sábado, 4 de setembro de 2010

FILMED+: Persépolis

 Persépolis: O Irã pelos olhos do cotidiano Satrapi

Antes de ver Persépolis eu quis ler a obra homônima de Marjane Satrapi (foto) primeiro. No ano do lançamento do filme (2007) lembro que todo mundo falava com certa curiosidade sobre a obra da moça, uma graphic novel diferente de traço simples onde se explorava a vida repressora no Irã sobre os olhos de uma jovem iraniana. Li o livro nesse ano em um fim de semana, e hoje vi o filme assinado por Satrapi e Vincent Paronnaud. Assim como a obra impressa, o filme me impressionou pela sinceridade com que aborda temas tão obscuros sem parecer melodramático. Depois do sucesso de sua HQ, Satrapi convidou seu amigo Paronnaud para tocar o projeto, além de outros conhecidos que se surpreenderam ao serem indicados à Palma de Ouro em Cannes, saindo de lá com o prêmio do júri. A obra de Satrapi tem uma força impresionante ao expor os problemas de seu país natal com um olhar interno, sem os clichês de obras semelhantes que surgiram expecialmente após os ataques de onze de setembro. Mas o fundamental nessa empreitada é que trata-se de uma obra com um olhar adolescente bem marcado sobre o que estamos habituados a ver com a leitura unidimensional dos telejornais. Em Persépolis fica clara a insatisfação da população diante das restrições que sofrem em um regime governamental sufocante, nesse ponto  o fato de ser narrado por uma mulher (e com fortes personagens femininas no enredo, como a mãe e a avô de Marjani) enriquecem ainda mais esse olhar do cotidiano iraniano. Os anos 1980 marcados pela intensificação do sexismo, das torturas, do culto aos mártires, dos bombardeiros,  do mercado negro de fitas de artistas internacionais se mescla às complicações amorosas e a construção da identidade num ambiente extremamente hostil. Marjane aos treze anos é mandada para um país europeu e por lá cresce em meio a preconceitos e as angústias que só a solidão ampliada na adolescência podem causar. Ela descobre o amor, as drogas, o vazio e percebe que o fundamental é contruir sua própria identidade - tarefa complicada até para uma garota que quando criança queria ser a última profetiza! Marjane publica suas memórias na França desde 2002 e sabe utilizar referências pop para criar um apelo universal em sua obra (Abba, Bee Gees, Iron Maiden, O Grito, Bruce Lee ...). Persépolis foi o indicado da França para concorrer ao Oscar de filme estrangeiro, mas teve que se contentar com uma indicação ao prêmio de animação (perdendo para o inferior Ratatouile), o que apenas contribuiu para sua irresistível aura cult. Leia o livro, veja o filme e garanto que sua visão sobre os iranianos vai mudar bastante.

PERSÉPOLIS (França/2007) de Marjane Satrapi e Vincent Paronnaud, com vozes de Chiara Mastroianni e Catherine Deneuve. ☻☻☻☻☻

  

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