sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

10+ Falados de 2010

Todo ano tem aquelas pessoas que são faladas à exaustão, algumas por simples exposição da figura por conta própria e outras por deslizes que se alongam até o limite do exagero. Sendo assim preparei essa listinha sobre as pessoas que deram o que falar. Não vale assasssinos... se é que você me entende...

10 Leonardo DiCaprio Essa lista não é sobre cinema, mas eu não podia deixar de citar Leo por aqui. Se houve um ator que teve destaque nesse ano foi o próprio. Na secura hollywoodiana por bons projetos, o cara conseguiu emplacar dois dos melhores filmes do ano. Convenhamos que ele teve papel importante na maior bilheteria do mestre Scorsese em Ilha do Medo no início do ano e no segundo semestre esteve em outro filmão, A Origem - que deve muito de sua projeção creditada ao astro. DiCaprio pode até não ser indicado ao Oscar, mas ele foi o melhor ator do ano - especialmente por viabilizar produções que poderiam ser engavetadas pelo seu potencial instigante e estranho para a maioria do público (acostumado à besteira de que cinema é mero passatempo). Se Sandra Bullock ganhou Oscar no ano passado por ser a funcionária hollywoodiana do ano, pela lógica, Leo foi o funcionário padrão de 2010.

09 Neymar O craque paulista já tinha seu espaço na mídia antes de não ser escalado para o time de Dunga na Copa do Mundo. A revolta foi geral, como se o moleque de dezoito anos não tivesse outras chances em sua carreira. Dunga ainda disse que não o achava maduro para estar numa Copa e aumentou ainda mais a antipatia nacional. Depois que o Brasil perdeu a coisa piorou ainda mais e Neymar virou uma estrela de vez. Literalmente, meses depois começou a ficar rebelde levando à demissão do técnico de seu time e ainda brigando com os colegas de time. Afinal o que acontecia com o craque? Será que alguém lembrou que tem craques mais velhos que fazem coisa muito pior? Depois de um pedido público de desculpas e ter rejeitado proposta de jogar na Europa voltou a ser queridinho. Aguardem cenas do próximo capítulo...

08 Justin Bieber Espero que não tenha sido apenas eu que pensou ao ouvir Baby, baby, baby ooooh que se tratava de uma nova cantora adolescente. Levei um susto quando descobri que se tratava de um rapaz, ou melhor um garoto que tinha aquela vozinha fina irritante. O canadense Justin Bieber ganhou as paradas com seus rapzinhos infantis e tocou sem parar na festa da criançada. Ainda virou paródia no Pânico na TV, ganhou clips com rappers que queriam aproveitar sua magnitude midiática, influenciou cortes de cabelo no mundo inteiro, saiu em capas de revista e virou até trilha sonora de filme com possível indicação ao Oscar. O reinado de Bieber na música pop promete se estender ainda mais com o lançamento de um filme pautado em sua vida. Nada mal para um sujeito de 16 anos!

07 Adriano Eu realmente não entendo esses jogadores de futebol, o que mais eles querem? Ganham um dinheirão jogando bola, tem acesso às melhores festas, uma legião de fãs e ainda assim continuam fazendo uma bobagem atrás da outra. Adriano acabou recebendo o apelido de Imperador, talvez seja por conta da liberdade de fazer o que quer: faltar treinos, posar como bandido para fotos, engordar, fazer investimentos obscuros, namorar escandalosas e ainda se dar ao luxo de fazer drama quando fica fora da copa! Coitadinho do Adriano! Só espero que em 2011 ele aprenda que já é um homenzinho!

06 Lady Gaga Entre eleições e Copa do Mundo as catástrofes naturais também ganharam destaque e uma teve alcance mundial: Lady Gaga. Sua música cheia de efeitos sonoros e camadas de som toca no mundo inteiro, suas frases sábias também ("Sou hermafrodita", "tenho lúpus", "sou viciada em cocaína, mas não recomendo", "Meninos botem o pênis para fora!") e haja paciência para aguentar essa loura tresloucada que se acha bonita e sensual mesmo metida num indigesto vestido de carne. Na reta final do ano ela deu uma sossegada, mas cuidado ela pode atacar a qualquer momento!!!

5 José Serra O candidato do PSDB usou uma artilharia pesada em sua campanha foi um festival de safanões verbais em cada programa que entrava ao ar, um jogo de empurra sobre o que os oito anos de FHC fizeram e o que não fizeram. Dilma respondia à altura e a baixaria se prolongou apoiada numa bolinha de papel até um forçado segundo turno sobre a campanha de Marina Silva. Serra acabou perdendo a eleição e a publicidade que poderia tê-lo colocado num lugar melhor nessa lista, mas o incansável ex-ministro da saúde pode aparecer no topo em futuras listas, afinal, nunca duvide dos poderes de um tucano!

04 Tiririca O Senhor Francisco Everardo Oliveira Silva só ficou na frente do Serra porque ele ganhou ainda mais espaço na mídia depois das eleições, numa novela que se arrastou por meses - enquanto Serra foi se tornando figura rara nos noticiários por motivos óbvios. Com mais de um milhão de votos no estado de São Paulo (o segundo colocado, Gabriel Chalita teve metade) o comediante já era famoso por sua campanha na TV com frases de efeito em que prometia que se ganhasse diria o que um Deputado Federal fazia ou pedia para que votasse em Tiririca porque pior do que está não fica... sinceridades a parte o candidato quase perdeu sua vaga pela suspeita de que é analfabeto. Sua eleição pode ser vista como a piada do ano, mas eu prefiro acreditar que foi a maior crítica que a classe política nacional recebeu nos últimos anos.

03 Fiuk Outro que não deu folga foi o meu primo Felipe Galvão, ou melhor, o Filho do Fábio Júnior. Além de sua exposição da figura em Malhação, o rapaz ainda começou a tocar nas rádios com sua banda Róri impulsionada ainda mais pela regravação de um dos sucessos de seu pai. Fiuk ainda esteve no filme de Laís Bodanzky, As Melhores Coisas do Mundo e recebeu até alguns elogios por sua atuação de deprimido. Mas as garotas nunca estão satisfeitas e a cara do moleque estampou revistas em todo o país o ano inteiro e ainda ganhou um programa especial ao fim de ano onde interpretava o filho de quem? Do próprio pai oras!

02 - Luan Santana Acho que se não fosse ano de eleição Luan Santana estaria em primeiro lugar. O dono do cachê para show mais caro do país é adepto de um tal sertanejo universitário e canta coisas como Meteoro da Paixão (?!), mas as garotas não estão nem aí, acham o rapazinho de 19 anos o máximo. Se contarmos que o garoto arrasta multidões desde os dezesseis a coisa fica ainda mais assustadora. Suas aparições na TV, rádios, outdoors, casas de show e inúmeras publicações o transformaram no popstar do ano. Atualmente corre na Internet boatos sobre acusações de pedofilia direcionadas ao rapaz, mas alguém ainda acredita nesses factóides?

01- Dilma Roussef Afinal de contas ela é a nossa primeira presidenta! Dilma foi a pessoa mais falada do ano devido principalmente à sua campanha que sofreu um bocado para destruir todos aqueles boatos que surgiram na mídia sobre ela. Tratou-se de uma campanha difamatória vergonhosa mas que seguiu a marca das eleições presidenciais desse ano. No meio de tanta repercussão sobre legalização do aborto ela se safou em entrevistas e acabou vencendo apoiada pelo legado de Lula. Agora nos resta cruzar os dedos para o ano que se inicia...

DVD: Os Homens que não Amavam as Mulheres

Noomi e Michael: química no romance contra vilões pervertidos.

