segunda-feira, 15 de novembro de 2010

DVD: As Melhores Coisas do Mundo


Miguez: olhos de Winona Ryder num mundo descartável.

Existe algo de afetivo entre eu e o cinema de Laís Bodanzky, a celebrada diretora de Bicho de 7 Cabeças e que recentemente lançou seu terceiro longa, este As Melhores Coisas do Mundo. Nós estudamos na mesma Universidade e percebo, em seu cinema, muito das discussões que apreendi em minha vida acadêmica. Portanto, mesmo novos e diferentes da maioria da safra nacional, suas obras me trazem algo nostálgico, não no sentido saudosista, mas num sentido (talvez até inexistente para o termo) de oxigenação. As Melhores Coisas do Mundo deve ter feito algum suceso nos cinemas pela participação do filho de Fábio Jr, o "meu primo" Felipe Galvão (mais conhecido como Fiuk) mas o filme tem outros méritos que o fazem merecer ser visto. Pra começar é um raro caso de filme nacional voltado para os adolescentes, para ser mais específico o de classe média - um público ingrato ao cinema, já que prefere ficar em casa pendurado na internet, bater perna no shopping ou aproveitando as maravilhas da TV por assinatura -, talvez por isso a diretora tenha sido muito sábia em universalizar as situações que vemos no roteiro que se desenvolve sem pressa num universo de situações que podem acontecer em qualquer lugar. O protagonista do filme é Mano (Francisco Miguez, que tem os olhos da Winona Ryder) um adolescente de quinze anos que não vê a hora de perder a virgindade. Até aí nada demais, já que dez entre dez filmes para adolescentes possuem essa temática, o diferencial vem depois. Primeiro mano descobre que seus pais estão se separando sem maiores explicações (somente depois descobre que seu pai está deixando a família para viver um relacionamento homossexual), depois Mano investe em suas poucas chances com a garota mais cobiçada da escola até que percebemos o foco principal do filme. As Melhores Coisas do Mundo trata de uma cítica ao mundo onde tudo é descartável, descartabilidade alimentada por preconceitos, essas coisas daninhas que separam as pessoas pelos motivos mais idiotas. Ao mesmo temo, Bodanzky cria um universo de bolha sem oxigênio numa escola, cheia de jovens onde as mais diversas expectativas se encontram, se unem ou repelem, traça perfis individualistas, coletivos, intelectuais que (não?) funcionam no contato com a realidade, a propagação de maledicências por meios eletrônicos, os egos feridos ou inchados, professores assediados, fotos comprometedoras, perseguições, traições, tendências suicidas... Sorte que em meio a tudo isso o filme parece nos dizer que não devemos ter medo de enfrentar o mundo e seus desafios. Uma questão de marcar posição mesmo, mostrar que está insatisfeito e que nem sempre o que parece tão atraente realmente o é. O filme pode não ser perfeito (as cenas nem sempre bem encadeadas, a repetição exaustiva de Something in the way dos Beatles, mas ok, ela mostra que os rapazes de Liverpool nunca serão descartados) mas trata-se de uma obra original em nosso cinema. O roteiro de Luiz Bolognesi foi baseado nos livros da série Mano de Gilberto Dimenstein e Heloísa Prieto, que merece ser conferido, nem que seja para concluir que as melhores coisas do mundo estão longe de ser descartáveis.  

As Melhores Coisas do Mundo (Brasil/2010) de Laís Bodanzky com Francisco Miguez, Fiuk, Denise Fraga, Caio Blat e Paulo Vilhena. ☻☻☻☻

Nenhum comentário:

Postar um comentário