domingo, 27 de fevereiro de 2011

OS APRESENTADORES DO OSCAR 2011

Não é novidade nenhuma que a Academia investiu num casal para apresentar a cerimônia deste ano. James Franco e Anne Hathaway são os encarregados de conduzir as horas de apresentação desta noite. Franco está indicado ao Oscar deste ano na categoria de melhor ator por conta de sua magistral atuação em 127 Horas e o convite parece um pouco de pedido de desculpas caso perca a estatueta. Já Hathaway pensava que sua atuação no desengonçado Amor e Outras Drogas porderia lhe render uma segunda indicação, bem, não foi dessa vez. Ela terá que se contentar com as indicações que o péssimo Alice no País das Maravilhas de Tim Burton em categorias técnicas. Anne tem uma indicação ao Oscar por sua excelente atuação em O Casamento de Rachel (2008) de Johnatan Demme - e poderia ter ganho se não tivesse Kate Winslet (O Leitor) em seu caminho.

GANHADORES DO FRAMBOESA DE OURO 2011


O pior do ano: Os poderes de Shyamalan acabaram?

Como de praxe, todo ano os ganhadores do Framboesa de Ouro são divulgados no sábado na véspera do Oscar. Sei que a premiação é uma grande avacalhação em cima dos filmes que recebem destaque na mídia com campanhas de marketing poderosas, astros em evidência e no fim das contas tudo que você pensa é que quer o dinheiro de volta (inclusive os produtores querem isso). Bom que neste ano eu descobri que outras pessoas acham os filmes de Sex & The City uma total perda de tempo. Além disso o Framboesa de Ouro ainda serve para dar uns toques em quem precisa repensar a carreira na telona (como Jéssica Alba que se esforçou tanto que conseguiu o prêmio de pior coadjuvante por TODAS as suas atuações no ano. Enfim, uma estrela!). A seguir os perdedores, digo, os vencedores:

Pior filme: O Último Mestre do Ar

Pior ator: Ashton Kutcher (Par perfeito / Idas e vindas do amor)

Pior atriz:  Sarah Jessica Parker, Kim Cattrall, Kristin Davis e Cynthia Nixon (Sex and the city 2)

Pior ator coadjuvante: Jackson Rathbone  (O último mestre do ar / A saga Crepúsculo: Eclipse)

Pior atriz coadjuvante: Jessica Alba (The killer inside me / Machete / Idas e vindas do amor / Entrando numa fria maior ainda com a família)

Pior diretor:  M. Night Shyamalan (O último mestre do ar)

Pior roteiro: O último mestre do ar

Pior casal ou elenco:  Sex and the City 2 (Todo elenco)

Pior sequência, versão ou paródia: Sex and the City 2

Pior uso de 3D: O último mestre do ar

INDEPENDENT SPIRIT AWARDS - 2011

Cisne Negro: O melhor filme independente de 2010.

Nesta véspera de Oscar o Independent Spirit Award resolveu divulgar os seus ganhadores. O Grande vencedor foi Cisne Negro, que levou para casa quatro prêmios. O curioso é que no fim das contas quatro dos indicados ao prêmio do cinema independente também estão entre os concorrentes ao Oscar de Melhor Filme (se Greenberg estivesse entre os indicados ao Oscar eu ia ter urticárias infeccionadas até o ano que vem!!!). Vale ressaltar que o Discurso do Rei ganhou o prêmio de filme estrangeiro e o ganhador na categoria documentário está entre os indicados ao Oscar - e com a expectativa do misterioso diretor (Bansky aparecer na festa. Os marketeiros do Oscar não tem mais o que inventar: Rede Social x Discurso do Rei, Melissa Leo x Hailee Steinfeld, Annete Benning x Portman, Banksy x Trabalho interno, Javier Bardem x Bullying...) . Enfim, vamos aos ganhadores:

MELHOR FILME

127 Horas
Inverno da Alma
Greenberg
Minhas Mães e Meu Pai
Cisne Negro

MELHOR DIRETOR
Darren Aronofsky (Cisne Negro)
Danny Boyle (127 Horas)
Lisa Cholodenko (Minhas Mães e Meu Pai)
Debra Granik (Inverno da Alma)
John Cameron Mitchell (Rabbit Hole)

MELHOR ATOR
Aaron Eckhart (Rabbit Hole)
James Franco (127 Horas)
Ronald Bronstein (Daddy Longlegs)
John C. Riley (Cyrus)
Ben Stiller (Greenberg)

MELHOR ATRIZ
Natalie Portman (Cisne Negro)
Nicole Kidman (Rabbit Hole)
Annette Bening (Minhas Mães e Meu Pai)
Greta Gerwig (Greenberg)
Jennifer Lawrence (Inverno da Alma)
Michelle Williams (Blue Valentine)

ATOR COADJUVANTE
John Hawkes (Inverno da Alma)
Bill Murray (Get Low)
Jon Ortiz (Jack Goes Boating)
Samuel L. Jackson (Destinos Ligados)
Mark Ruffalo (Minhas Mães e Meu Pai)

ATRIZ COADJUVANTE
Ashley Bell (O Último Exorcismo)
Dale Dickey (Inverno da Alma)
Allison Janney (A Vida Durante a Guerra)
Daphne Rubin-Vega (Jack Goes Boating)
Naomi Watts (Destinos Ligados)

ROTEIRO
Minhas Mães e Meu Pai 
Inverno da Alma
Sentimento de Culpa
Rabbit Hole
A Vida Durante a Guerra

FILME DE ESTREIA
Everything Strange and New
Get Low
Night Catches Us
O Último Exorcismo
Tiny Furniture

ROTEIRO DE ESTREIA
Obselidia
Lovely, Still
Tiny Furniture
Jack Goes Boating
Monogamy

FILME ESTRANGEIRO
O Discurso do Rei
Tio Boonmee, que Pode Recordar Suas Vidas Passadas
Mademoiselle Chambon
Kisses
Of Gods and Men

MELHOR DOCUMENTÁRIO
Exit Through the Gift Shop
Marwencol
Restrepo
Sweetgrass
Thunder Soul

FOTOGRAFIA
Never Let Me Go
Cisne Negro
Tiny Furniture
Inverno da Alma
Greenberg

sábado, 26 de fevereiro de 2011

PALPITES PARA O OSCAR 2011


Os dez na mira do Oscar: Já escolheu o seu favorito?

Amanhã é o dia da entrega do Oscar e a festa costuma ser bem menos acalorada do que as discussões e especulações com os amigos sobre quem vai levar o que! Quem diria que quando A Rede Social achava que não havia ninguém no seu caminho o redondinho O Discurso do Rei e faria os acadêmicos voltarem suas atenções para uma produção que remete aos ganhadores de décadas atrás. E Melissa Leo? Será que sua crise de vaidade feminina vai render o Oscar para uma moleca de quatorze anos? Pura maldade! Será que os votos se dividiram entre as duas e Helena Bonhan Carter ao ponto de Amy Adams finalmente vingar uma indicação? A Academia vai finalmente dar um Oscar para Anette Benning em sua quarta tentativa e desvalorizar a estupenda atuação de Natalie Portman em Cisne Negro? E James Franco, será apenas o apresentador da noite (ao lado de Anne Hathaway) ou pode levar o prêmio de ator para casa por carregar 127 Horas nas costas? Enfim, entre as novidades do ano está a volta dos números musicais (ah, vai, senti a maior falta deles no ano passado. São bons nem que seja para falar mal... rs) e do polido The Oscar Goes To... aqui vão as minhas apostas para este ano (o que não significa que a maioria deles sejam meus favoritos):

FILME A Rede Social

DIRETOR David Fincher (A Rede Social)

ATOR Colin Firth (O Discurso do Rei)

ATRIZ Natalie Portman (Cisne Negro)

ATOR COADJUVANTE Christian Bale (O Vencedor)

ATRIZ COADJUVANTE Melissa Leo (O Vencedor)

ROTEIRO ORIGINAL A Origem

ROTEIRO ADAPTADO A Rede Social

EFEITOS ESPECIAIS A Origem

EDIÇÃO A Rede Social

FOTOGRAFIA O Discurso do Rei

DIREÇÃO DE ARTE Alice no País das Maravilhas

FIGURINO O Discurso do Rei

MAQUIAGEM O Lobisomen

TRILHA SONORA A Origem

CANÇÃO ORIGINAL We Belong Together (Toy Story 3)

MIXAGEM DE SOM A Origem

EDIÇÃO DE SOM A Origem

FILME DE ANIMAÇÃO Toy Story 3

DOCUMENTÁRIO Trabalho Interno

FILME ESTRANGEIRO Biutiful

CURTA-METRAGEM ANIMAÇÃO Day & Night

CURTA-METRAGEM FICÇÃO Wish 143

CURTA-METRAGEM DOCUMENTAL Sun Come Up

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

INDICADOS AO OSCAR 2011: MELHOR FILME

BRAVURA INDÔMITA (10 indicações) Acho que nem os irmãos Coen inaginavam que ao toparem refilmar o clássico de John Wayne alcançariam seu maior sucesso de bilheteria. A saga de vingança da adolescente (Hailee Steinfeld) auxiliada por um beberrão caolho (Jeff Bridges) conquistou o público - que deixou nos cofrinhos cinematográficos uma bilheteria mais de 164 milhões de dólares. O filme concorre ainda aos prêmios de direção (Joel & Ethan Coen, uma rara indicação dupla na categoria), ator (Bridges), atriz coadjuvante (Hailee Steinfeld), roteiro adaptado, fotografia, figurino, direção de arte, edição de som, mixagem de som. Porém, o filme tem fortes chances somente na categoria atriz coadjuvante.

