terça-feira, 31 de dezembro de 2013

OS MEUS FAVORITOS DE 2013

MELHOR FILME
Ferrugem e Osso
 Jacques Audiard nos envolve numa história de amor que se sobressai à violência presente na vida de um casal que se conhece e se completa quase que por acaso. Ao invés de criar um melodrama, o diretor conta uma forte história de autoconhecimento cheia de som e fúria. O incrível é que o filme tinha tudo para dar errado, mas funciona que é uma beleza. 
Outros favoritos (direita para esquerda): Amor, As Aventuras de Pi, À Procura de Sugar Man, Gravidade e O Impossível.

MELHOR DIRETOR
Alfonso Cuarón (Gravidade)
Vai parecer preconceito, mas entre os seis diretores que mais me chamaram atenção não existe nenhum americano. Não foi de propósito, talvez um efeito positivo de nosso acesso a obra de autores de outros países. Alguns deles caem nas graças de Hollywood para fazer filmes que desafiam a lógica da indústria, como Gravidade, a ficção científica existencialista de primeira feita por Cuarón.
Outros Favoritos (direita para esquerda): Ang Lee (As Aventuras de Pi), Jacques Audiard (Ferrugem e Osso), J.A. Bayona (O Impossível), Thomas Vintenberg (A Caça) e Michael Haneke (Amor)

MELHOR ATOR
John Hawkes (As Sessões)
Os rapazes estão de parabéns, houve atuações que não saíram de minha cabeça durante o ano, mas nenhuma delas conseguiu me sensibilizar tanto quanto a espetacular atuação de John Hawkes paralisado do pescoço para baixo e tentando perder a virgindade. Sua atuação na pele de Mark O'Brien é tão envolvente que  é difícil não pensar que tudo é real. 
Outros favoritos (direita para esquerda): Daniel Day Lewis (Lincoln), Jean Luc Trintignant (Amor), Joaquin Phoenix (O Mestre), Mads Mikkelsen (A Caça) e Matthias Schoenaerts (Ferrugem e Osso)

MELHOR ATRIZ
Marion Cotillard (Ferrugem e Osso)
De vez em quando o cinema recebe uma Diva, uma dessas atrizes que podem aparecer por cinco minutos que já levam o nosso coração para sempre. Faz tempo que Marion Cotillard recebe nossa atenção, mas fazia tempo que a sétima arte lhe devia um papel tão completo como o da domadora de baleias Stéphanie. O filme é o retrato de sua jornada em busca de seu novo lugar no mundo e Marion o descobre com maestria.
Outras favoritas (direita para esquerda): Cate Blanchett (Blue Jasmine), Emanuelle Riva (Amor), Sandra Bullock (Gravidade), Elizabeth Olsen (Martha Marcy May Marlene) e Naomi Watts (O Impossível)

MELHOR ATOR COADJUVANTE
Tom Holland (O Impossível)
Crianças prodígio são ainda mais irresistíveis na telona quando não fingem ser adultos, ou seja, quando atuam de acordo com a idade de seus personagens. Tom Holland é um desses achados que esperamos ver em vários filmes no futuro. Aos poucos seu personagem amadurece perante a devastação física e emocional. Na pele do primogênito que sobrevive à catástrofe do tsunami  o menino tornou-se uma revelação. 
Outros Favoritos (direita para a esquerda): Christopher Waltz (Django Livre), Phillip Seymour Hoffman (O Mestre), Samuel L. Jackson  (Django Livre), Daniel Brühl (Rush) e Leonardo DiCaprio (Rush). 

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE 
Amy Adams (O Mestre)
Quando pensamos que já vimos o suficiente do talento de Amy Adams, a atriz nos surpreende com outro personagem memorável. No denso O Mestre, Amy interpreta a esposa do próprio, uma mulher que consegue ser tão discreta como estranha. Se por vezes ela parece submissa, às vezes ela é a que parece ter mais controle sobre o que acontece em torno do mentor espiritual com quem é casada. Em poucas cenas, Adams consegue criar uma personagem instigante, ao mesmo tempo que provoca arrepios com sua atuação à  beira do colapso. 
Outras Favoritas (direita para esquerda): Nicole Kidman (Obsessão), Sally Hawkins (Blue Jasmine), Anne Hathaway (Os Miseráveis), Helen Hunt (As Sessões) e Cameron Diaz (O Conselheiro do Crime). 

MELHOR ROTEIRO
Amor 
Sempre acho interessante os roteiros onde a ação é o que mais importa em cena, os olhares, os gestos, os símbolos... nesse ponto, Amor é um primor. Poucas vezes me deparei com um texto em que os diálogos fossem tão supérfluos diante do que vemos. Em Amor, um sorriso, uma agressão, um pombo que resolve entrar pela janela ganha o sentido de uma nota na triste melodia composta por Michael Haneke. 
Outros Favoritos: Martha Marcy May Marlene, Bernie, A Caça, Nota de Rodapé e Ferrugem e Osso. 

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

DVD: Frango com Ameixas

Almaric e Maria: amor e rejeição. 

A iraniana Marjane Satrapi se tornou uma celebridade cult mundial quando lançou em 2007 a animação Persépolis ao lado do cineasta Vincent Paronnaud. A animação foi aclamada mundialmente e indicada ao Oscar de animação (a acabou perdendo para Ratatouille, num desses absurdos que só diminuem quando lembramos que  o Oscar foi criado para celebrar o cinema americano). Celebrada por suas obras em histórias em quadrinhos, Marjane demonstra interesse em se aventurar cada vez mais pelas possibilidades do cinema. Em 2011 ela lançou essa versão cinematográfica de sua graphic novel Frango com Ameixas. O projeto pode não ter alcançado o sucesso do anterior, mas concorreu a prêmios importantes em alguns festivais (entre eles o Leão de Ouro no Festival de Veneza). Penso que se os diretores houvessem optado por realizar uma animação, o sucesso do filme seria maiorr, uma vez que os toques de fantasia são mais aceitos pelo grande público quando se trata de um "desenho" do que quando utiliza atores de carne e osso europeus. A história traz aquela marca que Marjane possui de abordar temas complicados com leveza, despretensão e ironia. Aqui ela aborda temáticas como morte, suicídio, rejeição e depressão num roteiro que sempre alivia a tensão nos momentos corretos. O resultado pode soar estranho, mas vale conferir a história de Nasser Ali Khan (o sempre interessante Mathieu Almaric), um dos maiores violinistas do mundo. Apesar de todos reconhecerem o seu talento, ele enfrenta problemas depois que um acidente danificou seu instrumento favorito. Desde então ele procura um violino que seja capaz de emitir o mesmo som do instrumento anterior, mas sua busca mostra-se em vão. Essa angústia acaba prejudicando o seu casamento com a temperamental Faringuisse (Maria de Medeiros) e os filhos, Cyrus e Lili (os fofos Mathis Bour e Enna Balland). O espectador pode até se incomodar com os primeiros trinta minutos do filme, que podem soar arrastados e sem muita explicação para as atitudes dos personagens. Ironicamente, as coisas melhoram quando Nasser decide morrer e oito dias depois é sepultado. O resto do filme se dedica a contar cada dia que separa a sua decisão suicida de seu sepultamento. A partir daí conhecemos a história de cada um dos personagens, inclusive como o amado instrumento de Nasser se quebrou. Com boas atuações de um elenco que chama atenção (como a musa de Marjane, Chiara Mastroianni vivendo Lili adulta e Isabella Rosselini vivendo a mãe de Nasser) a história desenvolve-se sem pressa, mostrando como as ações de Nasser com o mundo ao seu redor colaboraram para que sua vida o desestimulasse. Nas memórias dos personagens nos damos conta de como é bom ver um filme que não separa seus personagens entre bonzinhos e vilões. Embora Faringuisse seja mostrada como uma chata pelos olhos de Nasser, isso se dissolve quando descobrimos o distanciamento com que Nasser sempre a tratou, da mesma forma, Nasser tem seu egocentrismo apresentado aos poucos, especialmente em seu encontro com a imagem da morte chamada Azrael e se arrepende de ter desistido de viver. "Que pena, Nasser... você só tinha essa vida" diz Azrael (um personagem de visual impactante vivido com gosto por Edouard Baer). O único tropeço que achei no humor  que o filme apresenta é a cena em que vemos o futuro de Cyrus casado com uma americana, onde a estereotipia incomoda perante a elegância apresentada pelos diretores (e talvez essa seja a intenção mesmo, lembra quando queriam filmar Persépolis com Jennifer Lopez e Brad Pitt? Essa deve ser a vingança de Marjane...). Embora menos impactante, o filme mostra-se uma bela história de amor com momentos geniais - além do encontro com Azrael tem a belíssima sequência sem apenas diálogos, quando o personagem relembra uma paixão de sua juventude. Frango com Ameixas  consegue nos surpreender ao investir nas nuances que tornam a trajetória de cada ser em algo único. Atualmente Marjane prepara seu segundo longa como diretora-solo, The Voices (o primeiro foi La Bande des Jotas, lançado em 2012), resta aos fãs esperar por mais uma pérola da escritora cineasta.  

