sábado, 10 de maio de 2014

DVD: Sete Psicopatas e um Shih Tzu

Olga, Walken, Colin, Sam, Abbie, Tom e Woody: com quantos psicopatas se faz um filme? 

Por sua engenhosidade, o inglês Martin McDonagh tem um Oscar na estante de melhor curta de ficção por Six Shooter (2004), prêmio que lhe rendeu a repercussão necessária para dirigir seu primeiro longa metragem, o superestimado Na Mira do Chefe (2008), que lhe rendeu a indicação ao Oscar de roteiro original e  o Globo de Ouro de ator de comédia para Colin Farrell (aquele ator irlandês de espessas sombrancelhas que andou gastando seu talento em refilmagens como O Vingador do Futuro/2012 e A Hora do Espanto/2011). É interessante que o filme mais interessante que Farrell fez desde então seja o segundo longa de McDonagh, este Sete Psicopatas e um Shih Tzu. Maldosamente, o filme teve menos repercussão que o anterior, embora seja mais elaborado e com atuações mais marcantes. No entanto, entendo o motivo das reservas que alguns tiveram com o filme, já que em alguns momentos o diretor tropeça em sua própria pretensão narrativa. A história gira em torno de Martin (Farrell), roteirista de cinema que está tendo dificuldades para criar seu novo roteiro: Sete Psicopatas. Afim de subverter a ordem dos filmes americanos do gênero, Martin não consegue criar a história de seus sete personagens, assim apela para a ajuda do amigo Billy (Sam Rockwell) que lhe dá algumas sugestões na construção deles. Billy já seria um personagem interessante por si só, já que ajuda um senhor acima de qualquer suspeita, Hans (Christopher Walken, estupendo), a sequestrar cachorros para depois devolvê-los aos donos - depois deles divulgarem uma gorda recompensa para quem encontrar o cãozinho. Quando some o Shih Tzu do gangster Charlie (Woody Harrelson, ótimo), Hans torna-se o principal suspeito, mas existem outros interesses de Billy debaixo do sumiço do gracioso Bonny. McDonagh utiliza sua engenhosidade para costurar essa trama quase banal com os sete psicopatas do roteiro de Martin, que inspirados na vida real, acabam cruzando seu caminho em alguns momentos. Um quaker com sede de vingança, uma jovem negra sequestrada que se une ao namorado para assassinar serial killers, um vietnamita budista e um assassino que deixa cartas de baralho no local das mortes são alguns dos tipos curiosos que aparecem pelo roteiro. Dá para perceber que o diretor faz sua escrita sobre a própria história que assistimos e, a maior parte do tempo, faz com grande desenvoltura. O irônico é que enquanto costura suas tramas até o ponto em que os personagens imaginários revelam-se reais, o filme é de tirar o fôlego, depois que resolve virar "um filme francês" (nas palavras de um  dos personagem com delírios em volta de uma fogueira no deserto) o filme perde o ritmo bruscamente em situações aquém da tensão que se armava no início. Essa quebra no ritmo é até perdoável se não deixasse a impressão que McDonagh considera isso a grande sacada de sua história. Não é bem assim. Seu exercício de metalinguística funciona melhor quando é auto-crítico, como o momento em que reclama-se que a personagens femininas de Martin nunca apresentam profundidade (e percebemos que o diretor escalou um time feminino de primeira com Gabourey Sidibe, Abbie Cornish e Olga Kurylenko para pequenas participações que ficam pelo meio do caminho) ou quando relata-se uma cena de "tiroteio final" que sabemos que nunca acontecerá (embora possa ter passado pela cabeça de McDonagh). A certa altura tudo parece que é o filme que Guy Ritchie teria pensado após ver Adaptação (2002). O longa tem cenas de arrepiar entre o divertido e o sangrento, além de atuações vigorosas de Walken, Harrelson e Amanda Warren - a única personagem feminina de respeito e Sete Psicopatas e um Shih Tzu não deixa de ser uma evolução de seu criador como cineasta, agora só falta a humildade de não entregar tanto ouro antes da hora.

Sete Psicopatas e um Shih Tzu (Seven Psychopaths/EUA-2012) de Martin McDonagh com Colin Farrell, Sam Rockwell, Woody Harrelson, Christopher Walken, Tom Waits e Tom Waits. ☻☻☻

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