sexta-feira, 15 de maio de 2015

CATÁLOGO: Guerreiro Silencioso

Mads: rumo ao coração das trevas. 

Nicolas Winding Refn é um celebrado diretor dinamarquês que possui verdadeiro fetiche por violência (no sentido de algo a que se atribui poderes quase sobrenaturais, no caso de Refn esse poder quase mágico atribuído à ela é puramente narrativo). Em seus filmes podemos perceber como o diretor vê na violência um elemento narrativo poderoso, já que sua filmografia  prefere utilizar, na maioria das vezes, cenas violentas no lugar de diálogos - e às vezes ele acerta nessa escolha. A ideia funcionou bem na cultuada trilogia Pusher (inaugurada em 1996), ganhou status de obra-prima em Drive (2011) e decepcionou em Só Deus Perdoa (2013), mas é em Valhala Rising que a violência recebe o primeiro plano como em nenhuma outra obra do diretor. O filme quase não possui diálogos e investe pesado em cenas estilosamente agressivas, provavelmente, foram seus longos silêncios que renderam o nome Guerreiro Silencioso em terras tupiniquins. No entanto, o título recebido é um dos capítulos dessa história ambientada no ano 1000 depois de Cristo.  Quando o filme começa, vemos um homem (Mads Mikkelsen sempre impressiona) preso pelo pescoço a um tronco, tendo de lutar para divertir uma plateia de pagãos. Após derrotar seus oponentes, ele volta para uma gaiola de madeira, sobre os cuidados de um menino escravo. Pouco se sabe do passado do personagem, mas após uma fuga sangrenta ele irá vagar por ambientes bucólicos, tendo a natureza como cenário e a companhia do tal garoto que serve para dizer o que o guerreiro - o qual ele passa a apresentar como Um Olho (já que isso é realmente um fato estampado no rosto dele). Eles irão encontrar um grupo de cristãos que, aos poucos, acreditam que estão vagando rumo ao inferno. Refn cria um filme com pouco texto, mas de ritmo preciso e atuações intensas, especialmente de Mads Mikkelsen, que sem dizer uma única palavra tem pleno domínio do filme - especialmente na dinâmica com o garoto Marteen Stevenson. Entre os dois nunca fica claro se o menino realmente entende o que o guerreiro pensa, se o menino apenas diz qualquer coisa ou se guia, às vezes, as ações do guerreiro (e isso torna o filme mais interessante). Além disso, a temporada da dupla junto aos navegantes cristãos torna o filme ainda mais impressionante - e a referência à Valhala (que na mitólogia nórdica significa um salão de Asgard, dominada pelo deus Odin, onde os guerreiros são destinados após a morte) serve de premissa para o que se vê no filme, basta ficar atento a diálogos como "nós temos vários deuses, mas esses homens tem apenas um" para entender o que está por trás dos temores dos personagens. Porém, Guerreiro Silencioso deve soar apenas indigesto para a maioria das pessoas, mas quem curte filmes de bárbaros, vikings e tudo mais irá se deleitar com os climas construídos pelo diretor - e arrisco a dizer que aqui a violência cria uma simbiose cinematográfica deslumbrante com os cenários paradisíacos, tão divinos quanto traiçoeiros. Ao fim da sessão tive a impressão que era um filme hardcore de Terrence Malick!!

Guerreiro Silencioso (Valhala Rising/Dinamarca - Reino Unido/2009) de Nicolas Winding Refn, com Mads Mikkelsen, Marteen Stevenson, Gary Lewis e Alexander Morton. ☻☻☻

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