Frango com Ameixas (Poulet aux Prunes/França-2011) de Marjane Satrapi e Vincent Paronnaud com Mathieu Almaric, Maria de Medeiros, Chiara Mastroianni, Isabella Rossellini, Éric Caravaca, Edouard Baer e Golshifteh Farahani. ☻☻☻☻

domingo, 29 de dezembro de 2013

DVD: O Substituto

Brody: boa atuação em filme contraditório. 

Eu entendo todos os motivos para que O Substituto seja tão elogiado pela crítica, com prêmios em festivais e fãs fiéis diante da dura realidade que ele retrata. No entanto, as pessoas costumam me xingar quando digo que o filme é o típico caso de produção que busca ser tão fiel à realidade que acaba caindo no exagero. O roteiro não mostra propriamente uma história, mas uma colagem de situações em torno de uma escola pública americana que está em decadência. O protagonista é Adrien Brody, que encarna o professor substituto chamado Henry Barthes. Recepcionado com a fama de ser um dos melhores professores substitutos da região, é interessante como a diretora (Marcia Gay Harden) diz para ele que o mais importante é cumprir o currículo, quando minutos depois Barthes diz que sua função como substituto é evitar que os alunos se matem. Talvez seja o desgaste em filmes sobre professores em suas duras realidades, ou talvez o meu estado de espírito no fim de ano, mas aquela primeira cena em que os alunos o enfrentam Barthes minutos depois de conhecê-lo me pareceu um bocado artificial - e isso perdura por todo o filme. Seu relacionamento distanciado com os alunos, ao mesmo tempo que é questionada pelo filme é exaltada quando aos poucos (sem muita explicação, já que o filme tem poucas cenas em sala de aula) os alunos passam a gostar dele. O filme ainda tem alguns desvios que me incomodaram, como Barthes protegendo uma adolescente que parece viciada em sexo oral pago, sua relação com um único familiar doente, o romance que nunca engrena com uma colega de trabalho (Christina Hendricks) e os repetidos flashes de memória. Além disso, todos os professores me pareceram tão apáticos quanto os alunos, além de reclamarem sobre a realidade que enfrentam, nunca apontam um caminho diferente para fazer a escola voltar aos eixos. Fechados em seus mundos distantes, a escola parece cada vez mais fadada ao fracasso. Não quero julgar os personagens, mas a colagem de imagens e personagens criada pelo diretor (do aclamado American History X de 1998) funciona abaixo de suas intenções. Ao mostrar uma realidade tão insuportável, nunca fica muito claro porque os personagens continuam ali agindo da mesma forma, talvez para justificar isso exista as entrevistas com Barthes dizendo o que pode haver de edificante e frustrante no ofício de professor. Para completar tem a morte de uma personagem na frente de todos, que funciona como uma cereja no bolo de uma trama onde o individualismo chegou no seu auge. Essa deve ser a ideia principal do texto de Karl Lund ao abordar uma escola, repleta de pessoas que não se conectam embora estejam tão próximas. Ainda que os professores de todo o mundo possam se identificar com o filme, lembro de uma amiga que sempre ressalta que o "aluno é obrigado a estar na escola, para o professor não, ele está lá por opção profissional" e se os alunos problemáticos precisam de tanto apoio e orientação como o filme diz, dificilmente será de profissionais tão apáticos quanto os que o filme apresenta. Será que esse é outro ponto que o filme pretende abordar? Já que descolado desse universo, Barthes é o único que apresenta uma postura mais crítica, ainda que acredite estar seguro devido ao seu distanciamento da escola em que trabalha, afinal ficará lá por pouco tempo. O Substituto pretende ser um soco no estômago, mas seus exageros (nas situações e na estética impressa na narrativaa), cansa e anestesia o espectador diante das contradições que a obra critica ao mesmo tempo que celebra. 

O Substituto (Detachment/EUA-2011) de Tony Kaye com Adrien Brody, Christina Hendricks, Lucy Liu, James Caan e Blythe Danner. ☻☻

sábado, 28 de dezembro de 2013

10+ Melhores Filmes em Cartaz em 2013

Neste ano a lista dos meus escolhidos entre os lançamentos do ano me parece melhor porque ficou bastante variada, com produções de diversos países que chegaram por aqui com algum atraso, mas que conseguiram fincar lugar em minha memória até esse finzinho de 2013. Dois deles estrearam no final de dezembro de 2012 e acabaram ficando de fora da lista anterior, mas acabaram recebendo projeção nas salas em 2013. Os filmes lançados e que carregarei do ano que termina são os seguintes (em ordem alfabética):

Estreou em 23/03/2013
A CAÇA 
Mads Mikkelsen já se tornou um dos meus atores favoritos, nem precisava ter uma atuação tão avassaladora quanto a que faturou o prêmio de melhor ator em Cannes no ano passado para meus olhos caírem sobre ele. O drama de Thomas Vinterberg (um dos fundadores do movimento Dogma 95) mostra a ruína de um professor acusado de ter molestado uma criança. Ainda que seu personagem seja acima de qualquer suspeita, o filme torna-se arrasador pelo poder que a palavra tem de alimentar a crueldade humana. O filme estreou nos EUA somente esse ano e concorre a uma vaga na categoria de filme estrangeiro no próximo Oscar.

Estreou em 18/01/2013
AMOR 
Nunca pensei que Michael Haneke ganharia um Oscar, mas ele ganhou com a história de um casal de idosos que precisa lidar com todas as dificuldades que o passar do tempo é capaz de proporcionar. As excelentes atuações de Jean-Louis Trintignant e Emmanuelle Riva (que se tornou a atriz mais idosa a concorrer ao Oscar de atriz) conduzem o tom do casal em lidar com um AVC. Apesar de narrar um recorte temporal específico do casal protagonista, pode-se perceber toda a intimidade que somente anos de convivência podem construir até a dolorosa cena final.


Lançado em DVD em junho de 2013
À PROCURA DE SUGAR MAN
Os documentários me parecem cada vez mais interessantes, especialmente quando contam histórias de ilustres desconhecidos como Sixto Rodriguez, cantor de origem latina que tornou-se um fracasso de vendas nos EUA no início da década de 1970 e virou uma lenda com as histórias sobre seu fim trágico e suicida. Mais do que isso, o filme aborda como suas músicas se tornaram símbolo de lutas políticas na África do Sul. Malik Bedjelloul usa uma narrativa irresistível para seguir seu astro de trajetória um tanto torta para descobrir o que de fato aconteceu com o homem e sua carreira. Supreendente, emocionante e inspirador!

Estreou em 21/12/2012
AS AVENTURAS DE PI
Foi uma grata surpresa ver Ang Lee receber o Oscar de direção por esse filme. Além de mostrar a jornada do personagem que se vê perdido no meio do oceano num bote ao lado de um tigre, o diretor tempera o filme com a busca de uma religiosidade que poderia facilmente cair na chatice. Além das cenas belamente construída, dos efeitos especiais impressionantes e de um dos melhores usos da tecnologia 3D dos últimos anos, o diretor consegue ainda transformar seu filme em algo mais com o desfecho. Nas mãos de qualquer outro diretor o filme poderia ficar entre os piores do ano, nas mãos de Lee (que já fora traído por efeitos especiais) torna-se uma fantasia primorosa.