CISNE NEGRO (5 indicações) O otimismo em torno do novo filme de Darren Aronofsky começou assim que deu os primeiros passos na produção. Espécie de irmão gêmeo bivitelino de O Lutador (reparou as tomadas que seguem a protagonista como se ela fosse entrar num ringue?), o filme acompanha todo o sangue, suor e lágrimas de uma jovem bailarina (Natalie Portman) perfeccionista que surta ao ter de lidar com seu lado sombrio na montagem perante os ensaios de Lago dos Cisnes. O mergulho tenso na atmosfera criada pelo filme fez com que arrecadasse mais de cem milhões de dólares só nos EUA, um sucesso inesperado para uma produção sombria que custou treze milhões (difíceis de serem arrecadados pelo diretor). O filme está ainda no páreo de melhor direção, atriz (Portman a favorita na categoria), edição e fotografia.

127 HORAS (6 indicações) Dois anos depois de levar para a casa o Oscar de Melhor Filme (com Quem quer ser um Milionário?), Danny Boyle volta ao páreo na categoria mais cobiçada pela trama real do jovem sedento de aventura (James Franco, muito elogiado) que por um acidente acaba com o braço preso debaixo de uma rocha - permanecendo isolado do resto do mundo. Ninguém sabia do seu paradeiro, ele não levou celular e sozinho consigo mesmo teve de lutar para sobreviver (chegando a beber a própria urina) e decidir o que fazer. Precisa dizer como o cara saiu dessa enrascada? Pelo exercício realista (e angustiante) o filme conseguiu espaço ainda nas categorias de ator (Franco), roteiro adaptado, edição, melhor canção e trilha sonora. O filme tem fortes chances na categoria de melhor canção (If I Rise  de A.R. Rahan, na voz de Dido).

O DISCURSO DO REI (12 indicações) Aos poucos essa produção britânica foi ganhando força e se tornando o grande rival de A Rede Social. Tom Hooper investe numa narrativa clássica para abordar a gagueira do rei George VI (Colin Firth) e seu tratamento (que fala mais sobre criar uma postura de liderança do que falar corretamente). Na reta final o filme começou a gerar críticas sobre a memória seletiva do roteiro para não abordar algumas manchas na trajetória de vossa majestade. Será que as qualidades redondinhas do filme serão abaladas por isso? O filme já levou o BAFTA, alguns prêmios de sindicatos e foi o mais indicado deste ano - sendo lembrado ainda nas categorias de direção, ator (Firth), ator coadjuvante (Geofrey Rush), atriz coadjuvante (Helena Bonhan Carter), roteiro original, direção de arte, fotografia, figurinos, edição, trilha sonora e mixagem de som. Tendo como certa a vitória de Colin Firth como melhor ator.

INVERNO DA ALMA (4 indicações) O filme de é um drama simples e correto que ganhou respeito assim que foi exibido no Festival de Sundance do ano passado. O filme conta a trajetória da jovem Ree (Jennifer Lawrence), uma jovem que tem que cuidar da família desde cedo e que resolve descobrir o paradeiro de seu pai traficante. Pelo clima opressor das paisagens e dos personagens desagradáveis (que parece ter inspiração no cinema noir) a diretora Debra Granik conseguiu agradar a Academia que lhe garantiu mais três lembranças entre os melhores do ano: atriz (Jennifer Lawrence, o aspecto mais elogiado do filme), ator coadjuvante (John Hawkes) e roteiro adaptado. Apesar dos elogios o filme deve sair sem ganhar prêmio algum.



MINHAS MÃES E MEU PAI (4 indicações) Nada mais justo que quando o Oscar dobrasse seus candidatos na categoria principal, existisse o dobro de filmes indies entre eles. Minhas Mães e Meu Pai foi exibido em Sundance no início do ano e traz o olhar da diretora Olga Cholodenko sobre as famílias modernas. O filme acompanha o momento em que os filhos do casal lésbico Nic (Annette Benning) e Jules (Julianne Moore) descobrem seu pai biológico. A presença paterna neste clã moderno irá gerar mudanças consideráveis na vida desta família. O filme já levou o Globo de Ouro de melhor comédia/musical e de melhor atriz comédia/musical (Benning) mas não teve forças para emplacar a merecida indicação de Moore ao Oscar. Além da categoria de melhor filme, o longa está concorrendo ao prêmio de atriz (Benning, a verdadeira ameaça à Natalie Portman na categoria), ator coadjuvante (Mark Rufallo) e roteiro original.

A ORIGEM (8 indicações) O melhor filme de 2010 acabou ficando de fora da categoria direção, o que compromete sua vitória nesta aqui. A Origem é mais uma obra-prima de Christopher Nolan, uma fantasia de cores realistas que acompanha um grupo de pessoas capazes de invadir sonhos alheios para roubar informações confidenciais ou inserir ideias. Entre citações de filmes (de Titanic à Piaf), Nolan contrói um filme onde sonho, realidade, memórias e medos se misturam com perfeição e deixa o público atento por mais de duas horas de projeção. Num ano de filmes pouco inventivos, A Origem mostrou que ser original ainda garante sucesso de bilheteria. Esta pérola da sétima arte deve levar para a casa os prêmios de roteiro adaptado (e limpar a barra da Academia com Chris Nolan), efeitos especiais e trilha original. Além dessas categorias o filme concorre nas categorias direção de arte, fotografia, edição de som, mixagem de som.

A REDE SOCIAL (8 indicações) O filme de David Fincher conta a história da criação do Facebook como uma anedota moderna sobre as relações no mundo contemporâneo - onde mantemos contato com as pessoas através de uma tela de computador e deixamos de nos relacionar com as que estão próximas de nós. Mas afinal de contas, o que é se relacionar? O que significa ser amigo? O que é fazer parte de uma rede social com mil amigos virtuais? Essas questões aparecem a partir da trajetória do gênio nerd Mark Zuckerberg (Jesse Eisenberg) e seu amigo brasileiro Eduardo Saverin (Andrew Garfield, um dos grandes esquecidos pela Academia). O filme era o favorito até que O Discurso do Rei foi ganhando força nos prêmios dos sindicatos e no BAFTA, mas esse embate só vai aumentar a expectativa para a premiação. O filme ainda concorre nas categorias de direção, ator (Eisenberg), trilha sonora, fotografia, edição, mixagem de som, sendo praticamente imbatível somente na categoria de roteiro adaptado.

TOY STORY 3 (5 indicações) Sucesso mundial, passando do bilhão de dólares em bilheteria, o filme encerra com chave de ouro a história dos brinquedos do menino Andy sem medo de ser sombrio ou mais dramático que os anteriores (cortesia do diretor Lee Unkrich). O mais interessante é como o filme abraça o maior medo que os brinquedos tem desde o primeiro filme: serem descartados. Andy agora vai para a faculdade e seus brinquedos acabam indo por engano para uma creche onde são dominados por um urso de pelúcia cheio de ressentimentos. O cowboy Woody (Tom Hanks, em seu melhor filme em muito tempo) e o astronauta Buzz Lightyear (Tim Allen), embarcam em mais esta aventura com clima de despedida. O filme ainda concorre nas categorias roteiro adaptado, canção original (We belong together de Randy Newman) e deve levar, pelo menos, a de melhor animação.

O VENCEDOR (7 indicações) O filme de sarjeta sobre um boxeador (Mark Wahlberg) em busca da fama e  seu relacionamento com a mãe dominadora (Melissa Leo), o irmão viciado (Christian Bale) e o amor de sua vida (Amy Adams) faz cada vez mais sucesso.  Embora eu ache que filmes de boxe são todos parecidos, este aqui tem seus méritos - especialmente no elenco que faz de tudo para a coisa não descambar para o melodrama. O filme era o favorito na categoria de atriz coadjuvante até aquela malfadada campanha autônoma de Melissa Leo na reta final - mesmo assim sua atuação permanece sendo irrepreensível (o que lhe valeu o Globo de Ouro de coadjuvante), assim como a de sua colega de elenco (e concorrente ao prêmio de coadjuvante) Amy Adams que pode surpreender. Chritian Bale ainda tem chances na categoria de coadjuvante (pela qual já levou no Globo de Ouro). O filme ainda concorre nas categorias direção (David O. Russel), edição e roteiro original. 

O ESQUECIDO: ILHA DO MEDO (00 indicações) Diz a lenda que o filme de Martin Scorsese não foi lançado ao final de 2009 para não ficar à sombra de Avatar, por conta disso estreou no Festival de Berlim, dividiu a crítica, se tornou o maior sucesso de bilheteria do diretor e foi totalmente esnobado no Oscar. Será que a estratégia de lançá-lo ao início do ano foi realmente boa? Considero que o filme merecia pelo menos umas cinco indicações - e deveria levar a de trilha sonora, por mais que eu goste de A Origem. Acho que até DiCaprio merecia uma indicação ao Oscar de ator, especialmente pelos momentos finais de seu personagem: um detetive que vai parar numa ilha hospício e que parece enlouquecer aos poucos. Dizer mais que isso estraga. Nada foi lembrado, dos figurinos à fotografia passando pela edição e o elenco (onde até o menor papel não faria feio entre as indicações de coadjuvante). Tudo bem que o filme não é perfeito, mas é melhor do que pelo menos uns três concorrentes desta categoria.   

