domingo, 31 de julho de 2016

N@ CAPA: Inspirado em Andy Warhol.

Hollywood é pop!

A capa do mês de julho foi uma montagem de várias obras inspiradas nos clássicos retratos de Marilyn Monroe feitos por Andy Warhol a partir da década de 1960. Com o uso de novas tecnologias a mistura de imagens e cores ganhou possibilidades infinitas dentro da proposta da Pop Art. Warhol ficou famoso por sua célebre frase que no futuro todos teriam seus quinze minutos de fama e essa relação com a famosa serigrafia de cores gritantes de Marilyn evidencia como para o artista a fama era algo efêmero e ilusório, ao mesmo tempo evidenciava a industrialização da arte para o consumo e o culto às celebridades.  Ironicamente, as fotos de celebridades em tons berrantes se tornou uma mania na segunda metade do século XX. A Pop Art era radicalmente contra a abstração que tornava-se cada vez mais forte com o culto ao expressionismo abstrato. Não havia nada de abstrato na Arte Pop, ela se apropriava dos símbolos da cultura de massa (televisão, fotos de revista, histórias em quadrinhos, rótulos...) eliminando as fronteiras entre a arte e a cultura popular. A primeira vez que Andy utilizou a imagem de Marilyn foi em 1962, com o uso de cores e algumas distorções na imagem da estrela ele criou o icônico "The Six Marilyns". Desde então ele utilizava a mesma foto da atriz, alterando somente as cores utilizadas nas obras. A sua imagem de uma das maiores estrelas de Hollywood se tornou tão popular que inspirou vários outros trabalhos com imagens de celebridades. A mistura que ilustrou o blog no mês de julho conta com Marilyn, Elizabeth Taylor, Nicolas Cage, Ingrid Bergman, Audrey Hepburn, Halle Berry, Madonna, Barbie e o próprio Andy Warhol ((1928-1987) retratados por artistas variados. 

The Six Marilyns

HIGH FI✌E: JULHO

Cinco filmes assistidos em julho que merecem destaque:

Dois Caras Legais (2016) de Shane Black ☻☻☻☻


O Beijo da Mulher Aranha (1985) de Héctor Babenco ☻☻☻☻☻


Repulsa ao Sexo (1965) de Roman Polanski ☻☻☻☻


Shaun, O Carneiro (2015) de Richard Starzak e Mark Burton ☻☻☻☻


Temporário 12 (2013) de Destin Daniel Cretton ☻☻☻☻ 

sábado, 30 de julho de 2016

PL►Y: O Homem Irracional

Emma e Joaquin: pobre Kant!

Embora não tenha empolgado o público como desejava, O Homem Irracional de Woody Allen está longe de ser um desastre, se tornando ainda mais curioso como o veterano diretor consegue fazer um filme leve sobre traições amorosas e assassinato. Houve quem apontasse semelhanças da história com os aclamados Crimes e Pecados (1989) e Match Point (2005), mas ao contrário da densidade desses dois, o filme investe no tom cômico de uma comédia romântica das mais ligeiras. O filme conta a história de Abe (Joaquin Phoenix), professor de filosofia recém chegado numa universidade e rodeado de mitos sobre si próprio. Alguns atribuem seu pessimismo à traição da esposa, outros à morte de seu melhor amigo no Afeganistão, mas em ambas as histórias ninguém sabe direito o que aconteceu, sabe-se apenas que existe uma verdadeira aura sedutora em torno dele. Essa aura é sentida de perto por sua aluna Jill (Emma Stone, em seu segundo trabalho com Allen), jovem estudante namorada do tranquilo Roy (Jamie Blackley), filha de dois professores do departamento de música e que fica fascinada pelas teorias do novo professor. Existe um constante flerte entre os dois, mas o professor também se envolve com Rita (Parker Posey) que enfrenta problemas com o marasmo do casamento. Poderia ser apenas um filme sobre o triângulo amoroso que se forma, mas Jill e Abe escutam uma conversa num restaurante... que inspira Abe a realizar um crime perfeito e o filme passa a girar em torno disso. Woody Allen é famoso por lançar um filme por ano (o de 2016 é Cafe Society, que foi exibido em Cannes e deve estrear aqui depois das Olimpíadas), penso que ele escreve obsessivamente vários roteiros todos os anos, alguns ele lapida ao longo do tempo (e se tornam pérolas como Blue Jasmine/2013 e Meia-Noite em Paris/2011), outros ele desiste de ficar melhorando e lança quando está apresentável - deve ter sido assim com o mediano Magia ao Luar/2014 e com este aqui. O bom é que  O Homem Irracional possui uma série de ironias feitas para agradar os fãs do cineasta (o título se referir a um conceituado professor de filosofia que vira o assassino perfeito, as reflexões sobre Kant e a tola lanterna...), além do belo tratamento visual e uma trilha jazzy mais animada que de costume. Porém, é verdade que o elenco ajuda: Emma Stone está confiante como a jovem que cai de amores pelo professor e Joaquin Phoenix está deliciosamente blasé como um intelectual que reencontra o amor pela vida depois de tornar-se um assassino (o tipo de coisa que só poderia sair da cabeça de Woody Allen). 

O Homem Irracional (The Irrational Man/EUA-2015) de Woody Allen com Joaquin Phoenix, Emma Stone, Parker Posey, Ethan Phillips e Jamie Blackley. ☻☻☻

PL►Y: Victoria

Lau e Laia: uma noite de crimes. 

O operador de câmera Sturla Brandth GrØvlen ganhou o Urso de Prata no Festival de Berlim de 2015 por sua contribuição artística no filme alemão Victoria de Sebastian Schipper. O prêmio revela muito sobre o filme que causou polêmica quando foi exibido ao contar a história de uma jovem espanhola (a Victoria do título vivida por Laia Costa, quase uma versão morena de Michelle Williams) que encontra três jovens alemães nas ruas de Berlim e se mete em uma série de situações perigosas. Acho que não vale a pena contar o que acontece durante o filme, afinal, ele depende muito das surpresas que surgem pelo caminho, mas acho que posso revelar que eles terão problemas com traficantes e policiais até o dia amanhecer. Poderia ser um filme sobre juventude transviada como tantos outros, mas o diferencial é que Schipper conta tudo em um único take, um único plano sequência, sem cortes. Em entrevistas o diretor disse que foram três tentativas para realizar o filme, sendo escolhida a que o resultado ficou mais interessante. Ele ressalta que também havia um plano B, onde o filme seguiria uma montagem tradicional, mas ele considerou essa versão muito desinteressante, afinal, tirando o trabalho de câmera premiado existe pouco a oferecer além do conceito escolhido pelo diretor. Para se ter ideia a primeira uma hora de sessão consegue ser bastante irrelevante, apenas tem o objetivo de situar o espectador no encontro dos personagens e na proposta de que não haverá cortes até o fim da sessão (algo que poderia ser explorado em quinze minutos). Nessa primeira hora fica visível como os diálogos e gestos são improvisados (o próprio diretor disse que o roteiro era de apenas dezoito páginas e que contou muito com as ideias dos atores para filmar) e apesar do esforço da dupla formada por Laia e Frederick Lau (que vive Sonne, o único personagem masculino bem construído do filme), os personagens carecem de profundidade (talvez o maior problema seja a própria Victoria que é um um tanto desmiolada de se meter em tanta confusão com um bando de desconhecidos. Tédio com a vida? Cansada da mesmice? Vontade de viver uma aventura? Amor à primeira vista? Nenhuma das opções anteriores?). O excesso de improviso compromete o andamento do filme que resulta irregular em suas mais de duas horas de projeção. Talvez se fosse mais curto e conciso ele funcionasse infinitamente melhor, afinal, se em algumas cenas Schipper consegue expressar a tensão dos personagens, nem sempre a direção dos atores flui como deveria - e não estou reclamando das cenas trêmulas, enquadramentos confusos ou dos diálogos que podem provocar risadas involuntárias (a cena em que Victoria tenta explicar para uma refém que eles são pessoas de bem é de rolar de rir). Victoria é um filme que tenta se sustentar sobre uma única ideia, mas por vezes ela se mostra tão traiçoeira quanto os planos dos personagens para aquela fatídica noite. 

