sexta-feira, 17 de junho de 2016

Na Tela: Demon

Itay Tiran: atuação surpreendente. 

Piotr (o israelente Itay Tiran, em magnífica atuação) foi criado na Inglaterra e se prepara para o casamento com Zaneta (Agnieszka Zulewska), na Polônia. Os dois decidiram morar em uma casa de campo afastada da cidade - onde também irão realizar a festa de casamento. Embora os pais da noiva não entendam muito bem os motivos da filha ter optado por casar com um estrangeiro (que mal sabe falar polonês), eles toleram o noivo na medida do possível - mas nem sempre conseguem conter as inevitáveis piadinhas. Enquanto limpa o terreno para a festa, Piotr encontra uma ossada enterrada no quintal.  Visivelmente afetado pelo que encontra, ele começa a se comportar de forma inesperada. Além de sempre pensar e falar sobre a ossada, o noivo ficará profundamente perturbado, comprometendo a cerimonia de casamento, a festa que se seguirá e a própria vida. O cineasta Marcin Wrona cria então um filme incômodo que conjuga a festa incessante, regada à música e álcool e um personagem visivelmente assombrado - que tem visões, convulsões e fala uma língua estranha para os convidado enquanto a maioria dos convidados consideram que o noivo apenas bebeu mais do que devia. Os parentes da noiva temem um escândalo e recolhem o noivo gerando consequências ainda mais estranhas para a situação. Longe de ser um terror convencional, Demon é apresentado como uma alegoria sobre a forma como os poloneses lidam com os judeus mortos durante a Segunda Guerra - corpos escondidos pela história numa cova rasa e que a Polônia prefere manter esquecida. Não é por acaso que enquanto a família quer esconder o que acontece com o noivo, a noiva permanece apaixonada e obstinada em encontrar a ossada mencionada pelo noivo. O diretor polonês Marcin Wrona nasceu em 1973 na cidade de Tarnow, onde metade da população era judia antes da Segunda Guerra Mundial e ser exterminada em campos de concentração. Durante sua infância foi atormentado por um pai abusivo que ganhava a vida como exorcista e utilizou o cinema para enfrentar alguns de seus fantasmas. Considerado um cineasta promissor, seus filmes costumam misturar temas como identidade e paternidade, Demon é seu terceiro filme e entrou para o para o grupo de filmes malditos do cinema - afinal, o diretor foi encontrado morto ao suicidar-se após o lançamento do filme no Festival de Gdynia, na Polônia. Em entrevistas Wrona sempre deixou claro o quanto foi difícil criar um filme que flerta com o terror ao mesmo tempo que mexe em algumas feridas do passado da História de seu país. A imprensa polonesa considera que a morte de Marcin não aconteceu por nenhum motivo sobrenatural, mas por uma mistura excessiva de álcool, depressão, estresse e doses de decepção pelo filme passar por vários festivais sem receber prêmio algum. Seja como for, Demon impressiona ainda mais por revelar a alma atormentada de seu criador. 

Demon (Polônia/Israel - 2015) de Marcin Wrona com Itay Tiran, Agnieszka Zulewska e Andrzej Grabowski. ☻☻☻

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