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

CATÁLOGO: Eu Amo Huckabees


Huckabees: Schwartzman e Law resolvendo crise existencial no braço.

Lembro quando David O. Russel surgiu no cinema independente com Procurando Encrenca (1996) uma comédia que fez sucesso no verão americano com a história de um homem (Ben Stiller) que procurava seus pais biológicos ao lado da esposa (Patricia Arquette) enquanto lidava com a própria paternidade. Achei que a trama exibia um gosto pelo existencialimo naquele diretor estreante. Depois Russel fez um filme de guerra protagonizado por George Clooney e Mark Wahlberg (que desde então se tornou uma espécie de fetiche do diretor) chamado Três Reis (1999) que dissipou o gosto do primeiro filme com a polêmica de uma bala perfurando o corpo de um cadáver. Uma bobagem que acabou esquecida perante os méritos da abordagem diferente da guerra do golfo. Anos depois eu não esperava que o diretor fizesse uma comédia tão esquisita quanto Eu Amo Huckabees que saiu direto em DVD por aqui mesmo tendo um elenco de primeira. Huckabees abraça o existencialismo de forma confusa numa trama que mistura do consumismo à psicanálise. Albert Markovski (Jason Schwartzman, primo de Sofia Coppola e queridinho dos indies) é um jovem poeta cheio de ansiedades e que é alvo de estudos de um casal de investigadores existencialistas (!?) interpretados por Lily Tomlin e Dustin Hoffman. A dupla tenta fazer com que o jovem descubra seu verdadeiro eu para que possa se relacionar melhor consigo mesmo e com o mundo. Seguindo preceitos transcendentais eles esperam fazer com que o rapaz resolva suas angústias.  Em meio ao tratamento, Albert acaba conhecendo uma psicanalista francesa (Isabelle Hupert, numa atuação esquisitamente sexy) que segue uma linha diferente de tratamento - regado à liberação sexual e niilismo. Parece confuso? Mas eu ainda nem falei que Albert descobre um parentesco espiritual com um bombeiro fortão (Mark Wahlberg) que acaba se envolvendo com a garota propaganda (Naomi Watts) que namora com um executivo da empresa (Jude Law) que é o total oposto de Albert. Este executivo jovem, belo e bem sucedido irá mergulhar em crise semelhante ao de Markovski ainda que por caminhos opostos. David O. Russel parece ter ficado tão fascinado com os filmes roteirizados por Charlie Kauffman que resolveu criar um genérico do roteiro de Adaptação (2002) e Quero ser John Malkovich (1999), afinal seus personagens abusam da crise existencial e da busca por novos rumos a partir de experiências pouco ortodoxas. É desta mistura que brota a originalidade do filme, mas ao mesmo tempo torna a trama repetitiva com conceitos ligados ao existencialismo, à metafísica, ao destino, à filosofia, à psicanálise, ao absurdismo (é isso mesmo...) e o que mais passar na sua cabeça quando assistir ao filme que parece se mover de nó em nó até o final simples para uma produção tão pretensiosamente elaborada. Talvez depois de tanta confusão o diretor tenha aceitado o convite de dirigir O Vencedor a pedido de Wahlberg (eu disse que era um fetiche) e que valeu à Russel a primeira indicação ao Oscar de direção.

Eu Amo Huckabees (I love Huckabees/EUA-2004) de David O. Russel com Jason Schwartzman, Jude Law, Naomi Watts, Isabelle Hupert, Mark Wahlberg, Lilly Tomlin e Dustin Hoffman. ☻☻

FILMED+: Clube da Luta

Pitt e Norton: delírios, pancadas, terrorismo e sabonete.

Há uns três filmes que David Fincher parece disposto a ser reconhecido como um cineasta maduro e acho difícil que ele perca o Oscar de direção neste ano. Seu perfeccionismo ficou mais polido e as invencionices visuais parecem estar se aposentando (em A Rede Social por exemplo só identifiquei esse Fincher irriquieto quando um personagem joga uma cerveja contra a câmera como se fossemos um personagem num filme 3D). Nada que desmereça o trabalho do diretor, que ainda sente atração pelo lado soturno do ser humano, só que agora procura desvendá-lo de forma mais sutil. A Rede Social parece estar há léguas de distância de Clube da Luta, a  grande ousadia do diretor que rendeu tantas polêmicas que acabou ofuscando a alegoria que viamos na tela.  Apesar dos truques visuais e da agressividade, o filme retrata com perfeição o vazio do homem moderno que tenta preencher com o consumo um vazio existencial que cedo ou tarde gera violência. Na época muitos compararam a jornada do personagem sem nome de Edward Norton e o insano fabricante de sabonete Tyler Durden (Brad Pitt em sua segunda parceria com Fincher e num papel que só se valorizou com o tempo) como a versão masculina de Thelma & Louise (1991). Salvo as devidas diferenças estilísticas os dois tem realmente muito em comum - e não me refiro à presença de Pitt. Enquanto no filme de Ridley Scott as duas amigas apontavam o revólver para a estrutura machista das relações sociais, Durden & Cia preferem distribuir murros entre si como uma forma de se sentirem vivos. Norton interpreta com maestria (acho que esse foi seu último papel realmente bom, já que desde então tem se dedicado a produções que o tratam como se fosse um ator menor do que realmente é) um sujeito que trabalha para uma companhia não identificada que investiga problemas em carros com defeito de fabricação. Voando por aí de um lado para o outro ele não consegue dormir devido ao fuso horário e outros problemas emocionais que não podem ser sanados com seu apartamento de mobília cara. O cara acaba procurando refúgio em grupos de auto-ajuda onde cancerosos, tuberculosos ou vítimas de outras enfermidades costumam desabafar suas angústias. Entre suas viagens acaba conhecendo Tyler Durden e nos conhece Marla (Helena Bonhan Carter) uma maluquete que acabará se envolvendo com os dois amigos, ou... quase. Enquanto o protagonista mergulha em seu vazio existencial acaba fundando com Tyler o clube do título, onde um bando de marmanjos irão se encontrar para trocar socos para sairem da inércia de seus cotidianos medíocres. Enquanto trocam sopapos entre si não existe problema nenhum, o pior é quando o clube se amplia e as posturas terroristas começam a aparecer - ao ponto de gerar um plano capaz de criar um colapso econômico de escala mundial. Fincher conduz o público num mergulho frenético num roteiro que bebe diretamente na escrita agressiva e esquizofrênica de Chuck Pahlaniuk e para isso não poupa delírios visuais (o apartamento mostrado como catálogo, a caverna gélida habitada por Marla, o acidente de avião, o interior e Norton desembocando numa arma...) mostrados com um humor negro que tempera o filme em seus momentos de angústia e suspense. Visto hoje, Clube da Luta parece ter gasto todo o repertório de Fincher em malabarismos visuais. O diretor permanece arrojado visualmente, só que de forma infinitamente mais comportada. Se Clube da Luta foi lembrado no Oscar numa módica indicação ao prêmio de efeito sonoro, a guinada na carreira de David Fincher pode lhe dar o Oscar de direção (e muitos outros) no próximo domingo. 

CLUBE DA LUTA (Fight Club/EUA-1999) de David Fincher com Edward Norton, Brad Pitt, Helena Bonhan Carter, Jared Leto e Meat Loaf. ☻☻☻☻☻

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

INDICADOS AO OSCAR 2011: DIRETOR

DARREN ARONOFSKY (Cisne Negro) Estreante nas indicações ao Oscar, Darren Aronofsky (na foto ao lado de Natalie Portman) merecia uma indicação desde o seu segundo filme, o assustador Réquiem para um Sonho (2000). O filme exigia estômago forte da platéia e talvez por isso a indicação quase veio em seu filme mais brando, O Lutador (2006). Mesmo assim Darren só foi lembrado na categoria diretor com o equilíbrio alcançado em Cisne Negro. Uma fábula de tom realista que utiliza muito da trama do Lago dos Cisnes. O sucesso mundial do filme demonstra que Darren finalmente conseguiu realizar um pesadelo que pode ser desvendado pelo grande público (mas que já deliciava seus fãs desde 1998 com a estréia de Pi), com as angústias de uma bailarina perfeccionista tentando sufocar seu incontrolável lado obscuro o diretor misturou realidade, loucura e fantasia.  A coisa deu tão certo que o diretor foi escalado para dirigir a nova aventura do mutante Wolverine.

DAVID FINCHER (A Rede Social) David Fincher recebeu sua primeira indicação ao Oscar em por O Curioso Caso de Benjamin Button (2008). O diretor é famoso pelo seu perfeccionismo exagerado ao ponto de inchar orçamentos e prolongar as filmagens ao limite do insuportável para seu elenco. Só para se ter uma ideia o diálogo inicial de A Rede Social foi repetida mais de oitenta vezes. O perfeccionismo de David (o grisalho da foto ao lado) está impresso em cada segundo de Social Network, desde os enquadramentos, passando pelas atuações e terminando nos efeitos especiais que nem são notados. Na sua jornada até o Oscar o diretor já levou para a casa inúmeros prêmios de associações de críticos e o Globo de Ouro. No entanto nesta alegoria de Fincher sobre as relações contemporâneas temos cada vez mais a impressão de que amadurecer como diretor significou se distanciar da ousadia impressa em obras como Se7en (1995), Clube da Luta (1999) e em sua carreira nos video clipes. Mesmo assim ainda é o favorito da categoria.

