sexta-feira, 2 de setembro de 2011

DVD: Reencontrando a Felicidade


Kidman e Eckardt: a ausência como um tijolo no bolso.

A carreira de Nicole Kidman não andave bem. Desde que ganhou o Oscar por As Horas (2002) não emplacava um sucesso de bilheteria. Embora colecionasse bons trabalhos com diretores importantes como Lars Von Trier e Noah Baumbach, a maioria das pessoas preferia perceber os efeitos do botox em seus rosto do que sua atuação. Nicole chegou a falar em aposentadoria quando Austrália (2009) de Baz Luhrman naufragou nas bilheterias. Mas para tudo se tem um jeito. Reencontrando a Felicidade é uma espécie de tiro de misericórdia da atriz. Ela comprou os direitos da premiada peça Rabbit Hole e convidou John Cameron Mitchel para dirigir - com clara intenção de colocá-la novamente no páreo das premições (fora isso deixou de realizar as injeções de botox para evitar os sinais do tempo em sua face). O resultado é que depois de longo e tenebroso inverno, Kidman ficou novamente no páreo das principais premiações do ano (incluindo Oscar e Globo de Ouro), colhendo elogios de público e crítica. Nicole ainda foi responsável pela produção do filme (que custou 10 milhões de dólares, um valor considerável para revitalizar uma carreira) e o resultado é um filme simples, que não utiliza recursos baratos para envolver o público. Tudo no filme é direto, sem frescuras e absurdamente honesto. Nicole encarna Becca, uma mãe que sofre há oito meses com a morte de seu filho de quatro anos. Em busca de cicatrizar as feridas, Becca escolhe o caminho de apagar de sua frente qualquer vestígio que lembre o filho falecido. Seu esposo Howie (Aaron Eckardt, em mais um bom momento) opta por um caminho diferente, assiste a vídeos do filho e mantém o quarto dele intocado. O mais interessante do filme é justamente mostrar o período em que a vida deste casal tenta entrar nos eixos, quando decidem se desfazer das roupas do filho que perderam ou quando mostram o quarto do menino aos possíveis compradores da casa. Cada detalhe da casa parece emanar uma lembrança, cada frase ou olhar de quem se aproxima despertar memórias, todo este material resulta em atuações belíssimas. Outro diferencial do filme é a busca por conexões desse casal com o mundo, Howie começa a se envolver com uma parceira de grupo de auto-ajuda (Sandra Oh) enquanto Becca começa a ver nos encontros com o adolescente que vitimou seu filho (Miles Teller que parece anestesiado por boa parte do filme, mas até que funciona dentro da proposta de Mitchell) como uma espécie de terapia. Bons diálogos, ótimas atuações (incluindo Diane Wiest como a mãe de Becca), cortes precisos, trilha sonora perfeita e direção surpreendentemente contida de Mitchell (responsável pelo musical drag Hedwig/2001 e o erótico-cabeça Shortbus/2006) rendem momentos memoráveis como o momento em que Becca descobre que o filho faleceu (a cena se concentra somente em closes nas expressões de Kidman e Teller). É desta emoção arrebatadora, embora contida, que Reencontrando a Felicidade emana sua força narrativa de forma adulta e convincente.  Bem vinda de volta, Nic!

Reencontrando a Felicidade (Habbit Hole/EUA-2010) de John Cameron Mitchell, com Nicole Kidman, Aaron Eckardt, Miles Teller, Dianne Wiest e Sandra Oh.  

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