Victoria (Alemanha/2015) de Sebastian Schipper com Laia Costa, Frederick Lau e Franz Rogowski. ☻☻

quinta-feira, 28 de julho de 2016

MOMENTO ROB GORDON: MovieStars Songs

Várias estrelas de cinema inspiraram títulos de músicas, algumas se tornaram sucesso, outras nem tanto, mas poucas de tornaram verdadeiros hits mundiais. Inspirado pelo filme Grace de Mônaco (2014), Rob Gordon lembrou de outras estrelas que fizeram sucesso nas rádios mundo afora:

#5 "Whatever Happened to Corey Haim?" / The Thrills
A banda irlandesa The Thrills fez sucesso com o segundo álbum  (Let's bottle Bohemia/2004) especialmente por conta do single onde eles perguntavam o que aconteceu com o astro juvenil Corey Haim. Corey nasceu em 1971 tornou-se ídolo teen nos anos 1980 (graças a filmes como Os Garotos Perdidos/1987 e Sem Licença para Dirigir/1988 e nos anos 1990 entrou em declínio, falecendo em 2010 por conta de problemas cardio-respiratórios. 

#4 "Bela Lugosi's Dead" / Bauhaus
Lançado em agosto de 1979, o primeiro single da banda inglesa de pós-punk Bauhaus não poderia ser melhor carta de apresentação para a banda. Sombria e cheia de climas, a música celebrava o ator que ficou famoso por viver o Conde Drácula em sua versão mais famosa nos cinemas. A canção virou clipe de abertura do filme Fome de Viver (1983) de Tony Scott e Bela Lugosi ainda rendeu o Oscar de coadjuvante para Martin Landau por vivê-lo em Ed Wood (1994) de Tim Burton.  

#3 "Grace Kelly" / Mika
O libanês Michael Holbrook Penniman Jr., ou simplesmente Mika, ficou famoso ao lançar seu primeiro álbum Life in Cartoon Motion (2007) que tinha como carro chefe a canção com o nome da atriz oscarizada que largou a carreira para assumir o principado de Mônaco. Na verdade, a letra e se refere à tentativa dos estúdios moldarem o estilo colorido do artista para algo mais convencional. A música virou hit por Mika mostrar que estava fora dos padrões masculinos da música pop (e que sabia emitir agudos com grande desenvoltura).

 #2 "Clint Eastwood" / Gorillaz
Criada por Damon Albarn (Blur) e o cartunista Jamie Hewlett em 1998, a banda virtual Gorillaz se tornou febre mundial assim que lançou o seu primeiro CD em 2001. Apesar de ser formada por quatro personagens de animação, a sonoridade da banda já contou com a participação de vários músicos na vida real (até agora 15 instrumentistas já trabalharam com a banda). O primeiro sucesso da bando foi esse que misturava hip hop, música eletrônica, rock e um sample da trilha sonora de "O Bom, O Mau e O Feio" (1966) faroeste estrelado por Clint Eastwood.

#1 Bette Davis Eyes / Kim Carnes
Apesar de composta em 1974 por Donna Weiss e Jackie DeShannon, a música se tornou um hit somente quando foi regravada pela cantora Kim Carnes em 1981. Além da música alcançar o primeiro lugar da Billboard por nove semanas consecutivas, vender milhões no mundo todo, ganhar o Grammy de Canção do Ano e se tornar um dos maiores clássicos dos anos 1980, a própria Bette Davis declarou ser fã da música e agradeceu aos compositores pela homenagem. 

PL►Y: Grace de Mônaco

Nicole: produção cheia de percalços. 

Escolhido para ser o filme de abertura do Festival de Cannes em 2014, Grace de Mônaco foi apedrejado de todos os lados. A crítica detestou o filme, assim como a família real de Mônaco considerou o filme ofensivo à memória da atriz de Hollywood que deixou o estrelato para se dedicar ao reinado ao lado do Príncipe Rainier III. O diretor Olivier Dahan ainda enfrentou inúmeras discussões com os produtores sobre o corte final das produção, o que comprometeu a distribuição mundial do filme - nos EUA ele foi diretamente para a TV, concorrendo a dois prêmios Emmy (filme para TV e penteados) e um Prêmio no Sindicato de Atores para atuação de Nicole Kidman. Talvez o maior problema do filme seja a sua própria pretensão. É verdade que o roteiro mira em alvos demais para acertar em uma hora e quarenta minutos, o que deixa tudo um tanto superficial. Desde o início o filme deixa claro que trata-se de uma ficção inspirada na vida real (e por isso mesmo, entendo as ressalvas da família de Grace à obra) e tenta contar os conflitos que poderiam ter acontecido quando a atriz americana Grace Kelly (vivida por Nicole Kidman) aceitou casar-se com o herdeiro do principado de Mônaco (uma cidade-estado soberana ao sul da França), Rainier III (Tim Roth). A história se passa em meio à tensão quando o governo francês ameaçou a soberania de Mônaco, o segundo menor estado do mundo (com pouco mais de 2Km² de extensão), que se viu em meio a um embargo econômico. Enquanto isso, Grace recebe o convite de Alfred Hitchcock para estrelar um novo filme, Marnie. Esses dois elementos servem para que Dahan insira a bela Grace Kelly em meio à uma conspiração palaciana que carece um pouco de sentido. Dahan não aprofunda muito os dramas da personagem, apelando para as lágrimas constantes de Nicole até que a personagem perceba que ser a princesa de Mônaco seja o verdadeiro papel de sua vida. Com locações lindíssimas (afinal, Mônaco tem a bela vista do mar Mediterrâneo), fotografia impecável e um elenco competente, Grace de Mônaco tem como maior problema o roteiro fraquinho que poderia se contentar em ser apenas um recorte da vida de um verdadeiro ícone, mas nem isso ele tenta ser - basta ver a atuação de Nicole que está bem em cena, mas nem se preocupa em evocar a verdadeira Grace Kelly. Chega a ser irônico que em meio a tantas intenções o filme pareça tão vazio.

Grace de Mônaco (Grace of Monaco / Suíça, França, Bélgica, Itália, EUA - 2014) de Olivier Dahan com Nicole Kidman, Tim Roth, Frank Langella, Parker Posey, Paz Vega e Milo Ventimiglia.

KLÁSSIQO: Repulsa ao Sexo

Catherine: a bela esquisita. 

O que faz um filme se tornar clássico? Dentre várias características necessárias, algumas merecem destaque: em primeiro lugar ele precisa transmitir o espírito do seu tempo através do texto e das imagens que apresenta, além disso, ajuda bastante se ele tiver fôlego suficiente para não ser datado, se provando atemporal, capaz de gerar leituras inquietantes para o espectador de qualquer época - mas essa característica fica evidente somente com o passar do tempo.  Dito isso, não resta dúvida de que Repulsa ao Sexo de Roman Polanksi é um clássico (e com "C" maiúsculo). Lançado em 1965 o filme provocou arrepios ao colocar a musa Catherine Deneuve como uma jovem tão linda quanto perturbada. Carole Ledoux (Deneuve) vive com a irmã Hélène (Yvonne Furneaux) num apartamento e trabalha como manicure num salão de beleza conceituado. No entanto, existe algo de estranho no comportamento de Carole. Com o olhar perdido e sempre na defensiva quando o assunto é homem, fica cada vez mais evidente que existe algo de estranho na mente da personagem, algo que está além da antipatia que sente pelo namorado da irmã, o casado  Michael (Ian Hendry) e da resistência aos carinhos e atenção do namorado Colin (John Fraser). Basta sua irmã dizer que irá viajar com o namorado para que o comportamento de Carole torne-se ainda mais esquisito. Ela se torna mais isolada, distante do  mundo que está ao seu redor e agressiva com os homens que aparecerem em sua frente. Polanski faz um trabalho de mestre durante todo o filme, capricha nos enquadramentos (closes, zooms e colocando o espectador no lugar de personagens) e nas cenas que demonstram como a casca de sua protagonista está prestes a ruir (repare quantas rachaduras aparecem em cena), aos poucos o que poderia ser interpretado como serenidade, timidez ou até frigidez revela-se algo muito mais perturbador. As cenas do corredor cheio de mãos e braços é antológica - e expressam com precisão o que se passa na mente de Carole. Ao assumir o posto de alma do filme Catherine Deneuve tem uma atuação perigosa, que poderia ser facilmente vista como inexpressiva a maior parte do tempo, mas que revela o quanto sua personagem era complicada (e para quem gosta de tudo explicadinho, fique atento à cena final que evidencia a foto da família Ledoux). Repulsa ao Sexo foi o primeiro filme em língua inglesa de Roman Polanski e foi a primeira parte de sua conhecida (e assustadora) trilogia do apartamento, ao lado de  O Bebê de Rosemary (1968) e O Inquilino (1976),  servindo de inspiração para vários filmes, entre eles Cisne Negro (2010) de Darren Aronofsky. Ganhador do Urso de Prata no Festival de Berlim, o tempo fez do terror psicológico de Repulsa ao Sexo mais do que um clássico, fez dele uma referência. 

