sábado, 2 de fevereiro de 2013

KLÁSSIQO: Touro Indomável

DeNiro: uma fera  (com ou sem as luvas do ringue). 

Minha relação com Scorsese é estranha. Até a adolescência eu odiava seus filmes. As coisas só começaram a mudar depois que - um dia, perdido na madrugada da televisão - assisti Taxi Driver/1976 pela segunda vez (motivado por meu pai). Foi uma espécie de amor a segunda vista e, até hoje, aquele filme estrelado por Robert DeNiro (e uma precoce Jodie Foster) se encontra no topo do mundo Scorsesiano. Depois disso revi alguns de seus filmes (Os Bons Companheiros/1990, Depois de Horas/1985, Cassino/1995, Cabo do Medo/1991, A Última Tentação de Cristo/1988) e passei a admirar sua obra (especialmente as mais sombrias). Porém,. eu cresci com todo mundo falando sobre Touro Indomável (1980). Que era sua obra-prima, que foi injustiçado ao perder o Oscar para Gente como a Gente e outras coisas (inclusive que o filme perdeu o prêmio de melhor filme por conta de um atentado contra o presidente Ronald Reagen em que o autor mencionou seu fascínio por Taxi Driver, oops!). Tudo isso me fez pensar que eu o consideraria algo ainda melhor do que o meu favorito, achei o DVD, comprei e... não foi bem assim. Obviamente que existem grandes méritos no filme, a forma inovadora de narrativa - propositalmente fragmentada enquanto procurar criar uma (de)cadência na história do boxeador Jake LaMotta (DeNiro, ganhador do Oscar de Ator). É de luta em luta que acompanhamos a história do protagonista, no estabelecimento das relações entre sua vida pessoal e o resultado nos ringues. Devemos elogiar que Scorsese fez um trabalho brilhante nas cenas de luta. São cruas e dramaticamente intensas na construção do personagem que estava longe de ser uma unanimidade em simpatia, ao contrário, era todo fúria! Além de gostar de aniquilar seus adversários (ele obteve a marca impressionante de 83 vitórias - 30 por nocaute -, 4 empates e 19 derrotas) ele também era violento na vida particular, agredindo a esposa diversas vezes (a ótima Cathy Moriarty, indicada ao Oscar de coadjuvante) - especialmente por ciúmes. O envolvimento com mafiosos e o relacionamento explosivo com os amigos - incluindo o irmão Joey (Joe Pesci, indicado ao prêmio de ator coadjuvante pela performance altamente emocional) tornavam sua vida uma luta tão vigorosa quanto a que travava nos ringues. Mora aí a maior contribuição de Touro Indomável para a história do cinema: mostrar que a vida pode ser um grande ringue. A associação entre a vida dentro e fora do ringue que já aparecera em Rocky - Um Lutador (1976), se intensificou com o ritmo documental devido a edição moderna que se apropria das cenas que parecem pegas pela metade (cortesia da premiada Thelma Schoonmaker) e amplificada pela belíssima fotografia em preto e branco (de Michael Chapman). No entanto, o grande trunfo do filme ainda é a atuação de Robert DeNiro - que ganhava seu Oscar de ator seis anos depois que levou para a casa o de coadjuvante pela O Poderoso Chefão II (1974), talvez por ainda estranhar o formato do roteiro (ignorado no Oscar) eu ainda precise rever o filme algumas vezes para tirar Taxi Driver do meu pedestal scorsesiano.

Touro Indomável (Raging Bull/EUA-1989) de Martin Scorsese com Robert DeNiro, Cathy Moriarty e Joe Pesci. ☻☻☻☻

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