quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

CATÁLOGO: Eu Amo Huckabees


Huckabees: Schwartzman e Law resolvendo crise existencial no braço.

Lembro quando David O. Russel surgiu no cinema independente com Procurando Encrenca (1996) uma comédia que fez sucesso no verão americano com a história de um homem (Ben Stiller) que procurava seus pais biológicos ao lado da esposa (Patricia Arquette) enquanto lidava com a própria paternidade. Achei que a trama exibia um gosto pelo existencialimo naquele diretor estreante. Depois Russel fez um filme de guerra protagonizado por George Clooney e Mark Wahlberg (que desde então se tornou uma espécie de fetiche do diretor) chamado Três Reis (1999) que dissipou o gosto do primeiro filme com a polêmica de uma bala perfurando o corpo de um cadáver. Uma bobagem que acabou esquecida perante os méritos da abordagem diferente da guerra do golfo. Anos depois eu não esperava que o diretor fizesse uma comédia tão esquisita quanto Eu Amo Huckabees que saiu direto em DVD por aqui mesmo tendo um elenco de primeira. Huckabees abraça o existencialismo de forma confusa numa trama que mistura do consumismo à psicanálise. Albert Markovski (Jason Schwartzman, primo de Sofia Coppola e queridinho dos indies) é um jovem poeta cheio de ansiedades e que é alvo de estudos de um casal de investigadores existencialistas (!?) interpretados por Lily Tomlin e Dustin Hoffman. A dupla tenta fazer com que o jovem descubra seu verdadeiro eu para que possa se relacionar melhor consigo mesmo e com o mundo. Seguindo preceitos transcendentais eles esperam fazer com que o rapaz resolva suas angústias.  Em meio ao tratamento, Albert acaba conhecendo uma psicanalista francesa (Isabelle Hupert, numa atuação esquisitamente sexy) que segue uma linha diferente de tratamento - regado à liberação sexual e niilismo. Parece confuso? Mas eu ainda nem falei que Albert descobre um parentesco espiritual com um bombeiro fortão (Mark Wahlberg) que acaba se envolvendo com a garota propaganda (Naomi Watts) que namora com um executivo da empresa (Jude Law) que é o total oposto de Albert. Este executivo jovem, belo e bem sucedido irá mergulhar em crise semelhante ao de Markovski ainda que por caminhos opostos. David O. Russel parece ter ficado tão fascinado com os filmes roteirizados por Charlie Kauffman que resolveu criar um genérico do roteiro de Adaptação (2002) e Quero ser John Malkovich (1999), afinal seus personagens abusam da crise existencial e da busca por novos rumos a partir de experiências pouco ortodoxas. É desta mistura que brota a originalidade do filme, mas ao mesmo tempo torna a trama repetitiva com conceitos ligados ao existencialismo, à metafísica, ao destino, à filosofia, à psicanálise, ao absurdismo (é isso mesmo...) e o que mais passar na sua cabeça quando assistir ao filme que parece se mover de nó em nó até o final simples para uma produção tão pretensiosamente elaborada. Talvez depois de tanta confusão o diretor tenha aceitado o convite de dirigir O Vencedor a pedido de Wahlberg (eu disse que era um fetiche) e que valeu à Russel a primeira indicação ao Oscar de direção.

Eu Amo Huckabees (I love Huckabees/EUA-2004) de David O. Russel com Jason Schwartzman, Jude Law, Naomi Watts, Isabelle Hupert, Mark Wahlberg, Lilly Tomlin e Dustin Hoffman. ☻☻

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