Há quem diga que a trilogia Millennium escrita pelo cueco Stieg Larsson possui fãs tão ardorosos quanto a saga Crepúsculo. Pela lógica, enquanto o público teen se diverte com o amor de uma adolescente sem sal por um vampiro, os adultos gostam mesmo é de ver um jornalista idealista apaixonado por uma punk problemática cheia de piercings e tatuagens. Bem, eu consigo enxergar uma relação. Enquanto a Suécia se prepara para saborear a última parte da trilogia que chega aos cinemas (A Rainha do Castelo de Ar, que sucede A Menina que brincava com Fogo) chegou nas locadoras brasileiras a primeira parte desse cult sueco. Os Homens que não Amavam as Mulheres nos apresenta os personagens principais da série, no caso o jornalista Mikael Blomkvist (Michael Nyqvist) que está enfrentando um processo de calúnia e difamação. Por esse processo ele acaba sendo afastado da revista em que trabalha, a Millenium, mas é logo escalado por um ricaço para investigar o sumiço de uma sobrinha desaparecida há mais de 40 anos. Mikael foi escolhido após uma minuciosa pesquisa da investigadora (e hacker profissional) Lisbeth Salander (Noomi Rapace). De visual inusitado, desde a primeira cena sabemos que a moça tem uma história obcura a esconder - e o fato dela ter um curador só acentua essa suspeita. Os dois personagens só irão se conhecer depois que o jornalista empacar na lista de suspeitos (no caso toda a família da desaparecida) e a hacker começar a dar uma mãozinha. O diretor Niels Arden Oplev consegue manter o suspense a maior parte do tempo (mesmo que desperdice situações como a atração de Mikael por uma possível suspeita, mas tudo bem o filme já tem mais de duas horas). Porém, o que manteve meu interesse foi a expectativa pelo encontro do casal e depois a química entre o par de atores mais do que eficientes que o diretor escolheu. Nyqvist não demonstra dificuldade em compor um sujeito boa-praça e Noomi tem nas mãos algumas das cenas mais chocantes que vi esse ano - e as faz com muita desenvoltura. Obviamente que um filme de 16 anos exige um pouco de estômago, existe muito de misoginia na trama (e isso o título entrega sem pudores) e um bocado de sadismo. Nesse ponto me incomoda um bocado como as cenas de torturas sexuais são bem mais longas do que a noite de amor dos protagonistas - que parece bem mais engraçada do que sensual. Também me incomoda como tudo parece se resumir à violência sexual a partir de determinada parte da trama - o que pode até justificar o interesse de Lisbeth no caso investigado pelo jornalista, se levarmos em consideração sua trajetória pessoal.  Mas, como já disse antes, o que me fez acompanhar o filme foi a relação estabelecida entre o jornalista e a nossa anti-heroína com tatuagem de dragão embalada por um suspense composta a maior parte do tempo por diálogos ágeis. Falando nisso, o filme entrou na lista de produções suecas a ganhar uma versão Made in Hollywood. Depois de Cabeça fora D'Água (1993), Nightwatch (1997), O Invisível (2002) e o recentíssimo Deixe Ela entrar (2008),  Os Homens... ganhará uma versão americana pelas mãos de David Fincher protagonizada por Daniel Craig. Resta saber como o diretor irá lidar com o sucesso mundial dos filmes da trilogia, ainda mais que as cenas mais obscuras tem muito do estilo que o diretor de A Rede Social esbanjava na época de Se7en, Clube da Luta e Zodíaco. Seja como for, só espero que ele não fique alongando o final como o original. 

Os Homens que não Amavam as Mulheres (Män som hatar kvinnor/Suécia-2009) de  Niels Arden Oplev com Michael Nyqvist e Noomi Rapace. ☻☻☻

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

OS MELHORES DE 2010

Todo fim de ano que se preze merece destacar os seus melhores lançamentos. 2010 foi fraco de lançamentos e alguns destaques ficaram por conta dos lançamentos de 2009 que só chegaram por aqui neste ano. De brinde os escolhidos entre os lançados ano passado

Melhor Filme
 
 A Origem
Num ano de criatividade escassa os sonhos referenciais de Christopher Nolan salvaram a lavoura! Outros favoritos: A Estrada - Almas à Venda – Direito de Amar – A Fita Branca
[Em 2009: Entre os Muros da Escola]

Melhor Diretor
Christopher Nolan (A Origem)
Depois de O Cavaleiro das Trevas, Nolan mostra que pode fazer de tudo em Hollywood. Outros Favoritos: John Hillcoat (A Estrada) – Tom Ford (Direito de Amar) – Lone Scherfig (Educação) – Michael Haneke (A Fita Branca)
[Em 2009: Laurent Cantet / Entre os Muros da Escola]

Melhor Ator
Colin Firth (Direito de Amar)
Firth dá uma aula de interpretação. Intimista até o osso o cara provou ser um dos melhores atores da atualidade ao encarnar os dilemas de um professor homossexual viúvo na década de 1960 que contempla o suicídio.  Outros Favoritos: Leonardo DiCaprio (Ilha do Medo/A Origem) – Jesse Eisenberg (A Rede Social) – Viggo Mortensen (A Estrada) – Paul Giamatti (Almas à venda) - Michael Stuhlbarg (Um Homem Sério)
[Em 2009: Vincent Cassel /Inimigo Público nº1]

Melhor Atriz
 Carey Mulligan (Educação)
Mulligan se tornou a queridinha dos cinéfilos crescendo diante dos nossos olhos como a adorável Jenny - que deve esquecer os atalhos para não perder seu objetivo: ser ela mesma. Outras Favoritas: Gabourey Sidibe (Preciosa) – Annete Bening (Minhas mães e meu pai) – Abbie Cornish (Brilho de uma Paixão) - Kim Hye-já (Mother)
[Em 2009: Kate Winslet /Foi Apenas um Sonho]

Melhor Ator Coadjuvante
 
Andrew Garfield (A Rede Social)
Há quem considere os elogios a Garfield por ele ser a fagulha mais humana na criação do Facebook. Mas a verdade é que este ator inglês promete fazer barulho nos próximos anos - com ou sem o uniforme de Spider Man! Outros Favoritos: Mark Rufallo (Minhas mães e meu pai) - Frank Langella (A Caixa) - Alfred Molina (Educação) - Nicolas Hoult (Direito de Amar)
[Em 2009: Christoph Waltz / Bastardos Inglórios]

Melhor Atriz Coadjuvante
 
Mo’Nique (Preciosa)
Quem sou eu para discordar dos mais de trinta prêmios que essa ex-rapper ganhou por sua furiosa atuação como uma das criaturas mais desagradáveis do cinema. Melhor que isso é a fúria com que Mo'Nique devora sua personagem diante da câmera. Outros Favoritos: Chloe Moretz (Kick Ass) – Helena Bonhan Carter (Alice no País das Maravilhas) - Marion Cotillard (A Origem/Nine) – Julianne Moore (Direito de Amar/Minhas mães e meu pai)
[Em 2009: Taraji P. Henson / O Curioso Caso de Benjamin Button]

Melhor Roteiro Adaptado
A Estrada
Baseado no livro de Cormac McCarthy (e ignorado nas premiações) o filme de John Hillcoat é uma das coisas mais demprimentes que eu já vi. Num mundo pós-apocalíptico, pai e filho tentam sobreviver num mundo em frangalhos que se parece muito com o futuro anunciado pelos jornais todos os dias.  Outros Favoritos: O Segredo dos seus olhos - Direito de Amar – Educação – Preciosa
[Em 2009: Frost/Nixon]

Melhor Roteiro Original
 
A Origem
Precisa dizer  o motivo da escolha? Eu devo ter visto o filme de Nolan quase uma dezena de vezes e não consigo parar de ver camadas em sua narrativa. Nolan demorou dez anos para criar sua trama sobre invasores de sonhos e o resultado é brilhante. Outros Favoritos: Toy Story 3 – Almas à venda - Um Homem Sério – A Fita Branca
[Em 2009: 3 Macacos]

Melhor Animação
Toy Story 3
Lembro quando vi o primeiro Toy Story no cinema e fiquei fascinado com os brinquedos que não queriam ser esquecidos. O clima de nostalgia cresceu no segundo filme e chega ao auge nessa magistral conclusão da saga dos brinquedos do menino Andy.  Outros Favoritos: Como Treinar o Seu Dragão – Ponyo – Megamente – Meu Malvado Favorito.
[Em 2009: O Fantástico Senhor Raposo]

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

CATÁLOGO: Quem quer ser um milionário?


Patel: catalizando a esperança da era Obama.

