domingo, 23 de junho de 2013

DVD: Eu Receberia As Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios

Cauby e Lavínia: sexo, suor e surtos. 

Faço parte do grupo de fãs antigos de Beto Brant. Aquele grupo que fez campanha boca a boca para que Matadores (1997) tivesse mais admiradores do que sua minguada publicidade permitia, grupo que exaltou as qualidades de Ação Entre Amigos (1998) e que transformou O Invasor (2001) num sucesso nos cinemas. Devo admitir que ainda estou me acostumando com o novo estilo do diretor. Desde Crime Delicado (2005), o diretor busca explorar o que literatos chamariam de geografia interior de personagens, geralmente são casais que repensam seus posicionamentos em relacionamentos repletos de conflitos. A aposta por uma violência mais sutil nas relações humanas permaneceu em Cão Sem Dono (2006) e resultou o híbrido de ambos em O Amor Segundo B. Schianberg (2009), onde a psicologia dos personagens era ainda mais elaborada. No entanto, o recente Eu Receberia As Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios se tornou o mais elogiado dessa fase Brantiana, porém, o filme não me convenceu. Acho que o filme simboliza a total falta daquele punch que fez Beto Brant um diretor único no Brasil. Vendo Eu Receberia As Piores... tenho a impressão que qualquer diretor, de qualquer lugar poderia ter feito o filme do mesmo jeito (arrastado, quebrado e tedioso). Obviamente que a atuação de Camila Pitanga nas várias fases de sua personagem chama atenção, mas o tratamento que a história recebe já me parece um clichê sem tamanho. É Camila que faz o filme parecer melhor do que realmente é. No início não sabemos muito bem como ocorre a relação de sua personagem com o fotógrafo Cauby (Gustavo Machado). Logo se percebe que os dois são amantes e que Lavínia (Camnila) é casada com o pastor Ernani (Zé Carlos Machado). Esse triângulo amoroso é localizado no Pará, onde a população ribeirinha se mobiliza contra o desmatamento da floresta. Essa primeira parte se concentra bastante no romance tórrido entre Lavínia e Cauby. Sexo e suor ditam o tom do primeiro ato da relação entre o fotógrafo e sua musa. Com mais elementos, o segundo ato me soa mais interessante, já que mostra o passado de Lavínia como prostituta a ser resgatada das ruas por Ernani. A transformação da personagem realizada por Camila impressiona - sendo seguida de perto pelo veterano Zé Carlos. Quando o filme volta para o seu terceiro ato, quando o romance de Lavínia e Carlos pede um desfecho, o filme volta à morosidade de antes, talvez, para obter um contraste com a violência que está por vir. Na cena do surto de Lavínia e da chegada surpresa de Ernani, Brant alcança as notas mais altas de sua narrativa. Trata-se de uma cena intensa, rápida e mais eficiente do que qualquer outra do filme e aí o filme se transforma no que deveria ser sua essência: uma história de amor simples e eficaz. Pena que Brant encheu a história de penduricalhos desnecessários (inclusive Gero Camilo num papel que parece ter aparecido em dezenas de outros filmes do gênero). Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios não chega a ser um filme ruim, mas me parece decepcionante ao ver que um dos meus diretores brasileiros favoritos está ficando cada vez mais parecido com tantos outros (e sendo elogiado por isso). 

Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios (Brasil/2010) de Beto Brant com Camila Pitanga, Gustavo Machado, Zé Carlos Machado e Gero Camilo.

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