Estreou em 15/02/2013
AS SESSÕES
Desde que foi lançado nos cinemas por aqui, tive a impressão que o filme não recebeu a atenção que merecia. Talvez a culpa seja do diretor Ben Lewin, que lida com temas espinhosos com uma leveza invejável. Fazer um filme sobre sexo e deficiência física não deve ser muito fácil, mas ao contar a história de Mark (John Hawkes) impossibilitado de movimentar-se do pescoço para baixo e sua jornada para perder a virgindade - com o auxílio da terapeuta substituta Cheryl (Helen Hunt) - se torna uma grata surpresa em sua despretensão despudorada. Sem o peso de querer ser "uma lição de vida", o filme é uma tocante história sobre como nos relacionamos com o sexo.

Estreou em 09/08/2013
FERRUGEM E OSSO
Se Jacques Audiard já merecia meus aplausos por O Profeta/2009, com Ferrugem e Osso ele merece entrar para minha lista de diretores favoritos. Fiquei impressionado como ele filmou essa história com tudo para se tornar um melodrama insuportável. O romance entre uma domadora de baleias (Marion Cotillard) e um segurança que se envolve com lutas clandestinas (Matthias Schoenaerts) é contada com toda a força necessária para se tornar uma obra que será lembrada por muito tempo. Entre toda a brutalidade e violência que existe na trajetória dos personagens, Audiard injeta um lirismo que há muito eu não sentia. Além disso, Marion e Matthias estão ali de corpo e alma para a plateia sentir.

Estreou em 11/10/2013
GRAVIDADE
Alfonso Cuarón teve dificuldades para convencer os estúdios de investir num projeto como Gravidade. Sua sorte mudou quando Sandra Bullock se interessou pelo projeto e o ajudou a se tornar uma das raras unanimidades entre os lançamentos de 2013. A história da astronauta que se vê perdida no espaço, torna-se capaz de falar de cada um de nós, do sentimento de solidão e de que muitas vezes precisamos enfrentar nossos fantasmas sozinhos se quisermos sobreviver. Repleto de referências e simbologias, o filme é um grande acerto e Sandra está de parabéns em mostrar que tornou-se uma atriz madura.

Estreou em 14/12/2012
NOTA DE RODAPÉ
Acho que nenhuma lista irá se lembrar desse filme israelense premiado em Cannes e que foi indicado ao Oscar de filme estrangeiro. Apesar do final em aberto, o longa de Joseph Cedar é um achado na forma como insere as notas de rodapé durante a sua narrativa - marcada pelo conflito entre pai e filho, dois professores e pesquisadores que trilham ideologias diferentes que abordam muito das dicotomias entre o novo e o velho, o tradicional e a renovação, além de nostalgias, paradigmas, construção de identidade e laços familiares. Parece cabeça demais? Não é. Por isso Nota de Rodapé merece destaque nos filmes que ficaram em cartaz em 2013.

Estreou em 04/01/2013
O IMPOSSÍVEL
Muitos consideram o filme do cineasta catalão Juan Antonio Bayona pura manipulação, mas eu prefiro ficar no time de quem percebe que o diretor realizou o filme catástrofe mais realista de todos os tempos. O Impossível retrata a devastação física e emocional de uma família em meio à tragédia provocada pelo tsunami ocorrido no natal de 2004. Mais do que efeitos especiais, o filme se concentra na forma como os cinco membros da família tentavam se reencontrar em meio aos destroços. Uma história real em particular que consegue universalizar  a dor causada por uma das maiores catástrofes desse século.

Estreou em 10/05/2013

O QUE TRAZ BOAS NOVAS
Minha lista já estava quase pronta quando me deparei com esse filme canadense singelo e bastante interessante sobre a forma como uma escola enfrenta o suicídio de uma professora. A distância que separa professores, alunos e pais está presente durante todo o filme, que tem na figura tradicional de Bashir Lazar uma espécie de porto seguro para seus pequenos alunos. Entre um desentendimento aqui e outro ali, o filme consegue explorar a relação entre os personagens diante de um assunto delicado. Não é sempre que vemos um filme com atuações infantis de tão boa qualidade e amparadas por um roteiro que fala da dificuldade de nos relacionarmos com a morte. 

KLÁSSIQO: Cinzas no Paraíso

Richard e Brooke: o amor nos tempos de crise. 

O segundo longa metragem dirigido por Terrence Mallick foi lançado em 1978. Depois de todos os elogios recebidos pelo bucólico Terra de Ninguém (1973), que já trazia vários elementos de sua cinematografia, o diretor voltou ao batente com uma obra mais convencional. Cinzas no Paraíso é um dos seus filmes mais queridos, além de ser considerado por muitos a sua obra-prima. Embora eu entenda o título em português, prefiro o original em inglês (Dias de Paraíso) que retrata com maior fidelidade o que vemos durante a trama. Ambientado durante da Grande Depressão da economia americana, o filme conta a história de três personagens que se apresentam como irmãos para trabalhar nas fazendas do sul dos EUA. Porém, desde o início, a jovem narradora (irmã legítima do personagem de Richard Gere), deixa claro que Bill (Gere) e Abby (Brooke Adams) não são irmãos de verdade. O casal mantém um relacionamento amoroso em segredo perante os lugares em que vendem sua mão de obra, ainda que muitos camponeses percebam que ali exista um toque de incesto. O relacionamento entre os dois começa a receber novos rumos quando percebe-se o interesse do fazendeiro que os acolhe (Sam Shepard) por Abby, sendo que esta corresponde às intenções dele em troca de uma estabilidade que nunca experimentou. Além disso, Bill e Abby descobrem que o fazendeiro está com uma doença fatal e morrerá em pouco tempo. Para azar do casal, e sorte do fazendeiro, o amor parece curá-lo, no entanto, o ciúme de Bill torna-se inevitável. Terrence Mallick filma esse triângulo amoroso com cenas bastante românticas e com paisagens tão belamente filmadas pela fotografia de Néstor Almendros (que ganhou o Oscar) que deixa a impressão que o paraíso realmente existe - o problema é quando a humanidade começa a contaminá-la com seus sentimentos menos nobres. Aos poucos o romance ganha tom de tragédia, de forma que a belíssima cena da praga de gafanhotos serve de metáfora para as relações estabelecidas até ali. Quando a crise está instalada, Mallick cria momentos que parecem tirados de uma ópera e culmina numa perseguição que mostra que o paraíso ficou para trás na vida daqueles personagens. Cinzas no Paraíso é uma história de amor triste e melancólica, mas com cenas belíssimas e que deve agradar ainda mais as fãs de Richard Gere ainda novinho e antes de tornar-se símbolo sexual com O Gigolô Americano (1980). Se você não é grande fã do moço, vale conferir o filme nem que seja pela antológica cena da nuvem de gafanhotos (que na verdade eram amendoins jogados de helicópteros e editada ao contrário para criar a ilusão de voo). Além disso, reza a lenda de que a certa altura, Mallick cansou de seguir o roteiro (de sua própria autoria) e mandou que os autores improvisassem os diálogos e as marcações de cena. Depois de toda a repercussão dessa obra, Mallick tornou-se recluso e só lançou outro filme (Além da Linha Vermelha) vinte anos depois. Durante essas duas décadas, seu nome virou uma espécie de mito do cinema contemporâneo, digno de culto de muitos cinéfilos. 

Cinzas no Paraíso (Days of Heaven/EUA-1978) de Terrence Mallick com Richard Gere, Brooke Adams, Sam Shepard, Linda Manz e Stuart Margolin. ☻☻☻☻

domingo, 22 de dezembro de 2013

DVD: Amor Pleno

Affleck e Olga: boas imagens não fazem uma boa história. 