Aproveitei a exibição do filme ontem na TV aberta para rever essa obra que oscarizou Danny Boyle. Ao mesmo tempo serve de uma espécie de aquecimento para o Oscar do ano que vem, já que Boyle teve um crescente favoritismo que culminou em sua vitória sobre David Fincher e seu elaborado Benjamin Button. Boyle e Fincher devem se enfrentar novamente nesse ano e o segundo deve levar a melhor por A Rede Social. Os maiores méritos de Boyle em Slumdog Millionaire é o tom explosivo que o diretor imprime em seu filme, algo que se tornou sua marca registrada desde a estréia em Cova Rasa (1994) e consolidada em Trainspotting (1996). O filme conta a história de Jamal (Dev Patel), um rapaz vindo da parte mais pobre da Índia e que está prestes a ganhar um prêmio milionário na TV. Claro que Boyle não se contenta em contar apenas esse momento da vida do rapaz, fazendo com que a narrativa conte em flashbacks os fatos que o motivaram a estar ali e como alguém de origem tão humilde consegiu responder perguntas de naipe tão variado. O fascínio que o filme causou na época se deve há vários motivos. Na parte social, era o período em que os EUA vivenciavam as expectativas da futura eleição de Barack Obama. No campo econômico, Hollywood estava diante da crise e cada vez mais em busca de recursos em outros países - e o visual Made in Bollywood do longa caia como uma luva naquele momento. No campo técnico, Boyle utilizava uma câmera inovadora e desenvolvida especialmente para o filme. Com relação à trama é uma história que transborda otimismo e esperança tendo um herói pobre que está mais interessado em encontrar a sua amada Latika (a linda Freida Pinto) do que em ficar milionário. Na época foram inevitáveis as comparações do filme com o brasileiro Cidade de Deus (fotografia, enquadramentos, edição, a visão do mundo marginal...), surgiram polêmicas sobre o título do filme (algo como ‘cachorro favelado milionário’), mas nada destruiu a campanha do filme nas premiações. Diante de tudo que o filme apresenta considero mais interessante o ritmo que Boyle imprime a um filme que poderia facilmente cair no melodrama ou na amolação com suas idas e vindas temporais. Quem quer ser um Milionário foi premiado por retratar um momento do delicado do cinema americano - especialmente se levarmos em consideração que a produtora do filme faliu (a finada Warner Independent) e ele quase ficou sem distribuição. Para um longa com um empecilho desse no currículo chegar às telas conquistando público e crítica, os prêmios não poderiam ignorá-lo. Mas, na alma, o filme é uma história de um amor que nasce na infância (as cenas com as crianças na dura realidade da pobreza na Índia, conferem ao filme uma tristeza que contrasta com a energia impressa pelo diretor – e esse equilíbrio que deve ter agradado) e que vence as adversidades do destino de forma surpreendente como um conto de fadas contemporâneo com direito a vilões, violência... só faltou uma fada madrinha - mas um pouco de realidade não faz mal a ninguém. Para completar o conto de fadas o filme levou os Oscars de filme, direção, roteiro adaptado, canção original, trilha sonora, edição, mixagem de som e fotografia. Nada mal, Jamal.

Quem quer ser um milionário (Slumdog Millionaire/Reino Unido - 2008) de Danny Boyle. Com Dev Patel, Freida Pinto e Anil Kapoor ☻☻☻

FILMED+: Cidade dos Sonhos


Naomi: Nasce uma estrela na Cidade dos Sonhos.

David Lynch ainda aproveitava os fãs desnorteados com A Estrada Perdida (1997) quando lançou Mulholland Drive - nome de uma famosa avenida de Hollywood . Inicialmente criado para ser uma série de TV, Lynch foi pego de surpresa quando o projeto foi cancelado. Lynch já havia trabalhado para a televisão quando criou o conceito da série cult Twin Peaks e tentava fazer outro programa inovador. Adepto de que 'se a vida lhe dá um limão faça uma limonada', Lynch pegou as cenas produzidas e criou uma trama capaz manter um longa e conseguiu seu maior sucesso em muito tempo. Obviamente que melhor do que tentar entender a trama o mais bacana é embarcar nessa viagem imaginária de um dos diretores mais estilosos de Hollywood. Cidade dos Sonhos é belamente filmado, cada cena tem um cuidado com o enquadramento e com a plasticidade dignas dos maiores artistas conceituais. Se em Estrada Perdida o diretor já explorava um pouco a relação das pessoas com o cinema, em Cidade dos Sonhos ele ampliou essa percepção, com um pouco de crítica e um bocado de imaginação ele criou a trama sobre duas mulheres. Uma morena que parece ser uma estrela de cinema seqüestrada (Laura Helena Harring, uma das mulheres mais belas que já apareceram numa tela), mas que num acidente perde a memória e vaga pela cidade até encontrar uma lourinha, típica moça do interior que pretende seguir carreira em Hollywood (Naomi Watts, perfeita). A aspirante à atriz irá ajudá-la a descobrir seu passado, ou pelo menos isso é o que parece. Quando parece que estamos entendendo o rumo da trama, o diretor muda tudo, troca o nome dos personagens, suas personalidades e os elementos estranhos começam a aparecer cada vez mais. Há quem diga que alguns personagens transitam num mundo real (como a aspirante a atriz e o diretor vivido por Justin Theroux) e outros são imaginários (como a bela morena amnésica, a trupe do Clube Silêncio), outros preferem pensar que a primeira parte é um sonho ou que a morena é um personagem em busca de uma atriz para interpretá-la (a loura), ainda tem gente que tenta explicar o sujeito bizarro que se esconde atrás da lanchonete, o casal de velhinhos em miniatura saindo do cubo azul e o cowboy que promete aparecer algumas vezes... metafóricos ou não são seres que servem para tornar o filme ainda mais instigante e assustador - mesmo tendo uma das cenas de sexo mais impressionantes da história. Até o fim da sessão, o diretor irá nos conduzir pelos meandros de seu imaginário sobre o cinema numa viagem de sensações intensas, são essas sensações que contradizem os críticos que detestam Lynch e que repetem que ele é uma fraude. Nenhum diretor que conduz o espectador dessa forma pode ser considerado uma fraude, tanto que até o Oscar se rendeu a ele lhe conferindo indicações ao Oscar de direção e roteiro original pelo filme. Ame ou odeie o filme é uma obra-prima enquanto alegoria sobre Hollywood.


Cidade dos Sonhos (Mulholland Drive/EUA-França/2001) de David Lynch com Naomi Watts, Laura Helena Harring, Justin Theroux e Ann Miller. ☻☻☻☻☻

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

LADIES & GENTLEMEN: Laura Dern

Laura Dern é uma atriz do tipo que se você acompanhar a carreira logo se torna uma das suas favoritas, ou pelo menos entra em sua lista de mais interessantes. Filha dos atores Bruce Dern e Diane Ladd, Laura parece ter os genes interpretativos impregnados em cada célula de seu corpo, o que lhe confere uma desenvoltura incomum em todo tipo de personagem. Nascida em 10 de fevereiro de 1967, loura e esguia, Dern é a atriz favorita de David Lynch, o estranho diretor que saiu às ruas pedindo uma indicação ao Oscar para ela após sua atuação em Império dos Sonhos (2006). Antes ela já havia trabalhado com o diretor no clássico Veludo Azul (1986) e em Coração Selvagem (1990) - é nas mãos dele em que a atriz aparece explorando os limites de sua profissão. Mas nem só de Lynch vive a carreira de Laura. Se no início ela teve participações não creditadas em obras protagonizadas por sua mãe - como Alice, Não mora mais aqui (1974) de Scorsese - as coisas começaram a mudar quando Lynch lhe convidou para ser mocinha certinha de Veludo Azul e seus papéis começaram a receber cada vez mais destaque ao ponto de em 1992 ser indicada ao Oscar de Melhor Atriz por sua delicada atuação em As Noites de Rose, onde contracena com Robert Duvall. Apesar disso, o maior sucesso  comercial de sua carreira veio em seguida quando Steven Spielberg a convidou para ser a doutora Ellie Satler em Jurassic Park (1993). A personagem lhe garantiu uma aparição rápida em Jurassic Park 3 (2001) e na próxima aventura dos dinos prevista para 2012. A atriz ainda serviu para dar alguma dignidade ao melodrama Um Mundo Perfeito (1993) dirigido por Clint Eastwood. Devo confessar que meu papel favorito de Laura Dern é Ruth Stoops na estréia de Alexander Payne na direção: Ruth em Questão (1996), uma provocativa dramédia sobre aborto, onde a atriz está inesquecível como uma desajustada que vira motivo de embate entre grupos pró e antiaborto. Pela atuação Laura recebeu o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Montreal, mas infelizmente ficou de fora da lista do Oscar. Laura sempre foi mais chegada às produções independentes e consollidou essa imagem ao participar de projetos como Dr. T e as Mulheres (2001) de Robert Altman, Focus (2001) e O Céu de Outubro (1999) - filmes modestos, mas que sempre lhe renderam elogios.  Em 2001 foi a mãe adotiva de Dakota Fanning em Uma Lição de Amor - onde apareceu ao lado de Sean Penn  e Michelle Pfeiffer - e três anos depois apareceu ao lado de Naomi Watts (outra musa de Lynch) no drama Tentação, onde dois casais de amigos enfrentam o adultério. Depois de algumas produções independentes que não estrearam por aqui ela apareceu no ótimo filme televisivo Recontagem (2008) que lhe valeu o terceiro Globo de Ouro de sua carreira. A atriz  deve aparecer em breve nas telas tupiniquins em Entrando Numa Fria Maior Ainda com a Família (2010), terceira comédia de Ben Stiller sendo perseguido por Robert DeNiro. Entre dramas, comédias, indies, superproduções e produções para TV, Laura já provou que é uma das mais versáteis de sua geração.

