sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Combo: Um Homem Só

Tornou-se uma espécie de febre os filmes que investem num único ator em cena. Lembro aqui de alguns filmes mais interessantes com esse formato, lembrando que não é uma "ousadia" tão recente assim (o primeiro que vi foi em 1988, chamava-se O Telefone e era dirigido por Rip Torn e estrelado por Whoopi Goldberg). Vale lembrar que desclassifiquei alguns concorrentes por não deixar seus atores sozinhos em cena em tempo integral, por isso ficaram de fora Gravidade / 2013 (pela presença de George Clooney), Náufrago/2000 (por conta de Helen Hunt e outros atores na parte inicial do filme), Lunar /2009 (pelas várias versões de Sam Rockwell, pela voz de Kevin Spacey e as cenas de vídeo familiares), 127 Horas/2009 (pelos coadjuvantes de James Franco) e alguns outros... assim, os cinco mais solitários foram:

05 - Locke (2014) O filme de Steve Knight tem fãs fervorosos que clamaram uma indicação ao Oscar para Tom Hardy por sua interpretação do gerente de construção que dirige pela cidade enquanto precisa tomar algumas das decisões mais importantes de sua vida. Através de um celular ele conversa com a amante que dará a luz a um filho dele, discute a relação com a esposa, despista o filho e ainda chama a atenção de um funcionário com tendências alcóolicas - e isso sem provocar nenhum acidente! O filme ficou fora das premiações, mas prova que o inglês Hardy tem fôlego de sobra para carregar um filme nas costas. 

04 Enterrado Vivo (2010) Imaginar um filme com Ryan Reynolds em cena sozinho dentro de um caixote parece um programa de índio, por isso mesmo, muita gente se surpreendeu com o dinamismo desse filme. Sucesso de público e crítica desde sua exibição em Sundance, o filme mostra a angústia de Paul Conroy, um caminhoneiro americano a serviço no Iraque que é sequestrado e feito refém dentro de um caixote. Com alguns poucos objetos em cena (incluindo um celular, sempre ele) o personagem tenta salvar a pele enquanto novos desafios aparecem. Porém, o passar do tempo deixou claro que o maior talento em cena não era o de Ryan, mas do cineasta espanhol Rodrigo Cortés. 

03 The Secret Honor (1984) Esse filme pouco lembrado de Robert Altman é um criativo monólogo inspirado na crise do caso Watergate e as reflexões (fictícias) do presidente Richard Nixon diante disso. Sozinho em cena, Phillip Baker Hall demonstra bastante energia defendendo seu papel diante da câmera. Frases elaboradas (cortesia da peça de Donald Freed e Arnold M. Stone) e movimentos de câmera demonstram que um bom ator pode até fazer o filme ficar interessante, mas um bom diretor ajuda muito! Curioso lembrar que Altman é famoso por criar filmes com dezenas de personagens e aqui lida com somente um ator em cena. 

02 Até o Fim (2013) O cineasta J. C. Chandor provou que merecia ainda mais atenção ao colocar o veterano Robert Redford como o personagem que sai para velejar e acaba tendo de lidar com um acidente. Redford (indicado ao Globo de Ouro) surpreende num papel extremamente físico, de pouquíssimas falas e dominando o filme do início ao fim. Chandor cria um filme espetacular, mas foi lembrado somente na categoria de edição de som (sua única indicação ao prêmio). Até o Fim tornou-se cult e merece ser mais lembrado do que o filme anterior do cineasta, Margin Call (que rendeu a J. uma indicação ao Oscar de roteiro original). 

01 Yaadein (1964) Quem acha que esse tipo de filme é uma novidade, ficará surpreso quando descobrir esse aqui! Considerado uma obra-prima do cinema indiano, o filme é dirigido, escrito e atuado por Sunil Dutt. O filme parte da ideia de um homem que chega em casa e percebe que a esposa e o filho não estão mais lá. Diante da ameaça de ter que viver só, ele se rende às reflexões de suas indiscrições passadas numa catarse cênica de 113 minutos (o filme pode ser encontrado aqui). Para aliviar a solidão do ator, diretor, autor e solitário artista, somente a sombra de sua esposa (Nargis Dutt) aparece na última cena. 

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