quarta-feira, 20 de março de 2013

KLÁSSIQO: Doutor Jivago

Christie e Sharif: romance épico e Revolução Russa. 

Minha mãe sempre disse que Doutor Jivago era um dos seus filmes favoritos. Eu cresci ouvindo o "Tema de Lara" na vitrola lá de casa e acho que faz mais de vinte anos que o assisti pela primeira vez. Neste final de semana eu o assisti novamente e ele continua funcionando que é uma beleza! Baseado na obra de Boris Pasternak, o filme conta um romance cheio de idas e vindas tendo como pano de fundo as transformações geradas pelos bolcheviques na Rússia. Não há duvidas de que o cineasta David Lean é um mestre em contar histórias grandiloquentes, prova disso é que quase meio século depois de seu lançamento, ele continuar envolvente em sua narrativa, provando-se um espetáculo cinematográfico belíssimo. Acho interessante como o filme mantém no roteiro sua estrutura literária - onde os personagens são apresentados quase que paralelamente, até que se encontrem e desfrutem do amor somente quando sabemos que o final se aproxima. Não deixa de ser fascinante como o filme constrói uma heroína romântica diferente, com elementos que podem facilmente ser percebidos como desvios de caráter, mas tem ciência de que o público é esperto para ver mais do que isso. Embora o filme comece na busca pela filha de Jivago e Lara, os dois demoram bastante para consumar o seu romance. Somos apresentados a Jivago quando ele ainda menino vai morar com os tios depois. O menino cresce, torna-se médico (já na pele do egípcio Omar Sharif) para a alegria dos tios que sempre demonstraram interesse em uni-lo à prima Tonya (uma graciosa Geraldine Chaplin). Paralela a essa história conhecemos Lara  (Julie Christie, que não me convence que tem 17 anos - ela já tinha 24 durante as filmagens) que é molestada por um dos homens mais influentes da sociedade local e torna-se amante dele, ainda que seja ofendida constantemente pelo asqueroso parceiro. Enquanto Jivago pertence à alta sociedade, com grandes posses e festas luxuosas, Lara tem uma vida mais humilde ao lado da mãe e se esforça para concluir seus estudos enquanto tem um amigo, Pasha (Tom Courtenay) que está envolvido com o clima pré-revolução que cresce na Rússia - vale ressaltar que este será seu marido. A revolução bolchevique de 1917, que marca a queda do Czar e chegada de Lenin ao poder, serve de pano de fundo para a história de Lara e Jivago que irão se encontrar na I Guerra Mundial e nutrirão um amor platônico até que ele se concretize na grande transformação que o país sofrerá. É sempre saboroso assistir a uma bela produção que mistura ficção com a história de "H" maiúsculo. Existe tamanha complexidade na construção dos personagens e suas relações que é impossível não se envolver com os dramas e sacrifícios de Jivago, Lara, Pasha e Tonya. David Lean capricha nas locações, nas belas cenas e na trilha sonora, que junto à fotografia, emolduram a trama com maestria, no entanto, talvez por se concentrar no olhar do protagonista sobre a Revolução o espectador menos esclarecido não se dê conta do que está acontecendo no contexto histórico - o que talvez seja a maior ironia do filme, já que o modelo de sociedade que nascia, a subjetividade nunca deveria se sobrepor ao coletivo (sendo essa uma das causas das perseguições a Jivago por se dedicar à poesia). Obviamente que o espectador disposto a embarcar nas três horas de torcida por Lara e Jivago não irá reparar esse detalhe! De resto é curioso ver Julie Christie com sua beleza agressiva (ainda percebo nela o mesmo vigor até hoje) e o egípcio Omar Sharif arrasando corações no auge de sua popularidade (ganhou até o Globo de Ouro de Ator pelo papel). Um épico daqueles que quase não se vê mais. O filme ganhou 5 Oscars dos 10 a que concorreu, curiosamente,  Tom Courtenay foi o único lembrado pela Academia, concorrendo ao Oscar de coadjuvante.

Doutor Jivago (Doctor Zhivago/EUA-1965) de David Lean com Omar Sharif, Julie Christie, Tom Courtenay, Geraldine Chaplin, Rod Steiger e Alec Guiness. ☻☻☻

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