segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Na tela: A Rede Social

A Rede Social: uma ação entre amigos nas mãos de David Fincher.
David Fincher parece estar alcançando sua maturidade, sempre o criticaram pelo seu estilo arrojado que transbordava de seus filmes desde sua estréia em Alien³ (1992). Em Clube da Luta (1999) ele radicalizou seus conceitos cinematográficos e amargou polêmicas, voltou simplificado em Quarto do Pânico (2000) e se viu cotado para dois filmes que ditariam os rumos de sua carreira. Um era Missão Impossível 3 (o qual desistiu) e o outro era Dália Negra (que perdeu para Brian de Palma). Na ausência desses dois projetos fez Zodíaco (2005), que foi elogiado e desprezado pelo grande público nas mesmas proporções. Em Zodíaco já podíamos perceber uma mudança em Fincher, estava mais controlado, econômico e nisso as atuações se sobressaiam angariando elogios. Depois veio Benjamin Button, sua terceira parceria com Brad Pitt que foi todo indicado ao Oscar, mas acabou ganhando em categorias secundárias. Neste ano Fincher volta ao Oscar como o grande favorito, mas quem acompanha seu trabalho desde o início sabe que alguma coisa mudou, ele não é mais o sujeito visualmente inebriante de outrora.  Em A Rede Social, sua competência de sempre está impressa em cada minuto, na frieza dos ambientes, na precisão das atuações e ritmo vertiginoso que confere a um roteiro sem cenas mirabolantes de ação. A ação está nos diálogos bem lapidados pelo roteirista Aaron Sorkin e na forma como destrincham seus personagens palavrosos. Seria muito reducionista dizer que o filme trata da criação do Facebook, afinal a trama amplia os ingredientes de forma universal através de poucos personagens. No centro de tudo está Mark Zuckerberg (Jesse Eisenberg, numa versão anabolizada de seu personagem de A Lula e a Baleia), um gênio de Harvard que é dispensado pela namorada após cuspir suas chatices em cima dela. Na mesma noite em que é dispensado ele resolve curar suas dores teclando veneno em seu blog na madrugada, não satisfeito resolve espinafrar as garotas criando um site/game chamado Facemash. Por aí podemos perceber que Zuckerberg não é uma pessoa muito bacana. Ressentido, invejoso, ciumento, com a auto-estima abaixo do subsolo e com problemas crônicos de socialização o rapaz irá responder três processos pela sua tática de curar o seu ego: criar um clube onde ele seja o dono. Para ele não interessa a grana, amigos ou inimigos que deixa pelo caminho, o que importa mesmo é sua autoimagem inabalável. Junta-se a essa equação o amigo brasileiro Eduardo Saverin (Andrew Garfield, o novo Spider Man e  cotado para o Oscar de coadjuvante),  que será dispensado logo que possível –, os gêmeos bem nascidos (e – para a fúria de Zuckerberg – atléticos) Cameron e Tyler Winklevoss (Armie Hammer em papel duplo) que criam a ideia inicial do Facebook e o cara do Napster, Sean Parker (ironicamente encarnado por Justin Timberlake, que estraga todas as chances que tem de se tornar uma das peças mais importantes da narrativa. Seu Parker não parece um nerd que codificou a música para os tempos da internet, mas um ídolo pop frustrado). A trama transborda as características abstratas do mundo virtual durante os processos que Mark sofre, afinal a quem pertence uma ideia? O que é ser ético em tempos virtuais? O mais curioso da trama é que quanto mais Zuckerberg amplia sua criação, mais afasta as pessoas pelo qual nutre alguma afeição, esta é a dissonância que serve de alimento para a narrativa da primeira até a genial última cena. O grande trunfo do filme é falar diretamente sobre uma geração que possui muita informação e possibilidades de comunicação, mas que nutre um potencial ao isolamento alimentado pelo individualismo exacerbado. Para alguns pode parecer um filme sobre negócios, para outros uma obra sobre ética, para a grande maioria soa como um filme de tribunal onde o que está em pauta é o rumo que uma geração está tomando diante de novas regras de relacionamento. Baseado no livro “Bilionários por Acaso", acho que interessa menos o que é verdade e mentira na trama, e mais a construção de um anti-herói que emerge de uma sociedade que vê nos outros apenas uma escadaria para elevar o próprio ego.
A Rede Social (The Social Network/EUA-2010) de David Fincher com Jesse Eisenberg, Andrew Garfield, Justin Timberlake, Armie Hammer e Max Minghela. ☻☻☻☻

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