terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

FILMED+: Cisne Negro

Natalie: Odile contempla sua Nina.

Darren Aronofsky parecia mais controlado nos últimos anos, chegou a dizer em entrevistas que não se vê mais como o diretor de Pi (1998) e Réquiem para um sonho (2000). Então, Cisne Negro deve ser uma recaída - já que guarda semelhanças fortes com estes longas. De Pi herdou o mergulho na loucura de uma pessoa determinada em alcançar seus objetivos, de Réquiem Para um Sonho absorve a atmosfera pesadelesca (incluindo o breakfast de ovo cozido e meia laranja). Ao contrário destes filmes, Cisne Negro se tornou um sucesso nos cinemas americanos (custou 13 milhões e já deve ter passado de 100 milhões de bilheteria, ou seja, um dos mais lucrativos filmes do ano) o que não é pouco para um filme que não ameniza as coisas para o espectador comum, sendo extremamente dark, incômodo e metafórico. Darren sempre ressalta que havia combinado com seu roteirista que fariam dois filmes irmãos, um sobre luta livre (e o resultado foi O Lutador (em sua leitura da forma mais baixa de arte) e outro sobre balé (visto como a forma mais elevada de arte). Em ambos ressalta o sangue, o suor e as lágrimas de seus personagens. Se em O Lutador o protagonista procura a leveza perdida de sua vida, em Cisne Negro a protagonista busca o oposto. Nina (Natalie Portman, favorita ao Oscar de atriz, ganhadora do Globo de Ouro, prêmios de crítica e sindicatos) é a jovem bailarina tecnicamente perfeita que está prestes a ter a chance de sua carreira ao ser escolhida para protagonizar O Lago dos Cisnes. O problema é se ela não consegue dar conta dos lados opostos de suas personagens, é tão pueril como o Odete, o cisne branco, e nada parecida com o luxuriante, sedutor e arriscado lado oposto, Odile - o Cisne Negro. O exigente diretor da companhia, Thomas (Vincent Cassel) a instiga a explorar seu lado mais sombrio através do sexo, o problema é que o nível de estresse de Nina cresce cada vez mais, sobre os indícios de que a loucura se aproxima. Nesse processo o sangue é uma constante em seus devaneios (fico pensando no vermelho simbolizando o desejo que tenta sair, mas ela sempre procura contê-lo, limpá-lo em troca de ser cada vez mais sufocada). Piora ainda mais o fato de Nina viver com sua mãe (Bárbara Hershsey, atriz que admiro muito e que anda cada vez mais sumida), bailarina frustrada e super controladora (o que sugere até suspeita de surtos anteriores de Nina). A jovem bailarina ainda tem que lidar com seu lado obscuro encarnado em uma novata, Lilly (Mila Kunis, que numa espécie de pegadinha foi premiada em Veneza no lugar de Portman) que pode tomar seu lugar no espetáculo caso Nina não supere as limitações. A jornada de Nina rumo à face de sua personalidade que não quer abraçar é o pretexto para Aronofsky misturar realidade e delírio, vida e arte  numa narrativa que funde a sua protagonista à trama de Lago dos Cisnes e o resultado é impressionante. Muitos críticos gostam de ressaltar as semelhanças do filme com clássicos de Roman Polanski (Repulsa ao Sexo/1965) e David Cronenberg (A Mosca/1986), mas o diretor diz mesmo que esse é seu filme de Lobisomen! Talvez por isso, apesar do elenco anabolizado, as maiores glórias recaiam sobre Natalie Portman  que explora todas as faces de sua personagem, da angústia dos ensaios pela busca da perfeição passando pelos momentos em que seu cisne negro se anuncia e lhe invade sem pudores (numa cena orgásmica primorosa - e não estou me referindo à cena com Kunis, mas quando... coloca as asinhas de fora...) matando a inocência que ainda existia diante de uma platéia impressionada. Essa pérola dramática com toques de horror está indicada a cinco categorias para o Oscar: filme, direção, atriz (Portman), edição e fotografia. Faltou a indicação ao roteiro – metaforicamente enriquecido pela participação de Winona Rider como a ex-primeira bailarina da companhia. A atriz que já foi uma das boas moças de Hollywood enfrentou problemas psicológicos e ainda luta para mostrar que é mais do que um cisne negro liberto. São todas essas leituras que elevam a maturidade de Darren Aronofsky a um dos melhores filmes da temporada.   

Cisne Negro (Black Swan/EUA-2010) de Darren Aronofsky com Natalie Portman, Mila Kunis, Vincent Cassel e Barbara Hershey. ☻☻☻☻☻

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