É sempre ruim comparar filmes entre si, especialmente sendo do mesmo autor, mas não tem jeito, o maior problema de Amor Pleno é ter sido lançado tão próximo de A Árvore da Vida. A coisa fica ainda pior se lembramos que Terrence Mallick costuma demorar vários anos para lançar suas obras - e apenas dois anos separam o filme estrelado por Brad Pitt de Amor Pleno. Os maldosos podem até dizer que isso aconteceu porque Amor Pleno nem tem assunto para dar tanto trabalho assim ao diretor. O pior é que eles não estão errados. É verdade que toda a beleza das imagens está presente, a trilha sonora que as embala com perfeição, a narrativa em off "profunda" que parece pontuar as ideias principais da história mas... em A Árvore da Vida existia um fio de ligação poderoso entre tudo o que víamos na tela, aqui não. Entendo a opção por um cinema mais experimental para narrar os dilemas do casal Neil (Ben Affleck) e Marina (Olga Kurylenko), um casal que se apaixona em Paris e que vai morar junto nos EUA. Ela tem uma filha, ele tem um trabalho que lida com ameaças ao meio ambiente. Ele é silencioso, ela vive dançando por aí. Aos poucos a distância entre eles cresce - e não apenas porque o visto dela termina e ela precisa voltar para França. Ele reencontra um amor do passado, Jane (Rachel McAdams) e Marina anuncia seu retorno. Vocês vão achar que estraguei o filme já que contei a história (toda!), mas desculpem, um filme de Mallick é mais do que isso. É um espetáculo de imagens bem fotografadas e com grande preocupação com os enquadramentos, são frases que pretendem ser filosóficas, o homem e a natureza mostrados como se fossem tão complementares quanto dissonantes. Você vai pensar que já viu tudo isso em outros filmes do diretor - e já viu mesmo! Só que aqui não uma coesão entre as cenas, exigindo muita paciência para conseguir se conectar com os personagens - apesar de viverem uma história universal (e igual a tudo que Mallick já fez). A persoangem que chega mais próxima de encantar o público é Olga, que mais uma vez prova que é capaz de deixar para traz seu passado em filmes de ação. Não posso nem comentar sobre Ben Affleck, já que ele não tem muito o que fazer em cena e o padre vivido por Javier Bardem é quase um acessório de luxo na narrativa. Durante o filme fala-se francês, inglês e espanhol, mas a impressão é que o diretor criou uma Torre de Babel de belas imagens. Talvez Mallick precisasse de mais alguns anos para enriquecer a história. Como diria minha avó, a pressa é a inimiga da perfeição. 

Amor Pleno (To the Wonder/EUA-2013) de Terrence Mallick com Ben Affleck, Rachel McAdams, Olga Kurylenko e Javier Bardem. ☻☻

NªTV: The Americans / Les Revenants

The Americans

Não foram poucos os que estranharam a ausência de The Americans entre os indicados ao Globo de Ouro. Exibida no Brasil pelo FX (no horário ingrato de 10:30 da manhã de domingo) o programa é sucesso de audiência e de crítica. Criada pelo ex-agente da CIA Joseph Weisberg, a rejeição entre os votantes pode ser explicada pela semelhança que a produção tem com a atmosfera da badalada Homeland estrelada por Claire Danes, no entanto, The Americans tem vida própria ao lidar com o cotidiano de um casal de agentes da KGB que disfarçados de cidadãos americanos comuns, arquitetam estratégias, golpes e até atentados em nome da mãe Rússia no período da Guerra Fria. Além da reconstituição de época assustadoramente bem cuidada, o seriado conta com atuações sólidas de Keri Russel e Matthew Rhys perante os dilemas do casal. Keri interpreta Elizabeth, uma agente obstinada que não desvia por nenhum instante seu foco na Terra do Tio Sam, ao contrário de Phillip (Rhys) que aos poucos observa os americanos com um olhar diferente do maniqueísta para que foi treinado. Curiosamente, depois de tanto tempo escondidos (e com dois filhos para dar credibilidade), somente mais de uma década depois os dois começam a perceber que a companhia um do outro é o que tem para fortalecê-los numa terra estrangeira. Dessa forma se estabelece um romance entre os dois que pode comprometer o andamento de suas missões. O que mais gosto em The Americans não são os capítulos embalados por missões rebuscadas (as quais só entendemos o que está acontecendo no desfecho) e planos de sedução, mas a forma como os sentimentos aparece como algo que trai quem os sente. Isso serve tanto para o casal como para o agente Stan Beeman (Noah Emmerich), o vizinho agente da segurança nacional que nem suspeita que os vizinhos são russos infiltrados no pacato subúrbio em que vivem. Stan é casado, mas conforme encontra-se com uma informante russa, sua vida burocrática parece cair em tédio (ou seria tentação?). Para os fãs de enlatados, o maior atrativo é ver Keri Russel defendendo um papel bem diferente de sua antológica Felicity com um vigor invejável! A série possui treze episódios em sua primeira temporada, onde o destaque é o desenho elaborado dos personagens e o leque de possibilidades que abriu para a segunda - que começa a ser exibida em janeiro de 2014 nos EUA. Ao que parece, o Globo de Ouro e o Emmy (que rendeu ao programa duas mirradas indicações: atriz coadjuvante - para Margo Martindale, que interpreta a "chefe" do casal russo - e para a música de abertura criada por Martin Barr). Não é sempre que vemos uma série que fica melhor a cada capítulo! 
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Les Revenants

É raro encontrar seriados franceses - e isso torna-se ainda pior quando vemos a qualidade com que Les Revenants é realizado. A série recebeu recentemente o Emmy de Melhor Série Estrangeira, o que foi muito merecido, já que desde Lost não vemos um programa com tantos enigmas. Baseado no filme de Robin Capillo de 2004 (que já ouvi dizer que era insuportável), Fabrice Gobert criou a história de uma cidade que começa a lidar com o retorno de pessoas que já morreram. Alguns faleceram recentemente, outros há décadas. O impacto psicológico dessa situação surreal entre familiares, amores e amigos (como era de se imaginar) é bastante confuso. Na primeira temporada, cada episódio era dedicado a esmiuçar cada personagem, assim conhecemos o silencioso Victor (Swann Nambotin), o assassino Serge (Guillaume Gouix), a menina gêmea Camille (Yara Pilartz), o roqueiro Simon (Pierre Perrier), uma senhora misteriosa... de início pensamos que todos precisam completar algum tipo de missão, mas não é nada disso. Aos poucos as relações entre os vivos e os mortos mudam a lógica do lugar e sentimentos pouco nobres começam a aparecer entre os moradores. Além da situação inusitada, o programa constrói meticulosamente sua narrativa, lenta e repleta de um suspense que nasce justamente dos dramas dos personagens. Situações como a represa que diminui seu volume de água e revela uma cidade inundada e animais mortos intactos, problemas com energia elétrica e um estranho vínculo de Victor com Serge alimentam ainda mais a trama. Sombria, Les Revenants não aborda questões religiosas,  prefere concentrar-se nos sentimentos ambíguos de quem recebe novamente em sua vida aqueles que se foram. Na primeira temporada não existem explicações para o que está acontecendo, e no penúltimo capítulo um estranho segredo da cidade é revelado tornando toda situação ainda mais estranha. Sem dúvida, Les Revenants é um dos programas mais instigantes dos últimos anos. O canal MAX exibiu o último capítulo da primeira temporada na última quarta-feira, mas fique atento para as reprises que estão para começar. Obviamente que a ideia já recebeu a atenção de produtores estrangeiros interessados na trama, sendo assim os ingleses escalaram Paul Abbott (de Hit & Miss) para dar forma à They Come Back enquanto o canal americano A&E está preparando a versão americana. Eles vão ter trabalho... ☻☻☻☻

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

DVD: Wolverine: Imortal

Víbora e Wolverine: Wolvie goes to Japan! 