Repulsa ao Sexo (Repulsion / Reino Unido - 1965) de Roman Polanski com Catherine Deneuve, John Frase, Ian Hendry, Yvonne Furneaux e Valerie Taylor. ☻☻☻☻

quarta-feira, 27 de julho de 2016

§8^) Fac Simile: James Franco

James Edward Franco
Nosso repórter imaginário entrou numa livraria em Nova York e encontrou o ator James Franco conversando com alguns amigos. Fac insistiu por algumas perguntas e James aceitou conceder essa entrevista que nunca aconteceu:

§8^) Às vezes tenho a impressão que tem uma lista presa à porta de sua geladeira com tudo o que você quer fazer na vida: ser ator [check], ser um vilão de HQ [check], lecionar numa universidade [check], escrever livros [check], ser indicado ao Oscar [check], apresentar o Oscar [check], dirigir filmes estranhos [check]...

James Ei! Você já foi lá em casa?

§8^) Não. Eu devo ter visto a lista no seu Instagram!

James Ah sim, no meio daquelas fotos idiotas...

§8^) Soube que você está envolvido com 25 produções atualmente, só para 2016 são 17 projetos para cinema e televisão em que você trabalha como ator, diretor, produtor, roteirista... como você consegue?

James Simples: Eu não durmo! Eu trabalho vinte e quatro horas por dia e se tiver que fazer serão eu topo! Já reparou como meus olhos estão inchados? Pois é, eles tentam fechar mas eu os mantenho sempre abertos! 

§8^) Percebo que o público de vez em quando se assusta com alguns de seus trabalhos. Eu mesmo assisti Interior. Leather Bar (2013) e fiquei pensando qual a razão de tudo aquilo...

James Acho que depois que fui indicado ao Oscar por 127 Horas (2010) as pessoas imaginaram que eu faria um monte de filmes sérios para ser indicado outras vezes... não é bem assim! Por que eu deveria fazer uma coisa só diante de toda a variedade de trabalho que aparece? A intenção de Leather Bar era essa mesma, afinal, por qual motivo alguém filmaria as cenas cortadas do roteiro de Parceiros da Noite? Fazer pensar, gostar, odiar nada disso me incomoda, o que me incomoda é ter que fazer exatamente o que as pessoas esperam que eu faça. 

§8^) E Leather Bar aumentou ainda mais as especulações sobre a sua sexualidade...

James As pessoas adoram ficar pensando nisso! Não vejo muita relevância em ficar pensando se um artista é hétero, gay, bi... mas o público acha a maior graça! Deve satisfazer alguma fantasia íntima, sei lá! Eu já fiz muitos personagens gays, mas interpretei muito mais héteros em minha carreira. Eu já fiz o Mágico de Oz e nem por causa disso eu sei fazer mágicas! Eu interpretei uma torrada em A Festa da Salsicha (2016) e não sou uma torrada! Eu também fui a Raposa de O Pequeno Príncipe (2015) e nem por causa disso eu sou uma raposa... embora haja controvérsias quanto a isso...

§8^) Você também interpretou a si mesmo em É o Fim...

James Exatamente... e nem por causa disso eu sou o James Franco!

PL►Y: Traumas de Infância

Harris e Franco: mudança de perspectiva. 

Em seu segundo longa metragem a diretora Pamela Romanowsky confirma ter muita afinidade com o ator James Franco, afinal, mais uma vez, os dois demonstram o seu fascínio por escritores. Os dois trabalharam juntos anteriormente na estreia da cineasta (o pouco visto The Collor of Time/2012) que contava a vida do ganhador do Pulitzer CK Williams. Franco já havia demonstrado que consegue dar vida à densidade de escritores renomados em Uivo (2010), onde encarnava o polêmico Allen Ginsberg. Infelizmente, Traumas de Infância promete mais do que cumpre ao levar para as telas a obra mais reveladora de Stephen Elliot, autor americano que ficou famoso por destrinchar suas lembranças infanto-juvenis em livros, especialmente no que diz respeito ao relacionamento tempestuoso com o pai. Embora tenha cenas fortes, o título resulta apenas apelativo já que não existe uma abordagem dos traumas de Elliot, apenas o seu confronto com o passado - encarnado pelo pai. Elliot (vivido por James Franco) já gozava de algum sucesso quando o pai (interpretado por Ed Harris) surgiu e desmentiu várias informações que constava nos livros do filho, inclusive que ele, o pai, estava morto. A repercussão de que Elliot exagerava em seus livros para aumentar a dramaticidade de sua obra caiu feito uma bomba na carreira do rapaz, ao ponto de prejudicar seu livro seguinte - que deveria acompanhar Hans Reiser um homem acusado de matar a esposa. Ainda que seja interpretado por Christian Slater, a história de Hans não recebe muita atenção na história, servindo apenas para que Stephen perceba algumas de suas obsessões com relação à sua história de vida. Fica evidente o que atraiu Franco para o papel, já que Stephen curte sadomasoquismo, medicação pesada e ainda lidava com as marcas de uma adolescência complicada, pena que o roteiro nunca aprofunda os aspectos mais sombrios da personalidade do escritor. O tom sombrio fica por conta das cenas escuras e um certo desleixo nos cenários e figurinos. Quando os personagens começam a revelar que existe algo de estranho na própria personalidade de Elliot, o filme fica mais interessante - especialmente por conta de Ed Harris que encarna um pai apresentado como abusivo, mas que apresenta uma inesperada dimensão humana. Quando Elliot aprende que suas lembranças são apenas partes de uma realidade - que pode até surpreender quando vista de outra perspectiva - The Aderall Diaries mostra o motivo de merecer atenção, afinal, instiga a mudança do olhar de um narrador sobre si mesmo. Curiosamente o filme lembra em vários aspectos outro lançamento de James Franco no ano passado, o drama A História Verdadeira de Rupert Goold. 

Traumas de Infância (The Adderall Diaries/EUA-2015) de Pamela Romanowsy com James Franco, Ed Harris, Christian Slater, Amber Heard, Cynthia Nixon e Jim Parrack. ☻☻☻

domingo, 24 de julho de 2016

Na Tela: Dois Caras Legais

Crowe, Ryan e Rice: humor afiado em brincadeira noir. 

