sábado, 10 de dezembro de 2011

CATÁLOGO: O Leitor


Winslet e Kross: zelo pela nova Alemanha.

Prestes a lançar seu novo longa metragem (o aguardado Extremamently Loud and Incredibly Close com Tom Hanks e Sandra Bullock), Stephen Daldry deixa claro que está empenhado em garantir sua terceira indicação ao Oscar - e quem sabe receber a sua primeira estatueta. Daldry dirigiu três filmes e concorreu ao Oscar de direção pelos três. Seus detratores costumam dizer que dirige filmes como se estivesse no teatro, com a diferença de exagerar na trilha sonora (o que é uma provocação barata). Já seus admiradores costumam ressaltar esses aspectos entre as qualidades do diretor que costuma arrancar atuações inesquecíveis. Tanto que mesmo o filme menos aclamado de Daldry foi o que finalmente oscarizou Kate Winslet. Trata-se de O Leitor. Em primeiro lugar vamos esquecer aquela palhaçada de dizer que o longa foi o grande vilão do Oscar 2009 por tomar o lugar que seria de O Cavaleiro das Trevas. Ambos os filmes tem seus méritos e se um estava entre os cinco favoritos da Academia e o outro não, isso se deve aos membros da Academia e ponto. O Leitor tem seus méritos e problemas de execução. Entre os méritos está o padrão Daldry de qualidade: trilha sonora impecável, figurinos bem cuidados, atores dedicados, edição indefectível e bela fotografia. Além disso, lança um olhar diferenciado sobre o batido tema do Holocausto. Ao invés de mostrar os campos de concentração, como já vimos dezenas de vezes - ou até mesmo as sandices nazistas, o diretor prefere contar uma história de amor que possui o nazismo nas entrelinhas, ou melhor, possui a história da Alemanha nas entrelinhas. Todo mundo que tem um conhecimento mais aprofundado sobre História sabe que Hitler não chegou ao poder por seus poderes mágicos, mas porque defendia uma causa que causava identificação na Alemanha ainda destroçada economicamente pela primeira guerra mundial. Não tem como disfarçar, que o cara chegou ao poder com apoio da população, que em busca de alguém para culpar apontou para os judeus. O Holocausto foi uma enorme tragédia que possuia como pano de fundo a ideia insana de limpar o país para as futuras gerações. Preconceito. Genocídio. Não há desculpa para esses fatos (por mais que exista uma corrente de sujeitos que acha que ser preconceituoso é sinal de inteligência, o preconceito ainda é, apenas, sinal de burrice). A história de Hanna (a sempre competente Winslet) e Michael (o novato David Kross) nasce dessa situação. Você pode ver o filme pensando que é apenas um adolescente que se apaixona por uma mulher mais velha que gosta de ouvi-lo contando histórias. Vendo por esse lado, ele fica traumatizado quando ela some e carrega essa marca até a vida adulta (vivido por Ralph Fiennes) onde possui dificuldades em manter relacionamentos. Existe um nó na história de Hana e Michael e este é promovido pela ausência causada pela aderência dela ao nazismo. O julgamento dela mexe mais ainda com o rapaz,  que se autocrítica por gostar daquele 'monstro' capaz de exterminar outros seres vivos como se fossem insetos. Se aprofundarmos um pouco mais a gênese dos personagens veremos que Hanna simboliza a velha Alemanha (devastada, triste, pobre) e Michael é a nova alemanha (não real, mas ideal para a época: bela, instruída, forte) e a cena em que ela o banha demonstra isso perfeitamente. É neste ângulo que o filme funciona melhor, especialmente quando nos damos conta que Hanna não sabia ler e seu analfabetismo torna-se justificativa para seus atos mais hediondos. Quando perdemos de vista as simbologias, esse argumento torna-se ainda mais inaceitável, mas numa alegoria esse não saber ler se amplia. Hanna não sabia ler somente as palavras, mas sentimentos (seus e dos outros), a realidade, os atos que praticava e sua defesa torna-se inviável. O maior problema do filme está neste momento, quando deixamos de perceber do que o filme se trata realmente - e colabora muito para isso o tom erotizante de seu (longo) início. Ao mesmo tempo, o corte existente entre o velho e o novo nos guia para um final previsível. Neste romance simbólico, ainda merece destaque a presença de Lena Olin como uma sobrevivente dos campos em que ela diz: "se procura catarse, não procure os campos. Vá ao cinema, ao teatro, à ópera. Mas nunca aos campos". Ela sabe das coisas, numa leitura mais atenta percebemos que é por isso que O Leitor tem tanto cuidado em manter o equilíbrio.

O Leitor (The Reader/EUA-2008) de Stephen Daldry com Kate Winslet, David Kross, Ralph Fiennes, Lena Olin e Bruno Ganz. ☻☻☻

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