terça-feira, 19 de abril de 2011

CATÁLOGO: Além da Linha Vermelha

Sean Penn: A guerra poética de Terrence Malick. 

Terrence Malick é um diretor que por si só me chama a atenção. Pra começar é um diretor veterano conhecido pelo seu perfeccionismo e obstinação em tirar o papel os projetos que muitos diretores fugiriam sem pensar duas vezes. Talvez por isso, apesar de seus 42 anos de carreira, o cineasta tenha apenas cinco filmes no currículo (e já estou incluindo aí o aguardado A Árvore da Vida com Brad Pitt e Sean Penn, que promete começar sua carreira com chave de ouro em Cannes deste ano). Depois de um longo hiato em sua carreira (Terra de Ninguém é de 1973, Cinzas do Paraíso é de 1978 e vinte anos depois...) ele dirigiu Além da Linha Vermelha, um verdadeiro mamute de três horas de duração baseado numa obra que muitos consideravam inadaptável pela dezena  de personagens da narrativa de tom intimista. Ao ser lançado o filme foi indicado a Oscars importantes (filme, direção, roteiro adaptado entre outros) mas acabou ofuscado por outras obras que abordavam a guerra de forma mais frenética (O Resgate do Soldado Ryan) ou até cômica (A Vida é Bela). O Fato é que Além da Linha Vermelha é o filme de guerra mais poético que já vi. Longe da grandiloquência narrativa de Apocalypse Now (1979) ou do apelo pop de Platoon (1986), o filme abraça sem pudores o tom intimista da obra literária de James Jones, sendo assim capricha nos longos silêncios e lentos movimentos de câmera ao abordar os apuros de um grupo de fuzilieiros  em guerra no ano de 1942 num arquipélago do Oceano Pacífico na batalha de Gualdacanal. Ao invés de mostrar heróis, o filme prefere mostrar homens que temem o que está para vir, se angustiam com o que o destino lhes reserva e questionam o emaranhado de contradições que a guerra anuncia. Esta visão particular da guerra prefere expor menos sangue e explosões e mais a questão moral que os soldados vivenciam num campo de batalha. O elenco do filme impressiona, nomes como Nick Nolte, John Travolta, John Cusack e George Clooney aparecem em pequenas participações enquanto o centro da narrativa é a trajetória do soldado vivido por Jim Caviezel. Caviezel interpreta o soldado de sorriso bondoso que em meio aos horrores da guerra começa a questionar as motivações de toda aquela barbaridade. Emerge da atuação de Caviezel  o tom pacifista que parece ser a alma do interesse de Malick pela obra. Entre mortos e feridos, o diretor capricha no contraste daquela selvageria com as paisagens capturadas em belísssima fotografia (cortesia do indicado ao Oscar John Toll) que nos faz sentir pequenos diante de todo aquele azul e verde em contraste com tantos conflitos e aparentes diferenças com o inimigo. A contemplação que o diretor nos propões preenche os silêncios com nossas próprias reflexões diante de medos e inseguranças sobre a morte e os preconceitos num mundo que pertence a todos nós. Além de todo esse contexto, Malick ainda merece congratulações por virar do avesso as convenções do cinema americano sobre os filmes do gênero (muitos deles presentes em O Resgate do Soldao Ryan de Spielberg, que acabou levando o Oscar de direção daquele ano) e nos apresentar uma das sequências finais mais tristes e belas dos filmes de guerra. Depois do Urso de Ouro de Melhor Filme em Berlim/1999 por Além da Linha Vermelha, o diretor fez O Novo Mundo (2005) que recebeu pouca repercussão entre público e crítica, mas Mallick é um diretor que mesmo quando erra merece nossa atenção. 

Além da Linha Vermelha (Thin Red Line/EUA-1998) de Terrence Malick com Jim Caviezel, Sean Penn, Nick Nolte, Ben Chaplin, Woody Harrelson, Adrien Brody, John Cusack, Jared Leto, Woody Harrelson, Nick Stahl e John Travolta. ☻☻☻☻

2 comentários:

  1. Assisti(tentei,dada toda a tietagem)mas realmente esse passa longe doque conheço por cinema.Cinema ainda é ,como vc mesmo diz a obra prima na forma mais frenética de O resgate do soldado Ryan(impecável).Além da linha vermelha é um daqueles filmes que dá sono,arrastado e com certeza dormiria se tivesse assistido no cinema,mas como vi em casa apenas retirei do aparelho...lembrando deste,estou até com medo de assistir A árvore da vida...esse diretor?!mas vamos lá,espero queimar a língua e o filme seja bom....

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  2. Devo confessar que minha reação não foi muito diferente da sua quando vi o filme pela primeira vez, mas quando o assisti pela segunda vez, eu o admirei muito mais. Sei que é um filme de ritmo diferente ao que estamos acostumados, mas acho que vale pela experiência sensorial que experimentamos. Eu ainda não assisti Árvore da Vida, mas sei que está dividindo opiniões.

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