O diretor Shane Black é um gaiato - e não há nada de pejorativo nisso. Afinal, pense num rapaz de vinte e seis anos que começa a carreira como roteirista em Hollywood com o texto de Máquina Mortífera (1987)? Máquina Mortífera definiu novos parâmetros no filme policial ao investir pesado em ação e piadas na mesma medida, mas sem perder de vista a relação de dois sujeitos completamente diferentes (e que acabam se tornando amigos). Filmes de ação engraçadinhos se tornaram a especialidade de Shane, embora nem sempre ele conseguisse render o sucesso de sua estreia (O Último Grande Herói/1993 que o diga). Depois de alguns fracassos, Black resolveu provar que ninguém melhor do que ele mesmo para dar conta de levar seus roteiros para o cinema. Foi assim que ele colocou  a carreira nos eixos com o elogiado Beijos e Tiros (2005), fazendo amizade com outro gaiato Hollywoodiano, Robert Downey Jr. - que depois o convidou para dar fôlego a Homem de Ferro 3 (2013). Depois do sucesso no universo Marvel, Black convenceu Russell Crowe e Ryan Gosling que os dois seriam capazes de dar liga à sua nova dupla cinematográfica. Nos anos 1970, Crowe vive o truculento detetive Jackson Healy, que cruza o caminho do desastrado Holland March (Gosling) meio que por acaso. Os dois acabam contratados para trabalhar juntos e encontrar Amelia (Margareth Qualley), jovem que parece envolvida numa série de assassinatos relacionados à uma estrela pornô, Misty Mountains (Murielle Telio). A investigação segue rumos cada vez mais inusitados e investe no contraste entre Healy e March, gerando vários diálogos bem construídos e momentos divertidos - além de uma reconstituição de época mais que eficiente com tons berrantes e luzes coloridas. Um pançudo Russell Crowe convence sem esforço, assim como Ryan Gosling (que está hilariante com os seus gritos agudos e movimentos desconjuntados, aqui ele comprova que está cada vez mais a vontade atuando em comédias). A dupla ainda recebe o auxílio inusitado da filha de March, Holly (a promissora Angourie Rice) que funciona como a mocinha (de 13 anos!!) que ajuda os detetives em suas (des)venturas. Shane Black constrói um esfuziante pastiche dos filmes noir, contando ainda com a colaboração de Kim Basinger (que esteve ao lado de Crowe no último grande clássico do gênero Los Angeles - Cidade Proibida/1997) e Matt Bomer (na versão psicótica de John Boy da Família Dó Ré Mi). Com cenas de ação elaboradas, beldades perigosas, diálogos divertidos e uma dupla cheia de química, Shane Black prova que ainda sabe das coisas - e encontra nos coloridos anos 1970 um terreno bastante fértil para sua imaginação.

Dois Caras Legais (The Nice Guys/EUA-2016) de Shane Black com Russell Crowe, Ryan Gosling, Angourie Rice, Kim Basinger, Matt Bomer, Margareth Qualley, Matt Bomer e Yaya DaCosta. ☻☻☻☻

NªTV: Wayward Pines 2ª Temporada / Outcast

Wayward Pines: novos atores e novo fôlego. 

Ao final do século XX as comédias dominavam as séries televisivas, depois seguiram as séries hospitalares, as investigativas e atualmente as tramas de mistério ganham mais espaço nas emissoras . A FOX percebeu a demanda por tramas de suspense e investe cada vez mais no gênero, tanto que voltou atrás e bancou a segunda temporada de Wayward Pines, produzida por M. Night Shyamalan e comprou os direitos de exibição da adaptação da HQ Outcast (originalmente do Cinemax) para a exibição no Brasil.  As duas estão chegando ao final de suas respectivas temporadas e a audiência não tem do que reclamar, se Outcast tinha como maior desafio manter o tom macabro de seu primeiro episódio, o de Wayward Pines era ajustar alguns deslizes de sua primeira temporada e aumentar o número de fãs. Sem a necessidade de alimentar seus maiores segredos na nova temporada, Wayward Pines teve uma narrativa mais fluente, menos confusa e mais dramática que o ano anterior. Mesmo com um elenco renovado, a série soube lidar com bastante elegância na transição de um grupo para o outro (e não é todo dia que podemos contar com participações especiais de luxo de Melissa Leo, Toby Jones e Hope Davis). Se na primeira temporada o agente Matt Dillon teve a tarefa complicada de desvendar o que havia de mais estranho na cidade misteriosa, o médico vivido por Jason Patric recebeu a tarefa de estranhar uma cidade comandada por adolescentes e cercada por aberrações. O choque inicial diante da situação em que se encontrava existiu, mas foi tratada de forma mais concisa, evidenciando que os roteiristas não queriam repetir o foco do ano anterior. A trama com Jason (Tom Stevens) comandando a cidade em meio às suas próprias inseguranças soube abordar algumas questões bastante contemporâneas como a adesão ao pensamento autocrático e a intolerância, além da prepotência que o tornou incapaz de perceber a realidade que estava a um palmo de seu nariz. Com mistérios e dramas que apareciam naturalmente no andar da trama, Wayward Pines merece uma nova temporada, mas se terminar por aqui, obteve um desfecho digno e conseguindo uma rara segunda temporada que supera a primeira. Já  a novata Outcast precisa tomar cuidado para não ficar repetitiva com a história de um jovem perseguido por demônios. O episódio de estreia foi bastante promissor, sobretudo pela ótima atuação de Patrick Fugit (que já foi o jovem jornalista de Quase Famosos/2000), que é assombrado por espíritos do mal - que prejudicaram sua vida familiar com a mãe e com a esposa. Fugit está perfeito como Kyle Barnes, o homem com a vida arruinada, mas que tenta superar o passado e colocar a vida nos eixos, mesmo que seja trabalhando como auxiliar de um exorcista da região (Phillip Glenister). Criado por Robert Kirkman (o mesmo de Walking Dead) para os quadrinhos e adaptado para a TV, a série tem atmosfera bem construída, mas precisa tomar cuidado para não errar a mão nas cenas de violência e atrocidades, que podem tirar o foco do protagonista e tornar-se apenas um show de horrores - essa busca pelo equilíbrio de seus elementos esteve presente em todos os episódios, alcançando um resultado coerente sobre as descobertas que Kyle faz sobre si mesmo ao longo da temporada de estreia. Outcast já possui uma segunda temporada confirmada para o ano que vem e comprova que as histórias de horror e suspense ainda terão sucesso por mais algum tempo. 

Outcast: atuação perfeita de Patrick Fugit. 

Wayward Pines - 2ª Temporada (EUA-2016) de Chad Hodge com Jason Patric, Niomrat Kaur, Tom Stevens, Kacey Rohl, Hope Davis, Toby Jones, Josh Helman e Djimon Hounsou.  ☻☻☻☻

Outcast (EUA-2016) de Robert Kirman com Patrick Fugit, Phillip Glenister, David Denman e Wrenn Schmidt ☻☻☻

quinta-feira, 21 de julho de 2016

PL►Y: Um Caso de Amor

Evan, Brendan e Justin: como ser o homem ideal. 

Todo o ano dezenas de comédias românticas são lançadas, pouquíssimas alcançam sucesso e o posto de ter conseguido algum diferencial dentro de um gênero com sinais de desgaste. Um Caso de Amor não chega a ser memorável, mas consegue divertir a plateia com uma ideia bastante atual, já que o inseguro Sam (Justin Long, que também é um do roteiristas) se apaixona por Birdie (Evan Rachel Wood) e para conquistá-la resolve procurá-la nas redes sociais. Ao invés de entrar em contato com ela por esse tipo de mídia, ele resolve descobrir os gostos pessoais da moça e seguir cada um deles na intenção de mostrar-se como sua alma gêmea. Haja aulas de Judô, de culinária, aulas de violão e canções de Joan Baez! Depois a coisa complica. Só essa ideia já renderia um filme de uma piada só cheio de possibilidades para provocar risadas, mas o roteiro inventou que Sam é um escritor de livros baseados em filmes - e está em crise pela necessidade de se tornar um autor sério e... ele passa a escrever a história sobre sua jornada para conquistar o coração de Birdie. A parte do livro escrito por Sam parece estar sobrando na história e acaba atrapalhando o desenvolvimento das trapalhadas que ele precisa fazer, mas nada que comprometa a sessão. Apesar de ser uma uma piada esticada por todo o filme, ela até funciona por conta do carisma de Evan e Justin, dois bons atores que já apareceram em uma dezena de filmes. Os dois não forçam seus personagens para que sejam engraçados ou dramáticos, o que facilita o espectador a torcer por eles, mesmo quando Sam começa a ficar estranho por se incomodar com a própria farsa (e isso repercute em sua obra). O filme ainda conta com participações especiais de Sienna Miller, Peter Dinklage, Sam Rockwell, mas o que eu mais gostei foi rever Brendan Fraser quase irreconhecível como o ex-namorado roqueiro de Birdie. Seguindo a cartilha das comédias românticas, Um Caso de Amor pode agradar quem curte filmes do gênero e não se incomoda pelo tom bobinho com que desenvolve sua história de amor.  