DAVID O. RUSSEL (O Vencedor) Filmes de boxe costumam ser todos iguais, mas Russel provou que se pode dar um toque mais pessoal a esse tipo de filme. Quem conhece o trabalho do diretor teria dificuldade em imaginá-lo a frente de uma obra dessas - basta conferir seus filmes anteriores como a comédia Procurando Encrenca (1996), Três Reis (1999) e Eu Amo Huckabees (2004) para perceber que O Vencedor é sua obra mais comportada. Russel acabou dirigindo o filme por acaso, já que o concorrente Darren Aronofsky era a primeira opção para o filme, mas acabou dirigindo outro filme sobre luta (O Lutador) e preferiu ficar só na produção deste aqui. A maior tarefa de Russel era não deixar a história real do boxeador Micky Ward e seus agregados problemáticos descambasse para o melodrama. As indicações para todo seu elenco principal para o Globo de Ouro - e quase todo ele ao Oscar (ficou de fora Mark Wahlberg que aparece na foto ao lado do diretor) - mostra que Russel é mais do que um diretor de estripulias narrativas. 

JOEL & ETHAN COEN (Bravura Indômita) Entre os indicados são os manos que mais possuem indicações e Oscars na estante. Ano passado eles estavam no páreo de roteiro original e melhor filme por Um Homem Sério (2009), mas antes já haviam ganho as estatuetas de roteiro adaptado, direção e filme por Onde Os Fracos não Tem Vez (2007) e de roteiro original pela obra-prima Fargo (1996). Joel & Ethan  (na foto com Jeff Bridges ao centro) se sairam muito bem na tarefa perigosa de dar nova vida a um clássico do faroeste e não perderam a mão no humor negro ou na agressividade que lhe são peculiares numa trama de vingança. Embora não sejam os favoritos, a indicação comprova que a dupla pioneira do cinema indie nos EUA estão com um fã clube cada vez maior na Academia - o que acaba se refletindo no apelo perante o público, já que Bravura Indômita é o maior sucesso de bilheteria da carreira dos caras.

TOM HOOPER (O Discurso do Rei) Totalmente desconhecido e praticamente estreante na direção de longas para o cinema, Hooper ganhava a vida dirigindo produções para a TV britânica e deu uma sorte danada quando Geofrey Rush o convidou para tocar este filme sobre o tratamento contra a gagueira a que se submenteu o rei George VI. Hooper (na foto, entre Rush e Colin Firth) faz um filme redondinho, daquele tipo em que a vitória seria certa no Oscar anos atrás, mas como os tempos mudaram ele tem uma tarefa difícil pela frente se quiser ser premiado entre a concorrência mais famosa e consagrada. No entanto, a sintonia com que Hooper conduz seu elenco multifacetado faz com que ele tenha grandes chances na disputa pelo careca dourado deste ano. 

O ESQUECIDO:
CHRISTOPHER NOLAN (A Origem) Chega a ser um crime deixar de indicar Nolan (na foto ao lado de Leonardo DiCaprio) ao Oscar deste ano - ainda mais depois do desprezo já recebido por sua direção em O Cavaleiro das Trevas (2008). Nolan criou o melhor filme de 2010, um espetáculo para os olhos e para o cérebro que costura referências e sonhos com uma energia invejável. Nolan demorou dez anos para escrever o roteiro original de A Origem e deve levar o Oscar da categoria para casa na intenção de diminuir o mico da Academia ao ignorar um dos cineastas mais inventivos em atividade. Antes desta indicação, Nolan já havia concorrido ao Oscar de roteiro adaptado ao lado do irmão Johnatan Nolan por Amnésia (2000). Afinal de contas, quais foram os doidos que imaginaram que o mais original dos dez indicados ao Oscar de melhor filme se fez sozinho?  

CATÁLOGO: Milk


Franco e Penn: atuações formam o centro de Milk.

Gus Van Sant havia saído de filmes árduamente autorais (Elefante/2003, Os Últimos Dias/2005 e Paranoid Park/2007) quando foi convidado a dirigir a cinebiografia do primeiro político assumidamente gay dos Estados Unidos. Milk doi um desses filmes que demora para sair do papel, onde diretores (Oliver Stone, David Fincher...) e atores (Robin Williams, Richard Gere, Daniel Day Lewis, James Woods...). Bastou Van Sant entrar no projeto e fechar o elenco para que o filme fosse rapidamente colocado entre possíveis concorrentes ao Oscar anos atrás - e realmente conseguiu preciosas indicações ao contar uma história real que fala mais sobre política do que a maioria dos espectadores poderiam supor. Harvey Milk (Sean Penn, que pelo papel ganhou seu segundo Oscar) era um homossexual de São Francisco que no final da década de 1970 resolveu fazer a diferença e concorrer a uma vaga como membro da câmara de supervisores (equivalente aos vereadores) de São Francisco. Harvey havia se mudado para a cidade com seu companheiro Scott Smith (um ótimo James Franco que mostrava estar disposto a ter papéis melhores no cinema) após deixar Nova York e acabou se tornando um dos articuladores de um grupo de homossexuais que lutavam contra a homofobia local, especialmente a praticada por policiais.  As ações de Milk e seus amigos acabam transformando o bairro do Castro em uma fonte de referência para as minorias políticas. Gus Van Sant conta a trajetória política do personagem a partir deste momento, explorando seus esforços para alcançar uma votação expressiva, além de conseguir apoio para a campanha e para seus projetos na câmara. Penn desaparece no papel e entrega uma atuação sincera de um sujeito que consegue enxergar além do seu tempo. Seu desempenho nos faz entender como um político lutando a favor dos direito dos homossexuais conseguiu apoio até de conservadores da época (como o aspirante à presidência Ronald Reagan). Van Sant, homossexual assumido, aposta numa linguagem nada panfletária, construindo um filme político com poucas ousadias (uns beijinhos aqui, umas cenas de nu ali...) em uma narrativa sem grandes sobressaltos e que se concentra especialmente sobre seu personagem e o embate com a sociedade da época. Esse embate aparece especialmente na relação de Harvey com dois personagens, o namorado Smith (que não aguenta o novo ritmo da vida de Milk) e Dan White (Josh Brolin, indicado ao Oscar de coadjuvante). Era um conselheiro colega de Milk que tenta esconcer seus ressentimentos debaixo de uma casca conservadoramente polida e que ao fim mostra-se o maior algoz de Milk - e acabou se tornando um dos homens mais odiados da história americana. Amparado na história (que todo mundo conhece) e nas atuações (o elenco ainda conta com Emile Hirsch, Allison Pill, Joseph Cross e Diego Luna - este sendo o pior do elenco), Van Sant não cria malabarismos de câmera ou invencionices narrativas e talvez por isso mesmo seu filme tenha agradado e faturado o Oscar de ator (Penn) e roteiro (Dustin Lance Black).

MILK - A voz da igualdade (Milk/EUA-2008) de Gus Van Sant com Sean Penn, Josh Brolin, James Franco e Joseph Cross. ☻☻☻

Na Tela: Bravura Indômita


Hailee Steinfeld: Bravura Indômita juvenil rumo ao Oscar

Os manos Joel e Ethan Coen sempre deixaram bem claro que o Bravura Indômita que estavam preparando era menos um remake do clássico que oscarizou John Wayne em 1970, e mais uma adaptação fiel do livro de Charles Portis que deu origem ao filme. Enquanto público e crítica mantinham a pulga atrás da orelha, os caras fizeram seu filminho tanquilamente até que chegou às telas no final de 2010. O sucesso alcançado (mais de cem milhões de bilheteria em pouco mais de um mês em cartaz) e os elogios da crítica o colocaram entre um dos maiores sucessos do ano e fez (assim como Cisne Negro) os estúdios repensarem a prática de guardar seus melhores filmes até o fim do ano enquanto por dez meses as telas são dominadas por produções bobas que vão mal das pernas. Quem viu o Bravura Indômita de Henry Hathaway aponta que a maior diferença é trato que os diretores dão à menina Mattie Ross (Hailee Steinfeld, indicada ao Oscar de coadjuvante) que na adaptação anterior era mostrada com mais doçura enquanto neste é ela que parece dar o título ao filme. Mattie quer se vingar do bandido (Josh Brolin, em mais uma parceria bem sucedida com os Coen) que matou seu pai, para isso contrata um xerife caolho e beberrão (Jeff Bridges, indicado ao Oscar de ator) para ajudar na empreitada e conta ainda (involutariamente) com um ranger cheio de si vivido por Matt Damon. Os três vão se estranhar durante o início da sessão, mas depois vão amadurecer a relação enquanto parceiros na caçada pelo mesmo homem. Se os Coen já mostravam seu interesse pelo faroeste em Onde os Fracos Não tem Vez (2007) que rendeu quatro Oscars para eles, aqui eles abraçam o gênero com todo o charme que pode proporcionar: homens maus, mulheres que não tem medo de cara feia, índios feitos de chacota e duelos onde a defesa da honra é o combustível – só que misturam todas essas características ao humor peculiar que lhe rederam indicação ao Oscar de filme e roteiro original no ano passado com Um Homem Sério (2009). Sendo assim, não se contentam em ter um Jeff Bridges confortável no papel de beberrão Rooster Cogburn, eles fazem verdadeira chacota com o personagem, não deixando dúvidas de que a bravura do título pertence à menina Mattie Ross e sua determinação de matar o assassino de seu pai. Neste ponto está a parte mais elogiada do filme, a atuação da menina (ela tinha treze anos na época das filmagens) Hailee Steinfeld vinda de comerciais para a Tv. Devo admitir que a atuação da garota é boa, mas no papel ela consegue ser apenas correta fazendo exatamente o que esperamos dela. Não considero justo que derrote suas concorrentes à estatueta por ser ainda uma adolescente que age como uma adulta diante das câmeras. Mas isso não vai estragar a sessão para quem curte o gênero, ainda mais com os belos momentos finais onde Mattie paga o preço caro por amadurecer tão depressa. A obra mais acessível dos Coen, além das indicações de Jeff e Hailee, concorre a outras oito categorias no Oscar deste ano: filme, direção, roteiro adaptado, direção de arte, fotografia, figurino, edição de som e mixagem de som.