Ruth em Questão: atuação brilhante.

CATÁLOGO: IMPÉRIO DOS SONHOS

Dern: perdida em si mesma na última sandice de David Lynch.

Todo cinéfilo que se preze sabe que David Lynch não é um cineasta convencional, mas é um dos poucos que consegue envolver quem assiste seus filmes como se fosse um personagem o fazendo mergulhar na estranheza do universo entre a realidade e a fantasia em que constrói suas histórias - muitas vezes interpretadas como sem pé e nem cabeça. Às vezes ele facilita a vida do espectador (como em O Homem Elefante ou A História Real), em outras gosta de embaralhar nossa atenção em vários pedacinhos, numa espécie de quebra-cabeça em película. Lynch domina a arte cinematográfica como poucos. Iluminação, edição, trilha-sonora, atuações, tudo está a serviço da atmosfera que consegue construir apoiado num roteiro muitas vezes enigmático. Se em Cidade dos Sonhos (Mulholland Drive/2001) ele conseguiu duas indicações ao Oscar (direção e roteiro adaptado – ambas merecidíssimas) a coisa parece não ter funcionado como o esperado em Império dos Sonhos que funciona quase como uma sequência do anterior na forma como explora o processo de fazer cinema. Lynch teve a idéia de fazer o filme quando descobriu que o esposo de sua musa Laura Dern nascera em Inland Empire (o título original do filme, tão sonoro e interessante como Mulholland Drive), instigado com o nome da cidade, o diretor construiu mentalmente as cenas sem se preocupar com o encadeamento do roteiro. Assim, foi filmando seu elenco ao longo dos meses sob a trama aparentemente simples: uma atriz que para de distinguir o que é sua vida, o que é sonho, o que é memória e o que é ficção. Nesse pretexto o diretor faz de tudo que tem vontade, salpicando mistérios, subtramas, focos, portas, texturas, dezenas de personagens (às vezes me parecia uma versão hardcore de Robert Altman com as participações de Diane Ladd, Willian Macy e Laura Elena Harring nos créditos) e os embaralha numa montagem caótica e cheia de atmosfera em que cabe ao expectador construir o filme em sua mente. No meio do caos somos guiados pela atuação de Laura Dern que consegue nos tragar para a angústia de sua personagem. Obviamente que um filme de Lynch não é para todos os gostos, mas o espectador devidamente avisado pode apreciar os méritos do filme. Império dos Sonhos é uma experiência acima de tudo sensorial sobre os labirintos do processo de construção de uma personagem (e por isso, seria melhor ter traduzido o título original como Império Interior). Acho que não precisa mencionar a premissa do filme que conta a filmagem de um roteiro baseado no folclore polonês que parece amaldiçoado, no meio de tanta linhas narrativas isso é o que menos importa. O clima opressor, sombrio e obscuro nas mãos de Lynch continua sendo estranhamente atraente mostrando o quanto é capaz de criar pesadelos como ninguém, seja com coral de prostitutas ou seres coelho. Mas os delírios criativos comprometem o encadeamento da narrativa (o que não acontecia em Cidade dos Sonhos ou A Estrada Perdida), o tornando longo e árduo em sua segunda hora de duração (p.s.: são três!!), mas esse  aspecto pode ser atenuado pelos fãs do estilo do diretor – afinal, se o cinema pode ser visto como sonho e fantasia, a cinematografia de Lynch habita o limite dessa premissa.

Império dos Sonhos (Inland Empire/EUA-Polônia e França-2006) de David Lynch com Laura Dern, Justin Theroux, Harry Dean Stanton e Julia Ormond. ☻☻☻

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

COMBO: Natal Inusitado

Para evitar uma lista com os cinco melhores filmes sobre o Natal resolvi preparar uma lista em que a Noite Feliz é vivida dentro de um contexto completamente diferente do usual. Prepare as rabanadas:

5 Um Dia de Louco (1994) Nora Ephron estava querendo um sucesso no cinema para isso resolveu misturar a docilidade do espírito natalino com uma boa dose de comédia besteirol. O resultado acabou recebendo esse título que tira o ânimo de qualquer Papai Noel, mas é engraçado ao acompanhar as atividades de um grupo de atendentes telefônicos no dia de Natal. Imagine que o lugar é dirigido por Steve Martin e você terá ideia do que está por vir: um travesti (Liev Schreiber, que também fez um travesti em Aconteceu em Woodstock), uma maluquete grávida (Juliette Lewis), um bobo apaixonado (Adam Sandler) entre outros personagens em situações inusitadas - que inclui uma involuntária encenação de um auto de Natal no momento mais meigo do filme.

4 Férias Frustradas de Natal (1989) Comédia natalina é uma coisa até comum, mas de nenhuma delas eu lembro com tanto carinho como essa protagonizada por Chevy Chase e sua família Griswold desastrada. Depois de ir para um parque temático e se perder pela Europa, a família do cara agora enfrenta desventuras de um Natal com tudo para ser um... desastre. Entre castores, centenas de lâmpadas e o peru mais seco da história das ceias natalinas o filme rende boas risadas. Chase continua tendo uma química incrível com sua patroa (Beverly d'Angelo) e o elenco ainda recebeu os acréscimos de Randy Quaid e... Juliette Lewis (quem diria que a moçoila era chegada numa comédia natalina?). Entre as trapalhadas sobra até um espacinho para pequenas lições natalinas.

3 Feliz Natal (2005) Quando lemos o título do filme pensamos logo em Papai Noel, presentes e famílias reunidas, mas esse filme multinacional indicado ao Oscar mostra uma realidade bem diferente, embora ambientada numa história real inusitada. O filme mostra como o exército da França, da Alemanha e da Escócia fizeram uma trégua em meio à Primeira Guerra Mundial, no ano de 1914 para confraternizar com o inimigo no dia 25 de dezembro - fato que acaba mudando a vida de vários personagens. O filme divide opiniões pelo seu tom água com açúcar diante de um aspecto tão delicado como a guerra e a morte de inocentes, mas não deixa de ser interessante conhecer melhor esse acontecimento histórico inusitado. No elenco estão Daniel Brühl e Diane Kruger.  

2 Feliz Natal (2008) Era de se esperar que houvesse mais de um filme com esse nome da história da cinema, mas esse é brasileiro e marcou a estréia do ator Selton Mello na direção. Ao contar a história do reencontro de uma família desajustada na noite de Natal, Mello não tem medo de meter o dedo na ferida de seus personagens com fotografia obscura e closes intensos em seus personagens. Apesar de ser protagonizado por Leonardo Medeiros como o filho que volta para casa na comemoração do Natal, o destaque fica por conta da atuação de Darlene Glória como a mãe alcolizada do clã e de Lúcio Mauro num personagem bem diferente do usual. Mello faz o título soar cada vez mais irônico até o fim da sessão.

1 O Estranho Mundo de Jack (1993) Cada vez que vejo essa animação eu gosto mais dela. Produzido por Tim Burton o filme parte de uma premissa interessantíssima ao contar a história do personagem de Halloween que quer trocar sua data comemorativa pelo Natal. Para isso acaba armando o sequestro do Papai Noel para que possa assumir o posto natalino. Entre músicas irônicas, visual gótico e várias surpresas o filme tem sido considerado um clássico dos filmes de Natal. O diretor realizou recentemente Coraline (indicado ao Oscar do ano passado) e colaborou com Tim Burton na feitura de A Noiva Cadáver, o qual tem grande parentesco com os personagens desse filme que merece ser redescoberto.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

DVD: (500) dias com ela

Joseph e Zooey: o encontro de This Charming Man com Girl Afraid.

