domingo, 29 de março de 2015

BREVE: Filth

McAvoy: longe do bom mocismo. 

Filth estreou no Reino Unido em 2013 e já foi lançado em DVD há tempos por lá, aqui, por enquanto, não conseguiu uma vaga entre as estreias semanais até agora. Baseado no livro de Irvine Welsh, (de Traispotting/1996) o filme de Jon S. Baird também quer soar tão modernoso quanto o clássico filme de Danny Boyle, mas o resultado está longe de ser genial, parecendo muitas vezes apenas gratuito. Claro que o filme sobre o policial viciado em drogas e sexo - que prejudica seus colegas para ganhar fama em torno das investigações de um caso de assassinato - tem elementos de sobra para que todos exercitem seu humor negro, especialmente James McAvoy que tem se esforçado para se livrar dos papéis de bom moço. O ator escocês vive o desagradável protagonista Bruce com grande desenvoltura, parecendo até que simpatizamos com ele - mesmo que ele não esteja valendo grande coisa. Quando sua imaginação realiza digressões sobre seus colegas a narrativa consegue ganhar agilidade, especialmente com o bom elenco de apoio formado por Jamie Bell, Eddie Marsan e Gary Lewis. Todos são policiais, todos vivem situações comprometedoras e todos vão fazer você soltar algum riso nervoso. Fosse apenas espinafrar os colegas de Bruce o filme poderia ser interessante, mas ele tem outros elementos que tornam a sessão um tanto confusa. Desde a primeira cena, a narrativa é pontuada pela mulher que acreditamos ser a esposa de Bruce, mas que nunca aparece em cena ao lado dele. Outros detalhes mostram que a sanidade não é o forte do protagonista (o que é ampliado pela participação do médico biruta vivido por Jim Broadbent), contrastando com os lampejos de normalidade de quando ele encontra a viúva de um amigo (vivida por Joanne Froggatt) ou quando uma jovem policial tenta ajudá-lo a colocar o mundo novamente em perspectiva (papel de Imogene Poots). Em sua segunda experiência em longa metragem, J.S. Baird não tem pudores em parecer subversivo, criando cenas que alguns diretores renomados hesitariam sem cerimonia, no entanto, o moço encontra dificuldade para alinhavar a narrativa com o ritmo adequado. Irregular, as loucuras de Bruce podem ficar repetitivas a partir de um determinado momento, assim como o desfecho poderia ser surpreendente se tudo já não soasse estranho o suficiente. No fim das contas temos um filme instigante, ainda que desengonçado, mas defendido por um elenco inspirado que não tem vergonha de submeter seus personagens a uma boa dose de ridículo (e se lembrarmos que são policiais  a coisa fica ainda mais divertida). A estranheza de Filth acaba remetendo mais à esquizofrenia de Tyler Durden em  Clube da Luta/1999 do que à célebre jornada de Mark Renton em Trainspotting, porém, está longe da genialidade das duas obras que marcaram o final do século XX.

Filth (Reino Unido - Alemanha - Suécia - EUA - Bélgica/2013) de J.S. Baird com James McAvoy, Jamie Bell, Eddie Marsan, Imogene Poots, Jim Broadbent, Gary Lewis e Shirley Henderson. ☻☻☻

2 comentários:

  1. se ele se matou por que falou aquilo para a camera ? naõ entendi o final do filme

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  2. Olá Daianara, talvez a ideia do filme seja fazer você não entender mesmo - e ficar pensando naquela cena por muitos dias...

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