No ano em que vários heróis arrecadaram bilheterias gordas, Wolverine: Imortal tornou-se o primo pobre da temporada, sendo o que menos arrecadou nos Estados Unidos. É verdade que a bilheteria mundial tornou o filme em sucesso, mas nada que o colocasse entre os dez mais vistos do ano. O problema deve ser que resolveram se inspirar nas aventuras orientais do mutante mais adorado das HQs. Quem se acostumou com a estética da série X-Men não está acostumada a ver tramas sobre a Yakuza, ninjas, samurais e ronins misturado com as garras de adamantium. Ainda que o filme siga a tendência de sua matriz em mesclar os mutantes com fatos históricos, Wolverine: Imortal acaba sendo menos interessante que o filme solo anterior do herói. A culpa não é de Hugh Jackman que continua honrando bem o personagem, mas da história sem profundidade que cerca o personagem em sua temporada cinematográfica no Japão. No início presenciamos o herói salvando um japonês da explosão da bomba atômica em Nagasaki, para anos depois ele ser convidado à ir para o Japão para que o mesmo possa demonstrar sua gratidão em seu leito de morte. Para os mais espertos, não precisa muito mais do que o diálogo estabelecido entre os dois personagens para entender o que está para acontecer. Já que Yuriko/Lady Letal aparecia com uma origem diferente na saga cinematográfica dos X-Men, o roteiro teve que investir na vilã Víbora (Svetlana Khodchenkova, querida, mude o nome artístico, esse é impossível de lembrar!) para garantir o grau de vilania da história. O filme resgata Yukio (Rila Fukushima), uma das wolviegirls favoritas do público: Mariko (vivida pela modelo magrela Tao Akomoto) além do Samurai de Prata... pena que a trama não consegue decolar. Ainda que seja interessante ver Wolverine padecendo sem seus poderes de cicatrização, para um filme de duas horas, a trama me pareceu um tanto arrastada. Parte disso se deve ao romantismo que insistem em injetar nas aventuras do mutante. Se no outro filme tivemos Silverfox, agora é a vez do herói ser assombrado por ter matado Jean Grey (Famke Janssen) e ficar tentando proteger Mariko. Talvez se Mariko fosse uma personagem mais interessante o filme também conseguiria ser. Escrita como uma donzela indefesa insossa, o maior segredo do filme parece ser o poder mutante da moça, mas ao final do filme nem nos damos conta de que ele não é revelado - já que isso parece pouco importar para o caminhar da trama. Além disso é uma confusão de gente querendo matar a moça que gastamos mais tempo tentando entender o que está acontecendo. Além disso, Tao Akomoto pode ter um rosto bonito, mas como atriz ela não funciona, nunca concretizando a química desejada com o protagonista. Mais interessante é Rila Fukushima na pele de uma Yukio bem diferente do gibi (que tinha cabelos curtos e escuros), que tem sua história mais bem trabalhada e coerente com o universo do herói. A inconsistência do roteiro pode ter sido o principal motivo para Daren Aronofsky (amigo de Jackman desde Fonte da Vida/2006) ter abandonado o projeto e terem escalado James Mangold. Mangold virou uma espécie de faz tudo em Hollywood, às vezes ele consegue ser bom (Copland/1997, Garota Interrompida/1999 e Johny & June/2005) mas na maioria das vezes fica devendo. Aqui ele não colabora para criar uma identidade aos filmes solo do herói, faz cenas de ação que funcionam, mas tem uma dificuldade enorme de segurar nossa atenção quando elas não estão acontecendo. Se existe um fator que diferencia esse de todos os outros filmes do mutante, é o nível de violência, cruelmente mais elaborada que nos outros - deve ser para compensar o romantismo usado para atrair a mulherada fanática pelo herói, mas o resultado é apenas irregular. Alguns poderão dizer que a melhor parte do filme é a pequena aparição de Magneto (Ian McKellen) e Professor Xavier (Patrick Stewart) num breve anúncio da próxima aventura dos mutantes da Marvel - e eu os entenderei perfeitamente.

Wolverine: Imortal (The Wolverine/EUA-Reino Unido) de James Mangold com Hugh Jackman, Rila Fukushima, Tao Akomoto e Famke Janssen. ☻☻


quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

10+ Melhores Pôsteres de 2013

Para inaugurar a temporada de inevitáveis listas de melhores do ano eis que surge, não por acaso, a lista de melhores pôsteres do ano! Dessa vez, anabolizada com o dobro de contemplados (as anteriores só tinham cinco). É sempre bom lembrar de um dos instrumentos em que temos o primeiro contato com o filme (muitas vezes eles são capazes de chamar mais atenção do que um trailer). Em 2013 os que mais me chamaram a atenção foram os seguintes:

10 O Lobo de Wall Street 
Pode parecer a junção de elementos óbvios: Wall Street, a bandeira americana e cifrões... mas foi uma arte tão simples e bem executada que ela não poderia ficar de fora com todo seu amarelo ouro (dando um ar retrô para a produção baseada na biografia de Jordan Belfort, um corretor da bolsa que entrou em decadência na década de 1990 entre drogas e crimes do colarinho branco). Dirigido por Martin Scorsese o filme chega aqui no dia 24 de janeiro. 

09 Safety Last 
Lançado em 1923, a comédia Safety Last ganhou uma reedição especial muito charmosa embalada por esse cartaz. Utilizando uma famosa cena do longa com um cuidado todo especial para os créditos, o trabalho realizado não poderia ser esquecida. Um pôster tão cool que dá até vontade de conhecer um dos atores gênios do cinema mudo Harold Lloyd na pele de um rapaz que tenta a sorte na cidade grande.  

08 Nynphomaniac 
Quem achava que Lars von Trier estava satisfeito com o primeiro cartaz sutil de sua nova empreitada ficou surpreso quando viu a série de pôsteres com o elenco do longa simulando caras de... você sabe o que. Uma ousadia um tanto convencional em se tratando do tema. A ser lançado em dois volumes, as aventuras da personagem vivida por Charlotte Gainsburg tem sua primeira parte marcada para estrear dia 10 de janeiro de 2014 e a segunda parte está agendada para março do mesmo ano. 

07 Upstream Color 
Não é sempre que vemos um pôster que parece saído de um catálogo de moda, ainda mais se levarmos em consideração que se trata de um filme que ganhou o prêmio especial do júri em Sundance. O segundo longa de Shane Carruth (do pouco visto Primer/2004) conta a história de um casal que se aproxima devido ao ciclo de vida de um microorganismo e, a partir dessa relação, suas identidades são questionadas numa relação bastante intensa (como fica explícita do cartaz). O filme ainda não tem data de estreia por aqui. 

06 Em Transe
Por mais estimulante que fosse, a única unanimidade ao final do último filme de Danny Boyle era que tratava-se de uma obra confusa. O público pode até ter ficado surpreso, mas a trama onde a mente de James McAvoy se perde entre sessões de hipnotismo já tinha suas características explícitas no cartaz. O filme chegou em setembro nas locadoras. 

05 Spring Breakers 
Quem acompanha o blog sabe que minha opinião sobre o filme de Harmony Korine não é das melhores. Ainda que seja repetitivo e tedioso, devo reconhecer que o pôster reproduz o melhor momento de seu preguiçoso longa: James Franco (a melhor coisa do filme) ao piano, cercado pelas jovens desmioladas que vão curtir a vida e cometer crimes nas férias de primavera. A imagem paradisíaca em contraste com as moçoilas armadas consegue ser mais surreal e interessante que todo o filme. O longa foi lançado direto em DVD por aqui no mês passado. 

04 The Bling Ring
É interessante como sempre acho que os filmes de Sofia Coppola são tão elogiados pela crítica quanto mal digeridos pelo público. Baseado numa história real sobre jovens ladras consumistas, The Bling Ring ressalta mais uma vez as referências pop de Sofia, sendo assim, tem algo mais descolado do que apresentar as personagens sem mostrar as atrizes, mas os óculos de sol que melhor expressam suas personalidades? Eu etiqueta em estado cool! Ou melhor, uma mostra do trabalho de figurinista de Sofia. O filme foi lançado no Brasil em agosto e está prestes a sair em DVD e Blu-ray. 

03 Gravidade
Gosto quando um cartaz consegue expor o máximo de sua ideia com o mínimo de recursos. Nesse quesito o filme de Alfonso Cuarón é um pimor: um astronauta perdido no negror do universo de seus medos. Seria Sandra Bullock ou George Clooney? Não importa, laçados na imensidão do universo somos tão indefinidos que apenas a solidão de nossos dramas podem ser usados como referência. O filme ainda pode ser visto nos cinemas brasileiros. 

02 Terapia de Risco 
O cartaz merece destaque não pela foto de seu elenco, mas para o detalhe com que apresenta seus créditos que lembra um diagnóstico. A ideia caiu como uma luva na trama sobre um tratamento médico que parece fugir do controle dos envolvidos e a formatação do cartaz chama mais atenção do que os nomes badalados no elenco! Um dos filmes mais elogiados de Steven Soderbergh já está disponível nas locadoras. 

01 Nynphomaniac  
Ah, o poder da sugestão! O que seria da arte sem ela? Bem, Lars Von Trier sabe muito bem como inserir uma ideia em nosso inconsciente e não lembro de um filme que soubesse capitalizar tanto sua temática quanto a nova obra do diretor. Talvez para sugerir que a obra terá doses de sutileza, o primeiro cartaz divulgado quis apenas mudar para sempre a forma como vemos dois parênteses. Existe uma versão ainda mais elaborada com chaves e um i, mas acho que esse está de bom tamanho...