No fim de semana aconteceu uma coisa muito engraçada, eu fiz uma espécie de maratona cinéfila com minha prima e fiquei extremamente surpreso com um filme que ela chorou um bocado. Trata-se de (500) Dias com Ela, a promissora estréia cinematográfica do diretor de clipes Marc Webb - e atual diretor da nova versão de Spider Man. Como todo mundo sabe o filme está longe de ser um dramalhão e foi aclamado como uma das melhores comédias românticas do século XXI - e o fato de ser elogiado em Sundance e esquecido no Oscar só aumentou sua aura de cult. Webb parte de uma ideia simples, o típico caso de rapaz conhece moça e se apaixona, o diferencial é que a recíproca não acontece. Desde o início sabemos que Summer (Zooey Deschannel) é uma garota de mais mistérios do que aparenta, seu visual retrô, cheio de vestidinhos e penteados de décadas atrás lhe conferem uma aparência da clássica heroína romântica de Hollywood, mas esse papel cabe mesmo ao rapaz do filme, Tom (Joseph Gordon-Levitt, excelente e indicado ao Globo de Ouro). Tom deve ser o cara mais bem intencionado das comédias românticas recentes e talvez por isso a gente torça por ele, não fosse a atuação de Joseph ele provavelmente seria um chato meloso, mas o ator faz um trabalho magistral com o personagem, o transformando num cara comum, digno de compaixão enquanto vimos seu coração despedaçar a cada cena que anuncia a inevitável separação. Summer deixa claro desde o início que não quer compromisso, mas ele finge não entender, mergulhando cada vez mais num romance que desde os primeiros dias parece fadado ao fim. A grande diferença no filme é como o diretor conta a sua história cheia de estilo, com a trilha sonora inspirada que um casal que começa o relacionamento ao som dos Smiths merece. Além da trilha o diretor utiliza bem o recurso de utilizar o contador de dias mostrando os contrastes do auge do amor com os piores momentos da dor de cutovelo de Tom. Para os cinéfilos de plantão ainda existem as paródias dos filmes clássicos em preto e branco que o protagonista assiste no fundo da fossa... apesar de tantas estripulias narrativas (que ainda conta com uma cena musical após a primeira noite de amor e  a tela explorando a oposição entre realidade e expectativa do moço) o filme tem sua alma mesmo no romance do casal e no desfecho diferente do que se imagina de um filme do gênero sob o tom agridoce que o mais memorável dos romances pode ter. O grande trunfo do filme é perceber que por mais que o romance nos deixe meio bobos, ele não nos transforma em idiotas. O filme ainda se benficia por não demonizar Summer enquanto santifica Tom - mas claro que minha prima não pensou em nada disso e odiou o que Summer fez com Tom (enquanto exaltava as característícas do bom moço), mas aposto que ela deve ter lembrado de alguns Toms que viu pelo caminho. 

(500) Dias com Ela (500 days of summer/EUA-2009) com Joseph Gordon Levitt, Zooey Deschannel, Clark Gregg e Chloe Moretz. ☻☻☻☻

CATÁLOGO: Tolerância Zero

Gosling: polêmicas e atuação promissora

Recentemente indicado para o Globo de Ouro de ator dramático pelo filme Blue Valentine, o canadense Ryan Gosling chamou a atenção da crítica pela primeira vez com sua atuação em Tolerância Zero (2001). No polêmico filme de Henry Bean sobre um estudante da escola judaica de Nova York que se torna um anti-semita ele ganhou o Independent Spirit de melhor ator daquele ano. Essa relação paradoxal ganha carne e osso na atuação de Gosling no papel de protagonista. O ex-participante do Clube do Mickey (ao lado de Justin Timberlake, Britney Spears e Christina Aguilera) é Danny Balint (Gosling), um jovem complexo que possui teorias sobre os judeus, sobre o holocausto e o nazismo que vão contra o bom senso, mas esse é apenas o ponto de partida para uma atuação de várias camadas. Após conhecer um grupo fascista (liderado por Billy Zane e Thereza Russel) ele percebe que pode sair do discurso e partir para a ação, ou seja, assume suas conotações neonazista de forma despudorada. O problema é quando ele passa a fazer parte de um grupo de conotações terroristas nazistas e sua identidade judaica passa a ser descoberta. Nesse momento o roteiro alcança seu melhor momento ao fazer brotar dessa repulsa de Balint o próprio retorno às suas origens familiares. O ponto de mutação do personagem é ser ouvinte num grupo de sobreviventes do holocausto. As memórias revividas ali irão infectá-lo como um fantasma – mesmo que o diretor utilize esse recurso da forma mais óbvia no decorrer da sessão. Fora essa relação com o grupo, Balint ainda engata um romance com uma jovem de fortes tendências masoquistas e a origem de sua raiva começa a ser cada vez mais exposta: um sentimento de culpa o qual rejeita - ao mesmo tempo que esta o devora. O filme de estréia de Henry Bean tem alguns problemas e por vezes apela para o sensacionalismo (o beijo com gosto de vômito, as vestes judaicas em Balint quando está prestes a matar um ícone judeu...) e o final apela para a saída mais óbvia, mas talvez a mais correta devido às conotações religiosas que o filme apresenta. O importante foi que o filme serviu de material para Gosling entrar no grupo de atores mais promisssores de Hollywood, aspecto que só cresceu quando encarnou o herói romântico de Diário de uma Paixão (2004) e o professor viciado em crack de Half Nelson (2006) – que lhe valeu sua primeira indicação ao Oscar.

Tolerância Zero (The Believer/EUA-2001) de Henry Bean com Ryan Gosling, Rainn Phoenix, Thereza Russel e Billy Zane. ☻☻☻

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

INDICADOS AO GLOBO DE OURO 2011

The King's Speach: está no páreo e Firth é o favorito.

Hoje sairam os indicados ao Globo de Ouro, eu achei um monte de bizarrices na lista. Coloquei meus comentários gentis em alguns casos especiais e meus acertos sinalizados com . Então:

MELHOR FILME - DRAMA:
A Origem
A Rede Social
The King’s Speach
Black Swan
The Fighter (minha surpresa na categoria)

MELHOR FILME – COMÉDIA OU MUSICAL
Minhas mães e meu pai
RED (eu subestimei o filme)
The Tourist (o fime foi vaiado em suas indicações)
Alice no País das Maravilhas (piada, né!!)
Burlesque (Cher e Aguilera tem mais fãs do que eu pensava)

DIRETOR
Christopher Nolan (A Origem)
David Fincher (A Rede Social)
Darren Aronofski (Black Swan)
David O. Russel (The Fighter) (só para estragar meu gabarito)
Tom Hooper (The King’s speech)

MELHOR ATOR – DRAMA
Jesse Eisenberg (A Rede Social)
Colin Firth (The King’s Speach)
Ryan Gosling (Blue Valentine) (ótima surpresa)
Mark Wahlberg (The Fighter) (onde foi parar o Robert Duvall?)
James Franco (127 Hours)

MELHOR ATOR – COMÉDIA
Johny Depp (The Tourist) (o filme é um fiasco)
Jake Gyllenhall (Love & Other Drugs) (surpresa?)
Kevin Spacey (Cassino Jack) (COMEBACK FACTOR?)
Paul Giamatti (Barney’s Version)
Johny Depp (Alice no País das Maravilhas)

MELHOR ATRIZ - DRAMA
Jennifer Lawrence (Winter’s Bone)
Natalie Portman (Black Swan)
Nicole Kidman (Habbit Hole)
Michelle Williams (Blue Valentine)
Halle Berry (Frankie & Alice) (eu ia votar em Berry, mas subestimei sua campanha solitária)

MELHOR ATRIZ – COMÉDIA/MUSICAL
Annete Benning (Minhas mães e meu pai)
Julianne Moore (Minhas mães e meu pai)
Emma Stone (Easy A) (merecido)
Anne Hathaway (Love and other drugs) (a apresentadora do Oscar tem chances?)
Angelina Jolie (The Tourist) (:O)

MELHOR ATOR COADJUVANTE
Andrew Garfield (A Rede Social)
Geofrey Rush (The King’s Speech)
Jeremy Renner (The Town) (o cara de Guerra ao Terror emplaca mais uma)
Michael Douglas (Wall Street 2) (uma homenagem muito bem vinda)
Christian Bale (The Fighter)

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE
Helena Bonhan Carter (The King's Speach)
Amy Adams (The Fighter)
Mila Kunis (AAAARG! EU JURO QUE APOSTAVA NELA! MALDITA JULIETE LEWIS!)
Melissa Leo (The Fighter)
Jacki Weaver (Animal Kingdom)

ROTEIRO
A Rede Social
A Origem
127 Horas (prêmio de consolação para Danny Boyle?)
The Kids are All right (é justo?)
The King’s Speach

ANIMAÇÃO
Como Treinar o Seu Dragão
Toy Story 3
Meu Malvado Favorito (Pensei que a lista acabaria por aqui)
Tangled (pensei que Megamente tinha mais chances)
The Ilusionist (um filme europeu que promete dar trabalho)

MINHAS APOSTAS ACABAM AQUI!

