sábado, 6 de setembro de 2014

CATÁLOGO: Café da Manhã em Plutão

Gatinha: Cillian vestido para... usar spray?!?

Sempre tenho a impressão que os produtores não sabem muito bem o que fazer com o irlandês Cillian Murphy. Ele chamou a atenção pela primeira vez no drama indie O Clube dos Suicídas (2001), mas somente no ano seguinte sua carreira cresceu em escala mundial quando Danny Boyle o escolheu para viver o herói de Extermínio (2002).  Prestes a completar quarenta anos, o ator está bem longe de ser o galã adolescente que queriam que fosse, ao contrário, gasta seu tempo atuando principalmente em produções independentes (sejam americanas ou europeias), mas de vez em quando aparece em uma superprodução (especialmente se for dos amigos Christopher Nolan ou Danny Boyle). Avaliando seu currículo, podemos perceber que o filme que lhe colocou no radar das premiações foi esse Café da Manhã em Plutão de Neil Jordan, onde o ator vive uma travesti que acaba sendo acusada de ter relações com o IRA. Murphy foi indicado a vários prêmios, incluindo o Globo de Ouro, por sua atuação bastante feminina  num filme que não tem medo de fazer humor ao abordar um período delicada da história da Irlanda. Baseado no livro de Patrick McCabe, Breakfast é mais ou menos o que o título promete: um delírio! Da cena de abertura em que Patrick "Gatinha" Braden (Cillian) aparece loura empurrando um carrinho de bebê, passando pelos passarinhos falantes do início e a infância do menino abandonado na porta de uma igreja, o filme de Neil Jordan pode ser considerado provocador demais para os puristas. Patrick cresce com a vontade de partir para Londres e conhecer a mãe que o abandonou (sua única referência é que ela parecia com uma atriz muito desejada na época), sobre sua origem ele tem apenas a suspeitas de que seu pai era o padre da região (vivido por Liam Neeson). Patrick sabe o que quer desde pequeno, para o desespero de sua mãe adotiva e da escola que não permite que o moço expresse suas angústias da forma que seu estilo fabuloso deseja. Patrick cresce transexual, encarando sua feminilidade de forma bastante natural, por vezes confundindo até os outros que o cercam. Nesse ponto a atuação de Murphy é fundamental, uma vez que seus traços andróginos e físico franzino são trabalhados para que soe realmente como uma mulher. No entanto, na década de 1970, a vida de Patrick é invadida pela ação do Exército Republicano Irlandês em várias ocasiões, seja através do amante  roqueiro que está metido com o armamento do IRA, com o amigo de infância que se mete em confusão e até com um atentado que o faz padecer na mão de policiais. Mesmo nesses momentos, o cineasta tem o maior cuidado em deixar o filme com um tom fabuloso, ao ponto de sempre abordar sutilmente os envolvimentos amorosos do protagonista (o mais declarado ocorre com o mágico vivido por Stephen Rea). Embora a narrativa episódica prejudique a fluência dos fatos, Café da Manhã em Plutão é uma espécie de Forrest Gump/1994 purpurinado ao mesclar situações reais com um personagem desconhecido. Figurinos caprichados, trilha sonora impecável e uma atuação antológica de Cillian Murphy (que depois vestiu-se de mulher novamente no soturno A Face Oculta/2010), Café da Manhã em Plutão é um filme pouco conhecido ainda esperando por reconhecimento.

Café da Manhã em Plutão (Breakfast on Pluto/Irlanda - Reino Unido/2005) de Neil Jordan com Cillian Murphy, Liam Neeson, Stephen Rea, Laurence Kinlan, Brendan Gleeson e Bryan Ferry. ☻☻☻☻

Nenhum comentário:

Postar um comentário