CATÁLOGO: Crimes e Pecados

Landau e seu irmão: exercício narrativo de Woody Allen.

Faz tempo que Woody Allen tenta expressar em seus filmes que drama e comédia possuem uma relação muito tênue, que uma temática pode ser abordada num tom dramático ou cômico com poucos retoques. Em alguns de seus longas essa relação é bastante evidente, sendo o auge dessa premissa escancarado em Melinda & Melinda (2004) onde a mesma história é contada de forma dramática e cômica em narrativas distintas, porém, mescladas. No fundo, a essência dessa ideia já aparecia em Crimes e Pecados, filme onde Allen narra dois casos de adultério, uma em tom cômico e outro em tom dramático com desfecho violento. É um bocado de ousadia usar tons narrativos tão distintos para contar a história do renomado oftalmologista Judah Rosenthal (Martin Landau), casado, aparentemente feliz e rico. A vida de Judah começa a ter problemas quando a amante Dolores (Anjelica Huston) ameaça de contar à esposa dele sobre o tórrido caso que os dois possuem há algum tempo. O oftalmologista sempre ressalta que nunca fez promessas de desfazer seu casamento e prestígio social por causa do relacionamento extraconjugal que possui, mas Dolores, parece disposta a resolver (ou criar) esse problema para ele. Paralela à história de Judah, conhecemos Cliff Stern (o próprio Woody Allen), um documentarista cuja carreira nunca decolou, mas que tem a grande oportunidade de filmar a vida do (arrogante) cunhado Lester (Alan Alda), um conceituado produtor de TV cheio de si. No caminho Lester conhece a produtora Halley (Mia Farrow), com quem se identifica imediatamente, mas cujo o casamento é claramente um empecilho para Lester se declarar. Entre a tensão de Judah e Dolores (e o affair que chega à obsessão) e a leveza do romance quase platônico entre Cliff e Halley, Allen não parece interessado em criar ligações entre os quatro protagonistas, já que as duas histórias não mantém relação entre sim, existe apenas uma única cena em que dois personagens se cruzam num diálogo amargo sobre vida e cinema. Devo reconhecer que me empolgo mais com a história de Lester e Halley e suas piadas sobre cinema e filosofia do que a repetição exaustiva das discussões entre Judah e Dolores. Ainda assim, o desfecho trágico da amante revela-se ainda maior quando o filme nos revela os bons momentos que teve junto ao amante. Ainda assim, Martin Landau tem bons momentos quando seu personagem passa a ser corroído pelos sentimentos religiosos que considerava estarem adormecidos desde que deixou de ser menino (e por isso foi indicado ao Oscar de Coadjuvante). Allen já estava se equilibrando entre comédias e dramas quando lançou Crimes e Pecados, mas aqui vemos até uma tentativa de gerar suspense, mas essa intenção sofre quando a narrativa quebra a tensão com um alívio cômico, ao ponto do resultado final parecer irregular. No entanto, separando os "dois filmes" na lembrança, vemos que são duas histórias  bem escritas e interessantes sobre o que o título anuncia, mas juntas (ainda que desconectadas) podem não agradar a maioria do público. O exercício narrativo valeu a Allen indicações ao Oscar de roteiro original e direção, mas o filme não está entre os meus favoritos do diretor. 

Crimes e Pecados (Crimes and Misdemeanors/EUA-1989) de Woody Allen com Martin Landau, Anjelica Huston, Woody Allen, Mia Farrow, Alan Alda, Joanna Gleason, Sam Waterston e Claire Bloom. ☻☻

domingo, 15 de dezembro de 2013

Ladies & Gentlemen: Andrea Riseborough

Nascida em Jesmond na Inglaterra no ano de 1981, Andrea Riseborough Louise cresceu  tendo que lidar com a dificuldade de ser filha de um casal de trabalhadores durante o governo de Margareth Tatcher. Ela começou a atuar em teatros populares quando ainda era uma pré-adolescente e estudava em escolas independentes de sua cidade natal. O gosto pela atuação permaneceu até a vida adulta, ao ponto dela se formar-se em interpretação pela Escola Real de Arte Dramática em 2005. Apesar de seu estilo camaleônico, sua pele claríssima e a beleza tipicamente europeia costumam permanecer. Começando a carreira no teatro, os primeiros filmes da atriz foram realizados para a TV. Entre uma produção e outra, apareceu pela primeira vez na telona em um papel pequeno em Vênus (2006) estrelado por Peter O'Toole. A outra participação no cinema aconteceu no ano seguinte em The Magicians (2007), comédia bobinha sobre a rivalidade entre dois mágicos (em que ela não tinha muito o que fazer em cena). As coisas começaram a melhorar quando Mike Leigh a escolheu para ser uma das amigas de Sally Hawkins em Simplesmente Feliz (2008). Seu papel seguinte foi em Margareth Tatcher, um elogiado filme para a televisão inglesa. Por sua excelente atuação, foi indicada ao BAFTA e outros prêmios na Inglaterra. A projeção alcançada com  papel ajudou para que o cinema lhe oferecesse mais papéis. Foi assim que seu tempo em tela aumentou na comédia  Mad, Sad & Bad (2009) e conseguiu lugar em papeis em filmes importantes como Revolução em Dagenham (2010) e Não Me Abandone Jamais (2010). Muita gente ficou surpresa quando ela apareceu no filme seguinte, onde parecia uma adolescente de 17 anos em O Pior dos Pecados. Em plenos 29 anos ela era mais do que convincente na pele de uma jovem que se apaixonava por um gangster cheio de más intenções. A interpretação lhe valeu uma indicação ao BAFTA e várias menções entre as revelações cinematográficas do ano. No entanto, o mais interessante em sua carreira foi a projeção alcançada com um filme que foi mal de bilheteria e criticado no mundo todo: W.E. (2011) O segundo longa metragem dirigido por Madonna era mais pretensioso do que qualquer coisa, mas é Andrea que nos faz embarcar na fraca releitura do romance entre Wallis Simpson e o Príncipe Edward. Apesar dos elogios, Andrea ficou de fora das premiações, mas sua carreira parecia ter decolado de vez (no mesmo ano ela participou do drama Resistance (2011) que permanece inédito por aqui). Foi W.E. que lhe valeu convites para várias produções que precisavam de atrizes capazes de emprestar credibilidade aos seus personagens feminios.  Foi assim que ela conseguiu os papeis no elogiado Disconnect (2012) sobre histórias paralelas numa grande cidade e o papel de protagonista em Agente C (2012) que lhe rendeu alguns prêmios pela densa interpretação de uma mãe envolvida com o IRA e o Serviço Secreto. Em 2013 ela emprestou sua versatilidade para Oblivion (2013) sobre o mundo pós-apocalíptico com Tom Cruise (rs) e Inimigos de Sangue (2013), onde interpreta a parceira durona de James McAvoy. Sendo um nome em ascensão em Hollywood, Andrea tem quatro filmes em produção para o ano que vem: estará no suspense Hidden (em que uma família encontra refúgio num abrigo), Birdman (primeira comédia de Alejando González Inãrritú, sobre um ator que quer reviver seus dias de glória), The Silent Storm (sobre o dilema de uma esposa prestes a trair o marido com um delinquente) e o televisivo The Money (em que uma família sofre com um patriarca controlador). Ainda bem que veremos o talento da moça por muito tempo. 

Andrea em O Pior dos Pecados: 17 anos beirando os 30. 

NªTV: Agente C - Dupla Identidade

Owen e Andrea: A vida é dura.