Um Caso de Amor (A Case of You/EUA-2013) de Kat Coiro com Justin Long, Evan Rachel Wood, Vince Vaughn, Keir O'Donnell, Peter Dinklage e Sam Rockwell. ☻☻ 

PL►Y: A Garota de Fogo

Bárbara: mistérios em tons pastéis. 

No espanhol A Garota de Fogo alguns personagens se misturam de forma que lembra os filmes de Alfred Hitchcock, especialmente o clássico Pacto Sinistro (1951). Na cena de abertura um professor de matemática explica que algumas certezas são inabaladas, mas ao se confrontar com uma aluna percebe que a certeza pode ser enganada facilmente pelos sentidos. O diretor e roteirista Carlos Vermut apresenta essa cena sem que nos demos conta do sentido que ela terá para a história de seus dois protagonistas. Luis (Luis Bermejo) passa os dias cuidando da filha (Lucía Pollán) que está com leucemia e sem perspectiva de melhoras. Diante da situação da filha ele tenta realizar uma espécie de último desejo da menina e acaba cruzando o caminho de Bárbara (Bárbara Lennie), mulher que é casada com um psiquiatra (Israel Elejalde) e vive tomando medicamentos sem que saibamos o motivo. Sob a influência de Luis, Bárbara terá que voltar ao seu passado e reviver situações que terão consequências trágicas no futuro. Quando você se acostuma com a história surge outro personagem, capaz de fazer tudo o que Bárbara lhe pedir, quase que por feitiço. A narrativa de A Garota de Fogo (nome que faz alusão a uma canção que toca no filme mais de uma vez, mas deixa de lado o mais coerente "Garota Mágica" do título original) constrói-se lentamente, revelando aos poucos os personagens que se tornam cada vez mais sombrios entre caprichos, cumplicidades e crimes. Vermut se esmera na atmosfera contida embalada por tons pastéis e se dá ao luxo de terminar o filme deixando alguns mistérios no ar (afinal, o que existe no tal quarto do lagarto negro? Que laço foi construído entre Bárbara e o estranho Damián?) mas peca por nunca deixar o espectador se identificar com os personagens, sempre apresentados a uma distância emocional segura do espectador. Existem ideias bem sacadas (como o quebra cabeça interminável, a brincadeira com a constituição espanhola, o embate entre dois professores, o culto aos personagens de mangá, os capítulos classificados pelos inimigos da alma segundo o cristianismo...) e alcança um exercício de mistério envolvente, mas que se prejudica pelo desfecho previsível. 

A Garota de Fogo (Magical Girl/Espanha-2014) de Carlos Vermut com Bárbara Lennie, Luis Bermejo, José Sacristán, Lucía Pollán e Israel Elejalde. ☻☻☻

quarta-feira, 20 de julho de 2016

10+: Winona Ryder

Winona Laura Horowitz nasceu em 1971, no estado de Minnesota (EUA) numa família chegada à filosofia hippie. Em 1986 a menina de olhos expressivos estreou no cinema - e logo foi considerada um dos nomes mais promissores de Hollywood. Na vida real, Winona já foi afilhada de guru espiritual, tatuagem de Johnny Depp, namorada ciumenta de Matt Damon e até a garota problemática no banco dos réus - o que jogou sua carreira numa espécie de limbo. Com a série Stranger Things o mundo parece estar disposto a redescobrir essa talentosa atriz com disposição de sobra para voltar ao primeiro time de Hollywood. Essa lista é sobre meus dez momentos favoritos da atriz - que servem para lembrar que Winona Ryder ainda merece um lugar em nossos corações: 

#10 A Casa dos Espíritos (1993) de Bille August
Pouca gente curtiu a adaptação de August para esse cultuado livro de Isabel Allende ambientado num período conturbado da história do Chile - mas o elenco enchia os olhos, só para ter ideia: Winona era a filha de Jeremy Irons com Meryl Streep e sobrinha de Glenn Close!

#09 Cisne Negro (2010) de Darren Aronofsky
Depois que sua instabilidade foi parar nos tribunais a atriz passou vários anos fazendo participações especiais em filmes pouco vistos... até que Aronofsky a convidou para viver a bailarina problemática Beth MacIntire - praticamente um fantasma do futuro que se arma para a protagonista de Natalie Portman. 

#08 Edward Mãos de Tesoura (1990) de Tim Burton
No clássico absoluto de Burton, Winona é a mocinha que aparece de cabelos louros para deixar o personagem de Johnny Depp apaixonado (e a química funcionou tão bem que os dois namoraram na vida real - rendendo a famosa tatuagem Winona Forever). 

#07 Os Fantasmas se Divertem (1988) de Tim Burton 
Na primeira parceria com Burton, Winona se saiu muito bem como a jovem gótica que se torna musa do estranho Besouro Suco (Michael Keaton). A partir daqui a moça se tornou uma das musas do diretor, com quem trabalhou mais duas vezes (e cogita a continuação dessa comédia esquisita). 

#06 Drácula de Bram Stoker (1992) de Francis Ford Coppola
Dizem que havia grande tensão nos bastidores entre Coppola e a atriz, mas quando assistimos ao filme, em que ela encarna a amada Mina do Conde Drácula (Gary Oldman), nem percebemos as dificuldades encontradas pela atriz. Isso que é profissionalismo!

#05 Garota, Interrompida (1999) de James Mangold
Ao final dos anos 1990, Winona começou a produzir filmes que podiam lhe render ainda mais reconhecimento - e quem sabe até lhe render um Oscar. Aqui ela vive uma jovem que passa um tempo numa instituição psiquiátrica. Sua atuação é competente, mas o Oscar foi para a colega Angelina Jolie. 

#04 A Época da Inocência (1993) de Martin Scorsese
Se a coisa não foi bem com Coppola, o mesmo não se pode dizer do seu primeiro trabalho com o mestre Scorsese. No filme mais romântico realizado pelo diretor, Winona vive a recatada noiva de Daniel Day Lewis...  mas ele nem imagina que ela é mais esperta do que parece. Winona foi indicada ao Oscar (de atriz coadjuvante) pela primeira vez pelo papel. 

#03 As Bruxas de Salém (1996) de Nicholas Hytner
Olhando sua carreira em perspectiva, a estrela deve ter achado que faltava uma vilã de peso! Foi quando ela produziu essa excelente adaptação da peça de Arthur Miller. Na pele da rancorosa Abigail, a atriz promove um verdadeiro massacre ao acusar seus desafetos de cometerem atos de bruxaria. 

#02 Minha Mãe é uma Sereia (1990) de Richard Benjamin
Cher estava com a bola toda quando resolveu produzir essa comédia sobre o relacionamento tempestuoso entre mãe e filha - baseado no livro de Patty Dann. O resultado é um filme divertido que rendeu uma indicação ao Globo de Ouro para sua filha (Winona) que tenta ser santa!

#01 Adoráveis Mulheres (1994) de Gillian Armstrong
A heroína Jo March já foi vivida por várias atrizes e a atuação de Winona está entre as melhores. Jo vive com a mãe e as três irmãs sonhando em ser escritora. Entre dramas familiares e amorosos (com Christian Bale), Jo amadurece no decorrer da história. O filme rendeu uma indicação ao Oscar de melhor atriz para sua estrela. 

NªTV: Stranger Things

Winona: momento de luz na carreira. 

