segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Na Tela: Sem Evidências

Reese: sem chegar a lugar algum. 

Sempre acho estranho quando resolvem pegar a história de um documentário e a transformar em um filme com personagens, atores, roteiro... Isso aconteceu com o documentário de José Padilha, Ônibus 174 (2002) que se tornou uma unanimidade documental, mas que se tornou o pífio drama Última Parada 174 (2008) nas mãos de Bruno Barreto, recentemente o mesmo ocorreu com GasLand (2010) que de documentário indicado ao Oscar virou o drama esquecido Terra Prometida (2013) escrito e estrelado por Matt Damon. Esses exemplos ilustram bem que o gênero documental pode não ser muito querido do grande público, mas permite uma abordagem mais completa do que as necessidades dramatúrgicas de outros gêneros. Sem Evidências de Atom Egoyan é mais um filme a entrar para esse grupo, sendo que já começa com a desvantagem de não contar em quase duas horas de duração o conteúdo de um documentário, mas de uma trilogia chamada Paradise Lost. O primeiro filme (com o subtítulo: Assassinatos de Crianças em Robin Hood Hill) foi lançado em 1996 e ganhou um Emmy por suas qualidades narrativas ao contar a triste história de três adolescentes acusados de matar três crianças na cidadezinha em que moravam. O segundo filme (com o subtítulo Revelações) foi lançado em 2000 e abordava as novas evidências que questionavam as circunstâncias em que os três adolescentes foram considerados culpados do crime (o filme foi indicado ao Emmy). O terceiro episódio (Purgatório) veio a público em 2011 e foi indicado ao Oscar por mostrar como as provas ignoradas na época do crime (incluindo um exame de DNA) inocentaram os jovens acusados mais de vinte anos depois do crime. Como dá para perceber, trata-se de uma das condenações mais polêmicas da história da justiça americana, tornando necessário um bocado de eloquência para fazer a coisa funcionar num único longa-metragem. O drama criminal começa bem ao montar o cenário da tragédia com os três meninos andando de bicicleta rumo ao bosque onde a tragédia acontecerá, consegue partir nosso coração quando os corpos são encontrados e instiga o espectador conforme surgem provas que são ignoradas no tribunal durante um julgamento de cartas marcadas. Egoyan mostra a histeria coletiva por vingança que cega a cidade sem muito esforço, mostrando como os boatos de seitas obscuras tornam-se bodes expiatórios para a cidade ocultar a incompetência ao lidar com as investigações. O simples fato dos jovens acusados gostarem de Heavy Metal já serve de evidência para o crime! O filme opta por uma edição fragmentada, cheia de idas e vindas, que dificulta ao espectador a acompanhar os rumos da investigação que envolve vários personagens (a maioria sub-aproveitados como o jovem instável vivido por Dane DeHaan ou a mãe maluquete encarnada por Mireille Enos). Mesmo contando com os oscarizados Reese Whiterspoon (como a mãe de um dos meninos) e Colin Firth (como um auxiliar da defesa), o filme nunca desenvolver eus personagens como deveria, optando por ficar em cima do muro em nome da imparcialidade. O resultado torna-se um tanto frustrante por acompanharmos várias pistas aparecendo e sendo descartadas rapidamente, deixando pontas soltas e interrogações sobre o caso. Sem uma direção a seguir (o roteiro podeira escolher qualquer personagem e acompanhar seu ponto de vista sobre o crime - ele até parece que fará isso com os personagens de Colin e Reese, mas a ideia se perde pelo caminho) o filme padece de um roteiro preguiçoso que se perdeu diante dos dados ricos que tinha em mãos. Egoyan é um bom cineasta e consegue envolver o espectador sobretudo quando repete um pouco os ingredientes que remetem à sua obra-prima (O Doce Amanhã/1997), sobretudo quando mostra o que há escondido debaixo dos cidadãos comuns da cidadezinha... mas o diretor erra ao pesar a mão para comover o espectador (com uma tragédia dessas  nem precisava, mas ele insiste e algumas cenas melodramáticas são quase risíveis). Por suas falhas Sem Evidências tem o gosto de uma confusa perda de tempo, uma história mal desenvolvida e sem saber muito bem para onde ir, sendo assim, mais uma vez, os documentários ganharam a disputa. Se você ficou interessado pela história e quer mais detalhes, veja a trilogia Paradise Lost/Paraíso Perdido, já que Egoyan alcança um desenvolvimento pior que as matérias criminais do Fantástico

Sem Evidências (Devil's Knot/EUA-2014) de Atom Egoyan com Colin Firth, Reese Whiterspoon, Alessando Nivola, James Hamrick, Seth Meriwwther, Amy Ryan, Bruce Greenwood, Dane DeHaan e Elias Koteas. ☻☻

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