidade de Derby no Reino Unido, ele começou a ficar conhecido do público por seus trabalhos na TV britânica, sobretudo no seriado Skins (2009-2013) no qual interpretava o adolescente James Cook. Sua estreia como ator aconteceu aos quinze anos numa participação no seriado britânico Doctors (sucesso exibido até hoje na Inglaterra). Seu primeiro trabalho no cinema foi em This is England (2006) que abordava o polêmico universo de jovens skinheads. Dois anos depois ele apareceu ao lado de Michael Fassbender e Kelly Reilly no suspense Sem Saída (2008), mas ainda faltava muito para tornar-se protagonista. Porém, o talento de Jack lhe garantiu outros trabalhos com nomes importantes, foi assim que conseguiu algum destaque em Harry Brown (2009), drama criminal estrelado por Michael Caine. Conjugando trabalhos na televisão e no cinema, Jack ainda apareceu em United (2011), filme sobre um legendário jogador do Mancester's United. Depois ele conseguiu o papel de um dos protagonistas de Weekender (2011), filme sobre a cena rave dos anos 1990. O filme pode não ter feito grande sucesso, mas garantiu novos papéis para o ator em pequenas produções britânicas como The Somnambulist (2011), Tower Block (2012) e Private Peaceful (2012) onde chamou atenção pela sua atuação como um soldado no início do século XX e depois o ator exercitou seu humor negro em Assassinos de Aluguel (2012) ao lado de Tim Roth e Peter Mullan. Já com papeis de destaque em seu currículo, Jack chamou pela primeira vez a atenção da crítica mundial no drama Encarcerado (2013), onde vive um jovem prisioneiro que reencontra o pai atrás das grades. O filme com cenas fortes de violência e nudez lhe valeu as primeiras indicações a prêmios no cinema. O passo seguinte o tornou ainda mais conhecido ao viver o campeão olímpico Louis Zamperini em Invencível (2014), segundo longa metragem dirigido por Anjelina Jolie. O filme alcançou sucesso nas bilheterias, mas foi esquecido no Oscar onde muitos consideravam que Jack seria lembrado por sua atuação espetacular. Após ficar mais conhecido do público, o drama 71 - Esquecido em Belfast (2014) fez algum sucesso nos cinemas americanos no mesmo ano em que ele apareceu no candidato à blockbuster 300 - A Ascenção de um Império. Naquele ano o ator disse em entrevistas que buscaria viver personagens menos problemáticos em seus novos filmes. Ironicamente foi quando Jodie Foster o convidou pra viver o transtornado personagem de Jogo do Dinheiro (2015) onde ele ameaça explodir uma bomba em rede nacional num programa de TV. Elogiado mais uma vez por viver um personagem complicado, o ator deve aparecer em breve nas telas no suspense HHhH (2016) onde um grupo de jovens planeja assassinar líderes nazistas e Tulip Fever (2017), produção de época onde aparece ao lado de Alicia Vikander e Christoph Waltz. Com projetos ambiciosos no cinema, Jack ainda voltará à TV no seriado western Godless. 

Jack em Invencível: de atleta a prisioneiro de guerra. 

PL►Y: Jogo do Dinheiro

Jack e George: nos bastidores da crise mundial. 