32 Acertos em 53 apostas... tenho que melhorar para o Oscar!!!

FILME ESTRANGEIRO
Biutiful (México) (eu só lembrava desse)
The Edge (Rússia)
In a Better World (Dinamarca/Suécia)
I Am Love (Itália) (A presença de Tilda Swinton deve ajudar)
The Concert (França) (Mélanie Laurent deve ajudar)

MELHOR CANÇÃO
Bound to You (Burlesque) (Os fãs de Cher e Aguilera são fortes!!!)
Coming Home (Country Song) (É aquela da Gwyneth Paltrow?)
I See the Light (Enrolados)  (Uma animação para manter a tradição)
There’s a Place for Us (As Crônicas de Nárnia: A Viagem do Peregrino da Alvorada)
You Haven’t Seen the Last of Me (Burlesque) (Precisa repetir?)

PALPITES PARA O GLOBO DE OURO 2011

A Origem: Nolan tem chances contra o Facebook?

Hoje sai os indicados ao Globo de Ouro 2011 e estou arriscando os meus palpites. Não me concentrei em todas as categorias apenas nas onze que considero as principais. Sendo assim:

MELHOR FILME - DRAMA:
A Origem
A Rede Social
The King’s Speach
Black Swan
Habbit Hole

MELHOR FILME – COMÉDIA OU MUSICAL
Minhas mães e meu pai
Scott Pilgrin contra o mundo
Somewhere
Made in Dangehan
How do you Know

DIRETOR
Christopher Nolan (A Origem)
David Fincher (A Rede Social)
Darren Aronofski (Black Swan)
Danny Boyle (127 Hours)
Tom Hooper (The King’s speech)

MELHOR ATOR – DRAMA
Jesse Eisenberg (A Rede Social)
Colin Firth (The King’s Speach)
Robert Duvall (Get Low)
Javier Barden (Biutiful)
James Franco (127 Hours)

MELHOR ATOR – COMÉDIA
Ben Stiller (Greenberg)
Robert Duvall (Get Low)
Stephen Dorff (Somewhere)
Paul Giamatti (Barney’s Version)
Johny Depp (Alice no País das Maravilhas)

MELHOR ATRIZ - DRAMA
Jennifer Lawrence (Winter’s Bone)
Natalie Portman (Black Swan)
Nicole Kidman  (Habbit Hole)
Michelle Williams (Blue Valentine)
Naomi Watts (Fair Game)

MELHOR ATRIZ – COMÉDIA/MUSICAL
Annete Benning (Minhas mães e meu pai)
Julianne Moore (Minhas mães e meu pai)
Sally Hawkins (Made in Dagenham)
Tina Fey (Uma Noite Fora de Série)
Anne Hathaway (Love and other drugs)

MELHOR ATOR COADJUVANTE
Andrew Garfield (A Rede Social)
Geofrey Rush (The King’s Speech)
Mark Rufallo (Minhas mães e meu pai)
Sam Rockwell (Conviction)
Christian Bale (The Fighter)

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE
Helena Bonhan Carter (The King's Speach)
Amy Adams (The Fighter)
Lesley Manville (Another Year)
Melissa Leo (The Fighter)
Jacki Weaver (Animal Kingdom)

ROTEIRO
A Rede Social
A Origem
Get Low
Toy Story 3
The King’s Speach

ANIMAÇÃO
Como Treinar o Seu Dragão
Toy Story 3
Megamente

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Na tela: A Rede Social

A Rede Social: uma ação entre amigos nas mãos de David Fincher.
David Fincher parece estar alcançando sua maturidade, sempre o criticaram pelo seu estilo arrojado que transbordava de seus filmes desde sua estréia em Alien³ (1992). Em Clube da Luta (1999) ele radicalizou seus conceitos cinematográficos e amargou polêmicas, voltou simplificado em Quarto do Pânico (2000) e se viu cotado para dois filmes que ditariam os rumos de sua carreira. Um era Missão Impossível 3 (o qual desistiu) e o outro era Dália Negra (que perdeu para Brian de Palma). Na ausência desses dois projetos fez Zodíaco (2005), que foi elogiado e desprezado pelo grande público nas mesmas proporções. Em Zodíaco já podíamos perceber uma mudança em Fincher, estava mais controlado, econômico e nisso as atuações se sobressaiam angariando elogios. Depois veio Benjamin Button, sua terceira parceria com Brad Pitt que foi todo indicado ao Oscar, mas acabou ganhando em categorias secundárias. Neste ano Fincher volta ao Oscar como o grande favorito, mas quem acompanha seu trabalho desde o início sabe que alguma coisa mudou, ele não é mais o sujeito visualmente inebriante de outrora.  Em A Rede Social, sua competência de sempre está impressa em cada minuto, na frieza dos ambientes, na precisão das atuações e ritmo vertiginoso que confere a um roteiro sem cenas mirabolantes de ação. A ação está nos diálogos bem lapidados pelo roteirista Aaron Sorkin e na forma como destrincham seus personagens palavrosos. Seria muito reducionista dizer que o filme trata da criação do Facebook, afinal a trama amplia os ingredientes de forma universal através de poucos personagens. No centro de tudo está Mark Zuckerberg (Jesse Eisenberg, numa versão anabolizada de seu personagem de A Lula e a Baleia), um gênio de Harvard que é dispensado pela namorada após cuspir suas chatices em cima dela. Na mesma noite em que é dispensado ele resolve curar suas dores teclando veneno em seu blog na madrugada, não satisfeito resolve espinafrar as garotas criando um site/game chamado Facemash. Por aí podemos perceber que Zuckerberg não é uma pessoa muito bacana. Ressentido, invejoso, ciumento, com a auto-estima abaixo do subsolo e com problemas crônicos de socialização o rapaz irá responder três processos pela sua tática de curar o seu ego: criar um clube onde ele seja o dono. Para ele não interessa a grana, amigos ou inimigos que deixa pelo caminho, o que importa mesmo é sua autoimagem inabalável. Junta-se a essa equação o amigo brasileiro Eduardo Saverin (Andrew Garfield, o novo Spider Man e  cotado para o Oscar de coadjuvante),  que será dispensado logo que possível –, os gêmeos bem nascidos (e – para a fúria de Zuckerberg – atléticos) Cameron e Tyler Winklevoss (Armie Hammer em papel duplo) que criam a ideia inicial do Facebook e o cara do Napster, Sean Parker (ironicamente encarnado por Justin Timberlake, que estraga todas as chances que tem de se tornar uma das peças mais importantes da narrativa. Seu Parker não parece um nerd que codificou a música para os tempos da internet, mas um ídolo pop frustrado). A trama transborda as características abstratas do mundo virtual durante os processos que Mark sofre, afinal a quem pertence uma ideia? O que é ser ético em tempos virtuais? O mais curioso da trama é que quanto mais Zuckerberg amplia sua criação, mais afasta as pessoas pelo qual nutre alguma afeição, esta é a dissonância que serve de alimento para a narrativa da primeira até a genial última cena. O grande trunfo do filme é falar diretamente sobre uma geração que possui muita informação e possibilidades de comunicação, mas que nutre um potencial ao isolamento alimentado pelo individualismo exacerbado. Para alguns pode parecer um filme sobre negócios, para outros uma obra sobre ética, para a grande maioria soa como um filme de tribunal onde o que está em pauta é o rumo que uma geração está tomando diante de novas regras de relacionamento. Baseado no livro “Bilionários por Acaso", acho que interessa menos o que é verdade e mentira na trama, e mais a construção de um anti-herói que emerge de uma sociedade que vê nos outros apenas uma escadaria para elevar o próprio ego.
A Rede Social (The Social Network/EUA-2010) de David Fincher com Jesse Eisenberg, Andrew Garfield, Justin Timberlake, Armie Hammer e Max Minghela. ☻☻☻☻

domingo, 12 de dezembro de 2010

MOMENTO ROB GORDON: Melhores Pôsteres de 2010

Obviamente que estou preparando as minhas listinhas de fim de ano, mas para dar início a esse hábito blogueiro comum, preparei um sobre o que estabelece, na maioria das vezes a nossa primeira relação com um filme, não, não estou falando do trailer que precisa de nossa presença (e atenção) por alguns minutos em determinada mídia, mas do poster - que pode estar em qualquer lugar e só precisa de alguns segundos de atenção. O critério de seleção e votação dos candidatos foi bem simples: eu ter visto o poster  e ter despertado meu interesse pela obra. Pré-selecionei todos os posteres que vi neste ano, e como não houve lista no ano anterior, resolvi misturar filmes que foram do ano passado (mas estrearam neste ano no Brasil) e filmes desse ano (que estrearam por aqui ou não). A lista ficou assim:

