segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Na Tela: No Coração do Mar

Chris: um outro olhar sobre Moby Dick

Ron Howard está longe de ser meu cineasta favorito, mas reconheço que, apesar de sua tendência a amenizar os conflitos que deixariam a maioria de seus filmes mais interessantes, ele ainda consegue realizar obras interessantes (meus favoritos são O Tiro Que não Saiu Pela Culatra/1989, Uma Mente Brilhante/2002 e Frost/Nixon/2008,  que é sua obra prima). Embora ele tenha apostado alto no seu filme anterior, Rush (2013), e morrido na praia rumo às premiações seu novo filme, No Coração do Mar, começou a ser anunciado ao final de 2015 para estrear em março os Estados Unidos (basta lembrar que considerei seu pôster um dos melhores do ano passado), mas os produtores ficaram tão empolgados com o resultado que adiaram seu lançamento para o fim do ano para ver se conseguiam cravar algumas indicações aqui e ali. Ao que parece as indicações não virão, mas Howard deve estar feliz com os elogios que recebeu e uma bilheteria crescente ao redor do mundo. É verdade que pouca gente irá entender o motivo do diretor preferir filmar a história que inspirou o clássico Moby Dick de Herman Melville (que aparece no filme vivido por Ben Whishaw) ao invés de utilizar o próprio livro. Quem conhece a história vai se sentir um tanto enganado, já que Howard perde a oportunidade de se aprofundar nas entrelinhas do livro e tornar seu filme mais interessante. O filme conta a história de Owen Chase (Chris Hemsworth, em mais uma parceria com o diretor), um baleeiro que sonha ser capitão, mas sofre com os preconceitos do início do século XIX, que impossibilitam de um homem de origem humilde comandar uma expedição. Assim, ele terá de lidar com o capitão inexperiente George Pollard (Benjamin Walker), estreante no ramo, ainda que tenha longa tradição familiar no ramo. O filme utiliza pouco a tensão entre os dois personagens, já que fica rapidamente evidente que Chase que comanda os homens do mar e Pollard tem o ego inflado  o suficiente para colocar tudo a perder. No fim das contas, a inimizade entre os dois apenas colabora para que a ambição destroce o baleeiro Essex na busca de uma área do pacífico que é um refúgio para as baleias - some isso ao fato de não acreditarem numa baleia gigante que assombra os que se aventuram por lá e você sabe o que acontece. Curiosamente, são nas cenas onde a baleia aparece que Ron Howard mostra-se mais a vontade, seja em cenas de destruição, ou no último encontro de Chase com o enorme mamífero que aniquilou sua tripulação, são nesses momentos que o filme encontra seu verdadeiro foco: a relação predatória do homem com a natureza (que no fim das contas, tem tanto direito de existir quanto o próprio homem). No Coração do Mar não é um filme ruim, mas deixa seus melhores recursos pela metade, dos conflitos de Chase com Pollard, passando pelas poucas cenas com a baleia, a relação de Herman Melville com a história que lhe cai nas mãos ou o martírio dos sobreviventes (para qual os atores tiveram que fazer uma dieta drástica), tudo aparece mais apressado do que deveria. De grande qualidade técnica, o maior problema do filme acaba sendo justamente o seu recheio um tanto inconsistente, ainda que estivesse cheio de possibilidades.

No Coração do Mar (In The Heart of The Sea/EUA-2015) de Ron Howard, com Chris Hemsworth, Benjamin Walker, Tom Holland, Brendan Gleeson, Cillian Murphy e Ben Whishaw. ☻☻☻

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