Bravura Indômita (True Grit/EUA-2010) de Ethan e Joel Coen com Jeff Bridges, Hailee Steinfeld, Matt Damon e Barry Pepper. ☻☻☻

sábado, 19 de fevereiro de 2011

GANHADORES DO FESTIVAL DE BERLIM - 2011

Nader and Simin: vitória inédita do Irã.

O Festival de Berlim em sua 61ª edição resolveu premiar pela primeira vez um filme iraniano, no caso, Nader and Simin de Asghar Farhadi. E haja prêmio, já que além do Urso de Ouro de Melhor Filme ainda todo o elenco dividiu o prêmio nas categorias de melhora ator e atriz do Festival. a seguir todos os premiados:

Urso de Ouro de Melhor filme: Nader and Simin - a separation de Asghar Farhadi (Irã)
Urso de Prata, grande prêmio do júri: O Cavalo de Turim de Béla Tarr (Hungria)
Urso de Prata de melhor diretor: A Doença do Sono de Ulrich Kohler (Alemanha)
Urso de Prata de melhor atriz: elenco feminino de Nader and Simin - a Separation
Urso de Prata de Melhor ator: elenco masculino de Nader and Simin - a Separation
Urso de Prata de Melhor Contribuição artística: Woyciek Staron, na câmera, e Bárbara Enríquez, em desing da produção, no filme El premio de Paula Markovitch (Argentina, México, França, Polônia e Alemanha)
Urso de Prata de melhor roteiro: Joshua Marton e Andamion Murataj por The Forgiveness Of Blood (EUA, Albânia, Dinamarca, Itália)
Prêmio Alfred Bauer ao filme mais inovador: If Not Us, Who de Andres Veiel (Alemanha)
Prêmio de melhor primeiro filme: On the Ice de Andrew Okpeaha MacLean (EUA)
Urso de Ouro de melhor curta-metragem: Night Fishing de Park Chan-wook e Park Chan-kyong (Coreia do Sul)

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Pôster sobre os indicados ao Oscar

Jeff Leinenveber criou 10 símbolos que representam para cada indicado ao Oscar 2011 ao prêmio de Melhor filme. Você seria capaz de identificar os dez indicados? Lembrando que são eles: O Vencedor, A Origem, A Rede Social, Inverno da Alma, Minhas Mães e Meu Pai, 127 Horas, Toy Story 3, Cisne Negro, Bravura Indômita e O Discurso do Rei.  


quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

CATÁLOGO: Onde os Fracos não Tem Vez

Javier: Cabelo esquisito que vale um Oscar.

Onde os Fracos Não Tem Vez é o filme mais esquisito que lembro de ter ganho o Oscar. Tudo bem que ele  não é surreal ou de história mirabolante, mas não lembro de uma narrativa tão seca e repleta de violência ter recebido tanta consideração da Academia. Vocês podem até lembrar de Os Infiltrados(2006) no ano anterior, mas o filme de Scorsese tinha trilha sonora e um certo humor irônico que os manos Coen não se preocupam em exibir nessa jornada de crimes adaptada da obra premiada de Cormac McCarthy. A ideia do filme é simples: um homem comum (Josh Brolin, num desempenho que merecia atenção nas premiações) encontra uma mala cheia de dinheiro (dois milhões de dólares, para ser exato) e precisa fugir com ela já que a encontrou na cena de um crime - a grana pertence a um bando de traficantes. Para piorar a narrativa aponta para o momento em que o caminho deste homem comum irá se cruzar com o de um psicopata que se diverte matando um por um do elenco. Todo mundo sabe do domínio cênico que os Coen possuem e neste filme não é diferente, eles conseguem construir uma atmosfera opressora com poucos diálogos e sem trilha sonora mas de um efeito dramático impressionante. Claro que o elenco ajuda muito, já que além de Brolin eles contam com Tommy Lee Jones, Woody Harrelson, Kelly MacDonald (que além de impressionar sendo inglesa e interpretando uma texana, ganhou de presente a melhor cena do filme ao lado do assassino), no entanto, os maiores louros do elenco foram para Javier Bardem como o assassino de cabelo esquisito e mil e uma habilidades na hora de matar. Para muita gente pode parece uma matança sem sentido, mas os Coen tentam mostrar que a violência nunca tem sentido mesmo e cresce sem parar deixando até os mais vividos assustados (e esse é o foco do xerife vivido por Lee Jones). Os Coen capricham nas cenas e no suspense, mas o filme está longe de ter aquele trato no roteiro que nos deu ao mundo pérolas como Fargo (1996) e Gosto de Sangue (1984). Apesar de autoral e apresentado como um faroeste contemporâneo o filme não teria o mesmo sentido se o assassino Anton Chigurh não fosse apresentado como um ser totalmente desconectado da humanidade, tendo uma frieza inexpressível que assusta mais do que a própria violência que pratica.  Apesar de ser fã dos Coen considero um grande exagero o filme ter ganho quatro estatuetas no Oscar: Filme, direção, ator coadjuvante (Javier) e roteiro adaptado. Mas devo reconhecer que o filme impressiona pela forma com que conta uma história que anda em círculos o tempo inteiro.

Onde os Fracos Não tem Vez (No Country for Old Men/EUA-2007) de Joel & Ethan Coen com Josh Brolin, Kelly MacDonald, Javier Bardem, Tommy Lee Jones e Woody Harrelson. ☻☻☻

CATÁLOGO: Antes do Anoitecer

Bardem: atuação irrepreensível como Reinaldo Arenas

 O diretor Julian Schnabel começou sua carreira como artista plástico. Foi desse mundo que tirou inspiração para o seu primeiro longa-metragem, o cult Basquiat (1996) sobre o pintor protegido de Andy Warhol na década de 1980.  Quatro anos depois, Schnabel alcançou projeção maior com Antes do Anoitecer, uma cinebiografia sobre o poeta cubano Reinaldo Arenas e sua vida difícil com as perseguições no governo castrista. No filme, Arenas sabia de sua homossexualidade desde a infância e Javier Bardem abraça essa característica sem exageros, com uma leveza impressionante e gestos corporais precisos - e até inéditos em sua carreira cinematográfica até então. O filme acompanha a infância pobre de Arenas, seu gosto pela escrita desde menino e sua inadequação a um mundo que está fora do eixo. Adolescente tenta se juntar aos revolucionários de seu país, ironicamento os mesmos que o perseguiria por ser homossexual e Schnabel utiliza um ritmo que beira o documental, utilizando arquivos de imagens sobre a história cubana a fazendo de pano de fundo para a trajetória do escritor. Se o regime ditatorial instaurado pela revolução percebe a escrita como algo ameaçador o que dizer se ela é feita por uma pessoa que foge dos padrões de prazer permitidos? Tudo que foge a ordem, ao senso comum aparece enquanto alvo de perseguição (não precisa nem de denúncias muito elaboradas, basta um ladrãozinho mentir que foi molestado por um cara mais delicado para que uma perseguição preconceituosa seja realizada). Esta atmosfera sufocante do país de Fidel Castro é muito bem apresentada por Schnabel que mostra o quanto os artistas podem ser maltratados num lugar onde as ideias são temidas como armas e ao mesmo tempo do que estes são capazes para divulgar sua obra. Dificilmente o fime teria a força apresentada sem o desempenho colossal de Bardem (premiado em Veneza pelo papel e que quase perde o papel para Benício Del Toro) que abraça as tristezas, as alegrias e os desejos de seu personagem com absurda precisão. Se Schnabel constrói cenas como se estivesse pintando é Bardem (em sua primeira indicação ao Oscar) que serve de inspiração para cada enquadramento - até mesmo para os momentos mais sórdidos de uma trajetória tão bela quanto sofrida. Arenas crescia em reconhecimento mundial à medida que era mais perseguido em seu país e quando as coisas pareciam melhorar se via sem um tostão. O filme não está isento de defeitos, o roteiro faz uma indefensável confusão com a língua adotada, há momentos falados em inglês (ou spanglês) e espanhol sendo visível o incômodo que provoca nos atores. Outro aspecto que incomoda muito é o seu desfecho, que é esticado para além do limite no momento em que Arenas pede para que seu amigo Lázaro (Olivier Martinez, acho que em sua melhor atuação) realize seu último desejo. Detalhes que são até pequenos diante de um filme de grande força narrativa, especialmente pelo respeito com que trata seu protagonista. O filme ainda merece ser conferido pelas participações de Johny Depp (como um travesti e um militar) e Sean Penn (irreconhecível), além de conferir uma das poucas aparições do cineasta Hector Babenco diante das câmeras como um dos mentores artísticos de Arenas.  

