sábado, 16 de janeiro de 2016

Na tela: 45 ANOS

Tom e Charlotte: um fantasma entre nós. 

Charlotte Rampling é uma das minhas atrizes favoritas e, prestes a completar 70 anos, a atriz recebeu sua primeira indicação ao Oscar por sua atuação no filme 45 Anos (e surpreendeu muita gente que sentiu sua falta no prêmio do Sindicato dos Atores e no Globo de Ouro). Nascida em 1946, Charlotte começou sua carreira como modelo, mas em 1965 já atuava no cinema - sendo destacada somente em 1974 por sua atuação no polêmico O Porteiro da Noite de Liliana Cavani. O passar do tempo serviu apenas para aprimorar o talento da atriz, umas das poucas que aceitam o efeito do tempo sobre seu rosto. O fato é que, mais uma vez, Charlotte dá uma aula de interpretação com seu estilo contido e intimista ao atribuir emoção a cada gesto e olhar, assim como seu colega de cena, o veterano Tom Courtenay, parece estar plenamente confortável diante do desafio proposto pelo diretor Andrew Haigh - não por acaso o casal foi premiado em Berlim por suas atuações no longa. Rampling vive Kate Mercer, professora aposentada que está preparando a comemoração pelos 45 anos de seu casamento com Geoff Mercer (Courtenay). O que poderia ser apenas o acompanhamento dos dias que antecedem a festa (a narrativa é estabelecida a partir dos dias daquela semana) muda o tom quando Geoff é comunicado que uma ex-namorada foi encontrada após 50 anos depois de um acidente na s montanhas suíças (o que a manteve escondida no gelo desde então). O impacto da notícia irá mudar o relacionamento do casal, que já estava acostumado a rotina da vida à dois. Tudo o que era certeza agora passa a ser coberta por uma neve de impressões sobre o olhar de Kate. Enquanto Geoff não para de falar da falecida, Kate começa a pensar que sua vida teria seguido outro rumo se a ex ainda estivesse viva. Se no início ela procura ser compreensiva com o esposo, aos poucos, a situação começa a ficar cada vez mais incômoda, especialmente quando alguns pequenos segredos começam a aparecer. Embora Courtenay esteja bem em cena, o que fica na memória é mesmo a atuação de uma assombrada Charlotte Rampling, que apresenta todo o desgaste de ter que disputar a atenção com uma abstração, uma memória distante de todo o desgaste de várias décadas de casamento. Cada expressão pontual da atriz ressalta uma desconfiança, uma decepção, um desconforto diante de tudo o que viveu ao lado do esposo (a cena final da dança é brilhante ao re-significar até a música que embalou o romance do casal). Para além dos méritos das atuações irrepreensíveis de seus protagonistas, o diretor Andrew Haigh pontua sua narrativa como se contasse um suspense para a plateia - suspense esse que por vezes se revela um filme de fantasma (reforça isso detalhes como o perfume que Kate começa a sentir pela casa, o dia em que projeta slides da falecida no sótão ou até uma porta que se fecha sozinha). Aqui, Haigh confirma seu gosto por desvendar relacionamentos, mas sobre um novo foco. Famoso por seus trabalhos voltados para personagens homossexuais (Greek Pete/2009, o cultuado Weekend/2011 e a cancelada série Looking/2014-2015 da HBO), Haigh demonstra que a sensibilidade de sua câmera não funciona apenas para os gays, mas para a forma como a perspectiva do relacionamento se desenha em geral. 

45 Anos (45 Years/Inglaterra - 2015) de Andrew Haigh com Charlotte Rampling e Tom Courtenay. ☻☻☻☻

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