terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

CATÁLOGO: Milk


Franco e Penn: atuações formam o centro de Milk.

Gus Van Sant havia saído de filmes árduamente autorais (Elefante/2003, Os Últimos Dias/2005 e Paranoid Park/2007) quando foi convidado a dirigir a cinebiografia do primeiro político assumidamente gay dos Estados Unidos. Milk doi um desses filmes que demora para sair do papel, onde diretores (Oliver Stone, David Fincher...) e atores (Robin Williams, Richard Gere, Daniel Day Lewis, James Woods...). Bastou Van Sant entrar no projeto e fechar o elenco para que o filme fosse rapidamente colocado entre possíveis concorrentes ao Oscar anos atrás - e realmente conseguiu preciosas indicações ao contar uma história real que fala mais sobre política do que a maioria dos espectadores poderiam supor. Harvey Milk (Sean Penn, que pelo papel ganhou seu segundo Oscar) era um homossexual de São Francisco que no final da década de 1970 resolveu fazer a diferença e concorrer a uma vaga como membro da câmara de supervisores (equivalente aos vereadores) de São Francisco. Harvey havia se mudado para a cidade com seu companheiro Scott Smith (um ótimo James Franco que mostrava estar disposto a ter papéis melhores no cinema) após deixar Nova York e acabou se tornando um dos articuladores de um grupo de homossexuais que lutavam contra a homofobia local, especialmente a praticada por policiais.  As ações de Milk e seus amigos acabam transformando o bairro do Castro em uma fonte de referência para as minorias políticas. Gus Van Sant conta a trajetória política do personagem a partir deste momento, explorando seus esforços para alcançar uma votação expressiva, além de conseguir apoio para a campanha e para seus projetos na câmara. Penn desaparece no papel e entrega uma atuação sincera de um sujeito que consegue enxergar além do seu tempo. Seu desempenho nos faz entender como um político lutando a favor dos direito dos homossexuais conseguiu apoio até de conservadores da época (como o aspirante à presidência Ronald Reagan). Van Sant, homossexual assumido, aposta numa linguagem nada panfletária, construindo um filme político com poucas ousadias (uns beijinhos aqui, umas cenas de nu ali...) em uma narrativa sem grandes sobressaltos e que se concentra especialmente sobre seu personagem e o embate com a sociedade da época. Esse embate aparece especialmente na relação de Harvey com dois personagens, o namorado Smith (que não aguenta o novo ritmo da vida de Milk) e Dan White (Josh Brolin, indicado ao Oscar de coadjuvante). Era um conselheiro colega de Milk que tenta esconcer seus ressentimentos debaixo de uma casca conservadoramente polida e que ao fim mostra-se o maior algoz de Milk - e acabou se tornando um dos homens mais odiados da história americana. Amparado na história (que todo mundo conhece) e nas atuações (o elenco ainda conta com Emile Hirsch, Allison Pill, Joseph Cross e Diego Luna - este sendo o pior do elenco), Van Sant não cria malabarismos de câmera ou invencionices narrativas e talvez por isso mesmo seu filme tenha agradado e faturado o Oscar de ator (Penn) e roteiro (Dustin Lance Black).

MILK - A voz da igualdade (Milk/EUA-2008) de Gus Van Sant com Sean Penn, Josh Brolin, James Franco e Joseph Cross. ☻☻☻

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