sábado, 30 de abril de 2011

DVD: Escritor Fantasma


McGregor: Um escritor em apuros políticos.  

Um longa-metragem de Roman Polanski é mais do que um filme, trata-se de um evento! E apesar de todo seu prestígio sempre rendem comparações com sua vida pessoal (foi assim com o assassinato de sua esposa Sharon Tate e O Bebê de Rosemary/1968 , com seu passado em campo de concentração e O Pianista/2002 e até sua relação com uma mulher décadas mais jovem e Lua de Fel/1992). Isto ficou ainda mais forte com a prisão do diretor sobre aquela confusão na década de 1970 nos EUA com uma garota menor de idade e o lançamento de O Escritor Fantasma, que ganha um aspecto ainda mais interessante quando nos damos conta que trata de um sujeito que procura escrever num ambiente quase carcerário e que é prejudicado por aspectos do passado. Deu para perceber Polanski  se bifurcar na trama?  O filme começa com o corpo de um escritor encontrado numa praia, o morto estava trabalhando na escrita das memórias do ex-primeiro ministro britânico Adam Lang (o irlandês Pierce Brosnan, que tenta se levar a sério ficando mais pançudo que nunca). Com sua morte, a editora acaba contratanto um ghost writer (Ewan McGregor que chegou a concorrer a alguns prêmios europeus por sua atuação) que terá a tarefa inglória de transformar o texto do primeiro ministro em algo digno de publicação sem ter seu nome divulgado. Desde o início ele percebe que se meteu numa encrenca, afinal, ao ser contratado já é assaltado levando um murro na cara. Logo, o cara é levado para uma casa no litoral para escrever ao lado dos assessores do ministro num regime cheio de restrições e controle - afinal de contas, já pensou no tipo de coisa que pode ter ali. Obviamente que o ministro quer ocultar seu lado obscuro e dar um trato mais romântico ao que a vida se encarregou de transformar em manchas supeitas (sua carreira como ator, sua entrada no partido, suas relações com o governo americano, seus crimes de guerra...). Polanski sabe lidar com esta estranha bolha em que insere o escritor. A casa luxuosa fica cada vez mais opressora e fria durante a sessão, não só pela decoração e tonalidades da fotografia, mas também pelas autações. Brosnan até que consegue criar um tipo escorregadio, mas o destaque vai mesmo para as mulheres que vivem ali. Um é a secretária do ministro vivida por Kim Cattrall - isso mesmo, a loura mais atirada de Sex & the City prova que tem mais do que porte para bancar a perua da série, contruindo uma mulher que transpira competência, talvez por isso consiga ser gélida e atraente na mesma proporção. A outra figura  feminina que chama a atenção é a esposa do ministro vivida por Olivia Williams, visivelmente tensa, ela parece muito mais preocupada com o rumo da situação de seu esposo do que ele próprio. Essas peças em cena alimenta o tom claustrofóbico que cresce até o aparecimento de um escândalo envolvendo tortura de terroristas. Curiosamente é neste pedaço que o filme perde o ritmo, caminhando cada vez mais para o óbvio em situações que parecem soltas na narrativa. Desde o início percebemos que é um filme de suspense comum, mas com a direção competente de seu diretor (que foi premiado em Veneza pelo trabalho). Mas se existe algo que deixou o filme muito abaixo das expectativas é sua horrenda edição. Em busca de dar agilidade à narrativa o resultado por vezes parece uma colcha de retalhos deixando a incômoda sensação de que o filme não respira, não deixa tempo para o expectador pensar sobre o que está vendo.  O filme não fez o sucesso esperado, mas quem se importa? São cenas geniais como a do bilhete percorrendo de mão em mão e a última cena com as folhas voando ao vento que fazem com que sempre esperemos a nova obra de Polanski (no caso, Carnage que conta com Jodie Foster, Kate Winslet, Christoph Waltz e John C. Reilly no elenco).

O Escritor Fantasma (The Ghost Writer/ França, Alemanha, Reino Unido - 2010) de Roman Polanski, com Ewan McGregor, Pierce Brosnan, Olivia Williams, Kim Catral, James Belushi e Timothy Hutton. ☻☻☻

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