Existem aqueles atores que te motivam a ver um filme só de ver o nome deles nos altos dos créditos. Feito para a televisão inglesa e exibido no Brasil pela HBO, Agente C - Dupla Identidade me chamou a atenção por ter dois intérpretes que sempre me chamam a atenção. Um deles é Clive Owen, que desde que foi considerado velho demais para fazer 007 (perdendo o posto para Daniel Craig) parece lidar com essa frustração interpretando variações de agentes desiludidos com a vida e o trabalho. Outro membro do elenco é Gillian Anderson, a eterna musa de Arquivo X que interpreta uma colega de trabalho de Owen, mais cética do que ele pode imaginar. O terceiro vértice de interesse para minha pessoa é a ainda pouco conhecida Andrea Riseborough, a inglesa que ganhou impulso na carreira com um fiasco de bilheteria (?!), o madonnesco W.E.(), em que ela era a melhor qualidade do filme (a segunda era o figurino e a terceira a fotografia, rs). Quem está acostumado ao ritmo frenético dos filmes de espionagem americanos irá se irritar um pouco com a narrativa lenta impressa pelo diretor James Marsh, que concentra-se na interpretação dos atores e o jogo de relações que se estabelece entre o agente Mac (Clive Owen) e Collete McVeigh (Andrea Riseborough). Desde a infância, a vida de Collete foi cortada por uma tragédia relacionada ao Exército Republicano Irlandês, o IRA. Crescida, o envolvimento de sua família com a organização terrorista torna-se evidente e ela é procurada pelo MI5 para fornecer informações sobre possíveis ataques e líderes da organização. Para isso, Collete terá que entregar membros de sua própria família e colocar sua vida em risco. É estranho, mas Marsh filma como se estivesse com o dedo segurando as engrenagens de um relógio. Enquanto a trama avança vagarosamente, ele prefere explorar a relação quase paternal que Mac nutre por Collete, enquanto esta se mostra-se uma complexa muralha. Andrea mostra-se mais uma vez que é uma das atrizes que merecem mais atenção no cinema atual. Sua personagem mostra uma expressão tensa do início ao fim, como se desde a primeira cena já soubesse que a tragédia já foi anunciada e não há nada que possa fazer para impedir que se concretize. Sentimentos como maternidade, fraternidade, amizade, confiança e ideologias políticas geram conflitos na personagem que o simples olhar da atriz é capaz de expressar. Famoso por ganhar o Oscar de melhor documentário com O Equilibrista (2008) constrói uma atmosfera seca, opressora e realista, auxiliada pela fotografia belamente saturada,  mas que pode incomodar pela lentidão com que embaralha os fios de sua narrativa baseada no livro de Tom Bradby (que assina o roteiro dessa adaptação). 

Agente C - Dupla Identidade (Sahdow Dancer/Reino Unido-Irlanda/2012) de James Marsh com Andrea Riseborough, Clive Owen, Gillian Anderson e David Wilmot. ☻☻

sábado, 14 de dezembro de 2013

DVD: BABYCALL

Rapace: qual a diferença entre lembranças e fantasmas?

Lançada ao estrelato pela trilogia sueca Millenium, Noomi Rapace me despertava desconfianças por viver a punk Lisbeth Salander. Apesar do corte de cabelo maluco, dos piercings, roupas de couro, cenas de nu e lesbianismo eu ainda achava que a atriz padecia da maior mazela de uma atriz: ter sempre a mesma cara. Quando a vi em Sherlock Holmes 2  a impressão era que Lisbeth havia cansado de ser punk e virou uma cigana. A desconfiança enfraqueceu quando a vi em Prometheus/ 2012 e ela encarnava uma típica heroína da ficção científica moderna, abraçando seus medos e mazelas sem piedade. Teria sido mais fácil ter assistido esse suspense sueco de 2011, que lhe rendeu alguns prêmios em festivais europeus e que não duvido que gere uma refilmagem americana em breve. O filme começa com a angustiante cena de Anna (Noomi) deitada no chão sendo questionada sobre o paradeiro de um tal Anders. Quem é Anders? Aquela cena é o início ou o fim da história? Essas perguntas ficam um pouco na cabeça do espectador, até o momento em que sabemos que Anna tenta construir uma nova vida num apartamento alugado por uma dupla designada para ajudar na superação de seu trauma. Aparentemente o esposo de Anna era um homem agressivo e tentou matar ela e o filho, Anders (Vetle Qvenild Werring) atirando-os pela janela. Para seguir a vida, Anna terá que seguir algumas regras, como matricular o filho numa escola, deixá-lo dormir sozinho no próprio quarto e tentar seguir uma vida normal. Mas nada disso parece fácil para ela, para ajudar a acompanhar o sono do filho, ela compra uma babá eletrônica. O objeto lhe traz segurança, mas com o tempo começa a emitir sons estranhos de pessoas sendo agredidas. Seria as lembranças de Anna? Estaria captando realmente sons da vizinhança? será que tudo isso é real? Aos poucos, a nova vida da personagem começa a demoronar. Colabora para isso o fato da escola não ver com bons olhos o excesso de proteção que demonstra para com o filho e a presença de um amiguinho estranho que teima em visitar Anders. Parece que o único vínculo da personagem com o mundo exterior é o atencioso vendedor Serge (uma bela composição de Kristoffer Joner), que pode ajudá-la a perceber se está enlouquecendo ou não - além de despertar lembranças de sua própria relação com a mãe. O diretor Pal Sletaune consegue construir um clima lento, claustrofóbico e angustiante para o público, principalmente quando ficamos confusos como a personagem numa realidade que sempre flerta com seus fantasmas pessoais. Ainda que as sugestões sobrenaturais do roteiro devam fazer as pessoas amar e odiá-lo na mesma proporção, Babycall (ou Babá Eletrônica como costuma ser exibido na TV por assinatura) pode ser uma boa surpresa para os amantes do gênero carentes de filmes econômicos e eficientes. 

Babycall (Suécia/Noruega/Alemanha-2011) de Pal Sletaune com Noomi Rapace, Krsitoffer Joner e Maria Bock. ☻☻☻

DVD: Late Bloomers

Hurt e Rossellini: lidando com as marcas psicológicas do tempo

Nascida na Itália, a filha do cineasta Roberto Rossellini e da diva Ingrid Bergman foi um dos nomes mais celebrados dos anos 1980 e início dos anos 1990. Isabella Rossellini começou a carreira como modelo, tornou-se uma espécie de ícone cinematográfico nas mãos de David Lynch quando protagonizou o clássico Veludo Azul (1988) e cantou Blue Velvet em cena. Foi terna em Um Toque de Infidelidade (1988), exibiu todas as curvas como a bruxa mais sensual de todos os tempos em A Morte Lhe Cai Bem (1989) e em 1992 participou do livro de fotos eróticas SEX idealizado por Madonna. Apesar de ter se afastado de grandes produções, a bela Rossellini dedicou-se a participações em séries de TV, dirigiu e estrelou curtas engenhosos que são cultuados na internet. Nos últimos anos ela participou de vários filmes europeus, sendo premiada em Berlim com o holandês Amor e Dor (1998) e elogiada no italiano A Solidão dos Números Primos (2010). Em 2011 ela atuou neste segundo filme dirigido por Julie Gravas, filha do aclamado diretor grego Costa-Gravas. Late Bloomers tem uma proposta que consegue ser bastante interessante e não deixa de ser uma escolha corajosa para uma atriz que já foi símbolo sexual e que agora aparece com acima do peso e com rugas na pele da mãe do personagem principal. Isabella interpreta Mary, uma professora que não leciona mais (aposentada?). Casada com um prestigiado arquiteto, Adam (William Hurt, sempre interessante), com filhos crescidos e percebendo as marcas do tempo, ela percebe que envelheceu. Mary resolve seguir os conselhos de um médico e exercitar-se na hidroginástica, mas as aulas lhe deixam apenas cansada. Resolve então ocupar seu tempo com trabalho voluntário, mas o tom da mocinha que a recebe - e o trabalho que lhe oferecem - fazem com que ela saia de lá antes da primeira hora. Mary percebe, que toda sua experiência e inteligência não são páreo para o estereótipo que a sociedade lhe impõe. Não adianta disfarçar as rugas com maquiagem e lenços em volta do pescoço, um mundo que cultua somente a juventude é cruel. Mary então parece tentar aceitar que envelheceu com naturalidade, sem dramas. É nesse momento que o seu casamento começa a ter problemas. Sexualmente, Mary e Adam (ambos nomes religiosos impregnados de significados) não tem problemas, mas a convivência com o mundo começa a desgastá-los. Colabora muito para isso que oferecem para Adam um projeto de criar abrigos para idosos, quando na verdade ele prefere se juntar aos arquitetos mais jovens e criar um museu modernoso. Essa convivência com os jovens nos trabalhos de madrugada sustentados por RedBull começam a criar problemas em casa e o filme segue de forma simples, mas lidando com alguma habilidade com os clichês cinematográficos e estigmas sobre como a nossa sociedade lida com os mais velhos. Julie Gravas acerta no início, mas lá pela metade erra no que seria mais fácil: as oportunidades de casos extraconjugais que aparecem na vida do casal e a forma como os filhos (todos superficialmente desenvolvidos) lidam com isso. O maior mérito do filme são as atuações corretas de Hurt e Isabella na pele de um casal maduro, ainda atraente e cheio de conflitos com o tempo que teima em passar e lhes oferecer corpos que não combinam com a percepção que tem de si mesmos. Acho que um pouco mais de pretensão não faria mal ao filme que sempre busca um humor mais refinado, mas que às vezes deixa as situações pelo meio do caminho, tornando uma boa ideia em apenas um filme simpático. Só para lembrar, o próximo filme de Isabella será a adaptação de O Homem Duplicado de José Saramago, dirigido pelo canadense Denis Villeneuve (do recente Suspeitos/2013 e do cultuado Incêndios/2010). 

