segunda-feira, 6 de junho de 2016

CICLO DIVERSIDADE SXL: Gotas D'água em Pedras Escaldantes

Maliki e Anna: prisioneiros de um quadrilátero amoroso. 

Depois de participar de vários curtas (de ficção ou documentais) o cineasta François Ozon mostrou-se um dos mais produtivos dos últimos tempos, afinal, lança filmes com o intervalo máximo de dois anos entre um e outro. Em seus primeiros longas ele já demonstrava gosto por questões de sexualidade - foi assim com Sitcom (1998) e Os Amantes Criminosos (1999). No entanto, foi com o filme baseado na peça do alemão Rainer Werner Fassbinder, que ele começou a ficar conhecido por aqui. Gotas D'Água em Pedras Escaldantes revela-se uma comédia (ainda que ácida) tão dramática quanto provocadora, principalmente por abordar aquele tipo de relacionamento que corrói feito uma uma doença. Ambientado na Alemanha da década de 1970, o filme é dividido em atos sobre o relacionamento do jovem Franz (Maliki Zidi) e o cinquentão Leopold (Bernard Giraudeau). Se no primeiro ato instala-se um jogo de sedução capaz de fazer o rapaz se afastar da namorada, no ato seguinte o que se vê é o efeito da rotina sobre os dois. Leopold mostra-se cada vez mais irritado e temperamental, enquanto Franz torna-se cada vez mais cansado das brigas constantes. Entre brigas e reconciliações, os dois seguem juntos num misto de atração e comodidade, pelo menos até que a trama ofereça espaço para mais duas personagens, a jovem Anna (Ludivine Sagnier), a ex-namorada de Franz, e Véra (Anna Thomson), uma antiga conhecida de Leopold. A chegada das personagens trarão novos rumos para a história e ressaltam as cores da capacidade humana em se prender a relacionamentos complicados. Mais importantes do que os laços construídos durante o filme é perceber o olhar que Fassbinder e Ozon lançam sobre a Caixa de Pandora que foi aberta com a liberação sexual, sobretudo na década de 1970. Entre a curiosidade, a sexualidade e a necessidade de romance vivida pelos personagens, o que se percebe é que em meio à revolução sexual, os sentimentos inerentes ao ser humano sempre surgem (não importa se você é hétero, homo, bi, trans...). Enquanto Leopold parece mais preocupado com o seu prazer do que com qualquer outra coisa (e o veterano Giraudeau cria uma composição perfeita para o típico sedutor), outros personagens que cruzam seu caminho esperam mais do que apenas sexo - e os conflitos se tornam inevitáveis (e até mortais). Ozon desenvolve seus personagens num misto de ironias e simpatia, abraçando o que o teatro pode lhe oferecer de melhor na condução da narrativa (a economia dos cenários, a divisão em capítulos...) e ajusta o que ele pode ter de pior na tela (qualquer exagero histriônico foi banido). Entre risos e conflitos, Gotas D'água em Pedras Escaldantes chega ao final melancólico sem moralismos ou toques politicamente corretos - e a cena da janela que não se abre reflete magistralmente como alguns amantes podem se tornar verdadeiros prisioneiros. 

Gotas D'água em Pedras Escaldantes (Gouttes d'eau sur pierres brûlantes/França-2000) de François Ozon com Bernard Giraudeau, Maliki Zidi, Ludivine Sagnier e Anna Thomson. ☻☻☻

Você também poderá gostar destes filmes citados aqui no blog:
🌈 "A Pele que Habito" de Pedro Almodóvar 
🌈 "Deixe a Luz Acesa"  de Ira Sachs 
🌈 "Tom na Fazenda" de Xavier Dolan

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