Desde que foi lançado o primeiro trailer, Stranger Things foi direto para o pódio de estreias mais esperadas do ano. A nova série de mistério da Netflix foi lançada há uma semana é já possui fãs fiéis aguardando a segunda temporada (que acaba de ser encomendada). A trama é ambientada na pequena cidade de Hawkins onde uma série de fatos estranhos começam a acontecer após o desaparecimento do menino Will (Noah Schnap). Para o desespero da mãe, Joyce (Winona Ryder) ninguém sabe direito o que aconteceu com menino e a polícia não parece muito preocupada, já que em Hawkins faz uns vinte anos que ninguém desaparece (e realmente pensam que ele aparecerá em breve). Não demora muito para que a mãe de Will passe a receber telefonemas estranhos ou ver luzes piscantes e considerar que o filho quer enviar-lhe uma mensagem. Não bastasse isso, começam a existir indícios de que uma criatura estranha anda pelas redondezas. Enquanto Joyce tenta encontrar o filho por conta própria, o xerife Jim Hopper (David Harbour) tenta entender o que está acontecendo numa cidade que costumava ser bastante tranquila e o trio de amigos de Will também irão se aventurar em busca do amigo - só que no caminho os pequenos Mike (Finn Wolfhard), Dustin (Gaten Matarazzo) e Lucas (Caleb McLaughlin) aparecerá uma misteriosa menina (Millie Bobby Brown) e... melhor parar por aqui. A criação dos irmãos Duffer ainda conta com o charme de ser ambientada no início dos anos 1980, caprichando na reconstituição de época que vai para além dos cenários e figurinos: os personagens realmente agem como se estivessem num filme dos anos 1980! Seja nas referências que aparecem nos diálogos ou nos dilemas juvenis que enfrentam, existe uma atmosfera oitentista que torna Stranger Things muito mais coerente e um tanto nostálgica. Misturando E.T. (1982) com Conta Comigo (1986), Goonies (1985), Poltergeist (1982) e tantos outros filmes que misturavam doses de humor e mistérios, a direção consegue manter o interesse ao amarrar os oito episódios como se compusessem um filme envolvente de pouco mais de seis horas de duração. A diversidade do elenco, com núcleos formados por adultos, adolescentes (com direito à um triângulo amoroso) e infantis, também ajuda a dar forma ao programa para que agrade diversas faixas etárias. Embora o nome de Winona Ryder apareça primeiro nos créditos, o grande destaque da série são as crianças escolhidas criteriosamente pelos produtores (e a menina Millie Bobby Brown é um verdadeiro achado), são os pequenos que tomam a nossa atenção durante os episódios. Vale ressaltar que, como fã de Winona, fico feliz de vê-la retornar aos holofotes depois de uma fase estranha na carreira, aqui ela se joga no papel de mãe desesperada sem paraquedas, sem medo de cometer exageros, afinal trata-se da sua grande chance desde que retomou a carreira em  Cisne Negro (2010). O outro destaque do elenco é David Harbour, que está ótimo como o xerife de bom coração e que parece estar apenas esperando a chance de se tornar herói na cidadezinha que escolheu para fugir de seus próprios fantasmas. Tão divertido quanto assustador, Stranger Things nem parece ter sido criado praticamente por uma dupla de poucos trabalhos no currículo. Até aqui The Duffer Brothers (como os manos assinam a produção) tinham apenas dois curtas de terror, um longa de suspense no currículo (Escondidos, lançado no ano passado e que prometo comentar em breve por aqui) e a experiência de fazer alguns roteiros para a série Wayward Pines - baseada na trilogia literária de Blake Crouch. Agora, com total liberdade para criar o universo próprio da nova série, os manos conseguiram um dos maiores acertos da temporada e que já figura como uma das melhores estreias do ano. 

As crianças: referências oitentistas. 

Stranger Things (EUA/2016) de The Duffer Brothers com Winona Ryder, David Harbour, Millie Bobby Brown, Matthew Modine, Finn Wolfhard, Gaten Matarazzo, Caleb McLaughlin, Natalia Dyer, Charlie Heaton e Joe Keery. ☻☻☻☻☻

segunda-feira, 18 de julho de 2016

PL►Y: Já Estou com Saudades

Drew e Toni: amizade à prova de quimioterapia. 

Milly (Toni Collette) e Jess (Drew Barrymore) são amigas desde a infância, ainda que as vidas de ambas tenham seguido rumos diferentes, a amizade permanece intacta. Milly tem uma carreira de sucesso no mundo da música, casou com um esposo exemplar (Dominic Cooper) e tem dois filhos cheios de saúde. Jess mora numa casa-barco, faz trabalho comunitário e tem um marido (Paddy Considine) que não vê a hora de ser pai. Os maridos de ambas também se tornam amigos e todos curtem a vida como uma grande família. No entanto, a vida de todos irá mudar quando Milly descobrir que está com câncer no seio e ter que se submeter à quimioterapia, tratamento que irá mudar sua vida e de quem a cerca. Dirigido por Catherine Hardwicke (aquela que deu origem à Saga Crepúsculo/2008 no cinema) ainda está longe de ser uma grande diretora e isso fica evidente quando ela precisa aprofundar os dilemas atravessados pelas duas amigas, em alguns momentos ela pesa a mão nas doses de açúcar e algumas possibilidades do filme não se concretizam. Sua maior sorte foi ter conseguido Toni Collette para o papel principal e Drew Barrymore para encarnar a amiga compreensiva. Toni está bastante convincente como  a mulher vaidosa que tem sua identidade transformada pelas mudanças que seu corpo sofre no combate aos tumores. Ela tem as falas mais espertas (irônicas e sarcásticas) e não tem medo de ser desagradável com os outros personagens que apenas desejam fazê-la sentir-se melhor. Diante da amiga esfuziante, Drew Barrymore tem uma atuação contida numa personagem que é quase uma versão dela mesma (já que a atriz é famosa por ter um estilo de vida hippie), Drew demora para ter cenas de destaque, mas quando precisa cumpre sua tarefa com bastante competência. O filme poderia ser drama memorável sobre amigas mas o resultado fica inchado com suas quase duas horas de duração, sem ter fôlego para tanto. Houvesse vinte minutos a menos o filme seria muito melhor. Já Estou com Saudades é um filme que vale pelas suas atrizes (curiosamente Jennifer Aniston e Rachel Weisz que teriam os papéis principais, mas desistiram por atrasos na produção). 

Já Estou com Saudades (Miss You Already/Reino Unido-2015) de Catherine Hardwicke com Toni Collette, Drew Barrymore, Dominic Cooper, Paddy Considine e Tyson Ritter.

PL►Y: Um Dia Essa Dor Será Útil

Toby: pequena jornada dentro de si mesmo. 

Um Dia Essa Dor será Útil já conta com um título que recebe atenção por si só - e a atenção aumenta quando descobrimos que é destinada a um jovem de 17 anos que ainda não encontrou o seu caminho. Quando conhecemos James Sveck (Toby Regbo) ele está prestes a se atirar do alto da casa em que mora com a mãe, mas acaba mudando de ideia quando percebe que ela acaba de voltar para casa após uma fracassada lua-de-mel. É curioso perceber que James está no limite, vivendo numa família cercada de mulheres por todos os lados, sua personalidade ainda está em desenvolvimento, mas um tanto sufocada pelos devaneios da mãe (Marcia Gay Haden) e a superficialidade da irmã (Deborah Ann Woll). Já o pai (Peter Gallagher) é um executivo conquistador que está mais preocupado em driblar os efeitos do tempo sob sua aparência - mas é esperto o suficiente para perceber que existem fortes chances do filho ser homossexual (mas James jamais lhe avisaria sobre isso). Sem a pretensão de ir para a faculdade, James passa o tempo fingindo que trabalha na galeria de arte da mãe e tendo algum alento ao lado da avó materna (Ellen Burstyn) e do cão de estimação. Um Dia Essa Dor Será Útil concentra-se justamente em um dos períodos mais delicados da adolescência, aquele em que estamos próximos demais de ser adultos e precisamos fazer nossas escolhas em meio a todas os desejos e inseguranças. O diretor Roberto Faenza faz o possível para não compor um melodrama sobre a adolescência, deixando sempre James como uma espécie de esboço do que gostaria de ser, seja na claustrofóbica viagem para Washington ou no mal entendido (junto ao funcionário da galeria de sua mãe, John (Gilbert Owuor) - fatos que revelam bastante sobre a inquietação sofrida pelo protagonista. Se Faenza acerta no tom intimista do protagonista, o mesmo não se pode dizer de Marcia Gay Haden e Deborah Ann Woll que exageram nos drama de suas personagens, que terminam parecendo fúteis demais e um tanto caricatas. Já Peter Gallagher e Stephen Lang tem mais sorte por surpreender em personagens que poderiam ser apenas estereótipos manjados. Embora evite polêmicas por não aprofundar algumas questões, o filme alcança um resultado simpático e fácil de assistir, mas que poderia render muito mais nas mãos de um diretor mais impetuoso e criativo. 