Indicada quatro vezes ao Oscar e ganhadora de dois, Jodie Foster foi por muito tempo a atriz mais respeitada de Hollywood. No entanto, nunca aceitou que os estúdios ditassem como ela deveria se comportar ou qual filme ela deveria fazer - talvez por isso ela atue cada vez menos. Essa identidade fica mais notável nos filmes que ela se aventura a dirigir. Quando estreou na direção com o excelente Mentes que Brilham (1991) ela já demonstrava que não queria ser óbvia em suas escolhas, tanto que ao tentar ser mais branda em Feriados em Família (1995) ela se deparou com seu pior trabalho atrás das câmeras. Ela só voltaria a dirigir em 2015, quando arrancou a melhor atuação de Mel Gibson em Um novo Despertar/2011, um dos filmes mais incompreendidos deste início de século. Animada com o resultado, investiu em dirigir episódios das séries House of Cards e Orange is The New Black (ambos do Netflix) até que chegou ao seu quarto filme como cineasta: Jogo do Dinheiro (2016), um filme em que prova, mais uma vez, que não está nem um pouco a fim de ser vista fazendo filmes inofensivos. A cada filme, Jodie demonstra que está mais segura ao deixar a sua voz ganhar força e aqui ela conta o pior dia da vida do apresentador Lee Gates (George Clooney), responsável por um programa que dita às pessoas comuns quais são os melhores investimentos no mercado. É verdade que grande parte do apelo e credibilidade de Lee vem do trabalho da diretora do programa, Patty Fenn (Julia Roberts), que está prestes a trabalhar para uma emissora concorrente. No dia de despedida de Patty, um rapaz invade o estúdio com uma arma e uma bomba, ameaçando explodir tudo se não receber oitocentos milhões de dólares. Conforme descobrimos mais sobre o rapaz (vivido por Jack O'Connell), percebemos que ele perdeu todas as suas economias ao investir numa das dicas de Lee Gates, mas isso é apenas o começo de uma trama que reserva várias surpresas para o espectador. Nem todas as surpresas funcionam, mas Jodie consegue construir tensão durante boa parte do filme - perdendo pontos quando aponta todas as acusações para um único personagem (o que faz o filme perder parte de suas nuances mais interessantes). O filme ainda conta com um time de atores dedicados, Clooney consegue transitar entre a canastrice e a seriedade de seu personagem com tranquilidade e Jack O'Connell entrega mais uma boa atuação que comprova que ele não está destinado a ser lembrado apenas como o protagonista do confuso filme de Anjelina Jolie (Invencível/2014). No entanto, Julia Roberts é quem mais se destaca como a produtora que se torna mediadora de uma situação improvável no que era para ser apenas mais um dia de trabalho (e se e levar em conta que a atriz contracena com Clooney sem tê-lo por perto fica ainda mais interessante). De quebra o filme ainda traz a pouco conhecida Caitriona Balfe  (da série Outlander) que poderia aparecer mais como o outro personagem feminino importante para a trama. Jogo do Dinheiro pode até perder o fôlego no meio do caminho, mas consegue prender o espectador em uma história que faz o favor de mostrar que a crise econômica mundial se tornou camuflagem para muita coisa esquisita. 

Jogo do Dinheiro (Money Monster/EUA-2016) de Jodie Foster com George Clooney, Julia Roberts, Jack O'Connell, Caitriona Balfe, Dominic West e Lenny Venito. ☻☻☻☻

PL►Y: O Fantasma do Futuro

Major e Batou: parceiros contra um hacker perigoso. 

De vez em quando corre um boato de que Hollywood prepara uma versão em carne e osso de uma animação japonesa de sucesso. Foi assim quando Keanu Reeves quase atuou na versão americana de Cowboy Bebop (1998) ou quando Emile Hirsch se animou em aparecer na live action de Akira (1988). No entanto, a única ideia que saiu do papel foi deste Ghost in the Shell (1995) - graças sobretudo ao animo de Scarlett Johansson embarcar no projeto. O filme deve estrear no ano que vem sob a assinatura de Rupert Sanders (Branca de Neve e o Caçador/2012) e  com Michael Pitt e Juliette Binoche no elenco. Portanto, se você não viu, vale a pena conferir a cultuada animação de Mamoru Oshin  que inspirou filmes de sucesso como a trilogia Matrix/1999 dos irmãos Wachowski. Lançado em 1995 o filme foi baseado num mangá de 1989 e recebeu comparações com o clássico Akira por afastar-se do universo infantil e investir em uma narrativa adulta, repleta e ação, violência e toques de existencialismo. Esse existencialismo nasceu das relações que a trama possui com Blade Runner/1982 de Ridley Scott, ao abordar um futuro onde máquinas e homens se misturam. Ambientado no ano de 2029 o filme retrata uma sociedade onde todo o mundo está interligado por uma rede de computadores, assim, uma empresa lidera um grupo de Ciborgues para combater o crime. Esse grupo, conhecido como Esquadrão Shell, enfrenta problemas para deter um hacker conhecido como "Mestre das Marionetes" que, torna-se ameaçador por utilizar a rede para controlar a mente das pessoas. Nessa jornada para deter o vilão que conhecemos os parceiros Major e Batou, dois ciborgues com algumas habilidades especiais. Conforme desvendam os planos do criminoso, Major começa a repensar sobre sua própria origem - o que será fundamental para o desfecho da trama. Você vai perceber várias relações do visual do filme com Matrix (desde os créditos iniciais com letras verdes em tela negra aos cabos conectados na nuca dos personagens), além de ser inevitável lembrar de Vingadores - Era de Ultron (2015) em alguns momentos. Ainda que não tenha alcançado o sucesso esperado nos cinemas, O Fantasma do Futuro tornou-se um sucesso ao ser lançado em DVD, conquistando uma legião mundial de fãs que nem se importam com a complexidade de seus diálogos capazes de transformar um vilão palpável o medo que o homem possui da tecnologia construída por ele mesmo. 