Late Bloomers - O Amor não Tem Fim (Late Bloomers/França-Bélgica-Reino Unido - 2011) de Julie Gravas com William Hurt, Isabella Rossellini, Doreen Mantle e Joanna Lumley. ☻☻☻

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

INDICADOS AO GLOBO DE OURO - 2014

Trapaça (American Hustle): 7 indicações e pose de favorito. 
A Associação de Críticos Estrangeiros nos EUA divulgaram seus indicados ao Globo de Ouro 2014 que será realizado no dia 14 de janeiro. Fiquei surpreso que Rush, Capitão Phillips e All Is Lost tenham conseguido cravar indicações, não que sejam produções ruins, mas porque filmes recheados de cena de ação não costumam ser indicados em categorias nobres. Na televisão a surpresa ficou por conta da ausência de Mad Men (mudar a estrutura que liga a temporada custou caro) e Homeland (há uma tendência no Globo de Ouro de não indicar quem vendeu dois anos seguidos). A lista de indicados segue abaixo, escolha seus favoritos, faça um bolão e cruze os dedos!

CINEMA
Melhor Filme Drama

“12 Anos de Escravidão”
“Capitão Phillips”
“Gravidade”
“Philomena”
“Rush – No Limite da Emoção”

Melhor Filme Comédia/Musical
“Trapaça”
“Ela”
“Inside Llewyn Davis”
“Nebraska”
“O Lobo de Wall Street”

Melhor Ator Drama
Chiwetel Ejiofor, por “12 Anos de Escravidão”
Idris Elba, por “Mandela: Long Walk to Freedom”
Tom Hanks, por “Capitão Phillips”
Matthew McConaughey, por “Dallas Buyers Club”
Robert Redford, por “All is Lost”

Melhor Atriz Drama
Cate Blanchett, por “Blue Jasmine”
Sandra Bullock, por “Gravidade”
Judi Dench, por “Philomena”
Emma Thompson, por “Walt nos Bastidores de Mary Poppins”
Kate Winslet, por “Refém da Paixão”

Melhor Ator Comédia/Musical
Christian Bale, por “Trapaça”
Bruce Dern, por “Nebraska”
Leonardo  DiCaprio, por “O Lobo de Wall Street”
Oscar Isaac, por “Inside Llewyn Davis”
Joaquin Phoenix, por “Ela”

Melhor Atriz Comédia/Musical
Amy Adams, por “Trapaça”
Julie Delpy, por “Antes da Meia-Noite”
Greta  Gerwig, por “Francis Ha”
Julia Louis-Dreyfus, por “À Procura do Amor”
Meryl Streep, por “Álbum de Família”

Melhor Atriz Coadjuvante
Sally Hawkins, por “Blue Jasmine”
Jennifer Lawrence, por “Trapaça”
Lupita Nyong’o,  por “12  Anos de Escravidão”
Julia Roberts, por “Álbum de Família”
June Squibb, por “Nebraska”

Melhor Ator Coadjuvante
Barkhad Abdi, por “Capitão Phillips”
Daniel Brühl,  por “Rush – No Limite da Emoção”
Bradley Cooper, por “Trapaça”
Michael Fassbender, por “12 Anos de Escravidão”
Jared Leto, por “Dallas Buyers Club”]

Melhor Diretor
Alfonso Cuaron, por “Gravidade”
Paul Greengrass, por “Capitão Phillips”
Steve  McQueen, por “12 Anos de Escravidão”
Alexander Payne, por “Nebraska”
David O.Russell, por “Trapaça”

Melhor Roteiro 
“Ela”
“Nebraska”
“Philomena”
“12 Anos de Escravidão”
“Trapaça”

Melhor Longa de Animação
“Os Croods”
“Meu Malvado Favorito 2″
“Frozen – Uma Aventura Congelante”

Melhor Filme em Língua Estrangeira 
“Azul é a Cor mais Quente”
“A Grande Beleza”
“A Caça”
“O Passado”
“Vidas ao Vento”

Melhor Trilha Sonora Original:
“All is Lost”
“Mandela: Long Walk to Freedom”
“Gravidade”
“A Menina que Roubava Livros”
“12 Anos de Escravidão”

Melhor Canção Original 
“Atlas” (“Jogos Vorazes: Em Chamas”)
“Let It Go” (“Frozen – Uma Aventura Congelante”)
“Ordinary Love” (“Mandela: Long Walk to Freedom”)
“Please Mr. Kennedy” (“Inside Llewyn Davis”)
“Sweeter than Fiction” (“One Chance”)

TELEVISÃO
Melhor Série Drama

“Breaking Bad”
“The Good Wife”
“House of Cards”
“Masters of Sex”
“The Newsroom”

Melhor Atriz Drama
Tatiana Maslany, por “Orphan Black”
Taylor Schilling, por “Orange is the New Black”
Kerry Washington, por “Scandal”
Robin Wright, por “House of Cards”
Julianna Margulies, por “The Good Wife”

Melhor Ator Drama
Liev Schreiber, por “Ray Donovan”
Bryan Cranston, por “Breaking Bad”
Michael Sheen, por “Masters of Sex”
Kevin Spacey, por “House of Cards”
James Spader, por “The Blacklist”

Melhor Série Comédia/Musical
“The Big Bang Theory”
“Brooklyn Nine-Nine”
“Girls”
“Modern Family”
“Parks and Recreation”

Melhor Atriz Comédia/Musical
Zooey Deschanel, por “New Girl”
Julia Louis-Dreyfus, por “Veep”
Lena Dunham, por “Girls”
Edie Falco, por “Nurse Jackie”
Amy Poehler, por “Parks and Recreation”

Melhor Ator Comédia/Musical
Jason Bateman, por “Arrested Development”
Don Cheadle, por “House of Lies”
Michael J. Fox, por “The Michael J. Fox Show”
Andy Samberg, por “Brooklyn Nine-Nine”
Jim Parsons, por “The Big Bang Theory”

Melhor Minissérie ou Telefime
“American Horror Story: Coven”
“Behind the Candelabra”
“Dancing on the Edge”
“Top of the Lake”
“The White Queen”

Melhor Atriz Coadjuvante em Série, Minissérie ou Telefilme
Hayden Panettiere, por “Nashville”
Monica Potter, por “Parenthood”
Janet McTeer, por “The White Queen”
Jacqueline Bisset, por “Dancing on the Edge”
Sofia Vergara, por “Modern Family”

Melhor Ator Coadjuvante em Série, Minissérie ou Telefilme
Josh Charles, por “The Good Wife”
Rob Lowe, por “Behind the Candelabra”
Aaron Paul, por “Breaking Bad”
Corey Stoll, por “House of Cards”
Jon Voight, por “Ray Donovan”

Melhor Atriz em Minissérie ou Telefilme
Helena Bonham Carter, por “Burton and Taylor”
Rebecca Ferguson, por “The White Queen”
Jessica Lange, por “American Horror Story: Coven”
Helen Mirren, por “Phil Spector”
Elisabeth Moss, por “Top of the Lake”

Melhor Ator em Minissérie ou Telefilme
Matt Damon, por “Behind the Candelabra”
Chiwetel Ejiofor, por “Dancing on the Edge”
Idris Elba, por “Luther”
Al Pacino, por “Phil Spector”
Michael Douglas, por “Behind the Candelabra”