Um Dia Essa Dor Será Útil  (Someday this pain will be useful to you / EUA- Itália / 2011) de Roberto Faenza com Toby Regbo, Marcia Gay Harden, Peter Gallagher, Stephen Lang, Gilbert Owuor, Ellen Burstyn e Deborah Ann Woll. ☻☻☻

domingo, 17 de julho de 2016

PL►Y: Mistress America

Lola, Greta, Matthew e Jasmine: o Baumbach mais leve de todos. 

O casamento pode fazer muito bem a um artista, principalmente se além de matrimonial ele for também criativo. Exemplo disso é o relacionamento que existe entre Noah Baumbach e Greta Gerwig. Baumbach já foi um queridinho da crítica quando lançou A Lula e a Baleia/2005  premiado filme sobre a dissolução de uma família de intelectuais perante o divórcio. Depois demonstrou que ele não estava preocupado em gerar personagens simpáticos com o incompreendido Margot e o Casamento/2007 (o meu favorito). O fundo do poço de seus personagens desagradáveis foi com Greenberg (2010) filme insuportável protagonizado por Ben Stiller. Pelo menos ali ele nos apresentou Greta Gerwig, atriz até então desconhecida, mas que construía uma personagem de humanidade palpável. Gerwig e Baumbach se juntaram mais uma vez em Frances Ha (2012), escrito pelos dois, filmado em preto e branco, mas tão despojado que conquistou fãs fiéis, se tornou cult e indicou Greta a vários prêmios (incluindo o Globo de Ouro). Os dois consolidaram o romance e Baumbach lançou o filme mais bem humorado de sua vida: Enquanto Somos Jovens (2014). Agora ele cria outra comédia estrelada por sua musa, o despretensioso Mistress America. Porém, o posto de protagonista ficou para Lola Kirke (da série Mozart in the Jungle), ela é Taylor, uma jovem que estuda literatura em Nova York, cidade onde não conhece ninguém. A mãe dela, que está de casamento marcado, insiste para que ela entre em contato com a futura enteada, Brooke (Greta Gerwig) que vive ali por perto. Taylor hesita, mas quando entra em contato com Brooke existe uma identificação imediata entre as duas (e Baumbach capricha na entrada triunfal da personagem em cena). As duas grudam e parecem se tornar amigas. Embora Brooke sempre pareça um pouco distante (obcecada por criar um restaurante, pensando mil coisas ao mesmo tempo - mas com fala articulada), Taylor se inspira nela para criar a personagem de um conto que pode lhe tornar uma aluna respeitada na faculdade. Sei que muita gente vai achar o filme estranho, especialmente por misturar personagens que parecem estar ali para apenas tornar as cenas mais dinâmicas e divertidas (mas não recebem muita profundidade na história), o fluxo da narrativa também é diferente, pontuado por acontecimentos que parecem um tanto aleatórios...  mas não se engane, Mistress America é a história de duas amigas e da forma como ambas se desenvolvem após se conhecerem. Greta Gerwig está luminosa como Brooke, tornando fácil entender porque Taylor a admira (apesar de tecer críticas às suas instáveis motivações) e Lola Kirke está convincente como a estudante que sonha em ser uma grande escritora e que aos poucos mostra-se bem mais interessante do que realmente parecia. Baumbach deixa a pose de lado e faz graça misturando personagens que parecem ter pouco em comum, com diálogos ágeis, o filme convence e diverte por um excelente timing cômico (e uma trilha sonora que parece saída de uma comédia adolescente dos anos 1980). Os fãs de outrora irão reclamar do rumo que a carreira da Noah tomou, mas, convenhamos que o lado de Greta, ele é menos cerebral e muito mais alegre na construção de seus filmes. 

Mistress America (EUA/2015) de Noah Baumbach com Lola Kirke, Greta Gerwig, Matthew Shear, Jasmine Cephas Jones, Heather Lind e Michael Chernus. ☻☻☻ 

PL►Y: Destino Especial

Alton: poderes especiais e destino confuso. 

Existe uma infinidade de títulos interessantes esperando uma vaga para estrear nas salas brasileiras, alguns já tiveram a estreia adiada várias vezes e a cota de pré-estreias mais do que cumprida. Esse é o caso de Destino Especial de Jeff Nichols, que tinha a estreia prevista para março, mas após dividir opiniões em sua estreia (ocorrida no Festival de Berlim), sua chegada por aqui foi alterada. Ainda que não tenha alcançado unanimidade, o cineasta Jeff Nichols se consolida como um dos nomes mais interessantes na nova safra de diretores americanos. Aos trinta e sete anos, este é o seu quarto filme e, assim como os outros, é digno de atenção. Junto aos outros, Destino Especial causa estranhamento por ser completamente diferente, afinal, Nichols chamou atenção no cinema independente com dramas intimistas - como o excepcional O Abrigo/2011 e o sucesso inesperado Amor Bandido/2012 - e aqui ele entrega uma ficção científica que transpira referência dos anos 1980, especialmente das fantasias dirigidas ou produzidas por Steven Spielberg naqueles tempos. O filme gira em torno do pequeno Alton (Jieden Lieberher que já demonstrou seu talento em Um Santo Vizinho/2014), um menino diferente que foi sequestrado por dois homens (vividos por Michael Shannon e Joel Edgerton) enquanto uma investigação começa a acontecer em sua busca. De um lado estão agências governamentais que descobriram as habilidades especiais do menino, do outro está um grupo religioso que acredita que Alton é uma espécie de salvador. No meio da confusão estão os pais do menino, que desejam apenas o bem dele diante do seu "dom". Nichols capricha nos climas e no uso dos efeitos especiais em momentos pontuais (as cenas em que o menino apresenta seus poderes são impressionantes) sem perder o tom crescente de conspiração. É um filme que se destaca como aventura infanto-juvenil e que se beneficia do mistério que contrói em torno de seu irresistível protagonista mirim. Michael Shannon também chama atenção por mais uma grande atuação (não por acaso é o ator favorito de Nichols, estando presente em quatro dos cinco filmes dirigidos pelo cineasta), aqui, Shannon demonstra total cumplicidade junto ao menino, mesmo quando alguns sacrifícios deverão ser feitos. Ironicamente, são as qualidades apresentadas por Destino Especial que torna o desfecho o seu maior problema, afinal, cria-se uma grande expectativa por todo o filme, mas a conclusão mostra-se tão apressada que torna-se até confusa. Diante do desfecho insatisfatório, destaca-se como alguns alguns atores poderiam ter recebido maior destaque na trama - como o cientista vivido por Adam Driver e a mãe encarnada por uma discreta Kirsten Dunst. Se ao final, o longa não alcança tudo o que promete, pelo menos impressiona pelo resultado alcançado com o orçamento de 18 milhões de dólares (uma ninharia para o gênero). Se depois de passar por Berlim Destino Especial dividiu opiniões, o diretor Jeff Nichols teve melhor sorte no Festival de Cannes desse ano ao apresentar Loving, elogiadíssimo drama romântico sobre um casal inter-racial enfrentou preconceitos na década de 1950 (e que já está cotado para o Oscar do ano que vem).

Destino Especial (Midnight Special/EUA-2016) de Jeff Nichols com Michael Shannon, Joel Edgerton, Jieden Lieberher, Kirsten Dunst, Adam Driver, Bill Camp e Sam Shepard. ☻☻☻

quinta-feira, 14 de julho de 2016

FILMED+: O Beijo da Mulher Aranha

 
Sonia e Raul: dicotomia entre a realidade e a fantasia. 