O Fantasma do Futuro (Ghost in the Shell / Japão - 1995) de Mamoru Oshii com vozes de Atsuko Tanaka, Ario Ohtsuka, Tamio Oki, Iemasa Kayumi e Kochi Yamadera. ☻☻☻☻

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Pódio: Keanu Reeves

Bronze: o advogado.
3º Advogado do Diabo (1997)

Sempre é bom lembrar que o Pódio não é sobre os melhores filmes de um artista, mas sobre as minhas atuações favoritas do ator em questão. Sendo assim, não poderia esquecer do filme de Taylor Hackford onde Keanu Reeves  é o advogado promissor de uma cidade do interior que aceita o convite da maior agência de advocacia de Nova York - e acaba conhecendo o coisa ruim em pessoa (além de suas próprias origens). Dividindo a cena com Al Pacino e Charlize Theron, Keanu Reeves tem aqui um de seus momentos mais relevantes como ator. 

Prata: o Buda. 
2º O Pequeno Buda (1993)

O controverso longa de Bernardo Bertolucci nunca alcançou o sucesso esperado - e isso respingou na carreira de todos os envolvidos (Bridget Fonda, Chris Isaak e o próprio Bertolucci), menos em Keanu Reeves. Keanu tem uma atuação luminosa como o príncipe Siddartha que deixa a vida confortável para encontrar a solução para o sofrimento universal (e torna-se o Buda). Essa parte é a mais elogiada no filme que conclui a trilogia oriental do cineasta que soube utilizar muito bem a anatomia do ator nascido no líbano e descendente de havaianos, ingleses e chineses: o personagem lhe caiu como uma luva. 

Ouro: o enviado. 
1º Matrix (1999)

Eu não curto a cultuada obra dos irmãos Wachowski, mas admito que sempre que falam de Keanu  eu lembro dele no universo virtual criado pelos diretores. Na pele do hacker Neo até parece que o ator tem como maior mérito demonstrar elegância  nos figurinos e cenas de luta, mas você pensa que é fácil bancar o salvador da humanidade num tempo em que as máquinas mascaram a realidade? No meio de tanta pretensão e efeitos especiais, Keanu Reeves tem o mérito de dar credibilidade a um personagem que poderia ser facilmente digno de desconfiança. 

PL►Y: Bata Antes de Entrar

Keanu e suas fãs: coleção de fetiches. 

