terça-feira, 22 de julho de 2014

Na Tela: O Grande Hotel Budapeste

Gustave e Zero: um consierge e seu protegido aprendiz. 

O cineasta americano Wes Anderson sempre foi associado a um grupo restrito de fãs que curtem seus filmes de visual e humor bastante peculiares, sendo assim, houve grande surpresa quando O Grande Hotel Budapeste teve sua bilheteria engordando pouco a pouco e se tornando uma das grandes surpresas da bilheteria do primeiro semestre nos cinemas americanos (e o mais rentável do diretor). Ganhador do Prêmio do Júri no Festival de Berlim (ou Urso de Prata - que corresponde ao segundo lugar da mostra competitiva), o longa metragem repete a maestria do diretor em lidar com seus personagens curiosos e o visual irrepreensível de sempre, no entanto, o longa traz novos elementos à filmografia do diretor, o que pode surpreender alguns. Trata-se da primeira vez que o diretor narra uma história com o pé fincado em fatos históricos, no caso, o período entre guerras vivenciado na Europa. Ambientado em 1932, o protagonista é o lendário consierge M. Gustave (Ralph Fiennes) que zela pela reputação do Hotel Budapeste em Zubrowka, uma república fictícia nos alpes europeus -  mas de perceptível influência soviética no pós-guerra. Antes de auxiliar o lobby boy Zero (Tony Revolori), a tarefa de Gustave é fazer com que tudo aconteça na mais sublime perfeição no Hotel - e isso inclui o atendimento preferencial às ricaças carentes e louras que (dizem) se hospedam no hotel para reencontrá-lo. Uma de suas hóspedes favoritas é Madame D. (Tilda Swinton debaixo de pesada maquiagem e, ainda assim, expressiva), que por um golpe do destino, morre de causas misteriosas. Entre as idas e vindas de um testamento cheio de remendos (e herdeiros), ela deixou para Gustave um quadro de valor inestimável (que ele leva para si sem maiores cerimônias antes do recomendado). Obviamente que tendo em vista o filho de Madame D, o ambicioso Dmitri (Adrien Brody), as coisas não serão fáceis, especialmente com a carranca de seu lacaio sanguinário vivido por Willem Dafoe. É notável como Wes Anderson insere violência e insinuações sexuais num universo que parecíamos conhecer tão bem. Para realizar a tarefa, o diretor utiliza como referência as comédias de Ernst Lubitsch (1892-1947), que utilizava diálogos pomposos para disfarçar o que seus personagens tinham de mais ofensivo, nesse quesito, a fleuma de Ralph Fiennes cai como uma luva num personagem que considera-se elegante, mas que fala palavrões e poderia ser facilmente confundido com um aproveitador de velhinhas ricas. Isso só aumenta o prazer de ver Fiennes degustar um papel desses depois de tanto tempo sendo coadjuvante - geralmente com ares vilanescos. A atuação de Fiennes é excepcional, mas, embora ele seja a alma do filme, seria uma injustiça com o elenco se lhe creditasse toda a graça do filme. Tony Revolori está perfeito como Zero, assim como seu par Saoirse Ronan (como a confeiteira Ágatha) - que juntos  irão ajudar Gustave a fugir das enrascadas em que se meteu. Além do trio de novatos no universo de Wes, o diretor coloca vários de seus atores favoritos em participações mais que especiais Jason Schwartzman, Owen Wilson, Bill Murray, Jeff Goldblum e Edward Norton tem bons momentos em cena. Ciente de que cada cena é capaz de definir um personagem e de que a cenografia faz toda a diferença ao demarcar as bordas de seu universo, Grande Hotel Budapeste tem fôlego para resistir na lembrança para a temporada de prêmios e mostra que, ao investir em novas tonalidades de narrativa, o universo de seu diretor está em ampla expansão criativa.

O Grande Hotel Budapeste (The Great Budapest Hotel/EUA-2014) de Wes Anderson com Ralph Fiennes, Tony Revolori, Adrien Brody, Willem Dafoe, Saoirse Ronan, Tilda Swinton, Jeff Goldblum e Owen Wilson. ☻☻☻☻

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