Antes do Anoitecer (Before the Night Falls/EUA-2000) de Julian Schnabel com Javier Bardem, Olivier Martinez, Andrea Di Stefano e Johny Depp. ☻☻☻☻

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

INDICADOS AO OSCAR 2011: Melhor Ator

COLIN FIRTH (O Discurso do Rei) Num ano curioso onde todos os outros concorrentes começam com a letra "J", o inglês está disposto a ganhar um prêmio que deveria ter recebido no ano passado por Single Man de Tom Ford. Firth, perdeu o Oscar para o seu (mais uma vez) oponente Jeff Bridges, mas neste ano ele é o favorito pelo papel do rei inglês George VI (o avô do príncipe Charles) que enfrenta problemas graves com a gagueira - o que afeta muito sua credibilidade perante os súditos. Pelo papel Firth já ganhou um punhado de prêmios da crítica (incluindo o Globo de Ouro) e até o BAFTA, dificilmente ele perderá o prêmio pela humana saga  construção de um personagem que costuma ser visto com o distanciamento pela maioria da plebe global. Sem falar que sua derrota no ano passado causou insatisfação em muita gente que deve contemplar sua atuação neste ano mais uma vez. Apesar de ser muito querido entre diretores e atores, o ator ficou famoso quando interpretou o namorado certinho de Bridget Jones, o advogado Mark Darcy.

JAVIER BARDEM (Biutiful) O espanhol já tem um Oscar de coadjuvante na estante por sua atuação em Onde os Fracos não Tem Vez (2007) dos irmãos Coen. A primeira indiação ao Oscar foi em 2001 quando fez o poeta cubano Reinaldo Arenas em Antes do Anoitecer (2001) pelo qual ganhou o prêmio de ator em Veneza. Javier volta a falar espanhol neste dramalhão do diretor Alejandro Gonzalez Iñarritú, que apresenta a vida de Uxbal (Bardem), homem envolvido com imigrantes ilegais e que descobre que está com câncer. Não bastasse isso, Uxbal começa a ter visões com mortos e tenta melhorar sua vida rumo ao fim. O filme está longe de ser uma unanimidade, mas Bardem conseguiu elogios rasgados da crítica desde que o filme foi exibido em Cannes (de onde saiu com o prêmio de ator). Há quem credite parte de sua indicação a um badalado jantar promovido por Julia Roberts que sugeria uma indicação ao esposo de Penélope Cruz, que acabou prejudicado pelo lançamento tardio do filme nos EUA. A esta altura, os personagens garanhões nos filmes do tio Bigas Luna parecem estar cada vez mais distantes.

JAMES FRANCO (127 Horas) Faz um tempinho que James Franco vinha tentando provar que era capaz de ser mais do que coadjuvante. Foi quando vimos o cara em Milk (2008) que notamos que ele estava no ponto para ganhar um filme só dele. Bem, Danny Boyle achou a mesma coisa e chamou o cara para interpretar um dos filmes mais vertiginosos do século XXI. Franco é praticamente o único personagem em cena durante a duração de seu novo filme sobre a história real de Aron Ralston, um alpinista que ficou com o braço preso debaixo de uma pedra pelo tempo do título. A solução encontrada para não morrer? Cortar o próprio braço!! Mas até lá, Boyle e Franco mergulham nas lembranças de Aron. James foi um dos atores mais elogiados do ano por sua interpretãção. E foi até convidado para apresentar a cerimonia do Oscar ao lado de Anne Hathaway. Mesmo que não ganhe, ele nunca mais será lembrado como o amigo rico do Homem Aranha!

JESSE EISENBERG (A Rede Social) Lembro uma vez quando um renomado crítico brasileiro disse que Jesse era um "Michael Cera mais baratinho". Bem, ele terá que rever os seus conceitos. Enquanto Michael Cera esta sempre preso ao mesmo papel, Eisenberg mostra que pode dar conta de personagens mais complexos do que os presentes nas comédias em que costumava fazer. Jesse interpreta o criador do Facebook, Mark Zuckerberg com uma precisão assustadora, tanto no encadeamento das falas quanto no olhar intenso que alterna momentos de frieza e melancolia. Tá pensando que é fácil interpretar o nerd mais bem sucedido dos últimos tempos? Jesse cria um personagem que parece uma versão anabolizada do seu personagem de A Lula e a Baleia (2005). É o mais jovem entre os indicados deste ano (27 anos)

JEFF BRIDGES (Bravura Indômita) Veterano com cinco indicações anteriores ao Oscar (três de melhor ator coadjuvante por A Última Sessão de Cinema/1971, O Último Golpe/1974 e A Conspiração/2000) e duas enquanto melhor ator (Starman/1984 e Coração Louco/2009, pelo qual ganhou o Oscar no ano passado), o filho de Lloyd Bridges conseguiu sua sexta indicação ao prêmio e numa tarefa complicada: repetir o ex-xerife bêbado e caolho na refilmagem de um faroeste clássico que oscarizou John Wayne. O resultado parece ter agradado, já que o filme se tornou sucesso de público e crítica além de promover seu reencontro com os irmãos Coen - com quem fez o hilariante O Grande Lebowski (1998). Mas o fato de Bridges ter ganho o Oscar na última edição acaba trabalhando contra o seu desempenho.  

O ESQUECIDO: ROBERT DUVALL (Get Low) Quando Get Low estreou em meados de 2010 muitos críticos clamaram uma indicação para Duvall por sua brilhante atuação como um caipira recluso que planeja seu próprio funeral. Com tom quase folclórico e com os boatos de que a trama humanista era baseada numa história real, as chances de Duvall foram crescendo, mas ao final do ano foi lembrado apenas em algumas premiações menores. Duvall acabou ficando de fora do Oscar e do Globo de Ouro mesmo que sua atuação seja considerada uma unanimidade entre público e a crítica. Os elogios devem servir de consolo ao veterano que possui um Oscar na estante por sua atuação em A Força do Carinho (1983) e cinco outras indicações ao prêmio (sendo a última por O Apóstolo em 1997). 

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

CATÁLOGO: Obrigado por fumar

Aaron: o mercador da morte mais simpático do mundo.

Parceiro de Nicole Kidman no drama Rabbit Hole e sempre esquecido pela Academia, Aaron Eckhart esteve bem próximo de ser lembrado na categoria de melhor ator quando estrelou o irônico Obrigado por Fumar, o filme que marcou a estreia de Jason Reitman (filho do menos cortejado Ivan Reitman de Os Caça Fantasmas) no cinema. Reitman demonstra um domínio narrativo muito atraente neste filme que é basicamente um tratado sobre a retórica. Tudo bem, podem dizer que se trata sobre os bastidores da indústria do cigarro, de como eles manipulam a mídia, de como faturam milhões espalhando a morte entre a população mundial e blábláblá... mas prefiro pensar que esse é outro filme, no caso o chamado O Informante (1999) de Michael Mann, que é muito bom por sinal e que devo comentar um outro dia, uma outra hora. Obrigado por Fumar é sobre a retórica. Esse jeito de dizer uma coisa com tanta certeza e convicção que consegue convencer todo mundo de que está certo. Na Grécia Antiga, Sócrates morria só de pensar o estrago que os sofistas eram capazes de fazer ao ensinar a retórica aos jovens sem se preocupar com a essência do que estavam dizendo. É isso que Nick Naylor, o protagonista do filme, é: um sofista. Só que muito bem arrumado, com pinta de galã simpático (cortesia de Eckhart) e muito bem remunerado por defender os interesses da indústria do tabaco. O filme acompanha alguns dias na vida deste homem esperto a partir de sua participação num programa de televisão e consegue se sair de uma enrascada ao defender o fumo diante de um adolescente que está morrendo de câncer. A partir daí conhecemos seus chefes na indústria (Robert Duvall e J.K.Simmons, o ator assinatura de Reitman) e seus planos para aumentar o número de fumantes, conhecemos os amigos "mercadores da morte" de Naylor, uma mulher (Maria Bello) responsável pela retórica da bebida alcóolica e um homem (David Koechner) responsável pela retórica armamentista. Ainda tem um senador que está doido para puxar o tapete de Naylor (vivido por Willian H. Macy), uma repórter (Kate Holmes) disposta a tudo para escrever uma matéria bombástica sobre Nick  e o filho de Nick (Cameron Bright).  É o herdeiro de Nick que nos parece guiar na outra direção do que o protagonista faz. Seria muito fácil dizer que o menino serve para mostrar o lado humano do seu progenitor, mas é  algo mais: serve para mostrar o quanto uma argumentação bem construída pode ser eficiente no embate de ideias, onde quem consegue expô-las melhor tem a vantagem. De certa forma é isso que Reitman faz com o espectador, afinal, pela forma como mostra seu personagem, dificilmente não nutrimos simpatia por Naylor, apesar de seu emprego ser execrável. Curioso mesmo é ver outro ponto da trama, a impressão dos rótulos de veneno nos maços de cigarro. Será que é preciso? Será que ninguém sabe que o cigarro causa doenças? Será que ninguém sabe que ele mata? No Brasil com aquelas fotografias de filme de terror nos maços de cigarro dizendo os malefícios do cigarro eu me pergunto até onde a retórica de fumantes e anti-tabagistas pode chegar. Questão de bom senso? Acho que Naylor chamaria isso de outra coisa, principalmente quando começa a defender que o uso de celulares não causa tumores cerebrais. Opa! Essa deu medo... 