Keanu Reeves foi um dos nomes mais badalados de Hollywood noa anos 1990. Nos anos 1980 ele começou a carreira em trabalhos para a TV e com Ligações Perigosas (1988) começou a chamar a atenção dos estúdios com seu rosto exótico e facilidade em demonstrar vulnerabilidade. O ator também apresentava uma certa resistência às grandes produções, preferindo aparecer em filmes mais artísticos como os dirigidos por Gus Van Sant (Garotos de Programa/1991) ou Francis Ford Coppola (Drácula/1992) e embora tenha filmes de ação de sucesso no currículo (Caçadores de Emoção/1991, Velocidade Máxima/1994) existem muitos outros que não acrescentaram muito ao seu currículo. Desde que largou a beca estilosa de Neo na trilogia inaugurada com Matrix/1999, a carreira de Keanu nunca mais foi a mesma. Embora ele continue ativo nas telas, faz tempo que o ator não consegue um papel interessante. Ano passado ele apelou até para o diretor Eli Roth em busca de um sucesso. Não deixa de ser uma mistura curiosa, já que Roth ficou famoso com filmes de terror sanguinolentos como Cabana do Inferno/2002 e O Albergue/2005 (embora eu prefira Eli como ator em Bastardos Inglórios/2009) e Keanu nunca foi muito fã do gênero, mas Bata Antes de Entrar pretende ser diferente das outras obras do diretor. Roth tenta fazer diferente, investe em diálogos e menos sanguinolência, tenta ser mais sugestivo, embora seu senso de humor nervoso (e um tanto histérico) esteja sempre presente. O ponto de partida é um tanto besta, já que consiste na noite chuvosa em que Evan (Keanu Reeves) está sozinho em casa enquanto sua esposa e filhos estão viajando. O que poderia ser uma noite solitária muda de rumo quando ele recebe a visita de duas jovens, Genesis (Lorenza Izzo) e Bel (Ana de Armas) procurando por ajuda. Pelo jeito das garotas você já imagina o que vai acontecer e conversa vai, conversa vem, Evan é seduzido dando início a um jogo estranho de fantasias, chantagens e morte. Por mais que Roth tente ser diferente, ele mais uma vez investe numa história onde o protagonista acha que terá momentos prazerosos e se mete numa enrascada, mas o que estraga mesmo é o pendor  do cineasta para o trash  - e isso inclui sua dificuldade em conduzir os atores. Lorenza e Ana suas duas atrizes atraentes, mas estão tão preocupadas em fazer caras e bocas sedutoras que a coisa acaba ficando meio ridícula quando Keanu aparece em cena tentando demonstrar "todo o sofrimento de seu personagem", mas ele só consegue parecer cada vez mais descolado. A certa altura o filme parece um inventário de fetiches com o ator (ele aparece no chuveiro com as duas, na cama com as duas, amarrado na cama, amarrado numa cadeira...) mas nada de bom gosto ou envolvente na sucessão de acontecimentos grotescos que se seguem. O filme custou mais de dois milhões de dólares e arrecadou somente trinta e quatro mil dólares nas bilheterias americanas. Fiasco total. Eu só consigo pensar o que Reeves tinha em mente quando se meteu numa produção dessas... mas aí lembrei que ele também tem contas para pagar. 

Bata Antes de Entrar (Knock Knock/EUA-2015) de Eli Roth com Keanu Reeves, Lorenza Izzo e Ana de Armas. #

PL►Y: Beira Mar

Martin e Tomaz: dois amigos no inverso sulista. 

Aplaudido no Festival de Berlim no ano passado (onde concorreu ao prêmio de melhor filme de estreia) e ganhador de dois prêmios no Festival do Rio em 2015 (Prêmio Especial do Júri e Prêmio Novos Rumos na mostra Premiere Brasil) o filme Beira Mar da dupla Filipe Matzembacher e Marcio Reolon é um filme que se desvenda aos poucos com a história de dois amigos que partem para um fim de semana no litoral da região sul do Brasil. Enquanto Martin (Mateus Almada) precisa reencontrar alguns parentes que não vê há muito tempo, Tomaz (Maurício Barcellos) pretende apenas lhe fazer companhia enquanto ficam numa casa de praia. O filme pretende explorar a busca da identidade de ambos num momento em que não existem pais ou adultos por perto, e logo se percebe que essa opção pelo distanciamento do universo a que pertencem normalmente (algumas vezes Tomaz cita a vida em Porto Alegre) os lançam numa espécie de mundo paralelo, prova disso é a praça vazia onde conversam ou a noite em que recebem alguns amigos para fazer brincadeiras, beber e, quem sabe, encontrar uma garota para passar a noite. Tudo em Beira Mar é propositalmente lento e arrastado, num ritmo bastante particular (e por isso mesmo, caiu nas graças dos europeus que estavam no Festival de Berlim) e o que importa é o entrosamento entre os dois amigos até que o final treaga uma revelação que pode mudar o rumo do relacionamento entre os dois. Sutil em sua narrativa, o filme é agradável de se assistir, mas parece um tanto engessado pela direção que opta por exagerar na melancolia de seus personagens, que aparecem sempre silenciosos e cabisbaixos - podem dizer que a ideia era que ambos escondiam seus verdadeiros sentimentos, mas acho que acabou faltando emoção, algo que tornasse a última cena dos amigos algo tão natural quanto inevitável. Para o cinéfilo mais antenado, a cena em que Tomaz tem o cabelo pintado de azul pode soar um indício dos rumos que o filme tomará, embora seja infinitamente mais discreto que um certo filme francês que pode vir à cabeça. 

