domingo, 6 de janeiro de 2013

CATÁLOGO: A Casa no Fim do Mundo

Robin e Colin: contaminados pelo vírus da comédia romântica. 

Em 1998 Michael Cunningham ganhou o prêmio Pulitzer pelo trabalho em seu livro As Horas que em 2002 recebeu uma elogiada adaptação cinematográfica (dando à Nicole Kidman o Oscar, o Globo de Ouro e o prêmio em Berlim de melhor atriz por sua atuação como Virginia Woolf). Era de se esperar que com esse sucesso os outros livros do escritor começassem a chamar atenção dos estúdios. Foi assim que em 2004 seu segundo romance Uma Casa no Fim do Mundo (1990) virou filme. Pena que o longa não consegue alcançar um terço da carga emocional de seu irmão mais badalado. O livro duas décadas na vida de dois amigos, Bobby e Johnatan, que se conhecem na adolescência na interiorana Cleveland até chegar à efervescente Nova York da década de 1980. É fácil notar que entre a dupla  existe algo mais do que amizade - e se é interessante ao ponto de alguém achar que a trama viraria um filme que preste, a versão cinematográfica deve ser pior que o livro. Os melhores momentos ficam por conta de Bobby pequeno vendo seu irmão morrer após um acidente em meio a uma festa. Quando Bobby é um menino tentando entender as coisas que acontecem ao seu redor o filme consegue despertar o nosso interesse, mas minutos depois começa a desandar. Passa alguns anos e ele mora somente com o pai, ele conhece Johnatan na escola e quando o pai morre ele passa a morar na casa do amigo. Falta sutileza ao diretor Michael Mayer na abordagem da atração que começa a existir entre os dois jovenzinhos. O tom cômico dado a primeira vez em que se tocam debaixo das cobertas é de um gosto duvidoso, da mesma forma ele nunca consegue explicar bem o que a mãe de Johnatan (vivida pela escolada Sissy Spacek) pensa daquela amizade. A interação da figura materna sempre fica no meio do caminho ao ver a homossexualidade do filho, mesmo quando o encontra na idade adulta. Se a coisa já é meio desengonçada até essa parte, a coisa degringola de vez quando Colin Farrell assume o papel de Bobby na vida adulta. É a década de 1980 e sua cabeleira parece com a do personagem de Michael Miyers em Quando mais Idiota Melhor (1992). Para compor um tipo sensível, Farrell confunde tudo deixando o personagem perdido entre trejeitos e tiques que caem quase sempre no exagero. Depois de anos morando com os pais do amigo, ele resolve procurar Johnatan (agora vivido pelo não muito bom Dallas Roberts) e o que poderia ser um recomeço para os dois na cidade de Nova York é marcado por uma mulher no caminho, no caso Clare (Robin Wright Penn) - e por mais que Robin Wright se esforce, sua personagem está sobrando no filme. Para soar como uma personagem moderninha lhe colocaram roupas coloridas e um cabelo ruivo de mechas azuis! Mas não se engane, ela é apenas mais uma coitada que espera o príncipe encantado e padece do clichê de ser apaixonada por Johnatan, o gay com quem divide o apartamento. A coisa poderia melhorar quando ela e Bobby engatam um romance, mas a coisa fica mais aguada. O que poderia ser um triângulo amoroso cheio de conflitos vira um filme episódico, com situações mal amarradas e com personagens que se perdem na construção malfadada do roteiro. Johnatan é apaixonado por Bobby, mas prefere ir para cama com qualquer cara que demonstre interesse por ele na rua. Clare se diz moderninha mas só quer arranjar um homem para lhe dar um filho e Bobby, bem esse é ainda mais complicado. Talvez as perdas que sofreu tenha ajudado o personagem a tornar-se distante, mas no filme Farrell só consegue deixá-lo oco, injetando uma passividade que beira a irritação. No fim das contas, o problema deve ter sido o diretor querer ganhar o público com o tom forçado de comédia romântica. Tudo soa leve e superficial, mesmo quando tem vemos um texto que gira ao redor de temas densos como morte, homossexualismo e AIDS. Desengonçado, o filme perde a chance de ser um retrato da época em que o HIV era um fantasma que começava a assombrar as relações sexualmente livres herdadas da década anterior. 

A Casa no Fim do Mundo (A Home At The End of The World/EUA-2004) de Michael Mayer com Colin Farrell, Dallas Roberts, Robin Wright Penn e Sissy Spacek. ☻☻

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