Quando lançou seu último filme (Meu Amigo Hindu/2016) fiquei muito triste quando li uma entrevista do cineasta Héctor Babenco onde ele relatava todas as dificuldades que enfrentava para filmar no Brasil. Ele ressaltava que além de todos os problemas para captar recursos, problemas com a filmagem e a longa espera por distribuição haviam transformado a vida de cineasta num verdadeiro martírio. Ingenuamente pensei que um diretor do quilate de Babenco, diretor de (pelo menos) uns cinco clássicos do cinema nacional estaria longe de todos esses percalços. Fosse americano ou europeu provavelmente seu nome estaria entre os grandes mestres da sétima arte, mas Babenco nasceu na Argentina e naturalizou-se brasileiro e, convenhamos, que seu cinema é bom demais para lotar salas famintas por comédias bobocas e atores globais. Babenco sempre quis desafiar o público, especialmente com dramas marginais que combinam a aspereza da exclusão com um pouco de poesia para tornar a existência suportável. O universo construído pelo cineasta não é para saborear a pipoca, mas para curtir o nó na garganta. Por isso eu entendo porque muita gente considera Pixote - A Lei do Mais Fraco (1980) seu melhor filme, mas eu curto mesmo é O Beijo da Mulher Aranha, outro clássico absoluto do diretor. Baseado no romance do argentino Manuel Puig, Babenco trabalha as relações da história com nuances profundamente emocionais na relação entre dois prisioneiros: Luís Molina (William Hurt, excepcional) e Valentin Arregui (o sempre competente Raul Julia). O efeminado Luís é um vitrinista que foi preso por ser homossexual e já o rústico Valentin é um prisioneiro político, ambos dividem a mesma cela numa prisão de segurança máxima de algum país da América Latina. Com diferenças visívei, Luís tenta se aproximar do companheiro de cela narrando um filme que assistiu: O Beijo da Mulher Aranha - um intrincado romance de época onde uma cantora francesa (Sonia Braga, com ares de diva e indicada ao Globo de Ouro de atriz coadjuvante) se apaixona por um oficial nazista. Babenco contrasta as cores das duas narrativas e apresenta os detalhes românticos da cantora com o oficial em contraponto com a atração que Luís começa a sentir por Valentin. Aos poucos, Babenco desconstrói a teatralidade, a sensualidade e os estereótipos do que está em cena, explorando cada vez mais os sentimentos de Luis. William Hurt está inesquecível em meio aos dilemas de seu personagem, preso entre a realidade e seus desejos (obviamente que  a Mulher Aranha é apenas uma simbologia para sua própria sexualidade), não é por acaso que o ator (que nunca se contentou em ser apenas um galã) recebeu os prêmios de melhor ator no Oscar e no Festival de Cannes. Vale destacar também o quanto Sonia Braga enche os olhos em cada cena que aparece. Babenco realiza aqui um trabalho emocionalmente intenso e com várias camadas, costuradas justamente através de suas dicotomias, alcançando sucesso mundial e recebendo quatro indicações ao Oscar (Filme, diretor, roteiro adaptado e ator) numa época em que a homossexualidade ainda era vista com desconfiança no cinema. O Beijo da Mulher Aranha é um verdadeiro trabalho de um mestre que merece nosso respeito por toda a eternidade. 

Raul e William: atuações inesquecíveis. 

O Beijo da Mulher Aranha (Kiss of the Spider Woman / Brasil - Argentina - EUA / 1985) de Héctor Babenco com William Hurt, Raul Julia, Sonia Braga, José Lewgoy, Herson Capri, Milton Gonçalves e Miriam Pires. ☻☻☻☻☻

4EVER: Héctor Babenco

07 de fevereiro de 1946 13 de julho de 2016

Héctor Eduardo Babenco nasceu em uma família de origem judaico-ucraniana em Mar Del Plata na Argentina. Seu longa de estreia foi O Rei da Noite (1975), que contava a história de um homem da infância até a velhice. Em 1977 tornou-se ainda mais conhecido com Lúcio Flávio, O Passageiro da Agonia, clássico estrelado por Reginaldo Faria e lançado no mesmo ano que o cineasta naturalizou-se brasileiro. Babenco ganhou fama mundial com seu terceiro trabalho nas telonas: Pixote - A Lei do Mais Fraco (1980) que foi aclamado mundialmente, assim como O Beijo da Mulher Aranha (1984), filme co-produzido com os EUA e que concorreu a cinco Oscars (Filme, Diretor, Roteiro Adaptado e ganhou o de Melhor Ator para William Hurt). A direção segura e a sensibilidade perante histórias incômodas rendeu o convite para dirigir Ironweed (1987), drama pesadão estrelado por Meryl Streep e Jack Nicholson. Ao todo, Babenco dirigiu dez filmes dignos de atenção. Seu último grande sucesso foi Carandiru (2003) e o seu lançamento mais recente foi Meu Amigo Hindu (2016) com Willem Dafoe, onde revisita o tratamento contra o câncer. Héctor faleceu  em consequência de uma parada cardiorrespiratória

quarta-feira, 13 de julho de 2016

MOMENTO ROB GORDON: Momentos Rock'n Roll do Cinema

Hoje é o Dia Mundial do Rock e resolvi fazer uma lista com os meus momentos Rock'n Roll favoritos do cinema! Ela ficou bem mais democrática do que eu imaginei - e isso só prova o quanto um dos gêneros mais conhecidos do mundo não morre enquanto for plural e eclético em suas vertentes! 

#5 "My Love Will Never Let You Down"
Ricky & The Flash: De Volta para Casa (2015) está longe de ser um grande filme. O roteiro de Diablo Cody começa cheio de possibilidades, mas depois é desenvolvido como uma novela das oito que enrola demais para chegar no final. Batendo sempre na mesma tecla (o ressentimento da família com a mulher que largou o esposo e os filhos para seguir carreira de musicista) o filme desperdiça a versatilidade de Meryl Streep, deixando somente para o final  versão cheia de energia da música de Bruce Springsteen - que revela tudo que o filme poderia ter sido se fosse menos careta. 

#4 "Zach's Song"
Escola de Rock (2003) deve figurar em alguma lista de grandes surpresas da história do cinema. Dirigido por Richard Linklater (que, convenhamos, nunca é chegado a ser popular) o filme tem como maior trunfo a química entre o roqueiro vivido por Jack Black e seus alunos de música - que aprendem o valor do rock em sua essência. Um filme que tinha tudo para dar errado e se tornou um novo clássico da comédia americana. A cena final em que professor e alunos demonstram que aprenderam a lição direitinho é uma das favoritas de todos os tempos até na opinião de minha mãe (que odeia comédias). 

# 3 "Tear me Down"
John Cameron Mitchell era um ilustre desconhecido quando exibiu Hedwig (2001) no Festival de Berlim e saiu de lá aclamado com o Teddy (o prêmio voltado para filmes sobre diversidade sexual do festival). Na pele do transexual nascido na Alemanha Oriental e que apenas quer ser amado como qualquer mortal, Mitchell solta a alma roqueira que tem dentro de si. Ele dirige, atua, canta e escreve o roteiro sobre uma rockstar incomum (e foi indicado ao Globo de Ouro de melhor ator em comédia ou musical pela atuação). Tear me Down é a carta de apresentação da personagem e ainda serve para embalar nossa espera pelo novo filme do rapaz (a adaptação da HQ de Neil Gaiman "Como Falar com Garotas em Festas" ambientado na cena punk dos anos 1970)!

#2 "Twist And Shout"
Curtindo a Vida Adoidado (1986) deve ser o maior clássico para adolescentes dos anos 1980 com o dia em que um rapaz decide matar aula e curtir o dia com sua namorada (Mia Sara) e seu melhor amigo (Alan Ruck). Uma das cenas que fizeram história no dia de aventuras do jovem Ferris Bueller (Matthew Broderick no papel de sua vida) foi quando ele colocou todo mundo para cantar e dançar ao som dessa pérola dos Beatles - espantando qualquer sombra de mesmice num dia de desfile...

#1 "Johnny Be Good"
A trilogia De Volta Para o Futuro (1985) é uma das mais queridas da história do cinema e está repleta de cenas antológicas. No primeiro episódio da série tem uma que está entre as melhores das viagens no tempo de Marty McFly (Michael J. Fox). A cena em que ele toca a canção de Chuck Berry no baile definitivo para seus país no ano de 1955 é tão bacana que foi resgatada na sequência lançada em 1989. O mais legal é a plateia atônita diante do show de Marty tocando uma canção que só seria lançada três anos depois (e revolucionaria a história da música). Sorte de quem estava no baile e viu o rock nascer antes do resto da humanidade.