quinta-feira, 21 de abril de 2016

PL►Y: O Experimento de Aprisionamento de Stanford

Angarano (direita), Tye (centro) e Ezra (esquerda): a aceitação do mal.  

Poucos experimentos chamam tanta atenção do cinema quanto o de aprisionamento de Stanford em agosto de 1971. Trata-se de um experimento psicológico que já inspirou dois filmes recentes (o alemão Experiência/2001 e o americano Detenção/2010), mas que recebeu no ano passado uma versão mais fiel aos fatos ocorridos na renomada universidade americana. Para quem já assistiu aos filmes anteriores existem duas mudanças consideráveis na história. A primeira é que por ser ambientada numa universidade americana, os voluntários são jovens que, em sua maioria, estudavam na instituição. A segunda é que o filme oferece mais destaque aos cientistas envolvidos, especialmente o Dr. Phillip Zimbardo (Billy Crudup), que teve a ideia de utilizar um espaço da universidade para simular uma prisão e observar o que aconteceria. Enquanto as salas desocupadas de professores viraram celas, o corredor servia de pátio - território para as refeições e todo o tipo de humilhações. Zimbardo queria observar em duas semanas o efeito dos uniformes (seja de policiais ou presidiários) e do ambiente no psicológico dos envolvidos. As regras eram bem simples: os envolvidos seriam divididos em dois grupos: ao grupo de "presidiários" cabia obedecer as ordens, aos "policiais" cabia manter a ordem local. O uso de violência física era proibida - quanto à tortura psicológica... estava totalmente liberada. Não demora muito para que os presos percebam que seus colegas policiais estão levando a sério demais os seus papéis, deixando a atmosfera insuportável. Entre ofensas, noites de sono interrompidas, flexões e xingamentos, as agressões físicas começaram a aparecer - deixando Zimbardo ainda mais interessado em ver as consequências de seu experimento. Os voluntários foram atraídos pelos quinze dólares diários que ganhariam por dois meses de participação, mas bastou alguns dias para que alguns manifestassem a vontade de deixar a experiência. O diretor Kyle Patrick Alvarez consegue realizar um bom filme. Claustrofóbico e incômodo, o filme poderia apenas ser um pouco mais curto (uns vinte minutos fariam milagres), mas consegue manter a tensão crescente - sustentada pelo riso nervoso dos envolvidos que depois se transforma em pura angústia. Alvarez conta com um visual diretamente inspirado em filmes da década retratada (figurinos e perucas, inclusive) e um elenco de jovens atores excepcionais. Ezra Miller, Tye Sheridan e Chris Sheffield tem momentos de destaque, assim como Michael Angarano impressiona como o policial mais sádico da turma. A experiência acabou durando apenas seis dias devido a nível de estresse entre os envolvidos. O Experimento de Aprisionamento de Stanford é até hoje lembrado como um mau exemplo na ética de experimentos com seres humanos, mas também serve como referência (assustadora) da aceitação da crueldade mediante "autorização" (além das referências sobre histeria coletiva, influência do ambiente e a capacidade corruptora do poder). Por todos esses motivos, vale sempre lembrar do fracassado (?) experimento. 

O Experimento de Aprisionamento de Stanford (The Stanford Prison Experiment/ EUA-2015) de Kyle Patrick Alvarez com Billy Crudup, Ezra Miller, Tye Sheridan, Michael Angarano, Chris Sheffield, Olivia Thirlby, Johnny Simmons e James Frecheville. ☻☻☻

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