05 - Os Homens que Encaravam Cabras

 

 Às vezes o poster consegue traduzir melhor a idéia de um filme do que... o próprio filme. Basta lembrar que nem todos os atores importantes de um filme recebem a devida atenção num poster. Então pense agora em um filme protagonizado por nomes oscarizados como George Clooney, Jeff Bridges, Kevin Spacey e o eterno candidato à indicação Ewan McGregor, quem falta? Ora, a cabra!! O filme é uma sátira (que pouca gente entendeu) sobre as paranóias americanas e como ela se torna motor de um projeto militar. Dizem que motivado numa história real de um grupo militar que na década de 1970 (sempre essa década, notaram?) que resolveu explorar os poderes da mente. Quem paga o pato? A cabra!! Besteirol de título hilariante com poster genial. Para conferir basta ir na locadora.

04 -   Sede de Sangue
 

O filme de Park Chan Wook (de Oldboy) fez menos estardalhaço do que merecia com sua trama de um padre com dotes vampirescos que se apaixona por uma mulher comprometida. O poster deixa claro que Crepúsculo é filme para criancinha quando o negócio é chupar sangue e reprimir desejos. Simples e bem bolado - o padre e a garota numa posição espelhadamente erótica (que evoca agressão e desejo sem nudez) é de uma sutileza quase ofensiva. Se você perdeu o filme nos cinemas não pode cometer esse sacrilégio em DVD...

03 - Rabbit Hole


John Cameron Mitchel encaretou depois de fazer Hedwig e Shortbus, mas foi por uma boa causa: colocar Nicole Kidman na linha de frente mais uma vez do Oscar. Sendo assim o poster de Rabbit Hole (ainda sem título em português) não devia trair essa intenção: destaca as nuances da atuação de Nicole como uma mãe que tenta superar a morte do filho a partir do uso de recortes, tal como o trailer - que aliado ao poster deixa claro que o longa tem fortes chances de fazer bonito nas premiações. O filme estréia no Brasil dia 04 de março de 2011.

02 - A Origem

 Por pouco o filme de Christopher Nolan não ficou em primeiro lugar. O filme acabou de chegar em DVD e está cotado para os prêmios mais cobiçados da temporada. Desde o primeiro poster Nolan deixava claro que o foco do filme era o poder infinito de criação de nossa imaginação, essa inspiração ganha traços  na obra de Escher (1898-1972), especialmente de suas escadarias retorcidas pautadas no paradoxo gemométrico.  Troque escadas por prédios e atores do primeiro time e voilá: um dos melhores posteres do ano que bebe na fonte na lógica quebrada do universo criado pelo diretor.


01 - Black Swan / Cisne Negro
  

Talvez motivado pela minha expectativa, ou pela beleza de Natalie Portman, o poster de Black Swan ficou em primeiro lugar. Mas não é só isso, o novo filme de Darren Aronofski traz novamente os traços que mais admiro em sua cinematografia: cenas estranhas, uma queda pelo lado sombrio do ser humano e um apuro visual incomparável. Black Swan é baseado no balet  O Lago dos Cisnes e aborda o esforço descomunal de uma bailarina em seu processo de criação. Natalie Portman está cotada para os prêmios da temporada, não por sua perfeição física evidente no poster, mas pela forma como mergulha na fissura estampada em sua face. O filme deve chegar por aqui em 21 de janeiro de 2011.

DVD: Onde vivem os Monstros


Max encara seu monstro externalizado: Jonze explica.

Nem só de bichinhos fofos viveu as adaptações de obras infantis em 2009, Spike Jonze resolveu levar para as telas o livro Onde Vivem os Monstros de Maurice Sendak no mesmo ano, bem... mais ou menos. O projeto demorou anos para ser concluído devido a alguns problemas na produção, o estúdio achou a primeiro copião do filme muito sombria e pediu para que algumas cenas fossem refeitas. Depois ainda havia o empecilho das fantasias de monstros usadas por atores (entre eles, James Gandolfini e Paul Dano) que eram muito quentes e alguns chegavam a passar mal ali dentro. Jonze ouviu várias críticas por resolver utilizar atores no lugar de efeitos digitais para encarnar os monstrinhos e houve quem dissesse que ter optado por uma animação seria o mais correto, o fato é que o filme estreou e apesar de não ter se tornado um sucesso de bilheteria (apesar de ter sido o mais visto em sua semana de estréia) agradou os críticos e apareceu em várias listas de produções mais interessantes de 2009. É visível desde a primeira cena que o diretor não quis fazer um filme infantil, mas um filme sobre a infância, algo que conseguisse despertar a nostalgia dos adultos e que tocasse na espinha dorsal da trama de Sendak: o momento em que aprendemos a dominar nossos monstros internos e começamos a nos preparar para a vida adulta. O filme conta a história de Max (o bom Max Records) um menino que tenta lidar com o namorado de sua mãe (Catherine Keener) e com o crescimento de sua irmã – que não se dedica mais às brincadeiras. Depois de um momento malcriado ele acaba fugindo de casa e encontrando uma ilha habitada por monstros que gostam de se agredir, mas diante de alguma hostilidade, Max é eleito o rei do pedaço – mas sem antes perceber que a coroa se encontrava ao lado de um monte de ossinhos do rei anterior. Max aos poucos terá de lidar com a agressividade de seus súditos, assim como o ciúme, a inveja, o orgulho e outros sentimentos pouco nobres que os monstrengos demonstram sem a menor cerimônia. No fim Max vai descobrir que seus monstros podem devorá-lo. Pois é, a abordagem de Jonze é bem mais melancólica do que o livro de poucos parágrafos de Sendak supunham (e deve ter dado um trabalhão na confecção do roteiro por tentar explicar o que no livro não precisa de explicação) mas tem qualidades - e talvez a maior delas, pulse na trilha sonora (indicada ao Globo de Ouro) de Karen O. (do Yeah Yeah Yeahs!) que resgata cantigas de roda ao lado de um grupo de crianças. Depois de nos fazer penetrar na mente de (Quero Ser) John Malkovich (1999) e esmiuçar o processo criativo em Adaptação (2002), Jonze lembrou dos monstros internos que ameaçam nossa relação com o mundo.


Onde vivem os monstros (Where the wild things are/EUA-2009) de Spike Jonze, com Max Records, Catherine Keneer, James Gandolfini, Paul Dano e Mark Ruffalo. ☻☻☻