Obrigado por Fumar (Thank you for smoking/EUA-2005) de Jason Reitman com Aaron Eckhart, Cameron Bright, J.K.Simmons, Robert Duvall, Willian H. Macy e Maria Bello. ☻☻☻☻

CATÁLOGO: Moulin Rouge


Nicole: ainda melhor sem a sombra de Tom Cruise

Antes de ganhar o Oscar por As Horas, Nicole Kidman foi a favorita ao prêmio de melhor atriz pelo papel da cortesã Satine em Moulin Rouge. Para surpresa de muita gente ela acabou perdendo o prêmio para Halle Berry por A Última Ceia. São papéis tão opostos que chega a ser impossível de compará-los. Não quero tirar os méritos de Halle (a primeira atriz negra a ganhar o Oscar de atriz principal) que pelo papel também foi premiada em Berlim, mas o papel de Nicole serviu para mostrar que a ex-esposa de Tom Cruise era capaz de reluzir feito ouro em pó, mostrando que sabia atuar (sem desafinar entre os arcos dramáticos e cômicos de sua personagem), cantar e dançar como uma verdadeira diva da sétima arte. Depois de Moulin Rouge a carreira de Nicole deu uma guinada realmente impressionante. Para começar os musicais estavam indo de mal a pior em Hollywood, as tentativas de ressuscitar o gênero mostravam-se incapazes de atrair o público e o gênero parecia cada vez mais destinado ao passado. O histérico Baz Luhrman parecia ter feito o impossível quando as primeiras críticas positivas apareceram no Festival de Cannes e se propagaram na medida em que o filme foi exibido pelo mundo. Moulin Rouge pode trazer  a marca de Baz (o estilo visual que beira o cafona, os cortes rápidos e a linguagem metida à moderninha), mas existe uma mágica nas cenas que talvez nem o próprio diretor saiba explicar. Seria difícil atribuir o sucesso do filme à sua trama, já que é chupada do clássico A Dama das Camélias na maior cara de pau. Afinal, conta a história de um jovem escritor em crise criativa que se apaixona por uma cobiçada cortesã que padece de tuberculose, a diferença é que ela trabalha no badalado Moulin Rouge - onde as profissionais dançam o famoso CanCan sem inibição alguma. Baz teve muita inteligência ao escalar Ewan McGregor para viver o escritor Christian (sempre achei que o cara levava o maior jeito para os musicais desde que vi aquela cena cantada com Cameron Diaz em Por uma vida menos ordinária de Danny Boyle nos idos de 1997) e mais sorte ainda (esta de forma descomunal) em escalar Nicole Kidman para ser a musa do cara, a belíssima Satine. Quando Nicole aparece pendurada naquele trapézio, com a pele pálida de porcelana e os cabelos vermelhos o filme alcança outro patamar. Afinal, sabemos que a partir dali irá começar as confusões amorosas entre a bela Satine e Christian, que ainda serão atasanados por um Duque que quer Satine só para ele. Mas se existe um toque de gênio mesmo no filme é a opção por utilizar canções pop contemporâneas sendo entoadas por personagens que vivem em 1899. Sendo assim, canções de Elton John, David Bowie, The Police, Madonna, Queen, The Who e até Whitney Houston são costuradas entre os diálogos de forma irônica (como Jim Broadbent entoando Like a Virgin) ou com o mais profundo lirismo (Your Song com Ewan McGregor tocava direto nas rádios). Porém, o que mais gosto no filme, é como ele muda de tom conforme a tragédia em torno do romance se anuncia. A edição se torna mais concisa, a fotografia fica soturna, o drama enfim se sobrepõe à atmosfera eufórica do filme. Além do sucesso de público o filme foi indicado à oito categorias no Oscar (incluindo filme,atriz e excluindo a de diretor...) mas levou somente duas para casa (direção de arte e figurino), no Globo de Ouro teve mais sorte ganhando os prêmios de filme comédia/musical e atriz comédia/musical. Muitos anunciaram a volta dos musicais com o filme de Luhrman, mas não lembro de ter visto depois outro tão empolgante quanto esse anacrônico exercício do diretor australiano - nem mesmo Chicago (que acabou levando o Oscar de Melhor Filme no ano seguinte, vá entender).

MOULIN ROUGE (EUA-Austrália/2001) de Baz Luhrman com Nicole Kidman, Ewan McGregor, Jim Broadbent, John Leguizamo, Richard Roxburgh e Kylie Minogue. ☻☻☻

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

GANHADORES BAFTA 2011

O Discurso do Rei: Sete prêmios no Oscar britânico. 

Enquanto O Discurso do Rei cresce em favoritismo para o Oscar, ele foi o mais premiado no BAFTA. O que não é nenhuma novidade, já que trata-se de um filme britânico premiado no maior prêmio de cinema... britânico. Será que a Academia fará o mesmo e honrar uma obra de seu país favorecendo A Rede Social? Enfim, vamos aos ganhadores anunciados no último dia 13.

MELHOR FILME: O Discurso do Rei

MELHOR FILME BRITÂNICO: O Discurso do Rei

MELHOR ESTREIA DE UM ARGUMENTISTA, REALIZADOR:  Chris Morris - Four Lions

REALIZADOR: David Fincher - A Rede Social

ATOR:  Colin Firth - O Discurso do Rei

ATRIZ: Natalie Portman - Cisne Negro

ATOR COADJUVANTE: Geoffrey Rush - O Discurso do Rei

ATRIZ COADJUVANTE: Helena Bonham Carter - O Discurso do Rei

ARGUMENTO ORIGINAL: David Seidler - O Discurso do Rei

ARGUMENTO ADAPTADO: Aaron Sorkin - A Rede Social

FILME DE ANIMAÇÃO: Toy Story 3

FILME EM LÍNGUA NÃO INGLESA: The Girl with the Dragon Tattoo

MÚSICA ORIGINAL: Alexandre Desplat - O Discurso do Rei

FOTOGRAFIA: Roger Deakins - Bravura Indômita

MONTAGEM: A Rede Social

DIREÇÃO DE ARTE: A Origem

FIGURINO: Alice no País das Maravilhas

SOM: A Origem

EFEITOS VISUAIS: A Origem

MAQUIAGEM E ADEREÇOS: Alice no País das Maravilhas

CURTA-METRAGEM DE ANIMAÇÃO: The Eagleman Stag

CURTA-METRAGEM: Until the River Runs Red

PRÊMIO ORANGE WEDNESDAY RISING STAR (votado pelo público): Tom Hardy

domingo, 13 de fevereiro de 2011

FILMED+: As Horas

Kidman: Quem tem medo de Virginia Woolf?

Stephen Daldry tinha um único filme no currículo (Billy Elliot/2000) quando resolveu adaptar o premiado romance de Michael Cunninghan, As Horas, que explora variáveis do clássico de Virginia Woolf, Senhora Dalloway. A narrativa revisita a história de uma mulher refinada que esconde suas frustrações preparando uma festa para o marido enquanto cogita o suicídio. Cunninghan pegou esta história e após pesquisas escreveu sobre o processo criativo da escritora no exílio ao lado de seu dedicado esposo Leonard Woolf numa cidadezinha bucólica nos arredores de Londres. O que era para motivar a melhora de sua saúde física e mental aparece como um período angustiante para uma mulher que adorava as festas e a vida frenética da capital inglesa. É nesse período que ela escreve seu livro mais conhecido e que marcou a literatura por se passar num único dia de vida de sua protagonista. Esta fórmula aparece também na obra literária de Cunninghan onde ele acompanha outras duas personagens, uma é Laura Brown e a outra é Clarissa Vaughan. No filme as duas personagens ganharam atuações vigorosas graças aos talentos de Julianne Moore e Meryl Streep, respectivamente, que ao lado de uma surpreendente Nicole Kidman (de nariz postiço para viver Virgina) transformaram o filme numa obra inesquecível. Daldry entrelaça os dilemas das personagens com uma edição perfeita que referencia tanto a obra em que se baseia quando o trabalho de Virginia. Trata-se de uma aula de realismo onde cada pedaço do cotidiano da vida dessas mulheres aparece repleto de significados. Virginia escrevendo serve de narradora para o dia em que Laura Brown (numa atuação fenomenal de Moore indicada ao Oscar de coadjuvante) lê seu livro. Grávida e em crise com o rumo que sua vida tomou, Laura está insatisfeita com o esposo carinhoso (cortesia de John C. Reilly) e o filho adorável (o precoce Jack Rovello). O ponto em que tudo parece desabar é quando sua vizinha Kitty (Toni Collete) irá se submeter a uma perigosa cirurgia no dia do aniversário do esposo de Laura nos idos de 1951. Enquanto isso, o filme também acompanha uma Senhora Dalloway moderna, Clarissa Vaughan (Streep, indicada ao Globo de Ouro pelo papel) uma editora lésbica e que prepara uma festa para comemorar o prêmio que seu ex-namorado soropositivo Richard (Ed Harris indicado ao Oscar de coadjuvante) irá receber por sua obra. Festa que promete trazer à vida alguns fantasmas do passado. Daldry conduz o filme com maestria, tanto que conseguiu sua segunda indicação ao Oscar de direção, um feito e tanto para um filme triste e com personagens de fortes cores homossexuais. O grande mérito do diretor é criar tramas que se complementam, embora ambientadas em tempos diferentes e com uma força narrativa que dá vida própria a cada trecho exibido. Há momentos de pura poesia (o funeral do pássaro, o quarto invadido por água, a carta de Virginia ao seu esposo Leonard, os delírios de Richard, a conversa de Clarissa com a filha, a surpresa sobre o adorável filho de Laura...) e que nos fazem pensar  o quanto as horas de nosso cotidiano nos constitui enquanto seres humanos. Tudo isso com a colaboração do texto muito bem escrito por David Hare (indicado ao Oscar) e que apresenta tudo na hora exata sem perder o fio condutor da narrativa que sustenta até certo suspense em cima de uma história que gira em torno de dois temas árduos (o suicídio e a morte em vida) embalados pela estupenda trilha de Phillip Glass.  Por tantos méritos o filme ganhou trinta prêmios internacionais, entre eles o dividido prêmio de atriz em Berlim (para Nicole, Meryl e Julianne) e o Oscar de atriz (Nicole), pena que perdeu o de filme para o boboca Chicago de Rob Marshall.