Beira Mar (Brasil/2015) de Filipe Matzembacher e Marcio Reolon com Mateus Almada, Maurício Barcellos, Elisa Brittes e Fernando Hart. ☻☻

terça-feira, 9 de agosto de 2016

PL►Y: Oeste sem Lei

Kodi e Michael: faroeste ironicamente intimista. 

Ainda que o faroeste tenha fãs fiéis  trata-se do tipo de filme que não costuma render muitos lançamentos por aqui - e o fato dos distribuidores considerarem que o público do gênero não se renovou prejudica ainda mais (e filmes de Tarantino não contam, já que pertencem a um gênero específico diante do público). A lista de filmes que aguardam a atenção dos distribuidores é grande, vai de O Atalho/2010 (que acabou saindo somente em DVD) passando por Bone Tomahawk (2015) e o recente Jane Got a Gun (2016), em comum eles tem a tentativa de lançar um olhar diferenciado dentro dos conflitos do bom e velho faroeste. Slow West é um desses que ainda esperam a oportunidade de chegar ao público brasileiro - e nem a presença do badalado Michael Fassbender foi suficiente para o filme chegar nas telonas daqui.  Dirigido pelo estreante John Maclean, o filme conta a história de um jovem escocês que cruza os Estados Unidos para encontrar sua amada. Ao contrário do que costumamos ver nesse tipo de filme, o rapaz Jay Cavendish é vivido pelo franzino Kodi Smit-McPhee que possui coração nobre, mas precisa da companhia de um pistoleiro fora da lei chamado Silas Selleck (Fassbender) para servir de guia, segurança e companhia. Entre as paisagens valorizadas pela fotografia, o roteiro nunca deixa claro se os dois se tornam amigos, afinal, existe sempre a desconfiança de que Silas está na verdade interessado na recompensa que existe pela captura da amada de  Jay (que é procurada, ao lado do pai, pelas autoridades locais). Entre os desentendimentos entre os mocinho e anti-herói existe ainda um grupo de caçadores de recompensa que estão dispostos a atrapalhar os dois em sua jornada. O roteiro (escrito pelo próprio diretor) investe num tom intimista que valoriza a construção dos personagens e a atuação do elenco, sobretudo de sua dupla principal. McPhee já provou ser bastante eficiente desde que reparamos nele, ainda menino, em A Estrada/2009 e Fassbender dispensa comentários ao ser aclamado como um dos atores mais interessantes em atividade em Hollywood, afinal, ele tem aquela habilidade rara de explorar a ambiguidade de seus personagens sem parecer contraditório. Aqui ele consegue ser tão amigável quanto ameaçador, aumentando a tensão até o desfecho da história. Não cabe dizer o que acontece no final da jornada de Jay em busca do seu grande amor, mas o resultado consegue ser dolorosamente irônico e revela o quanto a trama flerta com a redenção e a tragédia dos típicos mocinhos do gênero. Ainda que não tenha recebido a atenção que merece, Slow West revela um diretor que tem grande sensibilidade para filmar o que poderia ser apenas brutal.

Oeste sem Lei (Slow West / Reino Unido - Nova Zelândia / 2015) de John MacLean com Kodi Smit-McPhee, Michael Fassbender, Ben Mendelsohn, Caren Pistorius e Rory McCann. ☻☻☻☻