terça-feira, 21 de abril de 2015

Na Tela: Mapas para as Estrelas

Moore: retrato distorcido de si mesma.

É interessante que no ano em que Birdman qanhe o Oscar de melhor filme, outra obra tenha abordado os dissabores da fama por um viés ainda mais, digamos, cáustico. No entanto, enquanto roteiro de Alejandro González Iñarritú consiga ser articuladamente sólido, o outro não tem essa preocupação e soe como uma espécie de colagem dos maiores pesadelos das estrelas. Estou falando de Mapas para as Estrelas, o controverso filme de David Cronenberg que concedeu a Julianne Moore o prêmio de melhor atriz em Cannes/2014. Eu andava tão decepcionado com os últimos filmes do diretor que realmente pensei que estavam certos em afirmar que esse era o seu pior filme. No entanto, prefiro concordar com os outros que o elevam à categoria de estar entre os seus melhores trabalhos. Seu olhar ácido sobre Hollywood pode até padecer de um final ruim (e considero que esse seja o maior defeito dele), mas até lá o que vemos é uma câmera atenta em mostrar um retrato desagradavelmente disforme do mundo mágico das celebridades. Porém, não considero que Cronenberg pretenda construir um retrato realista da capital do cinema, mas pelo menos um retrato sobre um daqueles crimes que de vez em quando ninguém entende muito bem como aconteceu no mundo das celebridades. Se Cronenberg não soubesse onde inserir humor na trama (ainda que cáustico), o resultado seria insuportável (ou ainda mais insuportável, já que muitos já enxergam o filme assim). O filme começa com a chegada da jovem (com marcas de queimadura) Agatha (Mia Wasikowska) à Hollywood, no primeiro dia ela conhece o chofer de celebridades Jerome Fontana (Robert Pattinson, repetindo a boa parceria com Cronenberg), mais um pouco e ela conhece a estrela decadente Havana Segrand (Julianne Moore) por intermédio de Carrie Fisher (vivida por ela mesma). Havana considera que precisa interpretar um papel que já foi de sua mãe, a estrela indicada ao Oscar Clarice Taggard (Sarah Gadon) para voltar a ser uma estrela de primeira grandeza. Havana e Clarice tinham uma relação bastante problemática, antes que Clarice fosse vítima de um incêndio. Nesse ponto, o misto de terapeuta e massagista (massoterapeuta?) Stafford Weiss (John Cusack), ajuda Havana a lidar com seus conflitos com massagens muito estranhas - enquanto a Srª Weiss (Olivia Williams) tenta administrar a carreira do filho (Benjie Weiss) que acaba de sair da reabilitação (antes mesmo de completar quinze anos). Misture todos esses personagens com um bocado de conflitos freudianos,  obsessões, incesto, assassinato, sexo e drogas temperados com muito humor negro e você terá ideia do que é o filme. Fazia tempo que Cronenberg não criava um universo tão estranhamente vigoroso para os seus personagens - ainda que muitos possam considerá-lo repulsivo. De riso nervoso, o longa traz atuações competentes, especialmente da espetacular Julianne Moore (a cena em que ela lamenta a morte de uma criança para pouco depois celebrar os benefícios que isso lhe rende é indescritível). Indicada ao Globo de Ouro pelo papel, a atriz não precisava provar mais nada para ninguém, mas o retrato de uma estrela que já passou dos cinquenta e que se comporta como uma desmiolada infantilóide está entre os melhores momentos de sua carreira - melhor até do que sua atuação premiada com o Oscar em Para sempre Alice/2014. Acho que, assim como os fantasmas que habitam o filme, a Academia (ao votar) lembrou-se do autorretrato corajosamente distorcido que a atriz fez nesse filme. 

Mapas Para as Estrelas (Maps To The Stars/Canadá, Alemanha, França, EUA-2014) de David Cronenberg, com Julianne Moore, Mia Wasikowska, Evan Bird, John Cusack, Robert Pattinson e Olivia Williams. ☻☻☻

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