AS HORAS (The Hours/EUA-Inglaterra - 2002) de Stephen Daldry com Nicole Kidman, Meryl Streep, Julianne Moore, Alisson Jeaney, Ed Harris, Claire Danes, Stephen Dillane, John C. Reilly, Toni Collete, Jack Rovello, Jeff Daniels e Miranda Richardson. ☻☻☻☻☻

sábado, 12 de fevereiro de 2011

CATÁLOGO: Closer - Perto Demais

Portman e Owen: Coadjuvantes que roubam a cena.

Lembro quando Mais Perto, a premiada peça do dramaturgo Patrick Marber foi montada no Brasil com Renata Sorrah, Marco Ricca, José Mayer e Guta Stresser no elenco arrastando um bando de gente para ver a ciranda amorosa nos palcos. Lembro ainda quando sua versão cinematográfica foi exibida na televisão e uma amiga (que por motivos desconhecidos apenas ouvia o filme) disse que era a maior sacanagem. Bem, ela deveria ver o que Mike Nichols fez com o texto. Em Closer se fala de sexo o tempo inteiro, mas não existe uma única cena do gênero durante o filme. Para compensar, o roteiro amplia o assunto para temas como atração, identidade sexual, depressão, solidão, sedução, divórcio, traição... enfim, assunto é o que não falta nessa visão de Marber sobre as relações contemporâneas. Dan (Jude Law) é um típico homem londrino, meio tímido e reprimido, trabalha num jornal na parte de obituários e sua vida parece finalmente ganhar alguma graça quando ele conhece Alice (Natalie Portman, ganhadora do Globo de Ouro de coadjuvante), uma americana misteriosa e com ares de maluquete que conhece num acidente de trânsito. Dan tem pretensões literárias e se apropria das histórias que Alice lhe conta para escrever um livro chamado O Aquário. O livro é lançado anos depois quando ele conhece Anna (Julia Roberts, num tipo bem diferente das mulheres luminosas que encarna frequentemente), fotógrafa divorciada que conhece ao posar para a capa de seu livro. Dan flerta com Anna, ela o rejeita e Alice percebe que há um clima estranho no ar. Como vingança Dan irá gerar o encontro entre Anna e o dermatologista Larry (Clive Owen, ganhador do Globo de Ouro de coadjuvante). Esses quatro personagens terão seus destinos cruzados por mais alguns anos e surpresas aparecem no caminhar da história de diálogos fortes e bem escritos. O mais curioso da sessão é como Portman e Clive Owen parecem comer o filme pelas beiradas até o momento em que seus personagens explodem ao perceber que seus parceiros vistos de perto são bem menos confiáveis do que pareciam no início. Por suas atuações Owen e Portman colheram merecidas indicações ao Oscar de coadjuvante, mas o mais interessante é notar Julia Roberts dando conta de uma personagem deprimida (massacrada numa cena de tirar o fôlego com Clive Owen) e Jude Law tendo o papel mais feminino da sessão (percebeu como ele convence Larry de que realmente é uma mulher numa sala de bate papo pela internet?). Há quem pense que Closer é um filme sobre intimidade, a forma como a relação próxima pode ser corrosiva para os casais. Eu prefiro imaginar que o filme é sobre a forma como tentamos evitar que as pessoas cheguem próximas ao ponto de nos tocar realmente. Talvez por isso eu ache que o longo diálogo de Alice e Larry na boate de strip-tease seja tão perfeita e simbólica sobre os objetivos do filme. Quando Larry grita "A quem eu tenho que pagar para ter um pouco de contato físico aqui" ele parece reclamar de todas as relações que passaram até então diante da lente astuta de Mike Nichols - que, sem malabarismos, tenta tirar o tom teatral da sessão.

CLOSER - Perto Demais (Closer/EUA-2004) de Mike Nicols com Julia Roberts, Jude Law, Clive Owen e Natalie Portman. ☻☻☻☻ 

FILMED+: Beleza Americana

Spacey e Bening: dupla afiada na magistral estréia de Sam Mendes.

Sam Mendes era um festejado diretor inglês que havia trabalhado com estrelas do porte de Judy Dench e Nicole Kidman. Todos se rasgavam em elogios à sua habilidade em sugar o máximo de seus atores e exibir o que seus personagens escondiam em suas entranhas. Portanto, era inevitável que ele fosse convidado a mostrar todo o seu talento no cinema, ou melhor, em Hollywood. A Dreamworks de Spielberg tinha um roteiro primoroso de Allan Ball nas mãos, mas não fazia a mínima ideia de quem poderia levá-lo para a tela com toda a argúcia necessária. Foi quando surgiu o convite e Mendes percebeu que era capaz de fazer uma obra-prima com aquele material. Beleza Americana é um filme único - e ainda fechou com chave de ouro uma década onde o cinema hollywoodiano flertou com a estrutura narrativa do cinema independente. Na década de 1990, com o fim da Guerra Fria, os cineastas sobrinhos do Tio Sam começaram a voltar-se mais para o próprio umbigo, ou melhor, a explorar o leito familiar dos cidadãos americanos, deste ponto de partida que surgiram obras como Felicidade (1998) de Todd Solondz e Tempestade de Gelo (1997) de Ang Lee - que guardam muitas semelhanças com o tom impresso por Mendes em sua estréia como cineasta. Mas o que faz Beleza Americana ser tão diferente ao ponto de ganhar cinco Oscars (filme, diretor, ator, roteiro original e fotografia)? Primeiramente é sua exuberância visual que se funde magistralmente com o tom robusto da narrativa impressa por Mendes. O filme desonstrói o conforto dos subúrbios americanos a partir da história de Lester Burnham (Kevin Spacey, Oscar de ator) e sua família. Lester é um homem insatisfeito com os rumos de sua vida, com o marasmo do casamento com (a bela, ambiciosa e neurótica) Carolyn Burnham (Annette Bening, ótima e que poderia muito bem ter ganho o Oscar de atriz) que procura expressar todo o sucesso e felicidade que não tem com seu emprego de corretora de imóveis. Lester e Carolyn estão totalmente imersos num mundo de aparências, o mundo do american way of life contemporâneo e em meio a tudo isso acabaram se perdendo das pessoas que gostariam de ser. A vida poderia continuar em sua monotonia se Lester não começasse a se interessar pela amiga adolescente (Mena Suvari) de sua filha (Thora Birch) e começasse a repensar sobre sua vida e voltar exatamente ao ponto onde perdeu o controle sobre ela. Lester logo faz amizade com o novo vizinho (Wes Bentley) que nutre admiração por sua filha e que vende maconha pelo bairro. Este é o ponto de partida para que Mendes passeie pelo interior de seus personagens, expondo insatisfações e contradições de pessoas comuns tentando lidar com as suas vidas que oscilam entre a busca pelo sucesso e a mediocridade. No fim das contas até a senhora Burnham sucumbe ao charme de um concorrente no ramo imobiliário. Apesar do tom cômico em diversas cenas, o filme incomoda  pela forma como critica o culto à aparência que camufla uma solidão dolorosa na essência de suas vidas (por isso a confissão de Suvari ao fim da sessão pode provocar gargalhadas ou a cena da cerveja no sofá oscila entre a comédia e a tragédia). Mendes faz um trabalho excepcional que não incomoda nem ao final de contornos moralistas. Há uma melancolia avassaladora na beleza americana feita para o consumo mundial - e esta se revela uma prisão para muita gente.

BELEZA AMERICANA (American Beauty/EUA-1999) de Sam Mendes com Kevin Spacey, Annette Bening, Thora Birch, Chris Cooper, Wes Bentley, Mena Suvari, Peter Gallagher, Allison Jeaney e Scott Bakula. ☻☻☻☻☻