quarta-feira, 8 de maio de 2013

KLÁSSIQO: Monty Python - O Sentido da Vida

Você confiaria nesses médicos?

O grupo de comediantes que formava o Monty Python ficou famoso em 1969 quando criou o programa de TV britânico Monthy Python - Flying Circus. O programa rendeu quatro temporadas de sucesso e um total de 45 episódios. Não são poucos que consideram que o humor debochado, escrachado e sem noção do grupo teve um impacto na comédia semelhante ao que os Beatles teve na música. A influência do humor do Python pode ser conferida até hoje em programas como Saturday Night Live e nas sempre bem vindas reprises do TV Pirata. Curioso é que depois que assisti a um documentário sobre o grupo, os comediantes diziam que muitos desdobramentos dos quadros apresentados por eles nem sequer eram cogitados quando elaboravam uma graça ou outra. Muitas vezes, a intenção era apenas instigar o espectador com uma dose cavalar de absurdo. Esse gosto por deixar a plateia inquieta pode ser conferido em seus cultuados filmes, filmes como Em Busca do Cálice Sagrado (1975) e A Vida de Bryan (1979) tem fãs fervorosos, assim como O Sentido da Vida (1983). Estranho é que quando era pequeno eu assisti a todos eles na Sessão da Tarde, mas não entendia patavina do que estava acontecendo. O Sentido da Vida é o mais episódico já realizado pelo grupo e que tira uma casquinha de suas provocações preferidas: as religião. Obviamente que vindo do grupo você espera tudo, menos que dissertem sobre o sentido da vida. Essa parece ser a premissa do filme, que é constituído de vários curtas quase independentes. Delírios como os peixes no aquário que comentam as cenas ou a espécie de apresentadora que interrompe a sessão quando chegamos ao meio do filme ou no final são alguns dos pontos de ousadia narrativa dos rapazes. Histórias como os velhinhos contadores que se rebelam contra os patrões e invadem uma espécie de wall street como se fossem piratas econômicos, está entre os momentos mais elaborados do grupo (é engraçado como consigo perceber o estilo visual de Terry Gillian nesse momento, ele voltou a exercitar esse estilo em vários de seus filmes posteriores como diretor). A grandiosidade da cena deixa claro que o sentido da vida passará longe do roteiro. Eles até tentam enganar falando sobre o nascimento de um bebê, seja num hospital onde todos parecem mais preocupados com o aparelho que faz "ping" do que com o bebê que está para chegar ou mostrando que a negação de métodos contraceptivos pode gerar sustento de famílias pobres com o uso dos filhos em experiências científicas! O humor mais obscuro do grupo pode incomodar os mais sensíveis com a sanguinolência do homem que tem seu fígado arrancado antes de sua morte ou a escatologia do gorducho no restaurante granfino. Obviamente que as pessoas podem enxergar camadas de críticas à sociedade nas histórias, mas vale mesmo é embarcar na viagem absurda e ter uma dose cavalar do humor ácido do bando de John Cleese. Minha história favorita ainda é da morte que vem buscar um grupo de amigos durante um jantar. A concepção da figura da morte é uma das mais bem construídas visualmente e serve de desfecho irônico ao mostrar todos os personagens numa espécie de paraíso com cara de boate de Las Vegas. Essa provocação só não ganha do estranhamento causado pela aula de sexo explícito na escola conservadora. No fim das contas, fica a impressão que O Sentido da Vida pode não ter sentido algum, mas pode render momentos bastante divertidos.

Monty Python: O Sentido da Vida (Monty Python's: The Meaning of Life/1983) de Terry Jones e Terry Gillian com Graham Chapman, John Cleese, Michael Palin, Terry Jones, Terry Gillian, Eric Idle e Carol Cleveland. ☻☻

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