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

FILMED+: Os Excêntricos Tenenbaums

Tenenbaums: o curioso olhar de Wes Anderson numa fábula urbana familiar.
Wes Anderson já havia mostrado inspiração na literatura infantil quando criou seus Tenenbaums, filme do ano 2001 que concorreu ao Oscar de roteiro original (escrito por Wes e o amigo ator Owen Wilson) - mas o filme merecia estar em pelo menos mais umas cinco categorias da premiação. Anderson já possuía outros dois filmes no currículo quando construiu o que muitos consideram sua obra-prima (antes fez seu Rushmore, que devo comentar mais tarde). O filme conta a história de uma família de gênios, tendo como matriarca Etheline Tenenbaum (Anjelica Houston, a musa de Wes) e o trambiqueiro Royal (Gene Hackman, em uma atuação saborosamente inspirada). Os dois possuem filhos, um empresário precoce chamado Chas (vivido por Ben Stiller na idade adulta, acho que Stiller tentou repetir o tom tragicômico em Greenberg e não conseguiu), um tenista promissor chamado Ritchie (vivido por Luke Wilson quando adulto) e a jovem dramaturga Margot (que quando adulta se torna Gwyneth Paltrow em atuação muito bem construída), filha adotiva do clã. Mas nada é convencional nessa trama, já que o roteiro se concentra no momento pós-genialidade, o ponto seguinte ao momento em que tudo sai dos trilhos para essa família e o que era promissor parece frustrante. Com o divórcio de Royal e Etheline somos apresentados, sem dramalhão, aos membros dessa família em seus amores e problemas com muito senso de humor e estilo. Outros personagens animam a sessão como o psicólogo casado com Margot (Bill Murray, o muso do diretor), o namorado de Etheline (vivido por Danny Glover), Eli Cash - o amigo de infância do trio de irmãos (Owen Wilson) - e o fiel escudeiro de Royal, Dusty (Seymour Cassel). Sem pressa e de forma episódica (afinal, as partes são apresentadas como parte de um livro infantil com desenhos e tudo o mais) descobrimos a paixão de Ritchie por Margot, o caso que esta mantêm com Eli (que sempre quis ser genial como seus amigos, ou pelo menos ser parte da família), o plano bobinho de Royal para voltar para a família (ao ponto de usar doces como remédio), a síndrome do pânico de Chas (que assim como seus filhos sempre veste um conjunto vermelho da Adidas) entre outros momentos levados curiosamente por Wes (já viram uma cena de suicídio ser tratada de forma cômica sem ser ofensiva? ou um acidente de avião em que só sobrevive o cachorro?). Wes cuida de toda a moldura em torno de seus personagens com o maior cuidado. Cada peça do cenário, cada roupa, cada música de sua exuberante trilha sonora só serve para reforçar os sentimentos de seus personagens. O melhor de toda a sessão é sentir o carinho com que Wes trata seus personagens transbordar da tela, muitos consideram seu estilo meio frio e travadão,  mas talvez por isso eu o considere tão interessante. Nos silêncios de seus personagens eu consigo depositar minhas sensações e fazer com que um filme que já é bom ser ainda melhor!
Os Excêntricos Tenenbaums (The Royal Tenenbaum's/EUA-2001) de Wes Anderson, com Gene Hackman, Anjelica Houston, Gwyneth Paltrow, Ben Stiller, Owen Wilson, Luke Wilson e Danny Glover. ☻☻☻☻☻

DVD: O Fantástico Sr. Raposo

Sr Raposo e sua turma: belo filme do fabuloso Sr. Wes Anderson.

Engraçado é que antes de cometer Greenberg o nome de Noah Baumbach apareceu nos créditos de um filme deliciosamente espirituoso recomendado para todas as idades. O Fantástico Senhor Raposo, adaptação do saboroso livro de Roald Dahl recebeu até uma indicação ao Oscar de animação no ano passado. Embora Noah não assine a direção do filme seu nome consta na feitura do roteiro ao lado do diretor Wes Anderson. O Fantástico Senhor Raposo foi um dos melhores lançamentos do ano passado e mostrou que a habilidade de Anderson para tocar uma história permanecia intacta, apesar de seus longas anteriores soarem meio mornos. Anderson e Baumbach assinam um roteiro onde suas obsessões estilísticas estão presentes: a família de tipos problemáticos aparece aqui com uma doçura muito mais agradável e verdadeira, talvez por todo o elenco ser formado por bonecos peludos. Sr. Raposo (voz de George Clooney) é um autêntico ladrão de galinhas que tenta ganhar a vida escrevendo crônicas para um jornal. Assim, tenta deixar Dona Raposa (voz de Meryl Streep) satisfeita em pensar que ele aprendeu a controlar seus impulsos mais selvagens, principalmente porque enquanto pai de família (no caso do raposinho com voz de Jason Schwartzman) ele precisa dar o exemplo. As coisas complicam quando se instaura o ciúme com a presença de um sobrinho cheio de habilidades (voz de Owen Wilson) que é convidado a participar das contravenções do tio raposo. O pior é quando as coisas saem do controle e todos os animais da floresta são perseguidos pelos três fazendeiros da região. Claro que a dupla de roteiristas mudou muita coisa (deram contornos mais humanos para os bichinhos do longa e até incrementaram o final), mas conseguiram deixar sua marca durante toda a narrativa – especialmente Anderson que conduz seu elenco como se fosse fortmado por atores de carne e osso (enquanto Baumbach parece acreditar que só os animais tem bondade no coração). A direção de arte é espetacular (como em todos os filmes de Wes Anderson), a trilha sonora é ótima (como em todos os filmes de Wes Anderson) e tem aquele humor ingênuo que nos faz muito bem ver de vez em quando. Curioso notar que Wes e Noah parecem tratar das duas faces de uma mesma moeda: a família. Enquanto o primeiro é espirituoso e carinhoso com as problemáticas desse grupo social, Noah prefere se concentrar no lado mais obscuro de frustrações e ressentimentos desse grupo - sorte que nessa animação essas duas forças se equilibram com perfeição.


O Fantástico Sr. Raposo (Fantastic Mr. Fox/EUA-2009) de Wes Anderson com vozes de George Clooney, Meryl Streep, Jason  Schwartzman, Owen Wilson e Bill Murray. ☻☻☻☻

DVD: Greenberg - O Solteirão

Stiller: a superação insuportável de Baumbach.

Atualmente está em cartaz  nos cinemas O Solteirão com Michael Douglas, mas chegou às locadoras um solteiro que deu menos sorte do que o de Douglas, trata-se do personagem do novo filme de Noah Baumbach que foi um fiasco nas bilheterias americanas e saiu por aqui direto em DVD. O título em português deveria ser outro, algo como  O Insuportável que seria muito mais esclarecedor para o público desavisado.  Eu aprecio as dramédias de Baumbach com seus personagens difíceis, mas desta vez o cara exagerou. Se eu conseguia rir das situações de A Lula e a Baleia (que lhe rendeu até indicação ao Oscar) e até de Margot e o Casamento, em Greenberg nada funciona como comédia. Nada contra se o filme fosse apenas dramático, mas existe um tom desajeitado que pede uma risada, mas ela nunca chega. Baumbach é intelectual demais para fazer uma comédia romântica e para encobrir essa sua ambição prefere enfileirar chavões de analista (coisa que ameaçava fazer em Margot, só que com mais ironia) como se dessem profundidade psicológica aos seus caracteres. Greenberg (Ben Stiller) é um coroa solteiro, solitário, problemático, amargo e deprimido que vive ressentido de suas escolhas, ou seja, um chato de galochas que não cresceu e não percebe que a vacuidade de sua vida vem de sua dificuldade de se  importar com os outros. O filme conta o momento em que ele vai para a casa do irmão com a desculpa de fazer uma casa de cachorro e conhece sua assistente domiciliar  (Greta Gerwig), os dois não vão desenvolver propriamente um romance, mas um rolo digno de quem não faz a mínima idéia da fria que está se metendo. Sobra boas intenções à moça , mas ela terá que aprender a ser mais madura se quiser lidar com um sujeitinho tão zerado quanto Greenberg. Dizem que o filme seria protagonizado por Mark Rufallo e Amy Adams, mas os dois pularam fora quando viram que o roteiro de autoria de Jennifer Jason Leigh (esposa do diretor e que faz uma pontinha sem efeito como ex-namorada de Greenberg) estava preso às pretensões de forma que sobra pouco para desenvolver. Talvez pelos ajustes feitos para abrigar o novo ator, Greenberg parece ser um homem sem qualidades, grosseiro e mal humorado tornando o filme numa tarefa árdua, já que apesar de Stiller ser um comediante não faz a mínima idéia de onde está o humor do roteiro. A tarefa de tornar o filme assistível fica por conta do melhor amigo vivido por Rhys Ifans e pela escada amorosa feita por uma competente Greta Gerwig. Entre um cachorro doente, cartas reclamando de coisas variadas, cenas de sexo desajeitadas, consumo de drogas e enganosa trilha de James Murphy (do LCD Soundsystem) o filme caminha para o final que anuncia uma mudança no protagonista. O difícil é resistir até lá e se contentar com o tímido arremate da trama. Greta e Ben foram indicados ao prêmio dos filmes independentes americanos, mas para levarem alguma coisa precisam de muita boa vontade do júri - ou pelo menos da compreensão dos que tiveram uma tarefa árdua ao destrinchar personagens tão monocromáticos.

O Solteirão (Greenberg/EUA-2010) de Noah Baumbach com Ben Stiller, Greta Gerwig, Rhys Ifans e Jennifer Jason Leigh.