quinta-feira, 17 de novembro de 2011

CATÁLOGO: Tudo o que você sempre quis saber sobre sexo (e tinha medo de perguntar)


Allen (o sptz à esquerda): biografia de sua gênese existencial?

Em alta novamente depois do sucesso de Meia-Noite em Paris (que deve lhe render outra indicação ao Oscar de roteiro original) Woody Allen é famoso por ser o único cineasta capaz de lançar um filme por ano. Entre seus longas temos romances (Vicky Christina Barcelona), comédias românticas (Noivo Neurótico, Noiva Nervosa), mockumentary (Zelig), dramas (Match Point), comédias despretensiosas (Scoop) e delícias surreais como este Tudo o que você sempre quis saber sobre sexo (e tinha medo de perguntar). O título é tirado do famoso livro de David Reuben, só que não se trata de uma adaptação literal de seus capítulos, Allen prefere satirizá-los em situações absurdas como homens apaixonados por ovelhas (se a situação já causa estranhamento imagina ver a ovelha ganhando colares de diamantes e vestido cintaliga!) ou espermatozóide em crise existencial (este vivido pelo próprio Allen, claro). Para dar ainda mais graça ao filme, o roteiro busca relacionar temáticas sexuais aos mais variados gêneros cinematográficos. Assim, a temática pode estar presente na comédia pura e simples de um bobo da corte querendo seduzir sua rainha (Lynn Redgrave) com uma sinistra laranjada (no capítulo "Os Afrodisíacos realmente  funcionam?" ou numa elaborada sátira aos filmes de terror. Mas o brilhantismo de Allen fica mais evidente em sua caricatura de galã italiano (só de imagnar já dá vontade de rir, pois nada menos garanhão italiano do que ter a cara de Allen) que tenta lidar com a esposa frígida, mas acaba descobrindo que ela gosta de manter relações em locais públicos. Outro ponto alto é o programa de televisão em preto e branco entitulado "Qual é a sua perversão?". Além de provar sua versatilidade na frente a atrás das câmeras ele ainda realiza citações que vão de Hamlet e até Rocky Horror Show (um jovem casal de desconhecidos vai parar na casa de um sexólogo famoso e acabam envolvidos numa trama trash que  mistura de Frankenstein com o Ataque dos Tomates Assassinos com um cientista maluco que afirma ter deformado um homem por lhe proporcionar quatro horas seguidas de orgasmo. O nome do episódio? "As descobertas e pesquisas científicas sobre sexo são confiáveis?"). Mas nenhum episódio consegue ser mais Woody Allen do que o espermatozóide que enfrenta dilemas existenciais no capítulo "O que acontece durante a ejaculação?". Entre piadas sobre diafragmas e outros desperdícios seminais, Allen se dá ao luxo de colocar Burt Reynolds como um mero operário cerebral. Apesar da despretensão, Allen tem a preocupação de criar atmosferas bastante específicas para cada episódio, ao ponto da história do médico (Gene Wilder, numa atuação estranhamente convincente) que se apaixona por uma ovelha parecer séria demais. Para fazer o filme ele contou com um bando de atores dispostos a se divertir em serviço. Acho que este é o filme do cineasta em que fica mais evidente seu gosto pelo improviso e a ausência de ensaios - e como sempre alguns se beneficiam deste método (como o próprio Allen e Lynn Redgrave) e outros não conseguem desfarçar o desconforto (como Burt Reynolds). Com a única pretensão de fazer rir com suas esquisitices originais, o filme pode até não responder tudo o que você queria saber sobre sexo mas vai lhe garantir uma hora e meia de boas risadas. 
  
Tudo o que você sempre quis saber sobre sexo (mas tinha medo de perguntar) (Everything you always wanted to know about sex - but were afraid to ask/EUA-1972) de Woody Allen com Woody Allen, Lynn Redgrave, Gene Wilder, Burt Reynolds e John Carradine.

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