sábado, 18 de janeiro de 2014

CATÁLOGO: Maridos e Esposas

Judy, Woody e Mia: divórcio nos olhos dos outros é refresco. 

O interessante Maridos e Esposas é um filme de Woody Allen que ficou ofuscado com o rompimento polêmico de seu relacionamento com Mia Farrow, afinal, foi entre as filmagens que ela descobriu que o diretor mantinha um caso com a filha adotiva Soon-Yi. A imprensa fez todo o sensacionalismo que podia em torno do sempre reservado cineasta e as filmagens ficaram paradas por semanas, já que Mia não via sentido em voltar a trabalhar nos sets com o esposo. No fim das contas o profissionalismo falou mais alto e ela filmou as últimas cenas de sua personagem. Levando em consideração a situação que o casamento de Woody e Mia atravessava, o filme merece atenção especial no cuidado com o desenho dos personagens e os diálogos cortantes em torno do relacionamento entre dois casais de amigos. Logo de início, Sally (Judy Davis, atriz que eu adoro, mas que anda meio esquecida pelos diretores) e Jack (o mais conhecido como diretor, Sydney Pollack) anunciam aos amigos Gabe (Allen) e Judy (Farrow) que irão se separar. Apesar da surpresa dos amigos de longa data, Sally e Jack parecem bastante tranquilos com a decisão  e acreditam que é o melhor para eles. Não vai demorar muito para que todas as neuroses de Sally apareçam quando descobre que o marido tem uma nova namorada. Jack a acusa de fria, calculista, cerebral e cansativa demais - o que justifica seu relacionamento com Sam (Lysette Anthony), uma mulher mais jovem que gosta de horóscopo, coisas místicas, astrologia... e Sally tenta reorganizar sua vida saindo com um colega de trabalho de Judy, o romântico Gates (Liam Neeson). Enquanto isso, Gabe e Judy se despem do estereótipo de casal perfeito demonstrando que já existem fissuras no relacionamento de longa data - especialmente com o interesse de Gabe por uma aluna de literatura (Juliette Lewis, com 19 anos) que tem uma espécie de fetiche por homens mais velhos. Dá para perceber o gosto com que Allen mistura seus personagens em situações tão dramáticas quanto cômicas sobre os dilemas do casamento. Além de realizar um curioso caleidoscópio com o desenho dos personagens (que aos poucos se afastas da obviedade), Allen opta ainda por um formato quase documental de contar sua história. Existe um narrador que parece conduzir um programa de TV, momentos de entrevistas individuais (incluindo o primeiro esposo de Judy que a acusa de ser passivo-agressiva) e uma câmera trêmula (ou "na mão" como as pessoas gostam de dizer com mais elegância) usada com mais sabedoria do que os que consideram "moderno" usar esse recurso atualmente. Em se tratando da história, o mais interessante, é que os personagens masculinos levam uma surra das mulheres criadas por Allen, uma com nuances mais ricas que a outra (não por acaso Judy Davis foi indicada ao Oscar de coadjuvante por sua personagem à beira do colapso, mas que é capaz de separar a humanidade entre "raposas e porcos espinhos" num dos momentos mais curiosos do filme). Apesar de quase sempre esquecido, Maridos e Esposas é um dos meus filmes favoritos de Woody Allen - especialmente pelo momento doloroso que o cineasta vivenciava seu processo de criação. Além do roteiro caprichado (indicado ao Oscar), Allen apresenta um trabalho irretocável com seu elenco que ainda conta com Blythe Danner e Nora Ephron no de apoio.

Maridos e Esposas (Husband and Wives/EUA-1992) de Woody Allen com Woody Allen, Mia Farrow, Judy Davis, Sydney Pollack, Liam Neeson e Juliette Lewis. ☻☻☻☻

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